Ano 8 | número 1730 | Maputo, Sexta-Feira 17 de Junho de 2016
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Director: Fernando Veloso | Editor: Matias Guente | Propriedade da Canal i, lda As intervenções do ministro das
Finanças, Adriano Maleiane, e do
primeiro-ministro, Carlos Agostinho
do Rosário, na Assembleia da
República, deixaram claro o que
escrevemos aqui na nossa reflexão
anterior. A nível interno, não há sequer
a mínima vontade de responsabilizar
de forma exemplar os que,
usando dos poderes discricioná-
rios que possuíam, endividaram o
Estado com projectos estritamente
pessoais, o que constitui um saque.
O que está agora a acontecer, e
que tem o primeiro-ministro como
figura de cartaz, é uma exortação
pública aos cidadãos para apadrinharem
a ilegalidade. É isso que
não podemos permitir, em nome
da nossa própria racionalidade e
sanidade. Ter um primeiro-ministro
que vai à Assembleia da República
assumir que sim, houve
violação da lei, e, em vez de impor
a responsabilização, faz uma
exortação para que a ilegalidade
se transforme em legalidade, é
um insulto às nossas capacidades
cranianas e um indicador de
que esta gente perdeu a vergonha.
Não há no mundo nenhum país
sério em que o primeiro-ministro
exorta os cidadãos a não cumprirem
a lei. Carlos Agostinho de
Rosário devia receber o Prémio
Nobel da Falta de Seriedade, por
apologia do avacalhamento do
Estado, das leis e das instituições.
“Não reconhecer as dívidas contraídas
evocando a nulidade dos
contratos celebrados, apesar de
tal opção ser aliciante e simplificada,
teria consequências negativas
na economia e na boa imagem
do país perante os credores
Editorial
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2 ano 8 | número 1730 | 17 de Junho de 2016
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internacionais”, disse o primeiro
primeiro-ministro, intervindo
na Assembleia da República.
A partir deste discurso, fica claro
que Carlos Agostinho de Rosário
não é sério, tal como fica claro por
que razão foi escolhido pela Frelimo
para ser primeiro-ministro. Um
primeiro-ministro que que se coloca
na linha da frente para desrespeitar
as leis. Quando são os próprios
dirigentes do Estado que não querem
que o Estado seja respeitado,
aos cidadãos não resta muita alternativa
senão levar a cabo acções
colectivas para defender o Estado.
Mas, como jornal, temos o dever
patriótico de esclarecer este momento
de ignorância momentânea
ou, se calhar, permanente do senhor
Carlos Agostinho do Rosário.
É mentira que a imagem do Estado
moçambicano ficará prejudicada
se requerermos a nulidade
de todos os contratos celebrados
com ilegalidade e com o fim de
roubar a Moçambique e aos mo-
çambicanos. Muito pelo contrário,
Moçambique granjearia simpatia,
junto de países sérios, como um
país que não aceitou assumir dí-
vidas ilegais contraídas por uma
corja de mafiosos que usaram o
Estado para enriquecer de forma
ilícita. É mentira que exigir
a nulidade desses contratos seja
uma saída tentadora e simplicista.
Exigir a nulidade desses contratos
é a única saída legal, responsável,
que dá indicações de que,
afinal, nem todos os moçambicanos
são tão gatunos como os que
foram contratar os empréstimos.
A imagem de Moçambique não
ficaria de forma alguma prejudicada
se cumprisse a lei. As leis
não servem para prejudicar os que
as cumprem. O senhor primeiro-
-ministro está equivocado. Quem
ficará prejudicado de facto, se
Moçambique declarar a nulidade
desses contratos, são os ladrões
que pretendem prejudicar o país,
e que, infelizmente, usufruem do
luxo de ter como defensor oficioso
um primeiro-ministro pouco
esclarecido e inimigo das leis.
Seria bom que o primeiro-
-ministro dissesse na Assembleia
da República que ele e os seus
amigos, a quem defende, ficariam
financeiramente prejudicados
se esse dinheiro fosse pago
dos próprios bolsos deles. Tudo
o resto é teatro de mafiosos tentando
salvar-se uns aos outros.
A Constituição da República é
clara e não abre margem para solidariedades.
Segundo a alínea p)
do Artigo 179 da Constituição da
República ainda em vigor em Mo-
çambique, compete à Assembleia
da República: “Autorizar o Governo,
definindo as condições gerais,
a contrair ou a conceder empréstimos,
a realizar outras operações
de crédito, por período superior
a um exercício económico, e a
estabelecer o limite máximo dos
avales a conceder pelo Estado”.
Portanto, não competia nem a
Armando Guebuza nem a Mussumbuluko
Guebuza nem a Manuel
Chang nem a Filipe Nyusi,
muito menos a Gregório Leão e
aos seus subordinados, contraí-
rem dívidas em nome do Estado
moçambicano. Estamos perante
um acto administrativo manifestamente
ilegal. E todos os actos administrativos
que não se baseiam
na lei são nulos, conforme determina
a Constituição da República.
E a nulidade desses actos não
depende das exortações ilegais
do primeiro-ministro. São nulos
porque emanam do comando
da Constituição da República.
