Prémio Leaders & Achievers-Flecha Diamante 2016 PMR Africa
Investigação ou branqueamento sobre Vala Comum?
Pág. 2 e 3
Dhlakama recua Esta edição
tem 92
Pág. 4 páginas
TEMA DA SEMANA 2 Savana 03-06-2016
aqueles corpos que foram documentados
em dois locais diferentes, quatro
numa pequena savana, a cerca de
200 metros do cruzamento Macossa
para o interior, e outros 11 debaixo
de uma ponte próxima da Estrada
Nacional Número 1”, afirmou Henrique
Botequilha.
Os cadáveres que os jornalistas viram
e fotografaram, continuou Botequilha,
são de mulheres, homens jovens,
uns deixados recentemente no lugar,
outros sem roupas e largados, basicamente,
à superfície do terreno.
“Estes 15 corpos, quatro no primeiro
local e outros 11 no local que a
seguir mencionei, foram observados
directamente pelo meu colega e documentados,
nós temos imagens e
algumas delas foram divulgadas”,
acrescentou o delegado da Lusa em
Maputo.
Perante o forte interesse dos membros
da comissão em saber se a Lusa
chegou à chamada vala maior, Henrique
Botequilha reiterou que houve
várias tentativas par o fazer, mas os
jornalistas nunca conseguiram alcançar
ao local.
“Não apenas ele, temos indicação de
outros colegas de profissão que tentaram
chegar à localização indicada
por aquelas fontes, no entanto, por
vários motivos, e julgo que o principal
deles é o receio dessas fontes
em avançar para a localização que
avançaram, essa localização continua
por confirmar”, realçou Henrique
Botequilha.
Não há investigação na
“zona76”
A equipa da AFP conseguiu chegar
ao local descrito como “zona76”
mas, estranhamente e ao que é habitual
nas zonas rurais, a população
fugiu mal se apercebeu da chegada
da viatura dos jornalistas. Apesar
das insistências dos repórteres, os
camponeses recusaram-se a falar.
Anteriormente, camponeses disseram
ao SAVANA que na zona havia
uma “cova grande” onde havia
muitos corpos que “estavam a ser
comidos por passarinhos(abutres)”.
O repórter da AFP, em declarações
ao SAVANA, disse ter ficado com a
impressão de que a população
tinha sido ameaçado e intimidada
para não prestar declaraMenos
de 24 horas após
a triunfante proclamação
da não existência
de vala comum em
Canda(Gorongosa) feita por Edson
Macuácua da Frelimo, a agência
France Press (AFP) anunciava, esta
quarta-feira, a descoberta de mais
cinco corpos a três quilómetros de
onde estavam os deputados, na estrada
nacional N1.
Cerca de um mês após denúncias de
existência de uma vala comum e da
descoberta de corpos espalhados ao
abandono no centro do país, a Comissão
dos Assuntos Constitucionais,
Direitos Humanos e de Legalidade
da Assembleia da República
(AR), encarregue da investigação
do assunto, ainda se encontrava em
Maputo.
Quando se começou a mexer, e depois
de “fintarem” a Renamo na Comissão
Permanente da AR, na semana
passada, foi escolhida uma das
salas alcatifadas e climatizadas do
Parlamento para audições de várias
entidades, incluindo o vice-ministro
do Interior, João Coimbra.
Mas, nas audições de Maputo, o momento
mais aguardado foi a presen-
ça do delegado da Agência Lusa em
Moçambique, Henrique Botequilha,
cujo órgão foi o primeiro a divulgar
a denúncia da existência de uma vala
comum em Canda, distrito de Gorongosa,
província de Sofala.
Os membros da aludida comissão,
dominada pela Frelimo, com 10 deputados,
e boicotada pela Renamo,
que tem seis membros, no órgão,
onde o MDM tem apenas um, indagaram,
entre outras perguntas, se
a Lusa tinha provas da vala comum,
como obteve a denúncia, que impedimentos
frustraram a chegada ao
local apontado pelos camponeses e
as circunstâncias em que uma foto
divulgada por outro órgão de comunicação
veio associada à notícia veiculada
pela Lusa.
Macuácua obcecado
A obsessão dos membros da comissão,
dirigida por Edson Macuácua,
por provas da vala comum foi clamorosa
e foi notável o desinteresse, e
até embaraço, pelos corpos testemunhados
por jornalistas na zona.
“Isso já percebemos”, chegou a retorquir
Macuácua, perante mais uma
referência de Henrique Botequilha
de que o que a Lusa e jornalistas de
outros órgãos conseguiram fotos de
15 corpos que avistaram numa zona
em Macossa, próximo da área alvo de
denúncia de existência de uma vala
comum.
Outro depoente considerado pela
comissão como essencial para o conhecimento
dos factos, foi o jornalista
André Catueira, colaborador
da Lusa e do semanário SAVANA,
que escreveu sobre a denúncia. O
timbre com que foi inquirido pelos
deputados chegou a abeirar-se da inquisição,
com vários momentos ressabiavam
a intimidação. “Ainda não
respondeu à minha pergunta”, reagiu
em tom autoritário, a dado momento,
Macuácua, o presidente da comissão,
também conhecido por ser o
chefe do G-40, um grupo de pressão
a soldo dos sectores mais retrógrados
do partido Frelimo e que escreve e
participa em debates manipulados
na comunicação social controlado
pelo Governo.
Bem antes de se deslocarem a Canda,
em pronunciamentos em Maputo
e na Beira, ficou patente que os
membros da Frelimo na comissão
já tinham formulada a sua pré-convicção:
não há vala comum e informações
em contrário não passam de
uma falsidade.
Da mesma forma patética como o
administrador do distrito da Gorongosa
se recusou a avançar para além
do rio Nhadue para testemunhar a
existência de corpos abandonados já
em Macossa (província de Manica),
Macuácua e o seu grupo fizeram o
mesmo, prometendo que na próxima
semana estarão no local, mas no
âmbito da visita à província de Manica.
Na zona indicada, entre Muera
e Tropa, há agora evidências de 21
cadáveres: 11 debaixo da ponte sobre
o rio Piro e nove na machamba do
camponês Donca Sabir, segundo a
AFP. Ao contrário do afirmado pelo
Governo, a repórter Tania Page da
televisão Al Jazeera e a AFP testemunham
que os corpos debaixo da
ponte permanecem quase a descoberto,
notando-se que houve a preocupação
recente de deitar alguma
areia por cima.
Lusa defende sua notícia
Nas respostas que deu à comissão,
Henrique Botequilha afirmou que
André Catueira recebeu denúncias
de vários camponeses sobre a existência
de uma vala comum numa
zona em Canda, que a agência valorizou
como notícia, dada a credibilidade
do jornalista, fiabilidade
das suas fontes e à circunstância de
a zona ser palco de confrontos entre
as forças de defesa e segurança e o
braço armado da Renamo.
“A primeira notícia que ele (André
Catueira) divulgou dá conta de existência
de uma vala comum com mais
de 100 corpos, informação essa que
nasce do contacto com vários camponeses
(esse elemento “vários” é
importante), são vários testemunhos
cruzados por fontes que o meu colega
entendeu serem bastante fiáveis
e as afirmações bastante sólidas”, declarou
o delegado da Lusa em Maputo.
André Catueira, prosseguiu Henrique
Botequilha, e outros dois jornalistas
(da rádio DW e da rádio
comunitária da Gorongosa), procuraram
chegar à zona descrita pelos
camponeses, inclusivamente com as
próprias fontes que fizeram a denúncia
e, no entanto, não conseguiram
chegar ao local, porque as fontes
mostraram bastante receio dado
aquilo que descreveram como uma
forte presença militar na região.
“Não conseguiram chegar ao local
que tinham indicado como sendo, e
vou-lhe chamar assim para facilitar, a
vala maior, no entanto, descobriram
Polémica sobre vala comum
Investigação ou branqueamento?
Macuácua na Gorongosa em frente da Comissão Parlamentar de legitimidade duvidosa
Coerente com as posições que
assumiu quer em Maputo,
quer na Beira, Edson Macuácua,
afirmou, no final da alegada
investigação em Gorongosa,
que não existe vala comum com
mais de 120 corpos, em Gorongosa,
distrito da província central
de Sofala.
“Entrevistámos pessoas, de forma
aleatória. Não houve instrumentalização.
Foi uma das maneiras
encontradas para apurarmos a veracidade
dos factos, o que nos garante
afirmar, absolutamente, que
não existe nenhuma vala comum
em Gorongosa”, disse ele, acrescentando
“a questão que se coloca
agora é: de onde veio esta informação
e quem são esses camponeses
citados pela agência Lusa?”.
O parlamentar anunciou que a
comissão que dirige irá trabalhar,
nos próximos dias, na província
central de Manica, para apurar
outros elementos que permitam
chegar a conclusões definitivas
sobre a existência da vala comum.
André Catueira, perante os deputados,
negou-se a revelar as suas
fontes e invocou a protecção legal
de que estas gozam na legisla-
ção moçambicana, recusando-se
a acompanhar os parlamentares
à Gorongosa por estar ciente da
manipulação montada e com um
desfecho previsível.
Apesar de o local visitado pelos
membros da comissão, que integrava
outros jornalistas e foi
escoltada por forças de defesa e
segurança, situar-se a cerca de
três quilómetros do lugar onde
se encontravam corpos espalhados
documentados há um mês, o
grupo declinou chegar ao lugar,
deixando essa tarefa para os pró-
ximos dias.
Não há nenhuma vala comum –Edson Macuácua
Henrique Botequilha, delegado da LUSA
- descobertos mais cinco corpos em Macossa
TEMA DA SEMANA Savana 03-06-2016 3
ções “a estranhos”.
Em relação a uma foto associada
à notícia da Lusa sobre a vala
comum, divulgada por um outro
órgão de comunicação social, Henrique
Botequilha distanciou a agência
da referida imagem, assinalando
ter-se verificado uma utilização irresponsável
do trabalho da agência
sobre a matéria.
“As imagens (divulgadas pela Lusa)
dizem respeito aos corpos que o
colaborador da Lusa testemunhou
naqueles dois lugares que indiquei
e não dizem respeito à vala comum
denunciada pelos camponeses, são
imagens, repito, obtidas junto da
Nacional Um, debaixo da ponte, e
no outro local que mencionei”, enfatizou
Botequilha.
O delegado da Lusa frisou que a
agência reputou como válida a notí-
cia sobre a denúncia da vala comum,
uma vez que entendeu estarem preenchidos
os elementos que dão valor
noticioso a uma denúncia.
“A primeira notícia respeitou aquilo
que nós podemos chamar como
valor-notícia, estamos a falar de uma
denúncia que nós temos consciência
que é uma denúncia grave, mas
também estamos a falar de um jornalista,
que é colaborador da Lusa já
há muito tempo, e com grande fiabilidade,
e as suas fontes são fontes
fiáveis, então existe aqui aquilo que
podemos chamar o valor que se sobrepôs
a tudo o resto, que é o valor
noticia”, disse.
Por outro lado, a zona em causa está
em conflito, onde são descobertos
corpos espalhados em vários lugares,
pelo que ficou reforçada a noticiabilidade
da denúncia de existência de
uma vala comum.
André Catueira, que vive em Chimoio,
esteve debaixo de fogo no local
das duas emboscadas protagonizadas
contra Afonso Dhlakama em Manica,
no mês de Setembro de 2015,
sendo de sua autoria as primeiras fotos
documentando a morte de vários
guardas da escolta do líder da Renamo,
imagens que correram mundo e
foram inclusive usadas pela imprensa
governamental em Moçambique.
Segundo Botequilha, “há mais denúncias
que estão a ser trabalhadas”
e cabe às instituições competentes
fazerem a sua própria investigação.
Uma das denúncias feitas ao SAVANA,
indica a existência de corpos
abandonados junto ao rio Pungué,
na comunidade com o mesmo nome,
mais para Sul, junto à picada para o
Parque Nacional da Gorongosa.
Numa nota que divulgou esta semana,
a Direcção de Informação
da Lusa reafirma todas as notícias
que veiculou até ao momento sobre
este assunto e lamenta que as declarações
prestadas pelo seu delegado
em Maputo, em sede de Comissão
Parlamentar da Assembleia da República
de Moçambique, a propósito
das valas comuns no centro do país,
tenham sido deturpadas por vários
órgãos de comunicação social, um
facto que é facilmente verificável ouvindo
a gravação da referida audição.
Para além da informação da Lusa sobre
este assunto, também a Deutsche
Welle, a Al-Jazeera, a AFP e órgãos
de comunicação social moçambicanos,
nomeadamente a STV, o jornal
O País e o semanário SAVANA,
noticiaram a existência de corpos
abandonados na confluência entre
os distritos da Gorongosa e Macossa,
notícias que tiveram como fonte
o próprio trabalho desenvolvido no
local por jornalistas desses órgãos de
comunicação social.
Na teleconferência que Afonso
Dhlakama deu nesta quarta-feira
comentou sobre o trabalho da Comissão
Parlamentar que concluiu
que o dossier valas comuns associado
a violação de direitos humanos, é da
responsabilidade da Renamo.
“Não é um Macuácua, da Frelimo,
o mesmo partido que manda matar
a população da Gorongosa porque
apoia a Renamo, o mesmo governo
que contratou norte- coreanos neste
momento da paz que treinaram
sequestradores, espalharam-se aqui
na Gorongosa a apanhar homens,
jovens e tudo a serem lançados aqui
em Macossa. Como é que uma pessoa,
com cabeça, sendo um ser humano,
pode acreditar? Os próprios que
criam crime, que mandam assassinar
é que vão investigar? O Macuácua,
como deputado e da Frelimo, Presidente
desta Comissão chega à Gorongosa,
perguntou a quem? Com
quem conversou? Ele é da Frelimo,
a Frelimo é que fez aquilo”, disse
classificando o trabalho parlamentar
como uma fantochada e propaganda. Mais corpos encontrados em Macossa, Manica
TEMA DA SEMANA 4 Savana 03-06-2016 TEMA DA SEMANA
OPresidente da Renamo,
Afonso Dhlakama, que
em Dezembro de 2015 jurou
“alma da minha mãe”
que iria governar, infalivelmente,
até Março último, as seis províncias
do Centro e Norte de Moçambique,
veio a público, esta quarta-feira,
anunciar o fim da sua pretensão,
justificando que não quer estragar a
sua carreira política.
Questionado por jornalistas, numa
teleconferência em que a estatal
Televisão de Moçambique (TVM)
foi vedada, alegadamente, para não
deturpar o conteúdo da teleconferência
como sempre o fez, Afonso
Dhlakama, que falava a partir da
“parte segura”, algures na Gorongosa,
para além de anunciar o recuo,
explicou as razões por que abandonou
a intenção de governar à força
o Centro e Norte de Moçambique.
