terça-feira, 27 de novembro de 2012

As "botas sujas" do chefe!

13/07/2010

 

REFLEXÃO, de Adelino Buque
As '"botas sujas do chefe" pretende ser uma reflexão sobre o actual momento político nacional, caracterizado por acusações inter-pessoais e inter- grupos com destaque para o "lambe-botismo", que em algum momento se designou de "graxismo" e seguidismo. Moçambique tornou-se independente em 1975, parece não ser novidade!, até porque comemorámos há bem pouco tempo o 35° aniversário da Indepen­dência. Recordar que a Independência constituiu um marco histórico para Moçambique, África e o mundo. Os moçambicanos adquiriram por via da Independência cidadania que não tinham, passaram a ser donos de uma Nação com direitos e obrigações. Devo recordar que a Independência é produto de uma luta armada que durou uns longos dez anos contra o regime Fascista Colonial. Liderou esta luta a Frente de Libertação de Moçambique, única força que existia até então, resultante da fusão de três movimentos. Em África mais uma nação ficava livre do jugo colonial e o mundo passava a ter menos motivos de conflitos de natureza colonial. Por esta via, a Independência do nosso país terá sido comemorada mesmo pelos então colonizadores, que deixariam de ser vistos como violadores sistemáticos da carta das Nações Unidas.
A decisão de pegar em armas para libertar o país foi bastante ponderada. Assim se fez por falta de outras alternativas. O massacre de Mueda pretendeu ser alternativa ao uso de armas, mas a resposta foi aquela. Isso significa que havia de facto domínio da minoria sobre a maioria, se quisermos ser mais objectivos sem sermos racistas, o domínio de brancos sobre negros. Os poucos negros que apareciam ligados ao sistema eram assimilados e ou “lambe-botas" de então, embora não usassem tal designação. Com a Independência Nacional a classe dirigente colonial é substituída pelos filhos do povo que vinham das matas. Provavelmente, estes passaram a usar '"botas", sendo que os não negros passaram, por assim dizer, a ter, também, atitudes dos negros durante o regime colonial. Como o disse acima, no período colonial havia '"lambe-botas", talvez não fossem assim designados. Com a independência, estes não morreram, mantiveram-se em exercício das suas funções, e a eles adiciona-se, como disse, os não negros e a sua atenção virou para o novo quadro vindo das matas, A forma de "lamber as botas" provavelmente não será a mesma que no sistema colonial, por razoes óbvias. Estes caçam, o colono, mostrando aos camaradas os que nlo alinha com a linha política da Frente, estes constituem-se em verdadeiros senhores conhecedores da linha política da Frente. Na análise do inimigo tornam-se exímios e melhores que os próprios comba­tentes que durante os longos dez anos lutaram contra o colonialismo. Eles é que passam a definir melhor o inimigo e as suas formas de actuação. Os combatentes da luta armada parece que já não entendiam nada sobre o inimigo.
Estes "lambe-botas", porque minimamente formados e informados, tornam-se de facto os ideólogos do sistema., falam de Marx como se tivessem tido uma relação de escola ou de trabalho, conhecem Lenine como conhecem o vizinho, odeiam o capital como se odeia o inimigo e transmitem isso aos dirigentes que aplaudem* até porque se encoraja a que tudo esteja sob controlo do Estado, Para o efeito, os novos lambe-botas''', embora não se designassem assim, mas o sao pela similaridade, transferem as lojas, barbearias, casas de frescos, bombas de combustíveis, oficinas mecânicas, entre outros, para a gestão superior do Estado ou, na pior das hipóteses, a gestão cooperativa, onde os membros o eram peio simples facto de serem moradores desse bairro e nada mais!
Acontece que a gestão destes recursos tornou-se um problema, os dirigentes vindos das matas cedo se apercebem que cometeram um erro. Como nessa altura as críticas e "erros" resolviam-se com auto­crítica, resolveu-se reconhecendo publicamente que se cometeu o erro de querer fazer do Estado gestor de pequenas coisas, o que não deve ser, meio caminho para reconsideração do inimigo do Povo, o capital, como parceiro na luta comum pelo bem-estar da sociedade, embora os libertadores assumissem isto de forma pública, os “lambe-botas” de então, embora não se designassem assim, mas o eram por similaridade, aconselharam prudência, uma prudência que dura pouco, porque o sistema financeiro mune ia! era contra essa forma de estar, este sistema exige, quase que impõe, a Moçambique a abertura do mercado e o fim da economia centralizada. Os "lambe-botas" cedo dominam as orientações do sistema internacional de finanças e, de repente, passam a odiar Marx com a mesma intensidade comi que o amaram, quando "cruzam" com Lenine fingem que nunca o "viram" e até propõem a sua retirada da toponímia local, tal o ódio que nutrem, estes “lambe-botas" lideram o processo de privatização e tão rapidamente passam a consultores do sistema de finanças internacionais, quais camaleões!
Acontece que as "botas" continuam a precisar de limpeza, os '"lambe-botas* embora não se designassem assim, mas o eram por similaridade, começam a atacar os seus anteriores chefes, donos das "botas", as "botas" que eles lambiam ou melhor dizendo engraxavam, estes vêem-se momentaneamente confusos, não entendem como um exímio “lambe-botas" de ontem vira crítico do seu próprio exercício, mas estes consolam-se porque emerge uma nova vaga de pessoas com alguma capacidade, estamos por aí há uns vinte anos de independência. Os 'lambe-botas" que viraram consultores ou outra coisa qualquer, que em regra deve terminar com designação "INDEPENDENTE" como forma de elucidar a total ruptura com aqueles a quem um dia engraxaram-lhe as "botas" incondicionalmente.
As "botas" mudam de dono
O tempo passa, as coisas mudam, não sei se para melhor ou para pior, facto dos factos é que quem passa a ter "botas" merecedoras de lustro não são as mesmas pessoas, existe o que se designa “Mudança na Continuidade”, slogan aceite com pouco debate e discussão pública, não me recordo se chegou a debater-se. No entender das pessoas que acabavam de descalçar as "botas" era que tudo permaneceria na mesma, até porque por uns largos anos as coisas pareciam estáticas, à frente estava uma pessoa que nada decidia, as decisões de vulto vinham, por regra, de fora da instituição, as pessoas viam e calavam-se, assim ao longe diria mesmo que todos fomos coniventes, mas, de repente, emerge um vulcão por dentro, rebela-se, chama ao estado das coisas de "deixa-andar", os novos “lambe-botas" no lugar de agirem .e os lambe-botas" de então para a luta, estes enfrentam a tenacidade dos novos “lambe-botas" até porque estes novos são, na prática, um exército. Os antigos caem em desânimo total, provavelmente se comunicam; com os seus chefes sobre o facto e decidem entrar na fase seguinte que consiste em os próprios chefes fazerem pronunciamentos públicos. Estes aparecem e falam, simplesmente como estão de "botas-sujas” ninguém os liga, falam e provocam muito barulho no sistema e ninguém os liga, definitivamente concluem que não possuem o peso de ontem, os seus "lambe-botas" estão cansados e condenados a andar de “botas sujas", fazem uma pausa para a reflexão, não se conformam com o estado das suas "botas", estio calados e tudo indica que, brevemente, teremos novos desenvolvimentos.
Caro leitor, da leitura que acaba de fazer pode-se concluir que todos somos "lambe-botas" de alguém e em algum momento tudo depende do entendimento dos que estão de fora.
CORREIO DA MANHÃ – 12.07.2010

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