Portanto, se alguma réstia de
respeito houver, o que o senhor
Carlos Agostinho do Rosário deve
fazer é manifestar publicamente o
seu arrependimento pelo facto de
ter exortado os cidadãos a consentirem
violações graves da Constituição
da República. O primeiro-
-ministro deve pedir desculpas
por estar a apresentar um manifesto
de ilegalidade em defesa de
marginais (aqueles cuja conduta
se desenrola à margem da lei).
Quanto a nós, não há nada a negociar
aqui. É uma questão de lei.
De que nos valem as leis, se o seu
incumprimento for perdoado por
uma exortação? É esse o tipo de
país que queremos ser? Certamente
que não. É hora de os moçambicanos
se levantarem e defenderem
o Estado. Se falharmos desta vez,
estaremos a oficializar a nossa
inutilidade como cidadãos. E isso
seria um terrível desastre. A nossa
sobrevivência como nação civilizada
– e a “boa imagem do país”,
senhor primeiro-ministro! – depende
da defesa das leis, do Estado
e da moralização das suas instituições.
(Canal de Moçambique)
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A vida difícil de 500 famílias deslocadas na província de Inhambane
Mais de 500 famílias abandonaram as suas residências na localidade de Pembe, distrito de Homoine, na Província de Inhambane devido a crise político-militar desde 2014. Pembe está praticamente abandonada.
Ouça aqui
Tudo começou em Janeiro de 2014, quando se registaram os mais duros confrontos entre forças governamentais e homens armados da RENAMO: no seio da comunidade da pequena localidade de Pembe houve, na altura, uma grande agitação e mesmo muito medo, o que levou muitas famílias a fugir para lugares considerados mais seguros.
Atualmente restam poucas famílias nas zonas de Pembe e Catine. As escolas existentes têm fraca afluência e o comércio está praticamente às moscas.
A DW África visitou a região e viu, um pouco por todo o lado, nítidos sinais de abandono. A diretora pedagógica adjunta da escola primária completa de Pembe, Albertina Matsimbe, afirma que muitas crianças saíram com os seus pais para outras zonas, consideradas mais seguras, e lá construíram novas casas: “Muitos alunos abandonaram Pembe e matricularam-se noutras escolas. Agora já não é fácil eles regressarem, pois eles agora frequentam as escolas de Chijuirre, Hanhane, Phacule e outras regioes”.
Pouco movimento: comércio local morto
Felizarda Svanguane, comerciante desde 2009 na região de Pembe, confirma a saída de muitas pessoas e queixa-se da falta de clientes: “Agora não há movimento nas bancas e lojas, as pessoas quando saíram desde que surgiu aquele problema do conflito armado em 2014 não voltaram, aqui há muitas casas sem ninguém a habitar.”
Felizarda Svanguane, comerciante desde 2009 na região de Pembe, confirma a saída de muitas pessoas e queixa-se da falta de clientes: “Agora não há movimento nas bancas e lojas, as pessoas quando saíram desde que surgiu aquele problema do conflito armado em 2014 não voltaram, aqui há muitas casas sem ninguém a habitar.”
Na vila sede de Homoine, mais precisamente em Ndambine, o governo local criou um bairro de reassentamento onde estão acomodadas pouco mais de duzentas famílias. Patrícia Fungai e Eugenia Savanguane, duas das moradoras deste bairro de reassentamento, dizem que perderam todos os seus bens. Contam que saíram com muita pressa em 2014, por temerem serem mortas "por forças governamentais ou membros da guerrilha da RENAMO": “Saímos de Pembe para a vila de Homoine porque não havia segurança na região. Tivemos que vender o gado que tínhamos, de modo a pagar o transporte de outros bens", afirma Patrícia Fungai. “Não tenho saudades de voltar mais para Pembe”, afirma ainda Eugenia Savanguane.
"Pembe precisa de uma nova contagem de habitantes"
Casas abandonadas, machambas sem ninguém e salas de aulas com poucos alunos: a situação levou o governo provincial de Inhambane a optar pela realização de um censo populacional a partir de 1 de Agosto de 2016. Neste momento já estão a ser recrutados jovens para os trabalhos do censo, segundo conta Carlos Masango, porta-voz da secretaria do Posto administrativo local.
“De 1 a 15 do mês de Agosto, vai se fazer o recenseamento da população para conhecer o numero total das pessoas que vivem aqui ao nível do posto administrativo de Pembe”, explica Carlos Masango. Por sua vez, a administradora do distrito de Homoine, Josina Chissico, confirma que já não existe muita gente a viver no posto administrativo de Pembe desde 2014, "devido à presença das duas forças armadas". Nestes últimos meses não houve, no entanto, registo de confrontos militares, lembra a administradora: “No entanto há que dizer que nós temos grandes problemas em Pembe, porque a população foi movimentada de lá de qualquer maneira. As pessoas foram viver em outras zonas, por isso está-se a fazer o censo para podermos saber quantas pessoas existem. É que muitos já estão a viver em Chijuirre, no bairro da expansão”, referiu Administradora de Homoine.
DW – 15.06.2016
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