Filipe Nyusi deve usar cofió e ir ao litoral de Nampula pedir desculpas aos sheiks
Tornou-se lugar comum considerar que os nampulenses tem uma afeição natural irrevogável pela Renamo e daí a razão do seu voto. Surge também a ideia de que o bastião da Renamo se transferiu da Beira para Nampula. O comportamento eleitoral no litoral de Nampula, que espelha essa preferência, é uma evidência indesmentível. Mas a razão para esse comportamento ainda não foi cabalmante esmiuçada. Uma hipótese empurra-nos para o período imediatamente pós-independência. A Frelimo violentou as estruturas mais básicas de organização social na região. A autoridade tradicional dos sheiks foi esvaziada. Tal como aconteceu com os regulados do sul de Moçambique. Em Nampula, a comunidades locais, arabizadas, ficaram sem os seus líderes. Que foram substituídos por chefes de grupos dinamizadores escolhidos nas castas mais baixas da população. Isso violentou completamente o tecido antropológico local. E criou feridas que ainda hoje não estão saradas. Nem foram minimizadas quando, com a transição democrática a partir do início da década de 90, a Frelimo voltou a recuperar as chamadas “autoridades tradicionais”, num processo que em Nampula não conseguiu minorar as mágoas. O voto dos macuas do litoral de Nampula é um voto que, mais do que representar escolhas por uma proposta programática da Renamo, funciona como um símbolo de aversão à Frelimo. A Renamo só está a apanhar boleia dessa aversão. Muitos jovens que votaram nela desconhecem a razão dessa opção. Seguem a narrativa de seus pais e avós. A Frelimo tem investido fortemente em Nampula mas ainda não compreendeu que o que deve fazer é uma verdadeira reconciliação com os sheiks locais. Estes é que determinam a preferência dos eleitores. Se o partido pretende ter melhores resultados em 2019 deve investir nessa reconciliação, sem descurar um melhor desempenho local em termos de políticas públicas. Filipe Nyusi terá de passar mais tempo no interior de Nampula se ajoelhando de cofió na cabeça para se desculpar do passado. Muitos empresários de origem árabe nampulense, que publicamente financiam a Frelimo mas votam contra ela nas urnas (alguns são descendentes de comerciantes árabes das antigas rotas do Indico em cruzamento com mulheres negras da região) podiam fazer essa ponte. Os nampulenses do litoral não têm uma afeição irrevogável pela Renamo. Têm uma aversão figadal contra a Frelimo. Que pode ser resolvida. Se a Frelimo quiser.
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