Colapso (6)
Numa entrevista à Lusa, publicada esta quarta-feira, o Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, admitiu que Angola praticamente deixou de ter capacidade de importação e descreveu o ambiente económico do seu país como sendo extremamente complicado.
Angola, como disse o próprio José Eduardo dos Santos, praticamente vive de importações para bens alimentares, para matérias-primas, para a produção nacional, isto é, para a indústria, agricultura, materiais diversos para a construção, pagamento de especialistas estrangeiros. Se Angola deixou de ter essa capacidade de importação, o cenário é negro.
Ou seja, nas palavras do próprio Presidente angolano, o crescimento da economia do seu país diminuiu drasticamente, situando-se agora nos 2 por cento quando antes estava em cerca de cinco a seis por cento.
Isto tudo acontece porque o Orçamento Geral do Estado angolano, para este ano, foi calculado na base dos 45 dólares o barril do petróleo, a sua principal fonte de receita. Em Fevereiro, o mesmo barril de petróleo desceu para 28 dólares. É só imaginarem o caos instalado.
Para os países da língua oficial portuguesa, Angola era o expoente. Jovens angolanos circulavam com milhares de dólares na rua. A economia estava robusta. Portugueses abandonaram o seu país e foram fixar residência em Angola, onde abriram empresas, tiveram muitos investimentos, mas agora o caos está instalado.
Moçambique
Busquei o exemplo angolano só para estabelecer o paralelismo com a economia moçambicana. Efectivamente, Moçambique não foge muito de Angola. Quando o Presidente Nyusi assumiu o poder, no dia 15 de Janeiro de 2015, o dólar americano estava à venda a 32.5 meticais no mercado negro, nos bancos vendia-se a 31.5. 15 meses depois, o mesmo dólar no banco está cotado a 67.3 meticais e no mercado negro está a 66.5 meticais. Incrível não é!?
No mercado negro está a baixo preço também porque não existe metical na praça. As importações em Moçambique diminuíram quase 90 por cento e as exportações estão mesmo a zero por cento. Não estou a falar de exportações clandestinas de madeiras para a China. Estou a falar do oficial.
Se a memória não me atraiçoa, nunca o mundo conheceu uma desvalorização de uma certa moeda em 100 por cento num único ano. Isto é absurdo, para não dizer que é gravíssimo!!!!
Os produtos da primeira necessidade subiram na ordem de 40 por cento, em menos de um ano. Neste caminhar, não tenho dúvidas que daqui a nada estarão a custar 100 por cento mais do que o ano passado.
Nalguns contactos meus com alguns economistas, fiquei a saber que o dólar está a subir a galope e não se espera que haja limite da sua súbita. Brevemente, poderá até custar 80 meticais. E se isso acontecer, o país estará a entrar para o caos, estando neste momento a economia moçambicana em agonia.
Em Novembro do ano passado, fiz um post no qual falava sobre a decadência da economia moçambicana. Os que estiverem interessados podem procurar aqui na minha página e vão encontrar. Trata-se de uma decadência que já estava prevista.
Só para dar um exemplo, a província de Tete, até há bem pouco tempo atrás, era considerada o el dorado. Os negócios e investimentos subiram de 10 para 500 por cento. Estava claro que nesse ritmo, Tete seria a cidade mais movimentada de Moçambique. Até havia voos directos da África do Sul para Tete.
Hoje, Tete vive dias dramáticos. Os negócios caíram de tal sorte que até arrepia. Os hotéis construídos com investimento privado estão agora às moscas. O desemprego voltou a tomar conta da província.
E esta situação não é só de Tete. Alastra-se em todo o país. Moçambique está à beira do caos. Medidas draconianas devem ser tomadas para que amanhã não vemos as prateleiras dos super-mercados vazias. Não haverá o que comer. E Moçambique não produz praticamente nada. Vive de exportações que até o próprio tomate tem que vir da África do Sul. E como comprar esse tomate sem divisas?
Nini Satar
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