“Vimos que seríamos considerados
de belicistas”, justificou-se o homem
que, duas horas depois de o Presidente
da República, Filipe Nyusi,
ter apresentado o Estado Geral da
Nação, ano passado, reagiu em como
já havia acabado a paciência.
Agora que recuou daquilo que levou
meses a prometer, Dhlakama diz
que se o seu partido tivesse iniciado
a ocupação de distritos e províncias,
o mundo não o teria entendido, pelo
contrário, iria sempre se apoiar na
tese de que os negros sempre fazem
a guerra.
“Eu sou negro, mas inteligente e
democrata, por isso, abandonamos
aquela estratégia de ocupar à força”,
explicou o Presidente do maior partido
da oposição, que garantiu ainda
que a sua formação política agora
está a virar as atenções para que
tudo seja negociado e legislado na
Constituição da República.
Mas Dhlakama voltou a socorrer-
-se ainda da teoria dos esquadrões
de morte.
“Também coincidiu, na altura, com
a entrada de muitos sequestradores
que foram treinados por norte-coreanos
aí no Maputo e foram lan-
çados aqui na região da Gorongosa.
Perdemos centenas de membros até
porque muitos que não são membros
e apoiantes nas províncias de
Manica e Sofala foram sequestrados,
mortos a sangue frio, metidos
nos sacos e lançados fora e isto fez
com que nós disséssemos que, se
nós respondermos, andar a ocupar
os distritos e tudo, o mundo não
havia de entender, havia de criticar
a Frelimo e a Renamo dizendo que
são pretos, são negros, sempre fazem
a guerra…por isso, abandonamos
aquela estratégia de ocupar à força,
estamos a concentrar que tudo seja
negociado e legislado na Constitui-
ção da República. Não é que o plano
está perdido. Nenhuma coisa está
mudada”, disse.
Reitera que o plano de governar Sofala,
Manica, Tete, Zambézia, Nampula
e Niassa continua em pé, o que
mudou é a estratégia.
“Já não se trata do prazo, claro. Porquê
tudo isto? Nós já estamos a recear,
o mundo é pequeno, propaganda
no mundo hoje: ora Dhlakama
está aí a disparar contra a Frelimo,
ora Dhlakama anda a atacar carros,
então, eu vou ficar parado para que
os europeus digam que Dhlakama é
o melhor do mundo e a Frelimo a
mandar assassinar”, disse.
“Eu quero que deixem de nos chamar
belicistas ou de nos chamar malucos.
Se é o problema da Constitui-
ção, vamos negociar e fazer emenda.
A Constituição de Moçambique
não pode defender o Guebuza, o
Nyusi, o Chissano e mais três camaradas,
tem de ser uma Constituição
flexível. A qualquer momento, se for
preciso que satisfaça a vontade da
maioria. E tem de ser mudada, é o
que se chama Constituição. Não é
escrever um papel que defende três
comunistas sentados ali a reprimir
as liberdades, eu sou democrata, conheço
tudo, por isso, eu repito não
quero levar o poder à forca, nem
quero golpear, atacar e assaltar Maputo”,
explica, frisando que abandonou
a ideia sozinho, porque não
quer estragar a sua carreira política.
Aliás, acrescentou ainda que o recuo
da estratégia de força visa “puxar a
Frelimo para a paz” o partido que,
para ele, pretende arrastar o tempo
até se chegar às eleições autárquicas
de 2018 e as presidenciais de
2019 para voltar a “roubar os votos”,
lembrando que “o Guebuza chegou
a dizer em 2014 que arrancamos o
poder nas mãos da oposição”.
Avança, contudo, que, tendo em
conta a estratégia frelimista de arrastar
o problema, a governação das
seis províncias do Centro e Norte
de Moçambique tem de acontecer
ainda este ano para que a Renamo
tenha tempo.
“O próprio povo quer ser governado
pelo partido que eles votaram.
O problema é que nós os moçambicanos,
às vezes, não sabemos que
democracia significa o povo. Votar
num candidato, votar num manifesto,
votar num partido, para que esse
partido governe através da vontade
do mesmo povo que votou, não é
aquilo que acontece em que os nossos
irmãos camaradas da Frelimo
falsificam tudo só para se governar”,
insistiu.
Afonso Dhlakama, que reiterou a
disponibilidade para o diálogo com
vista ao fim do conflito militar, sublinhou
que a intenção da Renamo
não é dividir o país porque “se quiséssemos,
teríamos feito em 1992,
nem teríamos levado tempo a negociar
em Roma. Não é hoje, 24 anos
depois, que o Dhlakama vai pretender
dividir o País porque nós queremos
governar o país inteiro, agora
queremos governar seis províncias
porque já ganhamos desde 1994 até
hoje”.
Dhlakama denuncia tentativa
de assalto
Em menos de uma semana depois
de termos questionado, na nossa última
edição, se estava ou não iminente
um assalto à base da Renamo,
em Satunjira, onde se encontra o
Presidente do partido, desde que viu
sua residência, na Beira, assaltada, a
9 de Outubro de 2015, esta quarta-
-feira, Afonso Dhlakama, depois de
rumores sobre intensos combates
no interior da Gorongosa, Sofala,
quebrou o silêncio e denunciou tentativa
de assalto na sexta-feira da
semana finda.
Segundo o Presidente da Renamo,
tudo começou por volta das 15 horas
quando começaram a se ouvir os
primeiros disparos, mas como “20
dias antes já tínhamos a informação”
sobre o plano, “estávamos preparados”.
“Chegaram à Vila Paiva com mais
de 12 BTR´s, que são carros usados
pela infantaria mecanizada, onde algumas
tropas disparam dentro dos
carros e foi uma tropa que veio directamente
de Maputo para aqui na
Gorongosa”, explicou, acrescentando
que o ataque foi perpetrado por
uma tropa mista.
“Chamamos tropa mista porque havia
alguns estrangeiros até da raça
branca que desconfiamos que sejam
especialistas chineses, havia angolanos,
zimbabueanos e tanzanianos.
Quanto aos zimbabueanos viemos
confirmar até ontem (terça-feira)
que se tratava de alguns especialistas
instrutores que estavam lá em Maputo
e foram metidos no grupo para
reforçar”, disse.
Conta o Presidente da Renamo que,
ao se aperceber da ida das tropas,
disse aos seus comandos para que
não abandonassem a base.
“Nós dissemos não, não lhes vamos
deixar aproximar perto porque se
sairmos da base, eles chegam, não
apanham a ninguém e, sem reacção,
queimam a base ou vão levar a imprensa
para fazer filmagens e propaganda
de que destruíram, como
aconteceu com o ataque do dia 21
de Outubro de 2013, em que quando
vinham nós saímos e fizeram
propaganda como se tivessem acabado
com a Renamo”, contou.
Propaganda ou não, Afonso Dhlakama
fala de inúmeras baixas do lado
dos atacantes e lamenta. Entende o
Presidente da Renamo que foi por
isso que o Governo não publicitou
a operação, pautando por silêncio
como se nada tivesse acontecido.
Dhlakama continua: “isso aconteceu
por volta das 15 horas, e nós continuamos,
só mais tarde, por aí às
20 horas, ordenei os comandos que
vamos sair, porque como já localizaram
a base, podem colocar já armas
pesadas a 10 quilómetros e lançar
obuses que podem causar danos …
e nós nos retiramos, mas estamos a
quase cinco quilómetros da nossa
base”.
Dhlakama, que disse que não está
doente nem ferido, não entende a
razão do ataque, numa altura em
que há equipas a negociar a agenda
para o diálogo.
“Porquê ir atacar a base de Dhlakama
neste momento, quando há uma
equipa que está a negociar a agenda.
Isto é má-fé, isto é má-fé. Colocamos
a equipa, está a negociar a
agenda para depois começar com o
diálogo sério para conseguirmos a
paz. Dizem que querem a paz, mas
ao mesmo tempo atacam o próprio
Presidente da Renamo”, lamenta,
para depois questionar: “como é que
vou conseguir orientar politicamente
os grupos a contra atacar a ofensiva
da Frelimo, ao mesmo tempo, ter
Governação nas províncias onde reclama vitória eleitoral
capacidade de orientar o grupo das
negociações”.
Por isso, conclui Dhlakama, é falso
que o Governo quer a paz.
“A Frelimo quer ganhar tempo”,
entende. Diz que não é medroso,
mas também garante que não quer
a guerra.
“Mas também não sou santo para
ficar sentido ou levantar braços
quando alguém vem nos provocar,
estamos a lutar pela democracia,
liberdade e justiça. Não queremos
golpear a Frelimo, queremos que a
Frelimo aceite que a Renamo governe
as seis provinciais, e resolvermos
o problema da defesa e segurança
em Moçambique. Mais nada, somos
irmãos, primos, família e o país
é nosso. Não é um grupinho de ladrões,
de criminosos, digo criminosos
porque vêm nos matar, sentados
no Maputo que querem escravizar
o Centro e o Norte. É inaceitável,
mas também queremos dizer de
voz viva que não iremos deixar de
dialogar, para que o mundo veja
que Dhlakama é o homem da paz,
vamos continuar a seguir até onde
a Frelimo quer chegar, há-de chegar
o momento de ficarmos cansados
e adoptarmos uma estratégia para
acabarmos uma vez para sempre”,
frisou.
Repisa que lançar ofensivas é levar
tempo, multiplicar e não vai resolver
o problema, mas a PRM nega que
tenha atacado a base da Renamo.
Aliás, ao nosso Jornal, Inácio Dina,
o porta-voz do Comando-Geral da
PRM, disse que, para começar, a
“perdiz” nem devia ter base, pois isso
cabe às forças do Estado.
Perante as nossas insistências, o
porta-voz disse que o que a corporação
sabe é que Afonso Dhlakama
está em parte incerta, desmentindo
assim o ataque anunciado pelo Presidente
da Renamo. Insistiu que o
que as forças governamentais têm
feito é repelir os ataques da Renamo,
missão que disse que vai continuar.
Dhlakama abandona discurso de governar à força
Por Armando Nhantumbo
Não quero estragar a minha carreira política - Afonso Dhlakama
A uma pergunta do SAVANA sobre se Dhlakama, que por várias vezes se
disse enganado pelo Governo da Frelimo, acredita que será desta que o diá-
logo reiniciado colocará fim à instabilidade no País, o Presidente da Renamo
respondeu que a disponibilidade da equipa do seu partido enquadra-se exactamente
nas tentativas de se chegar a uma solução definitiva.
“Não quero dizer que acredito ou não acredito, são tentativas de negociar, o
mais importante é a informação e o seu Jornal também escrever que mais uma
vez estão a negociar porque se eu disser não, porque já me enganaram várias
vezes, vou fazer o quê? Assaltar Maputo e cortar pescoço a todos da Frelimo
e sentar? Isto é aumentar o problema”, respondeu.
Disse Dhlakama que é regra mundial, sempre que há conflitos, avançar-se
para tentativas de negociação. “É por isso que estamos a exigir que o diálogo
pode iniciar em Maputo entre as equipa da Renamo e da Frelimo, não essas
equipas de três a três, Jacinto Veloso e o Manteigas que estão a negociar a
agenda, mas depois tem de haver grupos verdadeiros de negociação, é por isso
que estamos a dizer que queremos a mediação internacional para testemunhar
qual é o lado sério e qual é o lado não sério porque não basta sentar na mesa
de gravata e tudo assinar papéis acordos e apertar a mão…eu gostaria de facto
que desta vez fosse definitivamente”, observou.
Dhlakama falou horas antes da terceira reunião mista entre o Governo e a
Renamo que, no final, as partes disseram ter registado avanços e que o encontro
deverá acontecer o mais breve possível, como aliás recomendou no mesmo
dia o Conselho Nacional de Defesa e Segurança, reunido sob liderança do
Presidente Filipe Nyusi.
Reatamento do diálogo: “Eu gostaria que
GHVWDYH]IRVVHGHÀQLWLYRµ
TEMA DA SEMANA Savana 03-06-2016 5
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6 Savana 03-06-2016 SOCIEDADE
A Associação ActionAid Moçambique (AAMoz), uma Organização Não – com vista a dar suporte à ligação entre a execução nacional e regional do projecto.
5(48,6,726
O candidato deve ter nível superior nas ciências sociais, ciências políticas, direitos humanos,
governação ou experiência relacionada com a área de implementação do projecto.
Fortes competências de comunicação e negociação, com uma excelente capacidade
de comunicação oral e escrita em inglês. Pelo menos 5 anos de experiência de trabalho
numa organização de desenvolvimento na agricultura sustentável, saúde ou responsabilização
social. Compreensão abrangente das práticas do programa baseado nos direitos
humanos.
Os candidatos podem solicitar os TDR`s mais detalhados e submeter os seus CV´s com
uma carta de motivação Numa altura em que as chamadas
dívidas escondidas,
que remontam ao consulado
de Armando Guebuza,
pioram a imagem do país, colocando
toda uma nação como corrupta
aos olhos da comunidade internacional,
a Alta Comissária britânica
em Moçambique, Joanna Kuenssberg,
veio a público esta semana
dizer que em países onde há corrup-
ção quem paga a factura são aqueles
que menos condições têm, por sinal,
a maioria esmagadora da população,
à custa da qual as minorias predadoras
se enriquecem.
Os recados da Alta Comissária britânica em Moçambique
Os mais pobres pagam pelo enriquecimento de uma minoria
- “aproveito o espaço para prestar uma homenagem ao Professor José Jaime Macuane que tem lutado pela transparência e que foi vítima de um
ataque covarde há alguns dias”, Joanna Kuenssberg.
Por Armando Nhantumbo
“Congratulo o CIP pela iniciativa
– uma iniciativa que mais uma vez
destaca a coragem não só do Adriano
e de seus colegas, mas também
de muitos outros moçambicanos, no
combate à corrupção e na promoção
da transparência”, disse, indicando
que o caminho é árduo, os desafios
imensos e os riscos são altos, inclusive
para a integridade física das pessoas
envolvidas.
“Aproveito o espaço para prestar
uma homenagem ao Professor José
Jaime Macuane, outro moçambicano
que tem lutado pela transparência
e que foi vítima de um ataque
covarde há alguns dias”, disse, numa
altura em que o baleiamento do académico
continua, tal como outros
ataques covardes, um enigma, embora
para muitos é quase certo tratar-se
de um atentado à própria liberdade
de expressão.
Vincou a Alta Comissária que as di-
ficuldades são grandes, mas porque
a causa é justa, disse que “estamos
juntos nessa luta”.
Explicou que, em Moçambique,
a estratégia do Reino Unido tem
orientado o trabalho com o governo
no reforço da gestão das finanças
públicas, assim como as parcerias
com a sociedade civil e o sector privado,
sendo por isso que o combate
à corrupção continuará a ser uma
prioridade daquele país europeu em
Moçambique.
