quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Almirante e investigadores da PJ Militar: "não sabem o que é ser polícia"


Antigo comandante-geral da Polícia Marítima rejeita que acusados da Judiciária Militar digam "somos militares e cumprimos ordens"



Elementos da PJ Militar (PJM) dizerem que "são militares e cumprem ordens", após serem acusados de forjar a entrega do material furtado em Tancos, revela que "não sabem o que é ser polícia", diz ao DN o vice-almirante Cunha Lopes.
Antigo comandante-geral da Polícia Marítima (PM), este oficial general oriundo da Marinha é categórico: "Qualquer investigador da PJM, quando diz que cumpre ordens, desconhece o que é ser autoridade de polícia criminal."
Essa invocação foi feita publicamente pelo major Vasco Brazão, antigo porta-voz da PJM e responsável pela investigação ao furto de Tancos acusado de participar na encenação da entrega do material e que, na madrugada desta quarta-feira, ficou sujeito à medida de coação de permanência na residência sem vigilância eletrónica.
Cinco dos nove detidos pela PJ no âmbito da Operação Húbris pertencem à PJM, estando acusados da prática de crimes de associação criminosa, denegação de justiça, prevaricação, falsificação de documentos, tráfico de influência, favorecimento pessoal praticado por funcionário, abuso de poder, recetação, detenção de arma proibida e tráfico de armas.
"Somos militares. Cumprimos ordens", escreveu o major Vasco Brazão nas redes sociais no fim de semana e quando ainda estava na República Centro-Africana.
Este argumento traduz a perceção de que a PJM funcionava afinal como unidade militar, apesar de altas patentes e um seu ex-diretor, major-general Rodolfo Begonha, afirmarem que essa polícia "não é militar" por estar fora da hierarquia castrense e depender diretamente do ministro da Defesa.
Cunha Lopes, com base naquelas afirmações de Vasco Brazão e eventualmente de outros investigadores da PJM ouvidos em tribunal, frisa que "cumprir ordens é nas forças militares e nos quartéis", não numa estrutura civil como a PJM. "Aqui não é militar" e invocar esse estatuto "só prova que os militares não sabem o que é ser polícia", insiste aquele vice-almirante.
"Enquanto autoridade de polícia criminal, um investigador da PJM só recebe ordens e orientações do Ministério Público [porque] quem dirige o inquérito" são os procuradores, "não é o diretor-geral da PJM ou qualquer comando militar", enfatiza Álvaro Cunha Lopes.
Olhando para o caso da recuperação das armas furtadas em Tancos, à luz das acusações feitas pelo Ministério Público e da assunção de responsabilidades - invocando o "interesse nacional" - feita pelos arguidos, Cunha Lopes considera que a ação da PJM refletiu a formação militar dos seus quadros: privilegiar "a eficácia" do resultado (recuperar as armas), esquecendo o que diz a Lei de Organização da Investigação Criminal (LOIC) - os órgãos de polícia criminal impulsionam e desenvolvem, por si, as diligências legalmente admissíveis [...]".
O antigo comandante-geral da PM - cujo mandato, em acumulação com o de diretor-geral da Autoridade Marítima, foi marcado por choques frequentes com os então responsáveis da Marinha que entendiam intervir nessas estruturas civis - lembra que apenas lhe competia nomear investigadores para um qualquer inquérito e dar-lhes o apoio administrativo e logístico necessário ao exercício das funções.
A partir desse momento cessava qualquer intervenção sua no processo conduzido pelo Ministério Público, acrescentou.
Questionado sobre se o argumento do "somos militares e cumprimos ordens" também se aplicaria ao anterior diretor-geral da PJM que ficou em prisão preventiva depois de ouvido em tribunal, Cunha Lopes recusou fazer essa inferência quanto ao coronel Luís Vieira - licenciado em Direito e antigo juiz militar - a partir das afirmações de subordinados como o major Vasco Brazão.
A LOIC diz expressamente que "a direção da investigação cabe à autoridade judiciária competente em cada fase do processo [e] é assistida na investigação pelos órgãos de polícia criminal" designados como competentes para o caso em concreto.
No caso de Tancos, a investigação começou com a PJM por ter ocorrido no interior de uma unidade militar.
Mas dias depois, perante a possibilidade de haver ligações ao terrorismo e havendo já atritos entre as duas polícias judiciárias, a procuradora-geral da República comunicou pessoalmente ao diretor da PJM que a responsabilidade do caso transitava para a PJ.
O agravamento das relações entre a PJ e a PJM intensificou-se ao ponto de os investigadores militares terem alegadamente simulado a recuperação da entrega do material de guerra furtado em Tancos, como acusa o Ministério Público.
Luís Vieira foi substituído terça-feira como diretor-geral da PJM com a nomeação, pelo ministro da Defesa, do comandante Paulo Isabel, um oficial de Marinha que foi comandante regional e local da PM. 15 comentários
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Nuno Silva
Um amigo meu foi apanhado a roubar figos e disse que tinha sido mandado pelo pai.

