10.10.2018 às 18h27
O Expresso sabe que o documento entregue em novembro ao ex-chefe do gabinete do ministro Azeredo Lopes refere explicitamente que a chamada anónima para o piquete da PJM foi encenada pela própria polícia militar e que a entrega das armas foi feita na condição de a PJ não ser envolvida
O memorando entregue no Ministério da Defesa em novembro do ano passado pelo então diretor da PJM, coronel Luís Vieira, e pelo major Vasco Brazão, ex-porta voz daquela polícia, é explícito relativamente à encenação que foi montada pela Judiciária Militar em torno da recuperação das armas roubadas em Tancos.
No documento escrito em pouco mais de uma página A4, que não está datado nem tem qualquer assinatura, refere-se que a entrega das armas foi combinada com um informador da PJM que se disponibilizou a revelar a localização onde estava escondido o arsenal na condição de a PJ não ser envolvida nem ter qualquer conhecimento da operação.
O texto não identifica o informador nem sugere que este tenha tido qualquer ligação direta ou indireta com o assalto realizado no final de junho do ano passado, o que pode explicar as declarações feitas na última quinta-feira pelo ex-chefe de gabinete do ministro da Defesa.
Numa curta declaração escrita enviada à agência Lusa a 4 de outubro, o major-general António Martins Pereira confirmou o encontro com os dois militares da PJM, em novembro, mas ressalvou que não lhe foi possível "descortinar qualquer facto que indiciasse qualquer irregularidade ou indicação de encobrimento de eventuais culpados do furto de Tancos".
Nessa declaração, o major-general não fez referência a nenhum documento que lhe tivesse sido entregue pelos dois responsáveis da PJM. Mas já esta quarta-feira anunciou ter feito chegar ao Ministério Público a "documentação verdadeira" sobre a operação clandestina da PJM, que tinha em sua posse desde aquele encontro no Ministério da Defesa no final do ano passado.
O Expresso sabe ainda que o memorando não deixa dúvidas sobre a operação de encobrimento montada em torno da recuperação das armas, referindo explicitamente que o telefonema anónimo para o piquete da PJM na madrugada de 18 de outubro a indicar a localização das armas não passou de uma encenação. O documento explica que a chamada feita numa cabine telefónica no Montijo foi realizada afinal por um elemento da própria Judiciária Militar.
O texto explica mais do que uma vez que tudo foi feito sem o conhecimento da Polícia Judiciária, que tinha a seu cargo a investigação ao roubo das armas e explosivos de Tancos. O memorando nada diz no entanto sobre a participação dos três elementos do núcleo de investigação criminal da GNR de Loulé, também constituídos arguidos no âmbito deste caso.
NOVE ARGUIDOS NA OPERAÇÃO HÚBRIS
De acordo com o Ministério Público, a PJM e a GNR de Loulé fizeram "um pacto de silêncio" sobre a verdadeira história da recuperação das armas, que não foi conseguida através de uma denúncia anónima, como anunciaram oficialmente na altura, mas através de um acordo ilegal com um dos suspeitos do furto.
A Operação Húbris, desencadeada pelo DCIAP e Polícia Judiciária, tem nove arguidos, entre eles o ex-diretor da PJM, que se encontra em prisão preventiva, e o major Vasco Brazão, em prisão domiciliária. Há ainda mais três elementos daquele órgão de polícia criminal e três militares da GNR de Loulé. Foi também constituído arguido, atualmente em prisão preventiva, o ex-fuzileiro que segundo a PJ é um dos autores do furto e que terá feito o acordo com os militares para a entrega do arsenal em troca da sua imunidade.
A PJ soube do esquema através de uma carta anónima que descreve com minúcia toda a operação montada pela PJM e GNR de Loulé.
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