Disse ter a certeza de que todos
acreditam na construção de uma
sociedade justa e próspera em Mo-
çambique, por isso a luta contra a
corrupção faz parte desse esforço e
deixou um recado ao Governo: “gostaríamos
de vê-la no centro da agenda
de desenvolvimento do país”.
Deixou claro ainda que a batalha
contra aquilo que custa mais aos pobres
e vulneráveis e enriquece alguns
poucos indivíduos faz-se com instituições
soberanas fortes que sejam
capazes de combater a corrupção,
lembrando os riscos do poder absoluto
na ausência de “checks and balances”
duma Constituição moderna.
2GHVDÀRGRQRVVRWHPSR
Falando durante a apresentação
do estudo intitulado “Os Custos
da Corrupção para a Economia
Moçambicana”, o director do CIP,
Adriano Nuvunga, frisou que a corrupção
deve ser uma das prioridades
políticas mais altas do Governo,
porquanto ela tem impactos negativos
sobre a economia e os recursos
do Estado.
Para além de explicar como a corrupção
prejudica o país, o relatório
mostra que, de 2002 a 2014, um
período que coincide com o reinado
do Presidente Armando Guebuza, a
corrupção em Moçambique custou
até USD 4,9 mil milhões, o equivalente
a cerca de 30% do Produto
Interno Bruto (PIB) de 2014 e 60%
do Orçamento de Estado para 2015.
São dados que não incluem os casos
PROINDICUS e MAM, visto que
à data da sua realização, 31 de Dezembro
de 2015, eram ainda desconhecidos
os dois negócios nebulosos
cujos contornos sugerem corrupção
escondida como admitiu, semana
finda, a directora-geral do FMI.
Para Adriano Nuvunga, entretanto,
se no passado o desafio era libertar
o país, o desafio dos nossos tempos
é combater a corrupção que está a
custar caro ao país.
Quase uma semana depois de a directora-geral
do Fundo Monetário
Internacional (FMI), Christine Lagarde,
ter afirmado que, por detrás
das dívidas ocultas em Moçambique,
há sinais claros de corrupção escondida,
Joanna Kuenssberg diz que, em
situações de corrupção, os mais pobres
e vulneráveis acabam por pagar
pelo enriquecimento de alguns poucos
indivíduos.
E mais, para Kuenssberg, a corrup-
ção tem outros custos que são mais
difíceis de quantificar.
Apontou os custos sócio-políticos
como alguns deles e questionou:
“qual a legitimidade de um Estado
perante seus cidadãos se os servi-
ços públicos são condicionados pelo
suborno, ou se esse Estado é visto
como um espaço que foi ‘privatizado’
por algumas pessoas?”.
Para a diplomata, sem legitimidade
não há confiança nas instituições,
um dos principais factores na construção
de sociedades coesas e está-
veis.
“A corrupção tem também custos, se
me permitem a palavra – morais. E
digo isso sabendo que não estou sozinha.
O Presidente Samora Machel
partilhava dessa visão. Uma sociedade
que passa a aceitar a corrupção
como prática normal, desde a escola
até ao governo, não será uma sociedade
justa – a corrupção é, acima de
tudo, um abuso de poder, uma injustiça”,
frisou a diplomata, que falava
esta segunda-feira, no lançamento
do relatório encabeçado pelo Centro
de Integridade Pública (CIP) que,
em 90 páginas, explica porquê é importante
combater a corrupção num
clima de fragilidade fiscal.
Na ocasião, Joanna Kuenssberg destacou
a importância da quantificação
dos custos de corrupção.
Joanna Kuenssberg
Savana 03-06-2016
7
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8 Savana 03-06-2016 SOCIEDADE
Numa altura em que os pre-
ços das commodities no
mercado internacional não
são favoráveis às empresas
que se dedicam à exploração de hidrocarbonetos,
com muitas delas já
a contabilizarem prejuízos financeiros,
a multinacional sul-africana
Sasol mantém o seu optimismo de
que melhores dias virão.
A Sasol acaba de iniciar as perfura-
ções do primeiro dos 13 poços para
produção de petróleo líquido e gás
natural em Inhassoro, na província
de Inhambane. Este investimento
marcará a estreia desta petroquímica
no mercado petrolífero na qualidade
de operador.
Com a descoberta de petróleo lí-
quido, também conhecido como
petróleo leve, em Inhassoro, a Sasol
desenha um futuro risonho para o
alargamento da sua base de negó-
cios em Moçambique e no mundo.
As perfurações já estão em curso e
decorrem a 15 quilómetros da central
de processamento de Temane.
São lideradas por uma firma francesa
denominada Société de Maintenance
Pétrolière e envolvem cerca de
200 trabalhadores dos quais 75% são
moçambicanos.
As investidas da Sasol enquadram-
-se no âmbito do plano de desenvolvimento
do contrato de partilha
de produção, que integra petróleo
líquido e gás.
No entanto, só no final do presente
trimestre a multinacional irá divulgar
as reais quantidades de petróleo
encontradas no primeiro poço, mas
estudos preliminares apontam para
uma quantidade que permitirá uma
produção diária de 15 mil barris nos
13 poços.
O director da Sasol Moçambique,
Mateus Zimba, diz que a exploração
do petróleo líquido marcará
uma nova etapa nos investimentos
da empresa, pois, para além da venda
nos mercados internacionais, estão
em análise mecanismos para o uso
interno.
Esclarece Zimba que, diferentemente
do petróleo bruto, o petróleo de
Inhassoro carece de outro tipo de
refinação para que seja usado como
combustível, facto que contribuiria
bastante para a redução da factura
de importações e no desenvolvimento
do país.
“O petróleo líquido ou leve ainda
exige processamento e, por enquanto,
não nos comprometemos a fazer
refinação para se usar como combustíveis
utilizados localmente. Mas poderá
haver outras formas de refinar
esse petróleo que poderão ser um
projecto específico. Neste momento
preocupa-nos a ideia de adicionar
valor a este recurso localmente e estamos
a estudar as diversas opções
de como utilizar o petróleo leve em
Moçambique”, disse.
Para Zimba, uma das opções de momento
passa pela utilização do petróleo
para geração de energia eléctrica
para aumentar a qualidade na
provisão destes serviços, bem como
contribuir para superação do défice
energético que se verifica na região.
Apesar do actual cenário não ser
favorável às multinacionais devido
à queda acentuada dos preços de
referência dos hidrocarbonetos nos
mercados internacionais, Mateus
Zimba diz olhar o futuro com muito
optimismo.
Adverte, no entanto, que é preciso
saber estar nos diferentes ciclos de
oscilação de preços.
Assim, diz que foi neste espírito que
a sua empresa aprovou para este ano
um pacote de investimento de cerca
de USD 1.4 biliões que contempla
as perfurações de gás, petróleo o respectivo
processamento dos seus derivados,
bem como a viabilização do
quinto train para colocar em marcha
o projecto da central térmica.
Aliás, destacou que as perfurações de
gás permitirão certificar as reservas
para a viabilizar a geração de 400
megawatts de energia para central
térmica de Temane.
Abordando a questão das novas investidas
em tempo de crise, precisou
que o investimento na área do gás
pressupõe a existência de mercado
assegurado para a venda do produto,
cujos contratos são de longa duração
e feitas de forma rigorosa. Segundo
Zimba, é nesta perspectiva de longo
prazo que o negócio também deve
ser visto. Saber que existem ciclos de
alta e de baixa, sendo que cabe a cada
empresa adoptar as filosofias empresarias
necessárias para que possa resistir
em cada situação.
Actualmente a vender cerca de 36
milhões gigajoules de gás por ano,
Mateus Zimba fez notar que, paralelamente
às perfurações, decorrem
pesquisas adicionais de gás no distrito
de Mabote, ainda na província
de Inhambane, sul de Moçambique.
Falou também da parceira com a
ENI no bloco de Angoche, na qual
a Sasol não é operadora, mas espera
celebrar um memorando de entendimento
para a transformação do
gás de Angoche e de Rovuma em
líquidos, para a utilização local. É
que de acordo com Zimba, a Sasol
detém direitos exclusivos de uma
tecnologia que lhe permite transformar
gás em líquidos.
Petroquímica sul-africana inicia perfurações do chamado ouro negro
Sasol no Petróleo
Por Argunaldo Nhampossa
Sasol espera produzir 15 mil barris de petróleo por ano
Savana 03-06-2016 9
SOCIEDADE
T
rês meses após a queda da
parede da fachada frontal da
Piscina Olímpica do Zimpeto,
o titular da pasta das
Obras Públicas, Habitação e Recursos
Hídricos (MOPHRH), Carlos
Boneti Martinho, efectuou, esta
semana, uma visita de trabalho ao
Complexo do Zimpeto para avaliar o
estágio em que o mesmo se encontra.
Com cinco anos de existência, a Vila
Olímpica do Zimpeto está longe de
ser aquele condomínio que era cobi-
çado pelos citadinos da capital, apresentando-se
em avançado estado de
degradação.
Dos 840 apartamentos que constituem
a sua primeira fase, construídos
no âmbito dos X Jogos Africanos,
realizados em Maputo, em 2011, 200
sofrem de anomalias, destacando-se a
infiltração e as rachas, tendo provocado
a evacuação de 15 famílias.
Aliás, num dos apartamentos visitados
por Carlos Boneti Martinho
e sua equipa de trabalho foi possí-
vel observar a vergonha herdada do
maior evento desportivo do continente
negro, caracterizada pela inexistência
das paredes da infra-estrutura,
tendo restado apenas os pilares
metálicos. Tudo que constituía a parede
falsa das casas despedaçou-se,
transformando-se em lixo.
O Ministro das Obras Públicas e
Habitação mostrou-se agastado com
o que presenciou e pediu a responsabilização
das partes contratantes
(Governo, através do Comité Organizador
dos Jogos Africanos, COJA;
o empreiteiro e a fiscalização).
“Precisamos olhar o que dizem os
contratos, como foram geridos e depois
responsabilizar as partes contratantes,
na altura em que essas edificações
foram feitas. Houve várias
partes envolvidas, desde o governo,
o empreiteiro e a fiscalização”, disse,
afastando, entretanto, uma eventual
burla.
Segundo o PCA do Fundo de Fomento
de Habitação (FFH), entidade
que gere aquele complexo residencial,
Rui Costa, o problema que afecta
a maior parte dos andares inferiores é
originado pela ruptura do sistema de
abastecimento de água, que foi mal
instalado.
Costa conta que, na altura em que
foram entregues os apartamentos, em
2012, a maior parte já apresentava estes
problemas e foram crescendo com
o aumento de número de moradores.
Aliás, o problema já mereceu várias
reuniões entre a Comissão dos moradores
e o FFH. Em 2012, quando
começou a venda dos apartamentos,
o pelouro responsável pela habitação
no Ministério das Obras notificou o
empreiteiro (o consórcio Mota-Engil
e Soares da Costa, o mesmo que ergueu
a Piscina Olímpica) que, entretanto,
não aceitou fazer as reparações,
alegando que a obra foi concebida
para ocupação provisória e não permanente.
A solução encontrada foi criar uma
equipa (constituída por 12 técnicos),
dentro do FFH, para a manutenção
dos apartamentos e até ao momento
já interveio em 200, dos 840 existentes.
Porém, a Comissão criada só resolve
questões pequenas, pois, as mais
complexas estão à espera da definição
Degradação precoce do Complexo do Zimpeto preocupa Ministro das Obras Públicas
É preciso analisar os contratos e responsabilizar as partes
do responsável.
“Há trabalhos que são feitos pela
nossa equipa de manutenção, mas
há outros problemas que carecem de
uma intervenção de vulto e está à espera
do Relatório da Comissão criada
para averiguar o estágio das obras de
todo o Complexo do Zimpeto”, disse
Costa.
Além de apontar o dedo apenas ao
Empreiteiro, pela “má execução do
projecto”, Carlos Boneti Martinho
afirma que o problema é também da
responsabilidade de quem vendeu o
imóvel, neste caso o Estado (FFH).
Devido a estes problemas, 15 famí-
lias foram obrigadas a saírem dos
seus apartamentos e, como solução
Ad hoc, o FFH cancelou o processo
de pagamento das amortizações, de
modo a que se reabilite as casas.
Neste momento, verificam-se, naquele
local, obras de construção de
novos apartamentos (240) e, segundo
PCA do FFH, os mesmos “resultam
dos problemas que tivemos na fase
1”, garantindo que “terão qualidade
superior que os outros”.
Por Abílio Maolela
10 Savana 03-06-2016 SOCIEDADE
Não se trata de novas dí-
vidas, mas com elas têm
algo em comum, ou seja,
se por um lado o Governo
do “visionário” Presidente Armando
Guebuza ocultou empréstimos
de 1,4 biliões de dólares à Assembleia
da República (AR) e ao Banco
de Moçambique (BM), por outro,
usou 24.307.277.404,43 Meticais,
só em 2014, sem o visto obrigatório
nem anotação do Tribunal Administrativo
(AT), em violação à Lei n°.
26/2009 de 29 de Setembro. O TA,
que anualmente audita as contas pú-
blicas moçambicanas, volta assim a
emitir novas lamúrias, perante aquilo
que descreve como violação de
normas sobre a execução orçamental
e ao mesmo tempo infracções de natureza
financeira.
Trata-se apenas de números referentes
a uma amostra de 837 processos
relacionados com Fornecimento de
Bens, Prestação de Serviços, Empreitada
de Obras Públicas e Habitação,
Consultoria e Arrendamento, sectores
estes que têm sido, ao longo dos
anos, fonte de clientelismo das elites
frelimistas, graças à forte e promíscua
relação partido-Estado.
Do total dos 24.307.277.404,43 Meticais,
24.048.865.685,19 Meticais
são referentes a 122 contratos executados,
no último ano do consulado de
Armando Guebuza, sem o visto obrigatório
do TA, representando 14,6%
da amostra seleccionada, contra
258.4111.746,24 Meticais relativos a
149 contratos que não foram submetidos
à anotação do TA, representando
17,8% sobre a mesma amostra de
837 processos analisados.
Execuções sem visto
No que às execuções sem visto obrigatório
do TA diz respeito, o sector
de Empreitada de Obras Públicas e
Habitação é aquele que se evidencia
com 23.676.994.692,46 Meticais,
numa lista em que constam
entidades como a Empresa do Desenvolvimento
do Maputo Sul, responsável
pela construção da Estrada
Circular de Maputo e da Ponte
Maputo-Katembe com um montante
de 23.398.640.595,59 Meticais, seguida
pela Direcção Provincial de
Obras Públicas e Habitação de Cabo
Delgado, com 65.075.546,66 Meticais,
o Município de Quelimane,
presidido por Manuel de Araújo, do
MDM, com 12.189.231,86 Meticais,
Autoridade Tributária, na altura
presidido por Rosário Fernandes,
com 6.046.555,85 Meticais, só para
citar algumas que pisaram a Lei n°.
