sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Não se deve dar oportunidade ao insucesso

Canal de Opinião
Por: Noé Nhantumbo
 
Tempo de lançar todos os diplomatas no terreno
Tempo de oferecer aos moçambicanos dignidade, paz e desenvolvimento…
Beira (Canalmoz) - As convulsões na RDC são reais e a tomada de Goma é um resultado concreto que responde a uma situação de recusa de diálogo num país de África.
Não é com artimanhas e arranjos circunstanciais que se estabelece concórdia e respeito pelos direitos humanos num país. Mas as opções extremas, o desencadear de guerra está nas mãos de políticos e militares que vêem seus interesses preteridos. “Factos são factos e contra eles não há argumento que valha”.
Em Moçambique ensaia-se um processo de negociações ou diálogo tendente a esclarecer a validade e relevância apresentadas pela Renamo.
Os que de ânimo leve pretendiam refugiar-se em teses defendendo o esgotamento e extemporaneidade de qualquer argumento relacionado com o Acordo geral de Roma estão vendo suas teses desmontadas num processo em que participam vozes de moçambicanos dos mais variados segmentos e correntes.
Para estes moçambicanos que corajosamente dão a cara e se manifestam pela necessidade de qualquer reivindicação ser acolhida e discutida os resultados começam a aparecer.
Há uma evolução da compreensão do que está em jogo e as partes já estabeleceram comissões encarregues de encetar o diálogo.
Não se deve oportunidade ao insucesso num processo de vital importância para o país e os moçambicanos.
Todo e qualquer artifício político, legalista ou de outra origem devem ser obliterados pela necessidade de se assumir com responsabilidade os verdadeiros interesses nacionais.
Quem não tem a coragem a abertura, honestidade intelectual de assumir que erros foram cometidos e de que é importante que o diálogo prevaleça e não se chegue ao recurso da violência como forma de dirimir as diferenças de interpretação da realidade nacional deveria calar-se e permanecer calado à bem da nação.
Não há forma linear para lidar com os problemas resultantes de uma aplicação incompleta e inconsistente do AGP.
Haverá dificuldade de encontrar uma fórmula prontamente aceite pelas partes como critério para início daquilo que os moçambicanos anseiam que sejam discussões produtivas e rápidas.
Mas algumas linhas se podem apontar como bases para qualquer discussão.
Parece-nos óbvio que não há que inventar a pólvora e que as bases de discussão devem ser o AGP. O que foi cumprido e o que se considera pendente? As partes reconhecem os pendentes? Sem se ir à busca de justificações financeiras ou de outro tipo para o não cumprimento do AGP deve ser preocupação das partes entender que é possível revisitar o passado e tomar as necessárias medidas correctivas.
Não faltarão dossiers quentes e complexos e encontrar um caminho funcional vai depender da flexibilidade dos negociadores mas também dos poderes reais que tiverem.
Como se pode concluir da evolução da situação pós-AGP existem dossiers pendentes. Se durante algum tempo se tentou arrastar a sua resolução ou encarregar o tempo de os tornar esquecidos a realidade não os sepultou.
Esta não é a altura apropriada para trazer à mesa de negociações os culpados ou consumir tempo e recursos na sua busca.
Basta que reconheçamos que o rumo dos acontecimentos resultou de considerações estratégicas que as partes supunham acertadas e apropriadas para as circunstâncias.
Felizmente os dois lados têm pessoas que estiveram na negociação do AGP o que na verdade facilita a identificação dos pontos de discórdia e uma discussão produtiva dos seus articulados.
Como moçambicanos imbuídos na pátria, acreditamos que serão capazes de aflorar todos os assuntos de maneira consequente e de tal forma não reste nada por discutir a posteriori.
Face as reivindicações da Renamo, o governo certamente irá apresentar a sua compreensão dos factos e dos assuntos. Não importa aos moçambicanos onde vão decorrer as discussões mas sim quando.
Não enrolem mais o assunto. Sabem todos o que os opõe e conhecem perfeitamente os dossiers.
Desembrulhem-se de agendas encobertas e de supostas vantagens competitivas pois terá sido isso em parte que o “comboio a caminho do descarrilamento”.
Os únicos imperativos nacionais são a paz, estabilidade, democracia política e económica.
Nada se jogadas sujas e de manobras dilatórias. No coloquemos tudo a perder só por teimosia ou uma pretensa superioridade conceptual e política.
Não há burros em Moçambique. Todos os moçambicanos mesmo os que se calam e consomem os discursos de circunstância e conveniência já conseguem ver que o AGP foi ferido no seu conteúdo.
Queremos chegar a Dezembro com sinais claros de o governo da Frelimo e a Renamo estão dialogando com responsabilidade patriótica, abandonando subterfúgios e construindo uma base para o relançamento de uma democracia genuinamente sentida e vivida pelos moçambicanos.
Inclusão na forma e no conteúdo, desenvolvimento participativo, tolerância, respeito pelos pontos de vista dos outros e sobretudo coerência dos políticos é o que os moçambicanos querem ver acontecendo.
Queremos ver os interlocutores recorrendo a todos os recursos ao seu dispor numa discussão que se quer séria e consequente.
Não há moçambicanos especiais, intocáveis, imunes e impunes.
Todos devemos obediência à Constituição da República de Moçambique… (Noé Nhantumbo)

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