À noite levou o maior arraial de porrada da vida dele... pelo pai...
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Virgilio Afonso
Se um militar for apanhado em incumprimento e jurar que apenas cumpriu ordens, isto pode levar nos até ao presidente da repúbica que é o chefe supremo das forças armadas. Todos nós temos um código de conduta e se o cumprirmos escrupulosamente, somos responsaveis pelos nossos actos e não temos que responsabilizar mais ninguém. Mas francamente, este roubo dos paiois de Tancos sempre me pareceu muito rebuscado, nunca acreditei nem acredito.
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Fernando Costa
Finalmente uma voz de bom senso do interior das FA, a actuação de um militar não se rege apenas pelas disciplina militar (cumprir ordens) mas também pela ética e pela moral, (e também pelo profissionalismo, mas nem quero entrar por ai) que no contexto em causa foram sequestrados por uma versão perversa da "lealdade entre militares" aka "camaradagem" que tudo permite de legal ou ilegal, moral ou imoral desde que seja entre militares, e onde nada se pode sobrepor a esse aspecto/principio imutável???? ... estamos loucos?! Então as FA são como a MAFIA em que nada se pode sobrepor à lealdade "cega" entre os seus membros ?!! ...Obviamente que algo de "ABSOLUTAMENTE" ERRADO ocorreu nas acções desses militares, nem sequer se pode considerar que aconteceu algo de "RELATIVAMENTE" ERRADO (foi por causa das ordens, foi por causa da camaradagem) que possa justificar alguma coisa.
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Victor M. De Oliveira
E com este joguinho agora falas tu depois falo eu, na verdade ninguém diz nada de importante. Inventaram um novo passa-tempo.
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Joao Pedro
Oportunidade de ouro para acabar com isso.
Segundo o comentadeiro, é mais militar a GNR que a própria PJM
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Oscar Maximo
Coitados, estão entalados em 2 hierarquias, militar e MP. E a culpa é de quem ?
Te Isa
o almirante fez frente ao chefe de estado maior da armada porque ja era almirante. se nao fosse tinha sido como os outros, yes sir. pq a seguir voltava para a marinha e estava fdido lol
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Pedro Ferreira
Tristes. Não perceberam que outros valores estão escondidos. Deixem a justiça trabalhar.
Renato Quintaldesousa
Onde é que ouvi essa historia de cumprir ordens ? julgamento de Noremberga todos os acusados cumpriam ordens emanadas de Adolfo Hitler
que coisa patetica , nem morto têm para lhe deitarem as culpas que conversa militar "Tonha ! "
José Marques
Parabéns ao senhor vive Almirante. Pôs o dedo na ferida.
Augusto Oliveira
Coisas que eu vejo nos filmes e não parecem corresponder à realidade entre nós: os polícias militares são sempre os mais bem formados, aprumados e competentes no seu ofício. Quem é responsável?
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Jota Pe
Esse Almirante entendeu.
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Manuel Deodato Martins
Até um Sargento da Marinha já tinha entendido! Disse me um "passarinho" amigo...
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Aline Martins
São todos bons rapazes...
Pedro Ferreira
Não alimentem a polémica. É isto que se aprende como ética militar.

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