26/2009 de 29 de Setembro.
Segue o sector de Fornecimento de
Bens com 260.816.659,30 Meticais,
dos quais 216.541.000,00 pela
Direcção Nacional do Património
do Estado, 17.507.000,00 Meticais
pela Autoridade Tributária (AT),
11.907.537,00 pela Direcção Provincial
de Saúde de Cabo Delgado, entre
outras instituições que também executaram
contratos sem o visto obrigatório
Tribunal auditor de contas.
Na Prestação de Serviços, com um
gasto global de 92.754.196,23 Meticais,
57.163.800,00 foram despendidos
pelo extinto Ministério das
Pescas, na altura por Victor Borges,
actualmente, governador de Nampula
e 20.819.721,09 e 5.423.427,00 Meticais
foram, ilegalmente, executados
na Autoridade Tributária e no Instituto
para a Promoção de Exportações
(IPEX), respectivamente.
Em Consultorias, o executivo gastou
12.478.480,00 Meticais, dos quais
11.951.980,00 pela Direcção Provincial
de Obras Públicas e Habitação
da Zambézia e 526.500,00 pela Direcção
Provincial da Saúde de Cabo
Delgado.
O sector de Arrendamento foi responsável
por 5.821.630,20 Meticais,
3.003.550,20 dos quais à Empresa
de Desenvolvimento de Maputo Sul,
744.000,00 ao então Ministério das
Pescas e 240.000,00 ao IPEX, entre
outras entidades.
No seu Relatório e Parecer sobre a
Conta Geral do Estado de 2014, o
TA volta a mandar recados. Diz que
“a falta do visto configura violação
do disposto na alínea c) do n° 1 do
artigo 61 da Lei n° 26/2009, de 29
de Setembro, segundo a qual estão
obrigatoriamente sujeitos à fiscaliza-
ção prévia os actos, contratos e mais
instrumentos jurídicos de qualquer
natureza e montante, geradores de
despesa pública”.
Reitera que “o visto constitui um acto
jurisdicional condicionante da eficácia
global dos actos e mais instrumentos
legalmente sujeitos à fiscalização
prévia obrigatória, conforme
o estatuído do artigo 62 da mesma
lei. Os actos, contratos e mais instrumentos
subtraídos à fiscalização pré-
via obrigatória ou objecto de recusa
de visto não são exequíveis, sendo
insusceptíveis de quaisquer efeitos
financeiros, conforme prescreve o n°
1 do artigo 78 da mesma lei”.
De acordo com o Tribunal presidido
por Machatine Munguambe,
também no passado acusado de mau
uso de fundos públicos, tendo havido
execução destes actos e contratos sem
o seu visto, os gestores das entidades
indicadas incorrem em infracção financeira,
nos termos da alínea b) do
n° 1 do Artigo 93 da lei 26/2009 de
29 de Setembro.
Ademais, mesmo sem indicar nomes,
o TA denuncia que, entre estes casos,
há contratos que foram celebrados
com Fornecedores de Bens, Prestadores
de Serviços e Empreiteiros não
inscritos no Cadastro Único do Ministério
que superintende a área das
Finanças.
Contratos sem anotação
A par de execuções orçamentais sem
visto, o governo moçambicano não
submeteu, em 2014, à anotação ao
TA, 149 contratos no montante de
258.411.746,24 Meticais, contrariando
o disposto no n°3 do artigo 72 da
Lei n°.26/2009, de 29 de Setembro,
segundo o qual os serviços devem, no
prazo de 30 dias, após a celebração do
contrato, remeter cópia dos mesmos à
jurisdição administrativa.
Aqui, o sector de Empreitada e
Obras Públicas foi o que consumiu
a maior parte da verba. Foram
109.488.597,38 Meticais, dos quais
51.487.137,81 Meticais pelo Ministério
da Indústria e Comércio, na
altura dirigido por Armando Inroga,
que celebrou contratos, sem anotação
do TA.
Instituições como o Serviço Distrital
de Planeamento e Infra-estruturas de
Nicoadala, na Zambézia, e a Direc-
ção Provincial da Educação e Cultura
de Cabo Delgado despenderam, sem
anotação do TA, 21.486.213,57 Meticais
e 11.713.186,32 Meticais, respectivamente.
Segue o sector de Fornecimento
de Bens com 91.311.009,08 Meticais.
A faculdade de Veterinária da
Universidade Eduardo Mondlane
despendeu 26.083.494,37 Meticais,
contra 15.173.418,64 Meticais do
Ministério da Indústria e Comércio
e 10.907.129,24 da Direcção Provincial
da Educação e Cultura da Zambézia.
No sector de Prestação de Servi-
ços, com um total de 40.797.806,78
Meticais, despontam sectores como
a Autoridade Tributária de Moçambique,
com 15.307.922,00 Meticais,
o Instituto Nacional de Estatística
(INE), com 7.256.890,00 Meticais
e o Ministério das Pescas com
3.887.915,850 Meticais.
Enquanto isso, o sector da Consultoria
consumiu 15.185.351,00 Meticais.
Deste montante, 14.364.651,00
foram gastos pela Direcção Provincial
de Obras Públicas e Habitação
da Zambézia, 600.000,00 Meticais
pelo Centro Nacional de Cartografia
e Teledacta e 220.700,00 Meticais
pelo município de Chiúre, em Cabo
Delgado.
Só em arrendamento, o governo
gastou e sem notação do TA
1.629.000,00 Meticais, dos quais
1.401.000,00 Meticais pela Direcção
Provincial de Saúde da Zambézia,
180.000,00 Meticais pelo Ministério
da Indústria e Comércio e 48.000,00
Meticais pelo Município de Mueda,
em Cabo Delgado.
Despesas sem contrato
Se, por um lado, há 24.307.277.404,43
Meticais despendidos em execuções
sem o visto obrigatório ou submissão
de anotação ao TA, há por outro,
421.350.144,60 Meticais pagos em
despesas diversas sem celebração de
contrato com Fornecedores de Bens,
Prestadores de Serviços e Empreiteiros,
em violação do estatuído no
n°.1 do artigo 44 do Regulamento de
Contratação de Empreitada de Obras
Públicas, Fornecimento de Bens e
Prestação de Serviços ao Estado,
aprovado pelo Decreto n°.15/2010,
de 24 de Maio, o qual preconiza que
os contratos cujo valor seja superior
ao limite previsto no n°.3 do artigo
113, isto é, 87.500,00 para bens e serviços
e 175.000,00 Meticais, no caso
de empreitada de obras públicas, devem
ser reduzidos a escrito.
Aqui, o sector da Empreitada e
Obras Públicas foi responsável por
227.860.301,81 Meticais, gastos por
instituições como a Direcção Provincial
da Educação da Zambézia, com
214.572.740,33 Meticais, a Autoridade
Tributária, com 8.755.952,09
Meticais e a Direcção Provincial de
Obras Públicas e Habitação da Zambézia,
com 4.154.019,26 Meticais.
O Fornecimento de Bens, com
152.992.187,49 Meticais, inclui entidades
como a Central de Medicamentos
e Artigos Médicos, com uma
despesa de 20.597.588,96, o Instituto
para a Promoção de Exportação, com
10.457.302,24 Meticais e a Direcção
Nacional do Património do Estado
com 7.175.000,00 Meticais.
A Consultoria consumiu
3.369.995,99 Meticais sem celebração
de contrato, dos quais
3.144.995,99 Meticais pelo Instituto
Nacional de Irrigação e 225.000,00
Meticais pelo Município de Chiúre,
enquanto para o Arrendamento foram
720.000,00 Meticais, todos pela
Direcção Provincial do Plano de Finanças
da Zambézia.
A AT, com 20.988.433,63 Meticais,
o IPEX, com 2.050.737,16 Meticais,
o Ministério das Pescas, com
2.624.138,94 Meticais, o Ministé-
rio da Indústria e Comércio, com
1.715.780,32 Meticais, a Delegação
de APIE da província de Maputo,
com 334.720,00 Meticais são algumas
das instituições que gastaram na
prestação de serviços diversos, sem
celebração de contratos.
“Nos termos do artigo 7 do Regulamento
de Contratação já citado, as
entidades deveriam ter aberto concurso
público ou fundamentado, por
escrito, a sua dispensa, com base no
preceituado nos números 1, 2 e 3 do
artigo 9 do mesmo diploma. Por outro
lado, deveriam, obrigatoriamente,
ter notificado e fundamentado
a adopção de outra modalidade de
contratação, à Unidade Funcional de
Supervisão das Aquisições, de acordo
com o disposto no n°.1 do artigo
118 do Regulamento de Contratação
de Empreitada de Obras Públicas,
Fornecimento de Bens e Prestação
de Serviços ao Estado, aprovado pelo
Decreto n°.15/2010, de 24 de Maio”,
analisa o TA, para quem a não observância
do regime estabelecido para
o Fornecimento de Bens, Prestação
de Serviços e Empreitada de Obras
Públicas é uma violação das normas
sobre a execução do Orçamento e
constitui infracção financeira, segundo
a alínea b) do n°. 3 do artigo 93 da
Lei n°.26/2009, de 29 de Setembro.
Despesas acima dos contratos
Na longa teia de violação das normas
sobre a execução do Orçamento e
infracções financeiras, foram pagos
62.827.700,38 Meticais, acima dos
178.829.946,00 Meticais previstos
nos respectivos contratos, correspondentes
a um acréscimo de 35,1%,
superior ao limite de 25% do valor
inicialmente previsto nos contratos, o
que carecia de autorização por despacho
do ministro que superintende a
área das finanças.
Aqui, o TA destaca que “dos incrementos
aos montantes iniciais dos
contratos, destacam-se os contratos
de celebrados com o Município de
Mueda (1.490, 6%), Direcção da Juventude
e Desportos da Cidade de
Maputo (824,9%), Direcção Provincial
da Educação e Cultura da Zambézia
(450,3%) e a Autoridade Tributária
de Moçambique (339,1%)”.
Resposta vaga do governo
Entretanto, em resposta a estas e outras
irregularidades, o Governo diz,
vagamente, que “através de entidades
competentes, em razão da matéria,
tem vindo a intensificar acções de
fiscalização e outros procedimentos
preventivos aos sectores para que as
Empreitadas de Obras Públicas, incluindo
a aquisição de Bens e Servi-
ços seja feita em observância da legislação
em vigor, sendo de realçar ainda
a aplicação de medidas disciplinares
onde couber”.
$VLQIUDFo}HVÀQDQFHLUDVSDUDDOpPGDVGtYLGDVRFXOWDV
Governo de Guebuza usou mais de
24 biliões de Mt sem ok do TA
pDSHQDVXPDDPRVWUDGHSURFHVVRVHPQRPHVPRDQRHPTXHIRUDPGHVSHQGLGRVPDLVGHPLOK}HVHPDFWLYLGDGHVVHPFRQWUDWRV
HRXWURVPDLVGHPLOK}HVDFLPDGRVYDORUHVFRQWUDWXDLV
3RU$UPDQGR1KDQWXPER
Relação de processos executados sem visto obrigatório nem anotação do Tribunal Administrativo
Savana 03-06-2016 11 PUBLICIDADE SOCIEDADE
12 Savana 03-06-2016 SOCIEDADE
“
Os dados fornecidos aos sistemas
do piloto automático pela
pessoa que se presume ser o
Comandante, que permaneceu
só na cabine de voo, quando a pessoa
que se presume ser o co-piloto pediu
para ir aos lavabos, levaram a que a
aeronave saísse de um voo cruzeiro
para uma descida controlada e está-
vel com a subsequente colisão com o
solo”.
Esta é uma tradução oficial daquilo
que a comissão de investigação independente
da Namíbia, no seu Relatório
Final com data de 4 de Abril
de 2016, apurou sobre as “Prováveis
Causas” do acidente da aeronave da
LAM, voo TM 470, ocorrido a 29 de
Novembro de 2013.
Após aturadas investigações, envolvendo
todas as partes interessadas,
nomeadamente da Namíbia (o país
que liderou a investigação, por ter
sido no seu território onde ocorreu
o acidente), de Moçambique (por a
LAM ser o operador da aeronave),
do Brasil (país fabricante da aeronave),
dos Estados Unidos da América
(país fabricante dos motores e onde
se efectuou a leitura das caixas negras),
a comissão não conseguiu sequer
apurar e provar com exactidão
quem estava no comando da aeronave
no momento em que ela colidiu
com o solo.
Esta constatação é corroborada pela
recomendação que o Relatório Final
faz à Organização Internacional da
Aviação Civil (ICAO), propondo
“a criação de um grupo de trabalho
para rever a instalação de gravação
audio-visual, dentro e fora da cabine
de voo (cockpit), que possa fornecer
informação sobre quem estava na
cabine, quem exactamente estava no
controlo da aeronave no momento
do acidente e mesmo - onde estavam
as suas mãos relativamente ao painel
de comandos”.
Embora tenha recorrido a vários
meios de apoio técnico aeronáutico
de comprovada competência, o facto
é que os resultados a que a comissão
de investigação chegou são inconclusivos.
A investigação não conseguiu recolher
e reunir provas objectivas sobre
as causas que provocaram o acidente,
nem sequer sobre quem estava no
comando da aeronave no momento
em que ela embateu no solo. Assim,
fica igualmente excluída a teoria das
causas serem resultado de “factor humano”.
Recurso a simulador de voo
Contrariamente a relatórios anteriores
(o Preliminar publicado em
Janeiro de 2014 e o Interino em
Fevereiro de 2015), este responde a
muitas das questões levantadas por
um Comunicado dos Operadores
Aéreos Moçambicanos, a propósito
de vários lapsos e falhas detectadas
na linha de investigação levada a
cabo pela equipa namibiana.
Na altura, os operadores nacionais
pediam que fossem apuradas questões
relativas a:
- tempos em que se iniciou a descida
de emergência relativa à saída do
co-piloto da cabine de comando de
voo;
- tempo em que foi efectuado cada
procedimento dessa descida;
- se a aeronave atingiu (ou não) a altitude
de segurança;
- razões por que a porta de acesso à
cabine de comando se manteve fechada;
- “atitude” do piloto (o comunicado
não fazia referência a Comandante
nem Co-piloto) na descida de emergência
e,
- “atitude” da aeronave no momento
de embate com o solo.
Os operadores nacionais sugeriram
então que para tal se deveria recorrer
a um simulador de voo deste tipo de
aeronave, num teste a ser “efectuado
por especialistas e observado por comandantes
do operador da aeronave
(LAM) com experiência nesta rota”
(Maputo-Luanda).
