SELO: - Por Franquelino Basso
Estou ciente das possibilidades de más interpretações que possam advir desta opinião procedente de algumas conversas com jovens da minha geração e de outras opiniões sobre a situação actual do país, especificamente a crise económica e tensão político-militar.
Considero minha geração todos os que nasceram por volta de 1990, antes ou depois. Antes ou depois também não faz diferença, desde que não tenham lembranças empíricas da guerra civil que durou 16 anos.
Nos últimos tempos, tecer qualquer opinião sobre a nossa situação política e económica sem colocar o Governo como vilão é uma coisa difícil de se fazer sem que te imputem nomes como lambe-botas, puxa-saco e frelimista. Em contrapartida, quando apresenta você um elogio, mesmo que seja sem sentido, já é suficiente para te acharem um grande visionário.
A minha geração é alfabetizada e, certamente, muito culta, mas penso que ela está impaciente e dramática. A nossa geração é a mais privilegiada de todas, pelo menos na história de Moçambique. Reparem que estamos em crise, mas não estamos em momentos que poderiam se comparar à época colonial, nem à época pós-independência, e tão-pouco à guerra dos 16 anos.
Os que viveram um desses momentos, se forem honestos e sem motivações políticas, certamente dirão que não vêem crise nenhuma agora. Estamos mal, mas a maioria de nós, teve e tem educação gratuita ou “semi-gratuita” até ao nível superior. Nós da geração a que me refiro temos também a liberdade de criticar os nossos dirigentes. É verdade que a nossa situação económica e a tensão político-militar, hoje, fazem-nos viver mal.
A impaciência e os exageros fazem com que a maioria de nós pense que o Governo é o único mal de Moçambique. Pensar que os supostos homens da Renamo que atacam viaturas e inocentes no centro do país têm razão é uma posição que deveria entristecer qualquer moçambicano com uma mentalidade sã. Mas, infelizmente, muita gente da minha geração pensa que as atrocidades cometidas por tais guerrilheiros são um mal necessário.
Não apoio o Governo, também porque não pretendo ser crucificado por razões que desconheço. Mas penso que o discurso do “mal necessário”, no caso da violência no centro, é ineficaz sejam quais forem as razões usadas para tal. Até agora, ninguém conseguiu demonstrar que existe menor crise onde se mata pessoas para pressionar o Governo com vista a aceitar algumas exigências.
Deixemos de ser impacientes e exagerados. Parece que estamos a atravessar num pior momento, mas as aparências enganam. Estamos numa época de desafios. Na verdade, ninguém deve ser impedido de acreditar num Governo que proporciona o bem, mas preocupa-me a instrumentalização de jovens da minha geração por parte de gente de gerações que viveram coisas piores no seu tempo.
Por Franquelino Basso
@VERDADE - 22.06.2016
...foram presos centenas de moçambicanos e moçambicanas que depois foram deportados para os chamados campos de reeducação, ... por terem se esquecido dos seus Bilhetes de Identidade em casa.
...introduziu-se um sistema da chambocadas...(inclua por favor fuzilamento) pois, pena de morte seria se o codigo penal assim o previsse.
QUANTO PREVILEGIO!!!
Dr.Bolingo Nanga,
Vejo que tentou resumir os previlegios referidos pelo Sr. ou menino Franquelino Basso. Espero que ele comece de imediato a fazer o TPC. adorei a expressao `diplomada, mas analfabeta e inculta`mas tendo em conta que em Moz basta saber assinar ja se pode considerar alfabetizado sugiro que considere-lhe alfabetizado e diplomado, contudo,o estatuto de inculto continua sendo dele por direito constitucional.
Mais uma vez muito obrigado Dr.Bolingo Nanga.
Ai está mais um privilegiado que teve tudo semi ou mesmo gratuito, e pretende de certo modo generalizar a situação assumindo que todos tiveram a mesma sorte. Mais consigo ver que simplesmente fala por si, pois, tudo o que diz contradiz as estatísticas.
Por outro lado, acho estranho que nos dias de hoje, alguém que se considera alfabetizado e, certamente, muito culto, queira embutir-nos a ideia de que o Estado (Governo) está fazendo um favor ao povo quando aplica políticas de desenvolvimento à semelhança da tal falada educação gratuita.
Ora caro miúdo da geração pátria amada, bem-feitas as contas, o Governo da Frelimo está em dívida com o povo e a quantia não é pouca não. Quando pedimos emprego temos de estar certos de que lemos o Job Description. Quero com isso dizer que governo não passa mesmo de empregado do povo, portanto construir estradas, pontes, escolas etc, e trazer políticas que garantam o bem-estar da população não passa de sua tarefa.
São pessoas com você que fazem com que os partidos políticos façam campanhas eleitorais sem nenhum manifesto, limitando-se simplesmente a falar mal da oposição (psiiii, oposição não significa RENAMO tá bom) assumindo que governar é fazer um favor ao povo.
