RIA Novosti
As autoridades alemãs apresentaram acusação ao ex-guarda do campo de concentração de Auschwitz, Hans Lipschis. Ele é acusado de cumplicidade no assassinato de quase 10 mil pessoas. Os especialistas assinalam o significado histórico deste processo e lembram que os crimes nazistas não têm prazo de prescrição.
Hans Lipschis, de 93 anos de idade, estava na lista dos criminosos nazistas mais procurados, que foi publicada em 2013, pelo centro de defesa dos direitos humanos Simon Wiesenthal. Originário de uma família lituana, Lipschis serviu de 1941 a 1945 na unidade da SS "Cabeça Morta", que guardava o campo de concentração de Auschwitz.
Lipschis não nega as ligações com a SS. É verdade que declara que foi apenas cozinheiro e sabia de todos os horrores do "campo da morte" apenas através dos colegas de trabalho. Entretanto a investigação tem provas de que ele foi guarda na plataforma ferroviária de descarga, onde se realizava a "seleção" de novos prisioneiros. Justamente ali os médicos e oficiais da SS escolhiam aqueles que eram capazes de trabalhar, os restantes eram encaminhados para as câmaras de gás. Com a participação direta de Lipschis 9515 pessoas foram encaminhadas para a morte.
Depois da guerra o ex-guarda emigrou para os EUA, viveu em Chicago. Em 1982 foi expulso do país por ter ocultado das autoridades americanas seu passado de SS. Nos últimos anos Hans Lipschis estabeleceu-se na Alemanha, onde foi preso no início de maio.
O processo judicial iniciado tem significado histórico – assinala o historiador russo, representante da Fundação "Memória Histórica" Vladimir Simindei.
"O significado deste processo judicial consiste em que será realizado o princípio da irreversibilidade da punição por crime de massas cometido contra a humanidade, por participação em genocídio. Outra questão, é que surge séria suspeita de que a justiça alemã e os órgãos de investigação do país não deram muita atenção à busca de criminosos de guerra durante todos estes anos. Porque até agora encontram pessoas envolvidas diretamente no extermínio de pessoas durante a Segunda Guerra Mundial. Surge uma questão legítima: e por que estas pessoas não foram encontradas e punidas antes?
Gostaríamos de desejar participação mais ativa de historiadores e representantes dos órgãos de inquérito na análise da base documental a fim de revelar os criminosos de guerra que permanecem impunes. Sobretudo porque os nomes de alguns são conhecidos".
Segundo dados dos especialistas, que se dedicam às buscas de criminosos de guerra nazistas, em diferentes países do mundo escondem-se da justiça centenas de carrascos nazistas. Eles levam a vida moderada de aposentados europeus e americanos, e os vizinhos nem mesmo suspeitam de seu passado sanguinário.
Assim, por exemplo, em um dos subúrbios de Paris vive Nicolai Tuttchenko-Rititch. Agora respeitável escritor, durante a Grande Guerra Patriótica foi colaboracionista e participou de execuções da população pacífica na região de Leningrado.
O húngaro Laszlo Csizsik-Csatary, de 96 anos, vive em uma dos bairros tranquilos de Budapeste. Outrora ele foi condenado à revelia à morte por crimes cometidos durante a Segunda Guerra. O ex-policial chefe da guarda de um dos maiores ghettos nazistas é cúmplice do envio de mais de 15 mil judeus para câmaras de gás.
Recentemente especialistas do Centro Wiesenthal descobriram no Canadá o ucraniano Vladimir Katriuk de 92 anos. Agora ele cria abelhas em sua fazenda, mas nos anos da guerra foi combatente do batalhão policial ucraniano formado pelos alemães. Em março de 1943 este batalhão punitivo incendiou a aldeia belorrussa de Khatin. Segundo depoimentos de testemunhas, justamente Katriuk encerrou o moradores da aldeia no galpão, que depois incendiaram. Junto com outros policiais ele fuzilou as pessoas que tentavam fugir do fogo.
Tais crimes não devem ficar impunes – diz o vice-presidente do movimento internacional de defesa dos direitos humanos "Mundo sem nazismo", Valeri Engel:
"Para tais crimes não existe prazo de prescrição em nenhum país. Já que é assim, a lei deve ser cumprida, estas pessoas devem ser punidas pelos crimes contra a humanidade. Desse modo a comunidade internacional demonstra aos países que pensam diferente, que o nazismo é o mal absoluto".
Segundo o relatório do Centro Simon Wiesenthal, de abril de 2011 a março de 2012 foram condenados no mundo 10 criminosos nazistas, seis pessoas foram acusadas de cumplicidade nos crimes. Continua a investigação em 1138 casos, relacionados com crimes dos nazistas.
No início de abril as autoridades alemãs encontraram pistas de 50 guardas de campos da morte. Entre eles Hans Lipschis, que agora está preso. Segundo se espera a acusação final será apresentada não antes de agosto e o processo penal pode começar no outono. O médico que examinou o réu, admitiu que ele pode cumprir pena de prisão.
Sem comentários:
Enviar um comentário