Em Agosto de 2014, a comissão
de investigação recorreu ao Centro
de Simulação da companhia aérea
“Azul”, em São José, no Brasil, para
reproduzir o que se havia passado
nos últimos minutos de voo do Embraer
190 da LAM. O teste foi feito
na presença de dois representantes
da LAM (um piloto e um responsável
pela manutenção), bem como
do Chefe da Delegação do nosso
Ministério dos Transportes e ainda
de representantes da Autoridades
Aeronáutica brasileira e da Embraer.
No Anexo IV do Relatório Final
encontram-se os resultados apurados
no teste de simulador de voo, utilizando
os parâmetros técnicos gravados
pela caixa negra da aeronave
acidentada.
Com base na informação descodifi-
cada pelo National Transport Safety
Board americano do Flight Data Recorder
(caixa negra com informação
técnica), foram efectuadas quatro
descidas, a primeira das quais para
familiarização dos pilotos do simulador
com o tipo de situação que iriam
enfrentar, a segunda para efeitos de
gravação vídeo, a terceira para verifi-
car sobre o comportamento da aeronave
nos últimos instantes do voo e
uma quarta permitindo o seu percurso
completo.
O que se apurou na terceira tentativa
efectuada no simulador respondeu às
questões levantadas pelos operadores
nacionais, nomeadamente:
- a aeronave fez uma descida de
emergência controlada com o piloto
automático activo e de acordo com o
previsto no manual da aeronave;
- a aeronave manteve-se dentro dos
parâmetros expectáveis de “uma descida
controlada e estável”;
- não se apurou qual foi a “atitude”
do piloto, por não haver registos de
voz - ou de sons humanos -, durante
a “descida controlada e estável”;
- a “atitude” da aeronave era de estabilidade,
podendo ser recuperável
para voo normal quando soou o alarme
de “pull-up” (levantar).
O teste feito na “Azul” comprova que
a aeronave não foi propositadamente
atirada contra o solo e que a cerca de
trezentos metros do solo ainda era
recuperável. Isto contraria e anula a
tese advogada por alguns responsá-
veis moçambicanos, incluindo o então
Ministro dos Transportes, sobre a
intencionalidade de despenhamento
da aeronave.
Com efeito e após a realização dos
testes no simulador no Brasil, a comissão
de investigação voltou ao local
do acidente, onde confirmou que
os motores da aeronave embateram
no solo em paralelo, numa “atitude”
idêntica à de aterragem, com o
trem de aterragem recolhido tendo-
-se arrastado por várias centenas de
metros, o que provocou a sua total
desintegração.
...Dois minutos
Estranhamente, toda esta “descida
controlada e estável” decorreu sem
que, em nenhum instante dos últimos
minutos de voo, tenha sido gravado
um sequer som humano – voz,
gemido, suspiro...
Foram gravados outros sons que, segundo
o que os investigadores afirmam
no Anexo IV, não puderam ser
devidamente investigados no Brasil
- “uma vez que a aeronave disponível
pelo fabricante (Embraer) não estava
devidamente preparada”.
Esta fase da investigação era muito
importante e constitui uma das lacunas
deste Relatório Final.
É que na informação factual, resultante
do cruzamento do gravador de
voz e do tempo real dos acontecimentos,
há questões muito pertinentes
que ficam por explicar.
Segundo o Relatório Final, entre o
co-piloto ter autorização para sair da
cabine de comando e abrir a porta da
mesma, decorrem exactamente dez
segundos.
O gravador de voz revela que ele iria
ao lavabo, que se encontrava a menos
de dois metros da sua cadeira.
Contudo, até que a porta da cabine
de comado se feche decorrem dois
longos minutos.
De acordo com pilotos e tripulantes
deste tipo de aeronave, este período
de tempo suscita dúvidas, pois não
é possível ter as portas da cabine e
lavabo abertas ao mesmo tempo. Ou
seja, para se abrir a porta do lavabo
tem de se fechar a porta da cabine
de comando.
Sobre o que aconteceu durante estes
dois minutos não há registo, nem
de som, nem de informação técnica.
Aliás, o Relatório Final confirma que
“não existe nenhum registo de voz
depois que o co-piloto deixou a cabine
de comando”.
Só um minuto e quinze segundos
depois deste vácuo de informação é
que há, segundo os registos das Caixas
de Voz e de Informação Técnica,
sinais sobre o início da Descida de
Emergência controlada e efectuada
pelo piloto automático.
Entre esse instante e aquele que,
segundo o simulador, era possível
recuperar a aeronave decorrem exactamente
cinco minutos e trinta e um
segundos.
Nesse período, correspondente à
descida “controlada e estável”, o
Relatório Final refere sons não humanos,
presumindo batidas na porta,
mas não clarifica, nem identifica
uma outra questão extremamente
pertinente: porque não foi utilizado
o intercomunicador que se encontra
junto da porta da cabine para quem
quisesse voltar à cabine de comando?
Sendo uma descida de emergência
comprovadamente “controlada e estável”,
em que a aeronave não tinha
entrado num voo a pique e descontrolado,
por que razão “quem estava
do lado de fora não fez uso do óbvio
– o intercomunicador?”.
Estaria a funcionar?
Já sobre o não funcionamento do
ELT (Emissor de Localização de
Emergência) que deveria ter funcionado
depois de a aeronave embater
no solo, é dito que o mesmo não emitiu
qualquer sinal porque “o fio da
sua antena se cortou após o embate”
Lacunas
O Relatório Final é igualmente
omisso relativamente ao ambiente na
cabine de comando do início ao fim
do voo.
Seria importante informar, porque
isso foi registado, as conversas entre
o Comandante e o seu co-piloto no
momento da partida e antes deste
último ter, presumivelmente, abandonado
a cabine de comando.
A primeira, diz respeito ao atraso na
partida do voo, provocada pela troca
de um elemento do pessoal navegante,
coisa que levou o Comandante a
lembrar ao seu co-piloto que deveriam
fazer um rápido “turn-around”
em Luanda, por forma a poder estar
a horas para a festa de aniversário do
seu irmão, a quem já havia telefonado
a informar sobre a possibilidade
de chegar mais tarde a Maputo.
A segunda é sobre a cirurgia cardíaca
que a filha do Comandante havia
recentemente feito na África do Sul
descrevendo ao co-piloto o que se
havia passado. O relatório faz referência
a este facto, mas omite que é a
seguir a esta conversa que o co-piloto
pede para ir aos lavabos.
Houvesse sistema de gravação audio-visual
dentro e fora da cabine,
saberíamos ao certo o que aconteceu?
Acidente do TM 470
Das presunções à completa inconclusão
Por Alves Gomes
Savana 03-06-2016 13 PUBLICIDADE SOCIEDADE
No âmbito da cooperação entre Moçambique e o Reino
dos Países Baixos, através da Agência de Desenvolvimento
dos Países Baixos EP-NUFFIC, quatro institui-
ções de ensino superior moçambicanas, nomeadamente;
a Universidade Eduardo Mondlane (UEM), a Universidade
Lúrio (Unilúrio), a Universidade Católica de Mo-
çambique (UCM) e o Instituto Superior Politécnico do
Songo (ISPSONGO), estão envolvidas num programa
GHFRRSHUDomRFRPLQVWLWXLo}HVFLHQWtÀFDVGR5HLQRGRV
Países Baixos, dentre as quais, a Universidade de Groningen.
Mas também, instituições sul-africanas, como a
Universidade de Stellenbosch.
O programa em referência visa a formação de quadros
TXDOLÀFDGRVDRQtYHOGH'RXWRUDPHQWRQDiUHDGHHQHUgia
e enquadra-se na iniciativa “Netherlands Initiative
for Capacity Development in Higher Education - NICHE”
intitulada “Innovative ways to transfer technology
and know-how, developing skills and expertise
for gas, renewable energy and management”.
Ademais, ao abrigo deste programa, serão disponibilizadas
para cada uma das quatro instituições de ensino
superior moçambicanas supramencionadas participantes
do programa, 4 bolsas de estudo ao nível de DoutoUDPHQWRHPDVVXQWRVOLJDGRVD
LSHWUyOHRHJiVQDWXUDO
LLHQHUJLDVUHQRYiYHLVHLLLDVVXQWRVWUDQVYHUVDLV
GDV iUHDV DFLPD UHIHULGDV$VVLP VHQGR VHUmR DFHLWHV
FDQGLGDWXUDVGHGLIHUHQWHV iUHDV FLHQWtÀFDVGHQWUH DV
quais as da engenharia, física, economia, direito, ciênFLDVVRFLDLVPDWHPiWLFDFLrQFLDVDPELHQWDLVFLrQFLDVH
espaciais.
Destaca-se também que, os estudos serão realizados a
tempo inteiro, repartindo-se o período de frequência
por dois, com a primeira metade do tempo passada na
instituição de ensino superior de Moçambique e a outra
metade numa das universidades parceiras, nomeadamente
a Universidade de Groningen ou a Universidade
de Stellenbosch.
1RWRFDQWHDRVUHTXLVLWRVHVSHFtÀFRVSDUDDDWULEXLomR
destas bolsas, os candidatos deverão ter nível de MesWUDGRUHOHYDQWHSDUDDiUHDHPTXHVHSURS}HPDUHDOLzar
os seus estudos de Doutoramento, com uma classi-
ÀFDomRÀQDOGH%RPD([FHOHQWHHFRPXPDH[SHULrQFLD
relevante de trabalho. Atendendo e considerando que o
SURJUDPDGH'RXWRUDPHQWRVHUiPLQLVWUDGRQDOtQJXD
inglesa, recomenda-se que os candidatos tenham um
domínio deste idioma nas dimensões de escrita, leitura
e fala.
Poderão candidatar-se a estas bolsas docentes, investigadores
e membros do corpo técnico administrativo
ANÚNCIO DE BOLSAS
DOUTORAMENTO EM ENERGIA NO ÂMBITO DA INICIATIVA DO REINO DOS PAÍSES BAIXOS
SOBRE O ENSINO SUPERIOR-NICHE
das instituições de ensino superior acima referidas,
desde que reúnam integralmente as condições indicadas.
Mas também, poderão candidatar-se a estas bolsas
pessoas que não façam parte destas instituições, desde
que aceitem integrar estas instituições caso venham a
VHUDSXUDGRVDV(PTXDOTXHUGRVFDVRVRVEHQHÀFLirios
das bolsas deverão assinar cartas de compromisso
com a instituição onde estão integrados ou pretendem
LQWHJUDUVHHDFDQGLGDWXUDGHYHUiVHUIHLWDDWUDYpVGH
uma carta dirigida ao Director de Cooperação da Universidade
Eduardo Mondlane, anexando a seguinte
documentação de base:
&9DFWXDOL]DGRHGHWDOKDGRHVFULWRHPLQJOrV
'LSORPDGH0HVWUDGRWUDGX]LGRSDUDRLQJOrVFDVR
não esteja neste idioma;
&HUWLÀFDGRGDVFDGHLUDVIHLWDVGXUDQWHR0HVWUDGR
traduzido para o inglês, caso não esteja neste idioma;
&HUWLÀFDGRGHGRPtQLRGDOtQJXDLQJOHVDWUDGX]LGR
para o inglês, caso não esteja neste idioma;
&ySLDGDGLVVHUWDomRGH0HVWUDGRQDOtQJXDRULJLnal;
$FDUWDGHFDQGLGDWXUDGHYHUiLQGLFDURQRPHGDLQVtituição
moçambicana de ensino superior na qual o
candidato pretende ser integrado. Adicionalmente, os
concorrentes deverão apresentar a seguinte documentação
técnica, escrita em inglês:
&DUWDGHPRWLYDomRGHWDOKDQGRRVPRWLYRVTXHRD
levam a concorrer para a bolsa;
3URSRVWDGHSURMHFWRGH'RXWRUDPHQWRFRPLQWURdução,
objectivos, fundamentação, metodologia, e
UHVXOWDGRVHVSHUDGRVHPDSUR[LPDGDPHQWHSiJLnas);
5HIHUrQFLDVDFDGpPLFDVGHSHORPHQRVGXDVSHVVRDV
TXHWHQKDPDFRPSDQKDGRSDUWHGRSHUÀODFDGpPLFR
do candidato.
Nota: Encoraja-se particularmente a participação de
candidatos do sexo feminino neste programa!
O prazo limite para a submissão de candidaturas é de
1 de Julho de 2016, sendo que, as mesmas deverão ser
enviadas, sob forma electrónica, ao Director de Cooperação
da Universidade Eduardo Mondlane, Doutor
Carlos Lucas, através dos endereços electrónicos carlos.lucas@uem.mz
e clucas33@yahoo.com .
Para mais informações sobre o projecto e tópicos possíveis
para a investigação, por favor contacte o Prof.
Doutor Carlos Lucas, pelos endereços acima indicados
ou visitando o Gabinete de Cooperação, 2o andar do
(GLItFLR GD 5HLWRULD GD 8(0 &DPSXV 8QLYHUVLWiULR
Principal, Av. Julius Nyerere, número 3453, Maputo.
Maputo, 25 de Maio de 2016
14 Savana 03-06-2014 Savana 03-06-2014 15
NO CENTRO DO FURACÃO
Oantigo secretário-geral da
UNITA, Abílio Kamalata
Numa, agora deputado à Assembleia
Nacional de Angola
por este partido, já foi um dos mais
respeitados e temidos operacionais das
Forças Armadas de Libertação de Angola
(FALA), o antigo braço armado de
Jonas Savimbi. Era um dos 13 elementos
que acompanhavam o líder fundador da
UNITA no dia em que este foi morto em
combate pelas Forças Armadas Angolanas
(FAA), a 22 de Fevereiro de 2002,
concretamente há 11 anos. Por esta razão,
O PAÍS (Luanda) ouviu o homem
que diz ter visto Savimbi a cair.
Assinala-se mais um aniversário do
passamento físico do líder fundador
da UNITA, Jonas Malheiro Savimbi.
Angola está melhor com ele morto ou
acha que faria alguma diferença se ainda
fosse vivo?
Infelizmente temos de começar esta entrevista
falando do Dr. Savimbi, morto
em combate em 2002. A morte do Dr.
Savimbi teve quase a mesma similitude
do desaparecimento de Yasser Arafat.
Naquela altura, os israelitas diziam que
o problema palestiniano teria solução
com o desaparecimento de Yasser Arafat
e tudo foi feito até que lhe envenenaram
e o mataram. Mas as coisas estão mais do
que demonstradas que Yasser Arafat era
a solução e não era o problema.
Aqui em Angola também se deu a mesma
coisa, nós tivemos transições muito
turbulentas desde 1974 e, com a assump-
ção da independência em 1975, os angolanos
nunca se entenderam. O partido ou
movimento com mais força na altura era
a FNLA, em termos materiais o MPLA
e a UNITA em volta de si a força do seu
líder, mas vinha no terceiro escalão.