Por fim, gostaria de pedir para não desinformar o povo. Não estamos em crise nenhuma (pelo menos a financeira). Em crise estaríamos se estivéssemos a sofrer consequência de implementação de más políticas administrativas e financeiras, ou efeitos de uma conjuntura económica inevitável. A verdade é que fomos roubados, e os ladrões continuam a montes e entre nós.
Assim sendo, é só recuperar os BIZ (bilhões) resultantes da combinação EMATUM, PROINDICUS, MAM e outras dívidas cujo dinheiro nem sequer entrou no país, e naturalmente que o metical irá apreciar consideravelmente, e consequentemente os preços serão ajustados ao real contexto, e sentiremos um grande alívio.
Pode-se igualmente expandir tais acções para todos os processos corruptos, afinar o cerco e aí sim verás que Moçambique (não importa de que geração) é um Pais abençoado mais do que muitos que com poucos recursos se dão ao luxo de conceder-nos apoio.
Vejo que começou a sua abordagem tentando aparentar imparcial mas o papo não colou comigo. Se não és lambe-botas, burro és. Deixo a escolha ao seu critério.
Saudações.
Concordo plenamente com os seus primeiros parágrafos. A sua visão (ou a visão da sua geração como o senhor) diz seja diferente da de muitas outras gerações anteriores a sua. Porém, estou fortemente posicionado contra a seguinte passage do seu texto:
“A impaciência e os exageros fazem com que a maioria de nós pense que o Governo é o único mal de Moçambique. Pensar que os supostos homens da Renamo que atacam viaturas e inocentes no centro do país têm razão é uma posição que deveria entristecer qualquer moçambicano com uma mentalidade sã. “
Ora vejamos:
Se a sua geração é “alfabetizada e, certamente, muito culta”, como diz num dos seus parágrafos, então segue-se a assumpção de que ela conhece bem a história de Moçambique, com particular detaque para os contornos da história recente do país. Por outras palavras, se não comhece a história do país, então a sua geração deve ser diplomada, mas analfabeta e inculta. A cultura não se preocupa apenas com o presente, mas também do passado. Pelo menos a minha geração tem conhecimento dos seguintes acontecimentos que ocorreram depois da idependência de Moçambique:
1. Logo depois dos Acordos de Lusaka, poucos meses antes da independência, foram presos centenas de moçambicanos e moçambicanas que depois foram deportados para os chamados campos de reeducação, que não passavam de campos de concentração no norte do país, pelo mero facto de alguns destes terem questionado a violação dos seus direitos humanos pelo pelos guerrilheiros virados políticos da FRELIMO, ou simplesmente por não terem conseguido um emprego nas cidades moçambicanas e, mais caricato ainda, por terem se esquecido dos seus Bilhetes de Identidade em casa.
2. Numa leviana tentativa de reinventar a governação sem conhecimentos básicos da administração estatal, destruiu-se a máquina governativa e produtiva colonial, o que culminou com a nacionalização de toda as unidades produtivas: a companhia da Zambézia, a Sococo, a FACOZA, a Boror Comercial, a Sociedade Agrícola do Mada, o Chá Gruè, a Sena Sugar Estates de Luabo (na Zambézia) foram nacionalizadas e entregues à uma gestõ ruinosa que levou à sua falência, atirando centenas de trabalhadores para o desemprego.
3. Lojas de luxo como a Casa Fabião, a John Orr’s, Moneiro & Giro e outras foram nacionalizadas e entregues à sua sorte lá na cidade de Maputo.
4. Noutras cidades moçambicanas, o processo de destruição de empresas através da nacionalizações continuou em Nampula, Gaza, Maputo, Tete, Inhambane, Sofala e Manica com os mesmos resultados do número 2 acima.
5. Paralelamente, introduziram-se guias de marchassim mobilidade dos moçambicanos; introduziu-se também um programa de racionalização de produtos alimentares de primeira necessidade, os vulgos 2 quilogramas de arroz/família/mês.
6. Enquanto tudo isto acontecia introduziu-se um sistema da chambocadas a pessoas que tentavam reclmar qualquer coisa—o meu sobrinho andava na Universidade Eduardo Mondlane e passou pelo quartel da engenharia em Maputo. Naquele lugar existia um guarda que o mandou parar, descalçar e jogar pedras porque tinha pisado uma zona proibida. Enfim Moçambique virou um grande inferno.
Agora se pensa que somos impacientes e que estamos a exagerar a nossa culpabilização da FRELIMO e o seu governo, acho que precisa de conhecer o Moçambique real. Eu não conheço apenas os meus pais que me nasceram. Conheço também os meus avós, donde são e o que faziam na vida. Do ponto de vista de um analfabeto como eu, isto é que é história (alfabetização e cultura que pretende em vão reclamar).