10.10.2018 às 20h12
Filha do antigo presidente do Peru é investigada por verbas que alegadamente terá recebido da construtora brasileira Odebrecht, no contexto do escândalo Lava Jato
Passaram menos de oito dias depois de o supremo tribunal de justiça ter anulado o indulto decretado pelo ex-chefe de estado Pedro Pablo Kuczynski (demitido em março) a favor do antigo ditador Alberto Fujimori. Nesta quarta-feira, foi Keiko, a filha mais velha, a ser presa, na sequência de uma investigação judicial.
Keiko é líder do partido Fuerza Popular, de tendência autoritária neo-liberal. Foi por duas vezes candidata à presidência da república, a última das quais em 2016, sendo derrotada na segunda volta. Apesar deste resultado, nas últimas eleições conseguiu obter maioria no parlamento, a partir de onde liderava uma oposição de bloqueio ao governo.
Nos últimos tempos, o seu nome vinha constantemente sendo associado a casos de justiça, que incluem verbas que alegadamente terá recebido da construtora brasileira Odebrecht, no contexto do escândalo Lava Jato. É investigada, também, por irregularidades no financiamento do seu partido. Segundo a ordem judicial, é acusada de “liderar uma organização criminosa, sob a fachada do partido Fuerza Popular”.
A sua popularidade vinha baixando desde julho, na sequência da associação a outro escândalo de corrupção e tráfico de influências dentro do poder judicial. Recentemente, a força das circunstâncias políticas obrigou-a no parlamento a votar favoravelmente um pedido de referendo que o presidente Martin Vizcarra apresentou, com o objectivo de proceder a alterações na lei eleitoral e na organização do poder judicial.
Outro fator que tem vindo a desgastar a sua imagem são as disputas internas no clã Fujimori. Aparentemente para evitar a sombra paterna, em dezembro opôs-se às negociações do seu irmão e congressista Kenji, com o destituído presidente Kuczynski, que terminariam no indulto ao patriarca. Com mão dura, a irmã não lhe perdoou a iniciativa, acabando por expulsá-lo da bancada e usando a maioria para o suspender do parlamento. Paradoxalmente, viria a criticar duramente o supremo tribunal quando, na semana passada, o indulto a Alberto foi declarado nulo.
Com Keiko foi dada ordem de detenção a uma lista de vinte pessoas que lhe são próximas.
Neste momento, o Peru discute o impacto no complicado xadrez político nacional. Parece fora de dúvida que um dos principais beneficiários é o actual presidente Vizcarra, que desde julho vinha seguindo uma estratégia de confronto com a maioria fujimorista, o que lhe estava a granjear aumentos significativos de popularidade.
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