Nós percebemos que naquela altura a
primeira coisa que o MPLA queria era
colocar a FNLA fora da arena política e
é o que fez. Houve corações de pessoas
que foram encontradas nos frigoríficos,
falou-se que as pessoas da FNLA comiam
pessoas, do Samuel Abrigada que
tinha roubado dos cofres do Governo de
Transição 100 mil contos. Falou-se de
muita coisa, mas afinal vimos que aquilo
foi feito no âmbito de uma propaganda
atroz para colocar a FNLA fora do processo
político angolano.
A UNITA, que resistiu, foi vista pelo
MPLA como o alvo a abater a seguir.
E Dr. Savimbi, nisso, foi um exímio estratega,
político, militar, diplomata, que
conseguiu trazer uma solução para a
África Austral, porque do ponto de vista
militar não se teria encontrado uma solução
para o problema sul-africano nem
para a independência da Namíbia.
A resistência da UNITA aqui permitiu
que as Nações Unidas tivessem assumido
a resolução 435 que impôs a retirada
dos cubanos, independência da Namíbia,
posteriormente os avanços que existiram
com a solução sul-africana, a libertação
de Mandela e a aproximação dos angolanos.
Nesta caminhada, vocês já teriam
visto, a diabolização do Dr. Savimbi foi
a peça fundamental da política angolana
até ao seu desaparecimento. Agora volto
a dizer que o Dr. Savimbi era a solução
de muitos problemas de Angola, não era
o problema. Da mesma forma que Yasser
Arafat não era o problema, Savimbi também
não o era aqui em Angola.
Não pensa que o fim do conflito, com a
sua morte em combate no Moxico, terá
sido fruto de alguma intransigência da
parte do líder fundador da UNITA?
Não, não. Dr. Savimbi não teve intransigência
nenhuma neste processo todo. O
que havia era do outro lado uma política
de subalternização, integração e não era
isso que os Acordos de Alvor, que são
o fundamento de todo o processo político
em Angola, diziam. Os partidos
ou movimentos de libertação FNLA,
MPLA e a UNITA - eram os legítimos
representantes do povo angolano, mas o
MPLA arvorava-se a si próprio como se
fosse o único.
Esse foi sempre o pomo da discórdia que
levou Angola para conflitos desnecessá-
rios, mas o problema não está resolvido.
Neste preciso momento nós temos uma
paz que significa o calar das armas, mas
não temos paz política ou social, as pessoas
continuam a desaparecer, temos um
Governo que tem medo do povo, não
resolve o problema da água e luz. Os angolanos
empobreceram muito mais. Eu
que vi um bocadinho o tempo colonial,
se o meu pai estivesse vivo diria mesmo
que regredi bastante, olhando para o que
nós éramos e o que somos hoje. E isso
terá tido solução com a morte do Dr. Savimbi?
Não. Temos uma paz militar que
significou o calar das armas, mas não temos
uma paz social nem política.
Foi um dos poucos generais que esteve
ao lado de Jonas Savimbi quando este
morreu a 22 de Fevereiro, no Lucusse.
É fácil lidar com esta realidade?
Olha, isso vai desaparecer comigo. Aquele
dia fatídico passa por mim sempre que
tiver de me recordar disso, mas faço um
esforço. Primeiro, a formação religiosa
que eu tive, fui seminarista, tem-me dado
força mental suficiente para poder perdoar,
ultrapassar todo aquele calvário que
passamos naquela altura. Agora estamos
numa outra luta que é a democratização
do país e envolve todos vocês.
Como religioso podemos dizer que foi
salvo por Deus quando foi carregar as
pilhas num outro local e minutos depois
o líder que acompanhava é morto
na tenda em que se encontrava?
Há muita coisa que os homens não sabem
explicar. Tive na minha vida situações
de sobrevivência que arrepiam as
pessoas. Fui 1º comissário político da
UNITA no Cubal, em Benguela, e em
1975 começam as escaramuças, fui capturado
pelo MPLA, com outros companheiros.
Fomos parar na delegação do
MPLA, ouvi que tinham sido capturados
também mais de 30 e tal militares,
estes até estavam desarmados, tinham
chegado havia bem pouco tempo de
Cangumbe. A UNITA não tinha fontes
de armas, as suas tropas e aqueles jovens
estavam aí só para o asseguramento da
delegação. Foram capturados todos e assassinados
naquele período.
E nós, na delegação do MPLA, a dado
momento chegou um senhor que estava
a recuar do Alto Catumbela, ali onde temos
a fábrica de papel. Encontrou-nos aí
e começou a falar com os responsáveis do
MPLA no Cubal. Perguntou-lhes se tinham
capturado os comissários políticos
da UNITA, porque éramos dois: eu mais
o meu colega Ernesto Vindengandenga.
Eles disseram que não tinham capturado
nenhum comissário político e que os
senhores que ali estavam são da JURA.
E ele diz assim: “se tivessem capturado
o comissário político devia ser eliminado
rapidamente, porque estes é que estão a
mobilizar mal o povo”. “Agora, os jovens
da JURA mandem para o CIR de Benguela”.
Ele quando sai e os senhores da
delegação do Cubal do MPLA dizem
que “se fosse um mestiço ou branco ele
teria levado para Benguela, mas por se
tratar de negros nós devíamos matar.
Esta porcaria é que não está bem”.
E quando se deu o 27 de Maio de 1977,
vim a perceber que o MPLA sofre de
problemas muito graves do ponto de vista
racial, porque não solucionaram bem o
problema da convivência nacional. Este
foi um momento da minha sobrevivência
também, porque se os elementos do
MPLA tivessem dito que eu era o comissário
político da UNITA, teria sido
morto naquela altura. Vim a saber mais
tarde que afinal de contas esse senhor era
membro do Comité Central do MPLA.
Sobrevivi a mais esta, que aconteceu naquela
altura. Estava a conversar com o
Dr. Savimbi durante a caminhada, desprendemo-nos
do grupo maior que ficou
com o vice-presidente Dembo. Eu e o Dr.
Savimbi ficámos com 13 pessoas apenas
e a dado momento achei que devia carregar
as minhas pilhas para escutar o relato,
porque por volta das 21 horas ocorreria o
jogo Guimarães-Sporting. Quando vou
para carregar as pilhas os tiros começam.
Volto para o local de onde tinha saído e
vejo o Dr. Savimbi a levantar-se e a cair,
portanto tinha sido alvejado, e depois
disso desprendi-me até que estamos aqui
neste preciso momento.
As 13 pessoas de que falou há pouco
estão vivas?
Todas elas, só o Dr. Savimbi é que morreu.
Segundo o que me vieram dizer
posteriormente, a esposa do Dr. Savimbi,
dona Valentina, teria ficado ferida ligeiramente
e mais um capitão, acho eu. É a
informação que tive já depois de ter chegado
a Luanda. Estas pessoas estão vivas.
Algumas pessoas acreditam que o desfecho
militar da UNITA terá sido consequência
do facto de Jonas Savimbi
ter-se cercado de generais mais novos
e preterindo os mais experientes. Também
acredita nisso?
Essa é uma outra história que um dia terei
de contar aos angolanos e aos militantes
do nosso partido sobre o que aconteceu
naquele período. Os que faziam parte
do estado-maior naquela altura eram
o Bock, como chefe do Estado-Maior,
eu, como vice-chefe do Estado-Maior e
chefe das operações e o falecido Vatuva,
como comissário-político.
O Bock e o Vatuva já são desaparecidos,
ainda estou aqui eu e tenho alguns apontamentos
feitos, acho que brevemente
farei sair uma obra a falar disso. Quero
dar mais algum tempo para deixar passar
alguns processos que podem implicar
muita gente. De facto, o que aconteceu é
que nós tivemos uma fase mais complexa
que depois retirou o protagonismo daqueles
que tinham comandado, que eram
os comandantes principais da UNITA
até recentemente. E neste último con-
flito que começou em 1998 apareceram
novos protagonistas e depois arrumaram
com as FALA. Neste momento só é isso
que lhe posso dizer.
O que é que pretende dizer com “arrumaram
com as FALA”?
Sinceramente digo-lhe com toda a verdade,
quando se diz que a UNITA foi
derrotada não acredito. As FALA não foram
derrotadas. E repito-lhe: As FALA
não foram derrotadas. O que aconteceu
é que o alto comandante tinha morrido.
Os principais generais que eram os comandantes
das Forças Armadas naquela
altura, os generais Kamorteiro, Samy e
Kalias, tinham sido capturados.
Como você sabe, o que estou a dizer
não é nenhuma heresia, eles apareceram
aqui como pessoas capturadas. E a partir
daí houve uma sincronização feita entre
esses companheiros, as comunicações
do presidente Savimbi, os seus companheiros
que tinham sido capturados e as
FAA, uma manobra que permitiu enviar
mensagens para todas as redes da UNITA
a dizer que eram ordens do vice-presidente
Sebastião Dembo, já que o Dr.
Savimbi tinha morrido.
Naquela altura, o falecido vice-presidente,
que morreu no dia 25, três dias depois,
não enviou nenhuma mensagem para
que as forças armadas parassem. Mandou-se
parar o conflito em todo o país
e a partir daí houve uma gama de manobras
que foram travadas pelo Gato, que
era o secretário-geral, quando o Governo
dizia que estava a negociar o problema
com o grupo do Kamorteiro. E o Gato
dizia que o Governo não podia discutir
com os capturados, mas sim com pessoas
livres. Foi nessa altura que se processou
a transição da negociação do grupo
do companheiro Kamorteiro que estava
aqui e o do companheiro Lukamba Gato
enviado para o Luena.
Ainda existem mistérios em relação à
morte de Jonas Savimbi?
Para quem procura fantasmas acho que
há. O que aconteceu é que nós fomos
atacados e houve algum ripostar muito
simples, porque também não tínhamos
muito armamento no local. Poucas pessoas
estavam armadas e foi um combate
de pouca monta. Tínhamos feito uma
manobra com um grupo de 13 pessoas
numa mata muito cerrada, pensávamos
que não seríamos detectados facilmente.
Por isso, o nosso cordão defensivo não
era uma coisa muito grande, era muito
próximo, um cordão de uns 30 metros
em relação à tenda onde se encontrava
o Dr. Savimbi.
E depois, ainda nesta altura, das 13 pessoas
ainda retiramos duas que enviamos
para o patrulhamento, para ver se detectava
o grosso da coluna do vice-presidente
Dembo. Tínhamos ficado 11 pessoas
e para quem procura fantasmas pode ver
outras coisas, mas o que aconteceu foi
simplesmente isso. Agora há pessoas que
dizem que o Dr. Savimbi teria feito tiro
contra si próprio, mas não foi isso porque
ele foi eliminado. Na altura em que eu
estava a correr vejo o Dr. Savimbi primeiro
a cair, quando saio da zona, depois,
sinto uma cadência de tiros a serem feitos
ao alvo. Taus, taus, taus E as pessoas
que viram o corpo do Dr. Savimbi disseram
que estava varado de tiros.
Portanto, acho que depois de terem derrubado
o Dr. Savimbi continuaram a
disparar, acredito que tinham recebido
ordens para que ele não saísse daquilo
vivo. Não queriam o Dr. Savimbi vivo.
Era uma ordem que existia, assim como
outras, porque depois do Dr. Savimbi ter
tombado neste combate fui perseguido
durante um mês, já os meus companheiros
a negociarem.
Saí do Moxico e fui parar quase na província
do Bié, durante um mês, fiz uma
manobra terrível a pé, a ser perseguido.
Na minha coluna ainda foram capturados
majores, caímos em várias emboscadas.
No dia em que cheguei no Moxico,
depois de ter feito as minhas manobras
para que a minha localização já não
constituísse problema e os outros soubessem
que estava vivo, quando se dizia
que o Numa tinha morrido, infiltrei um
major num grupo das FALA que estava
com o senhor general Condenado pronto
para se movimentar para o local de
aquartelamento no Moxico.
Ao lado estava já uma unidade das FAA
e deste grupo os que eram mais fracos
deviam ir para o Moxico por via aérea.
Pedi para que esse oficial fosse por via
aérea para dizer que eu estava vivo e que
me encontrava na área y. E foi assim
que quando chegou ao Moxico comunicou
aos outros onde eu me encontrava,
posteriormente também encontrei um
posto-rádio, comuniquei ao Gato e ele
fez a comunicação a dizer que eu tinha
aparecido. Quando cheguei ao Moxico
encontrei um coronel dos Comandos das
FAA, que me dizia: “Agora eu posso ir
para Cabinda, todas as forças já tinham
sido deslocadas para Cabinda”. Porque
ele estava aí exactamente com ordens de
que eu tinha de aparecer vivo ou morto.
Mas, pronto, felizmente tinha aparecido
vivo.
Se não há mistérios em relação à morte
de Jonas Savimbi, o que dizer sobre o
desaparecimento de António Dembo?
Por que razão alguns supostos familiares
apareceram recentemente a exigir a
localização dos seus restos mortais?
O vice-presidente Dembo, estive com ele
durante muito tempo na área Norte. O
Dr. Savimbi começou a despedir-se havia
muito tempo, falou com os quadros,
A morte de Jonas Savimbi revisitada
“Vi o Dr. Savimbi a cair”
deu indicações e uma das que deixou era
de que não tinha certeza que iria ficar
mais dois anos. Mas se ele desaparecesse
o partido ficava muito bem nas mãos do
Dembo.
O companheiro vice-presidente Dembo
era um quadro muito querido dentro do
partido e era aceite. E quando ele morre
ao lado estava o filho Jeff, que alguns
conhecem e ele está agora a terminar o
curso de Engenharia Informática. Portanto,
ele está aqui e as pessoas podem
falar com o Jeff e sabem as condições
em que o pai se encontrava. Uma das
coisas que acho que acelerou a morte
do companheiro Dembo foi a diabetes,
as manobras que encetávamos durante a
guerra, muito movimento, pouca comida
ou nenhuma mesmo, isso afectou um
bocadinho a própria resistência dele. E
começou a perder muitas forças.
Num período que vai de oito a 10 dias
também ficou sem a sua esposa. A dona
Maria, na manobra que estávamos a fazer
na mata, ficou no grupo do Dr. Savimbi.
Portanto, a dona Maria faz parte do grupo
das 13 pessoas que estavam no grupo
do Dr. Savimbi, mas depois o presidente
fundador tinha ficado apenas com o filho
Jeff. Os outros seguranças tinham morrido,
houve gente que morreu à fome e
outros que desertaram, fugiram. Muitos
de nossos guardas desertaram por causa
da fome e outros foram se perdendo. E
ela ficou de facto nestas condições e depois
não aguentou.
Falou-se muito da existência de enormes
quantidades de dinheiro e diamantes
muito valiosos em posse de Jonas
Savimbi no dia em que morreu. É verdade?
