sexta-feira, 5 de abril de 2013

O grande rabino de França além de plagiar terá mentido no seu currículo?

 

A legitimidade como líder religioso de Gilles Bernheim assenta na sua reputação intelectual de Gilles Bernheim, mas esta está a ser posta em causa
A argumentação de Bernheim contra o casamento gay foi usada por Bento XVI BERTRAND GUAY/REUTERS
O grande rabino de França, Gilles Bernheim, reconhecem que plagiou várias passagens de um livro de entrevistas de uma universitária norte-americana ao filósofo Jean-François Lyotard no seu livro de 2011 Quarante méditations juives (Stock). Mas os problemas da mais alta autoridade religiosa judaica em França com a autoria do seu trabalho intelectual podem ir mais longe, noticia ainda a revista L’Express: a sua agregação como professor universitário de filosofia, mencionada sempre no seu currículo, pode nunca ter existido.
As palavras e reflexões de Bernheim costumam ser escutadas com atenção – a sua argumentação na discussão sobre o casamento homossexual, por exemplo, foi tida com um modelo para todos os que se opuseram a esta medida liberal da Presidência socialista de François Hollande. Em Dezembro de 2012, o Papa Bento XVI citou longamente o seu texto, usando-o como argumentação para significar a oposição do Vaticano ao “casamento para todos” que estava a ser aprovado em França, e para expor a sua teoria do género.
A legitimidade de Gilles Bernheim como líder religioso – foi eleito em 2008 para um mandato de sete anos – assenta mesmo na sua reputação intelectual, como filósofo e especialista no Talmude (o livro sagrado, para os judeus), sublinha o Le Monde.
Há quem classifique, por isso, o “caso Bernheim” como o “caso Cahuzac da comunidade judaica” – em referência ao ex-ministro do Orçamento, que se demitiu do Governo e acabou por ser mesmo expulso do Partido Socialista, depois de se saber que o homem forte da luta contra a fraude fiscal tinha contas na Suíça, diz ainda o Le Monde.
Bernheim acabou por confessar o plágio revelado pela L’Express, após o ter desmentido, num primeiro momento, causando a surpresa geral.
Num comunicado enviado à revista francesa L'Express, publicado na terça-feira passada, Bernheim reconheceu que houve um plágio, mas involutário. Diz que “devido à falta de tempo”, delegou a um estudante os “trabalhos de pesquisa e de redacção”, o que foi “um terrível erro”. “A minha confiança foi traída. Os plágios desmascarados na Internet foram comprovados”, afirmou Bernheim. Disse existirem "outros plágios que ainda não foram identificados" neste livro, e que tinha pedido que a obra fosse retirada de venda e suprimida da sua bibliografia.
Mas a L’Express continuou a investigar o currículo de Bernheim e descobriu um novo ponto polémico, relativo à sua participação no concurso nacional para a agregação em filosofia de professores universitários,. A revista não descobriu qualquer indício da sua alegada agregação nos arquivos da Sociedade de dos Agregados de Filosofia, nem do Ministério da Educação. Isto apesar da menção a este passo da sua carreira académica constar de todas as suas biografias oficiais - sem data concreta -, e de ter sido até mencionada pelo então Presidente Nicolas Sarkozy em 2010, quando atribuiu a legião de honra ao rabino, sublinha a revista, lançando mais uma sombra de suspeita sobre Gilles Bernheim.
“Este tipo de usurpação é raríssimo, e a bem dizer, não consigo citar um único caso”, disse à L’Express Blanche Lochmann, presidente da Sociedade dos Agregados de Filosofia. O grande rabino de França não deu qualquer explicação sobre o caso, diz a revista na sua edição online.

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