domingo, 4 de novembro de 2012

Escolha do sexo do bebê: um negócio milionário

 

Mercado de seleção de gênero já movimenta pelo menos US$ 100 milhões a cada ano

por Fernanda Dias

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É muito comum: logo após a notícia da gravidez, começam as conjecturas sobre o sexo do bebê. E aí pode vir a decepção de alguns pais ao saberem o resultado. De olho nesse filão de mercado, empresas estrangeiras já estão faturando alto com a seleção de gênero, negócio que gera uma receita de pelo menos US$ 100 milhões a cada ano, período em que são realizados de 4 a 6 mil procedimentos.
O custo médio do processo em clínicas de alto nível é de cerca de US$ 18 mil. A Fertility Institutes, que funciona nos Estados Unidos, é a líder mundial da técnica de seleção de gênero feita através de diagnóstico genético pré-implantacional (PGD), método desenvolvido no início dos anos 1990 com o objetivo de identificar possíveis anomalias cromossômicas no embrião antes de ele ser transferido para o útero. Os EUA são um dos poucos países no mundo que legalmente permite a utilização do PGD com o intuito de seleção de sexo. Canadá, Reino Unido e Austrália, por exemplo, consideram a intervenção ilegal.
“No Brasil, a escolha do sexo do bebê está proibida”, esclarece a médica Genevieve Coelho, diretora do Instituto Valenciano de Infertilidade de Salvador. “Os pais que optam pelo tratamento de infertilidade querem normalmente um filho. Para eles, a escolha do sexo é irrelevante”, completa ela.
Ao contrário das mulheres que buscam a fertilização in vitro com a esperança de conceber qualquer criança, as pacientes da clínica Fertility Institutes já costumam ter dois filhos. Elas são tipicamente mulheres de cerca de 30 anos, casadas e de classes média e alta.
O chefe do setor de Obstetrícia da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, Jorge Rezende Filho, ressalta que, em geral, a vontade maior de determinar o sexo do bebê realmente acontece a partir do segundo filho:
“A opção pela escolha do sexo poderia fazer com que alguns casais no Brasil também quisessem esse tipo de tratamento. Os custos, no entanto, certamente limitariam o número de pessoas com acesso ao procedimento. E, provavelmente, seria uma opção mais procurada no segundo filho, quando o primeiro não foi do sexo de preferência de um dos cônjuges”.
Segundo Jorge, a frustração na hora do exame é bastante comum, especialmente nos casos nos quais o ultrassom suspeitou de uma coisa precocemente – como no exame de 12 semanas, que não é garantido – e depois confirmou outra. Ele conta que, no dia a dia do consultório, alguns casais chegam a perguntar sobre possíveis procedimentos para a escolha do sexo: “Querer saber se haveria uma maneira natural de ter meninos ou meninas é muito comum. Mas, decidir se submeter a um tratamento de alta complexidade é outra história. E, como no Brasil não há respaldo ético para esse tipo de seleção (a não ser em casos de doenças ligadas ao sexo), os casais não levam a ideia adiante”.
Há alguns casos em que os tratamentos de seleção de gênero não dão certo. E aí, a decepção é ainda maior. Foi o que aconteceu com uma canadense que sempre sonhou em ser mãe de uma menina. Depois de dar à luz a dois meninos, ela foi em busca de um tratamento nos Estados Unidos – já que no Canadá o procedimento é proibido. A técnica escolhida era baseada na velocidade dos espermas. O método trabalha em cima da suposição de que os espermatozóides carregando o cromossomo Y (que geram homem) nadam mais rápido em uma solução de proteína do que os gametas com o cromossomo X (que geram mulher). Mas, o resultado foi a gravidez de mais um menino. A mulher, que teve sua história contada pela revista “Slate” mas optou por preservar seu nome, tentou então o método PDG, feito a partir de corantes fluorescentes que permitem que o embriologista veja os cromossomos e determine se o embrião está levando o par XX ou XY. No entanto, todos os embriões tiveram que ser descartados, e ela teve mais uma tentativa frustada.
Apesar dos contratempos financeiros e emocionais, ela tentou uma terceira possibilidade, que consiste na triagem de espermas aliada à fertilização in-vitro. Depois de quase quatro anos e US$ 40 mil gastos, ela finalmente conseguiu ser mãe de uma menina.
O desejo da canadense contrasta com o de mães da China e da Índia, onde os casais chegam a abortar fetos do sexo feminino. Não há estatísticas que comprovem que nos Estados Unidos a preferência é por meninas. Mas, médicos de fertilidade chegam a estimar que as meninas são a meta de 80% dos pacientes e dados do Google mostram que “como ter uma menina” é procurado três vezes mais no país do que como “como ter um menino”.
Além de problemas demográficos, os críticos do procedimento dizem que ele pode levar a futuras escolhas da cor do olho ou do cabelo do bebê. Isso sem falar no possível dano psicológico a essas crianças, que seriam pressionadas a viver de acordo com os estereótipos do gênero escolhido e pago por seus pais.
“O procedimento pode acabar estimulando a discriminação por gênero. Mas, não necessariamente vai abrir precedentes para que os casais escolham também a cor do olho ou do cabelo de seus bebês, já que não dispomos ainda da tecnologia para características físicas. Apenas identificamos os cromossomos X e Y”, explica Genevieve.
A Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva diz que está preocupada ainda pois os médicos podem desviar suas atenções de tratamento de infertilidades para perseguirem uma especialidade mais lucrativa.
Caros leitores,
Se fosse permitido no Brasil, vocês fariam o tratamento que permite a
escolha do sexo do bebê?

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