O que lhe vou dizer é o seguinte: no dia
22 de Fevereiro de 2002, durante a nossa
marcha acordamos um bocado cedo, eu
era a pessoa que estava a dirigir, operei
muito tempo naquela área, a dado momento
sentimos muito fogo, muito intenso
e nutrido na parte Sul. Depois falei
com Dr. Savimbi que era exactamente ao
longo do rio Luio, com precisão para a
área do general Big Jó. Era exactamente
na área onde se encontrava e foi neste dia
que o general Big Jó morreu.
Então tivemos de fazer um movimento
para Nordeste, andamos no meio da
mata e a dado momento descansamos
um bocado, era praxe. Naquela altura o
Dr. Savimbi levava uma pasta castanha,
não sei se estou errado mas acho que era
mesmo castanha. Abriu a pasta e tinha
alguns documentos. Acho que tinha
coisas muito queridas dele. E era nesta
pasta onde, de facto, havia um monte de
diamantes.
E o Dr. Savimbi dizia: olha, quando encontrarmos
os outros vamos ver como
utilizar estes meios para podermos socorrer
o partido. Naquela altura também
estávamos à procura de uma forma de
reconquistar um aeroporto para come-
çarmos a obter recursos que eram necessários.
Os que encontram a pasta são os
homens das FAA. Nela havia documentos
e estavam aí os diamantes.
A UNITA ainda está órfã de Jonas Savimbi?
Todos nós tínhamos a consciência de que
o desaparecimento do Dr. Savimbi seria
um problema de extrema gravidade para
a própria UNITA. Não era uma pessoa
que seria fácil de substituir e a imensidão
e a profundidade cognitiva, o arcaboiço
que o Dr. Savimbi apresentava são raros.
Mesmo aqui no nosso país é raro encontramos
um homem daquela estaleca.
Era um excelente estudioso nas Ciências
Sociais e ele tinha ganho uma grande
experiência, um líder que seguíamos sem
questionar. Ninguém questionava o Dr.
Savimbi, porque era um grande líder. Era
um líder que falava para todas as pessoas
e também sabia escutar.
Escutava pessoas quase que nada falavam.
O Dr. Savimbi dizia assim: “Nunca
despreze nenhuma pessoa. Em uma hora
de conversa com uma pessoa que você
julga que não tem nada vais apreender
sempre alguma coisa”. Por isto tínhamos
consciência de que o seu desaparecimento
seria um problema grave para a pró-
pria UNITA e como tem-se revelado que
sim.
O Presidente Samakuva tem sido um
substituto à altura?
O Presidente Samakuva foi uma solução
ajustada para o momento. Aquele momento
era muito crítico, um momento
que precisava de uma pessoa com um
fleuma que se ajustasse para aquela circunstância
e o Presidente Samakuva
conseguiu, de facto, fazer esta transição
com muito sucesso.
Como vê hoje o partido em termos de
democracia interna?
É um aprendizado. Internamente discutimos
os nossos problemas sem errar, não
temos nenhum receio de conversarmos.
A UNITA nisso tem crescido imenso e
é só ver que nós fazemos os nossos congressos
onde o presidente é eleito. Acho
eu que é o único partido que faz de forma
muito aberta, limpa, os outros partidos
ainda votam com as mãos no ar ou o fazem
de outra forma. Ou é o Ngonda que
não aparece e só o Ngola Kabangu, ora,
às vezes, é o Ngola Kabangu e o Ngonda
aparece sozinho. O PRS também não sei
o que é que se passou por lá, vamos ver o
que é que a CASA-CE vai fazer, se tem
democracia suficiente para não estar a
encontrar engenharias de liderança.
Mas na UNITA isso tem sido superado e
não tem tido grandes problemas. Temos
democracia interna sim, mas a democracia
é um território de aperfeiçoamento
contínuo
O senhor foi um dos poucos defensores
da realização de um congresso extraordinário
na UNITA depois das eleições.
Ainda é da mesma opinião?
Risos. Esta é uma questão interna a
que não me vou referir. Com certeza o
próprio partido, na altura da reunião da
Comissão Política, fez um comunicado e
este problema não é só do Numa. É um
problema interno e o próprio partido vai
encontrar, com certeza, soluções.
Faz sentido defender o projecto de Muangai
hoje?
Faz sentido sim senhor. Você já viu cató-
licos sem a Bíblia? É impossível. A Bíblia
é eterna, é a filosofia que alimenta uma
crença e nós acreditamos nos princípios
fundados em Muangai. São bem claros:
democracia. O país terá de ter vários partidos
políticos, dar prioridade ao campo
para beneficiar a cidade. É um princípio
de desenvolvimento sustentável que a
UNITA vem já a falar desde os tempos
idos.
Hoje continuamos com um ensino pobre,
uma saúde débil, uma infra-estrutura
industrial inexistente, estradas assim
pequeninas. Quando se fala em auto-
-estrada você pensa que é uma coisa respeitável,
mas é só ver.
Temos muitos recursos mas não estão a
ser aplicados devidamente. Neste preciso
momento temos um dos maiores
orçamentos de África. O orçamento de
Angola deve ser necessário juntar uns 30
países que andam por aí para se fazer um
orçamento de 70 biliões. Mas isso não vai
resolver os problemas de Angola, porque
não vai resolver o problema da água, ensino,
energia. O dinheiro vai servir outros
fins e é aí onde muita gente vai debicar
para se enriquecer de forma ilegal.
Recorda-se que em 1974, quando se de-
finiu quem é o angolano, foi o Dr. Savimbi
que escreveu a definição que ficou
na Constituição. Até Lúcio Lara queria
uma outra coisa, mas os outros não aceitaram
e tiveram de adoptar aquilo que o
Dr. Savimbi tinha explicado. E ele tem
uma frase que anda nos telefones: “para
mim primeiro o angolano, segundo o
angolano, terceiro o angolano, quarto o
angolano, o angolano sempre. Agora os
outros não sei aonde ficam”. “A cooperação
comigo não é muito fácil”, porque
ele não definia o angolano como negro,
mestiço ou branco, mas aquele que ama
este país”.
Qual é a verdadeira razão da constante
fuga de quadros da UNITA? Depois
das eleições vimos muitos militantes do
Kuando-Kubango a abandonarem as
fileiras e rumarem para o MPLA.
A história do Kuando-Kubango não
está bem contada. E vocês também comecem
a ter um jornalismo investigativo
mais profundo, para não estarmos aqui
na corda bamba do MPLA. Isso vem
desde 1974. Para o MPLA ainda não
estamos em paz e vou mais longe: para o
MPLA o resto é inimigo, não é só mais
a UNITA. Porque é que se fala de indivíduos
que saem de partidos e vão para o
MPLA, faz-se propaganda.
A UNITA está a aproximar-se dos dois
milhões de membros, não é nenhuma
falácia. Há trabalho de mobilização, os
dois milhões estão aí. Nós tivemos alguns
problemas nas eleições passadas,
vamos ser contundentes nisso porque
tivemos um controlo muito deficitário.
Controlamos ao nível de 35 ou 36 por
cento, ao máximo. É o que levou para
os 32 deputados que temos. A UNITA,
se tivesse tido um controlo de 80 a 90
por cento nas eleições passadas, ter-se-ia
aproximado entre os 90 ou 100 deputados.
A UNITA teria chegado aí, mas o
resto o MPLA foi governando sozinho,
atribuiu-se os votos que quis.
Porque até ao último dia os delegados de
lista da UNITA não estavam credenciados,
houve tanta manobra que permitiu
que chegássemos às eleições nas condi-
ções em que chegamos. As pessoas dizem
que as eleições foram livres e justas
porque foram normais e não houve problemas.
Somos cívicos, queremos fazer o
jogo democrático de forma limpa, mas o
MPLA controlou sozinho as eleições.
A saída do deputado Abel Chivukuvuku
foi um sério revés para a UNITA
ou é algo que já esperavam havia muito
tempo?
Primeiro, digo que o Abel é um quadro
angolano como qualquer outro e se ele
achou que tinha chegado o momento O
que senti inicialmente é que ele queria
ser presidente da UNITA. Ele fez muito
por isso, concorreu para as eleições no
11º Congresso e foi derrotado. O nome
do Abel depois ficou ligado aos grupos
de reflexão, até que achou que não tinha
terreno aqui e foi-se embora. Agora que
tenha sido um revés para a própria UNITA
não, porque o Abel não mexeu na
estrutura dos membros da UNITA.
Estou a dizer-lhe que nós tivemos um
controlo eleitoral que anda à volta dos
35 a 36 por cento, mas mesmo assim
tentaram fazer tudo para baixar a UNITA
e chegaram aos 32 deputados. Aqui
em Luanda no mínimo teríamos eleitos
três deputados. Andam aqui a dizer que
a UNITA ganhou no Cacuaco, mas não
foi só lá. A Viana, Kilamba Kiaxi, área
do município de Belas. Tivemos sim
dificuldades aqui em Luanda no centro
da Cidade. Ali a UNITA tem de rever
os seus métodos de trabalho para ver se
encontra formas de penetração no centro
da cidade, para ver se reconquista uma
parte substancial de quadros que possam,
a partir de determinado momento,
compreender, de facto, qual é a missão da
UNITA no espaço angolano. Sinto que
a CASA-CE, que tem como seu líder o
Abel, tirou mais membros ao MPLA e
não foi buscar à UNITA.
O Huambo e o Bié podem ser considerados
bastiões da UNITA?
É só ver, está demonstrado. Também
teríamos tido no mínimo quatro deputados
no Bié, três no Huambo, dois no
Kuando-Kubango, que também é outro
bastião da UNITA que temos estado a
lutar para recuperarmos e vamos conseguir
mesmo com a saída de Black
Power e outras pessoas. A UNITA tem
projecto e vigor suficientes para voltar
a liderar a área do Kuando-Kubango.
Temos Benguela como nosso bastião, a
Huíla, onde temos de fazer esforços em
determinadas áreas para nos sentirmos à
vontade, o Kuanza-Sul, onde precisamos
de melhorar.
Nunca pensou ser presidente da UNITA,
uma vez que já foi secretário-geral
do partido?
A UNITA é um partido que tem um
naipe de quadros que têm perfil para serem
líderes da grande instituição. Temos
companheiros como o Jardo, que está nos
Estados Unidos da América, Lukamba
Gato, Jaka Jamba, Alcides Sakala,
Adalberto da Costa Júnior... Temos aqui
uma vasta gama de quadros, desde que
sintam que estão em altura de solucionar
os problemas de Angola com certeza
que vão ter programas para se poderem
apresentar no próximo congresso do partido.
Agora, eu não posso dizer que desta
água não beberei. É possível que esteja a
pensar nisso, mas também estão aí outros
companheiros.
Já ouviu das pessoas argumentos de que
o senhor tem um discurso muito musculado?
Já ouvi falar disso. Já me chamaram de
incendiário, racista e de tudo. O que eu
lhe digo é o seguinte: não aceito em nenhum
momento concordar com o que se
passa neste país. E o discurso musculado
é dizermos a verdade. O que temos estado
a dizer é apenas a verdade. Agora,
estar com a minha gravata e a dizer querido
Presidente está tudo bem, isso não
faço. Nasci como um homem livre e vou
morrer como livre. Não aceito. Então desaparecem
milhões e milhões de dinheiro
do país e nós estamos aqui a dizer que
está tudo bem? As pessoas não têm água.
Aliás, tenho uma casa no Kilamba e há
vezes em que se passa duas semanas sem
água. Como é que as pessoas fazem um
plano para uma cidade como aquela, tão
bonita, e depois não fazem plano das
águas e da energia naquela área. É muita
incompetência. Se eu disser incompetente
dizem que ele tem um discurso
truculento, mas não é. Só estou a falar a
verdade, não estou a mentir nada.
Nunca se arrependeu por ter abandonado
as Forças Armadas Angolanas?
Nunca, nunca. Estou muito bem.
Quais foram as razões do seu abandono?
Fui co-fundador das FAA com o general
João de Matos. E o companheiro com
quem iniciei a formação das FAA tinha
saído, não me iria subalternizar àqueles
que eram meus subalternos no ponto
de vista técnico. Do ponto de vista ético
também não ficaria bem. Tenho um sentido
bem firme no meu posicionamento
em relação ao respeito das instituições.
Não me agarro a poderes nenhuns e não
há um que me faz andar de joelhos. Não
quis ir às FAA porque achei que não havia
razões para entrar.
Os meus companheiros que entraram
agora, Kamorteiro e outros, eram parte
de oficiais que eu tinha levado para as
FAA, fizeram comigo o primeiro estado-
-maior com os outros oficiais que tinham
vindo das FAPLA. De certeza que
tinham assumido situações de protagonismo
e estava muito bem. Agora eu vir
para uma posição de subalternização em
relação aos oficiais que tinha comandado
antes estava errado. E também não sou,
não tenho muita queda para ser militar,
andar de botas até aos 50 anos. FAA é
para os jovens que lá estão e acho que
o país tem de ter políticas de transição
para que os mais velhos deixem os lugares
para os mais novos que vão surgindo,
agora com muito mais competência e
formação.
(QWUHYLVWDFRP.DPDODWD1XPDDQWLJR6*GD81,7$
Kamalata Numa
16 Savana 03-06-2016 INTERNACIONAL PUBLICIDADE
A Eni East Africa S.p.A. (EEA) convida todas as empresas
interessadas a submeterem a Sua Manifestação de
Interesse para prestação de serviços de Reboque, Pilotagem,
Ancoragem e Manutenção Marinha em operações
de atracagem e desatracagem de Transportadores de Gas
Natural Liquefeito (GNL), Transportadores de Condensados
e outras embarcações para a unidade de Gás Natural
Flutuante (FLNG), que estará localizado ao largo da
costa moçambicana, na Área 4 da Bacia do Rovuma, a
cerca de 135 milhas náuticas a nordeste de Pemba, Mo-
çambique.
As empresas interessadas poderão submeter a sua Expressão
de Manifestação de Interesse fornecendo os seguintes
documentos:
1. Carta de interesse, devidamente assinado pela pessoa
autorizada (juntamente com procuração reconhecida
pelo notário ou outra prova da autoridade de tal pessoa
autorizada)
2. Evidências de experiência nos últimos cinco anos, pelo
menos duas evidências de experiências no fornecimento
de serviços no mar para o terminal marinha de GNL,
FLNG, FPSO ou projetos similares que incluem:
a. Ser propietario de Rebocadores ou prestador de servi-
ços de reboque usando rebocadores do tipo ASD com
capacidade de 80 á 120 Ton;
b.Piloto e/ou Mestre de Ancorragem com experiência
comprovada em ancorragem lado-a-lado e acopolada;
c.Tranferência de pilotos, manuseamento de mangueira
e assistência da ancorragem durante operaçôes de atracagem
e desatracagem no mar usando barcos de multipropósitos;
3.Estrutura da Empresa e do Grupo com a lista dos prinFLSDLVDFFLRQLVWDVHGRVEHQHÀFLiULRVÀQDLV
FDVRDHPpresa
não esteja cotada na bolsa de valores);
4.Cópia electrónica da Certidão de Registo Comercial autenticada
, nome da Entidade Legal e pessoa de contacto
FRPSRGHUHVSDUDUHFHEHUUHTXLVLWRVSDUDTXDOLÀFDomRH
informação comercial;
)RUPXOiULR GH 4XDOLÀFDomR SUHHQFKLGR SDUD D 3UH-
4XDOLÀFDomR7pFQLFDGRV3URSULHWiULRVGDV(PEDUFDo}HV
(disponível na nossa página web: https://eprocurement.
eni.it/int_eng/content/view/full/253084);
6. Documento de conformidade emitido segundo SOLAS
74/78 Chapt.IX, Reg.4 para o tipo de reboque a ser usado;
&HUWLÀFDo}HVHRXFHUWLÀFDGRVGH*HVWmRGH6LVWHPDV
de qualidade que comprovem a conformidade da empresa
com as normas nacionais ou internacionais de qualidade
(por exemplo, ISO 9001: 2008);
&HUWLÀFDomRHP6LVWHPDVGH*HVWmRGHVD~GHH6HJXrança
e/ou documentos que comprovem a conformidade
da empresa com as normas internacionais (ISO 18001);
'HPRQVWUDo}HV H EDODQoRV ÀQDQFHLURV RX UHODWyULRV
DQXDLVGRV~OWLPRVDQRVFRPSURYDQGRDFDSDFLGDGHÀ-
nanceira mínima para a realização do trabalho requerido.
10. Caso queira participar da Manifestação de Interesse
como um consórcio ou como uma “joint venture”, deveCONVITE
PARA MANIFESTAÇÃO DE INTERESSE PARA
SERVIÇOS MARÍTIMOS DE TPM PARA ENI EAST AFRICA S.p.A.
NA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE
rá fornecer informações sobre cada membro do consórcio
ou “joint venture” e o papel de cada participante no potencial
projecto. Tal intenção de formar quer um consórcio
ou uma empresa comum, deve ser apoiado por um acordo
ou “Memorando de Entendimento” devidamente assinado
por cada entidade do grupo.
O website para o registo está disponível no seguinte URL:
KWWSVHSURFXUHPHQWHQLLWLQWBHQJ6XSSOLHUV4XDOLÀ-
cation/Mozambique-Application (para as candidaturas
em língua inglesa)
KWWSVHSURFXUHPHQWHQLLWLQWBLWD)RUQLWRUL4XDOLÀFD
Autocandidatura-Mozambico (para as candidaturas em
língua portuguesa/italiana)
IMPORTANTE: A candidatura deverá fazer referência ao
seguinte código de produto/serviço:
SS05BC06 - SMALL WORK BOATS IN LOCALIZED SERVICE
& HARBOUR TUGS
No website de candidatura, na secção “Actividades Objecto
de Candidatura”, no campo “Origem do Convite” deverá
ser preenchido da seguinte forma: “Serviços marítimos
de TPM”.
Sujeito à submissão da Manifestação de Interesse e a conformidade
de toda a documentação acima indicada, as empresas
interessadas poderão receber da Eni East Africa o
3DFRWHGH4XDOLÀFDomR
A Eni East Africa S.p.A fará uma avaliação da documenta-
ção acima solicitada e, caso o resultado da avaliação seja satisfatório,
irá incluir o candidato na sua Lista de Fornecedores
com vista a considerar a empresa em futuros processos
de concurso relacionados com as actividades em questão.
(VWHLQTXpULWRQmRGHYHUiVHUFRQVLGHUDGRXPFRQYLWHSDUD
concurso e portanto, não representa e nem constitui nenhuma
promessa, obrigação ou compromisso de qualquer tipo
por parte da Eni East Africa S.p.A em celebrar contratos ou
acordos com qualquer empresa que participe do presente
SUpLQTXpULWR
Consequentemente, todos os dados e informações fornecidos
pela empresa não deverão ser considerados como um
compromisso por parte da Eni East Africa em celebrar um
contracto ou acordo com a empresa, nem deverá possibilitar
que a empresa reivindique qualquer indeminização da
parte da Eni East Africa S.p.A.
Todos os dados e informações fornecidos no âmbito deste
LQTXpULWRVHUmRWUDWDGRVFRPRHVWULWDPHQWHFRQÀGHQFLDLVH
não serão divulgados ou comunicados a pessoas ou empresas
não autorizadas, com excepção da Eni East Africa
S.p.A.
O prazo para a submissão da Manifestação de Interesse
DWUDYpVGRQRVVRZHEVLWHWHUPLQDQRGLDGH-XQKR
Quaisquer custos incorridos pelas empresas interessadas
na preparação da Manifestação de Interesse serão da total
responsabilidade das empresas, as quais não terão direito
a qualquer reembolso por parte da Eni East Africa S.p.A a
este respeito.
Savana 03-06-2016 17 PUBLICIDADE SOCIEDADE
Eni East Africa S.p.A. invites interested companies to
submit expressions of interest for the provision of services
consisting of Towing, Piloting, Mooring and Marine
Maintenance (TPM) services for the berthing and
XQEHUWKLQJ RSHUDWLRQV RI /LTXHÀHG 1DWXUDO *DV &DUriers,
Condensate Export Carriers and other vessels to
the Floating LNG unit (FLNG) position, that will be located
in the Area 4 of Rovuma Basin, approximately at
QDXWLFDOPLOHVRͿVKRUH IURP WKHQRUWKHDVWFRVWRI
Pemba, Moçambique.
Companies interested in this invitation may submit
their Expression of Interest by providing the following
required documentation:
1. Letter of interest duly signed by the authorized person
(together with notarized powers of attorney or other
evidence of authority of such authorized person)
(YLGHQFHRIKDYLQJDFURVVWKHODVWÀYH\HDUVDWOHDVW
WZRHYLQFLEOHH[SHULHQFHVLQSURYLGLQJ2ͿVKRUH0DULne
Services for LNG marine terminal, FLNG, FPSO or
similar projects which shall include :
a. Tugs’ ownership and/or provision of tug services
using , ASD type tugs, having a bollard pull (continuous
static pull) of about 80-120 Tons;
b. Pilot and/or Mooring Master with proved experience
in side by side and tandem moorings;
c. Pilot transfer, Hose Handling and Mooring Assistance
during berthing and un- berthing
operations at sea using a multipurpose boats;
3. Company and Group Structure with the list of major
6KDUHKROGHUV DQGXOWLPDWH EHQHÀFLDULHV LI QRWOLVWHG
in any stock exchange);
6FDQQHG &HUWLÀHG FRS\ RI WKH 7UDGH5HJLVWHU/HJDO
(QWLW\QDPHDQGFRQWDFWSHUVRQIRUUHFHLYLQJTXDOLÀ-
cation and commercial information;
)LOOHG4XDOLÀFDWLRQ)RUPRIWKH5HTXLUHPHQWVIRUWKH
7HFKQLFDO 3UH4XDOLÀFDWLRQ RI 2ͿVKRUH 9HVVHOV 2Zners
(available here: https://eprocurement.eni.it/int_
eng/content/view/full/253084);
6. Document of Compliance (DOC) issued under SOLAS
74/78 Chapt.IX, Reg.4 for the type of Tug to be
managed;
4XDOLW\ 0DQDJHPHQW 6\VWHP FHUWLÀFDWLRQV DQGRU
FHUWLÀFDWHV SURYLQJ WKH &RPSDQ\ FRPSOLDQFH ZLWK
national or international Quality Standards (e.g. ISO
9001:2008);
+HDOWK 6DIHW\ 0DQDJHPHQW 6\VWHP FHUWLÀFDWLRQ
and/or documents proving the company compliance
with international standards(ISO18001);
9. Financial statements and balance sheets or Annual
5HSRUWVRIODVW\HDUVSURYLQJPLQLPXPÀQDQFLDOFDpacity
for the realization of the scope of work.
10. In case you wish to participate in the Expression of
Interest as a consortium or as a joint venture, information
about each member of consortium or joint venture
and role of each participant in the potential project.
REQUEST FOR EXPRESSION OF INTEREST
TPM Marine Services in the republic of Mozambique
6XFKLQWHQWLRQ WR IRUP HLWKHU D FRQVRUWLXP RU D -9
must be supported by an Agreement or “Memorandum
of Understanding” duly signed by each entity
in the group.
The registration website (Mozambique Application) is
available on the following URL:
https://eprocurement.eni.it/int_eng/Suppliers/QuaOLÀFDWLRQ0R]DPELTXH$SSOLFDWLRQ
(for application in
English)
https://eprocurement.eni.it/int_ita/Fornitori/Quali-
ÀFD$XWRFDQGLGDWXUD0R]DPELFR (for application in
Portuguese/Italian)
IMPORTANT:
The submission must refer to the following commodity
codes:
SS05BC06 - SMALL WORK BOATS IN LOCALIZED
SERVICE & HARBOUR TUGS
Within the website application, under the section “Object
of the Application”, the area “Origin of invitation”
shall be completed as follows : “TPM Marine Services”
Subject to the submission of the application and to the
compliance of all the above documentation, Companies
interested in this Expression of Interest may receiYHIURP(QL(DVW$IULFDWKH4XDOLÀFDWLRQ3DFNDJH
Eni East Africa will evaluate the above requested docuPHQWDWLRQDQGLIVDWLVÀHGZLOOLQFOXGHWKHDSSOLFDQWLQ
its Vendor List for consideration in future tender processes
regarding the subject activities.
This is not an invitation to participate in the abovementioned
potential Tender but only an invitation to participate
to the Expression of Interest
This enquiry shall not be considered an invitation to
bid and therefore it does not represent or constitute any
promise, obligation or commitment of any kind on the
part of Eni East Africa, to enter into any agreement or
arrangement with you or with any company participating
in this pre-enquiry.
Consequently all data and information provided within
the application shall not be construed as a commitment
on the part of Eni East Africa to enter into any
agreement or arrangement with you, nor shall they entitle
your company to claim any indemnity from Eni
East Africa.
All data and information provided pursuant to this
HQTXLU\ZLOOEHWUHDWHGDVVWULFWO\FRQÀGHQWLDODQGZLOO
not be disclosed or communicated to non-authorized
SHUVRQVRUFRPSDQLHVH[FHSW(QLDQGLWVDOLDWHV
The deadline for submission of Expression of Interest
through our website is set at 17th of July 2016
Any cost incurred by interested companies in preparing
the Expression of Interest shall be fully born by
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Africa in this respect.
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EDITORIAL Cartoon
Um dos grandes problemas com que Moçambique se confronta
hoje é a gritante falta de confiança que os cidadãos
têm em relação ao Estado.
No passado, pesquisas revelavam que os cidadãos deste
país não tinham confiança sobre algumas instituições do Estado,
tendo no topo a polícia e o sistema de administração da justiça,
em particular os tribunais.
Mas a situação foi-se deteriorando progressivamente a tal ponto
que agora não é uma questão dos cidadãos não confiarem no
Estado; eles desconfiam do Estado.
Os sinais disso tornam-se visíveis, por exemplo, quando na semana
passada o Ministro do Interior se vê obrigado a explicar
que o Estado não pode fazer mal aos cidadãos, porque ele existe
para proteger os cidadãos. De outro modo não seria necessário
reiterar uma questão tão óbvia, que numa sociedade normal é
um dado adquirido.
A reacção do governo, de certo modo atabalhoada aos acontecimentos
das últimas semanas no país deixa muitas lacunas pouco
abonatórias para o executivo.
Tomemos como exemplo a questão da alegada vala comum. A
partir do momento em que os jornalistas tomaram conhecimento
da sua suposta existência através de presumíveis relatos da
população local, que esforços foram encetados para se chegar
ao local e confirmar a sua existência ou não. Mas esses esforços
foram sistematicamente sabotados pelas forças do governo estacionadas
no local. Foi depois de frustrada esta tentativa, que
no seu regresso, os jornalistas deparam com corpos debaixo de
uma ponte, os quais, dependendo de com quem se fala, são 15,
13, ou 11.
Um mês depois, a Assembleia da República, através da sua primeira
comissão, toma a iniciativa de lançar um inquérito, ouvindo
todas as partes que se julguem relevantes no caso. Repare-
-se que este inquérito incide sobre a alegada vala comum, sem
considerar o facto de que mesmo que esta não exista, há algo de
terrível com a descoberta dos corpos debaixo da ponte, assunto
sobre o qual a comissão parlamentar de inquérito não faz nenhum
esforço de se pronunciar. O inquérito em si assemelha-se
mais a uma inquisição, uma espécie de intimidação aos jornalistas
para que não voltem a meter-se em assuntos que possam
embaraçar o governo.
É importante sublinhar que este é o mesmo parlamento que entendia
que não havia pertinência em investigar as circunstâncias
da presença de dezenas de milhar de moçambicanos refugiados
no Malawi, que nunca se preocupou em investigar a existência
de alegados esquadrões da morte para abater presumíveis oponentes
do governo. É o mesmo parlamento que só se decidiu a
ouvir o governo em plenária sobre as dívidas ocultas, depois de
uma acção drástica tomada pelos parceiros internacionais.
Perante todos estes processos a resposta do governo é de lançar
uma vigorosa campanha de propaganda para apresentar os jornalistas
como sendo o problema, não que de facto os problemas
existam.
O povo não está distraído e acompanha todos estes desenvolvimentos
com a devida atenção, assumindo uma postura de desconfiança
sobre o governo e suas intenções.
A estratégia da avestruz, em vez de resolver os problemas só
contribui para adiar a solução dos mesmos. É tempo do governo
assumir que ele existe para resolver os problemas que o país enfrenta,
e não para andar de desculpa em desculpa, à procura de
bodes expiratórios.
De deasculpa em
desculpa, à procura
de bodes expiratórios
A
mulher violada, as vidas torturadas, os mortos
insepultos e anos de horror pairaram
num instante interminável no tribunal de
Dacar ao escutar-se a sentença de prisão
perpétua para Hissène Habré.
Centenas de mulheres e homens tinham-se batido
pelo julgamento do antigo ditador do Chade - refugiado
no Senegal desde 1990 após um golpe de Estado
liderado por um dos seus homens de confiança,
Idriss Déby - e segunda-feira viram feita justiça à
razão dos perseguidos.
Habré chegou ao poder pela força da armas em 1982
e durante cinco anos, com apoio de França e dos
Estados Unidos, fez guerra à Líbia pelo controlo do
Norte do Chade.
Levou a melhor no confronto com Gaddafi e a violência
no Chade nunca amainou, provocando cerca
de 40 mil mortos, até que, malquisto com Paris, foi
abandonado pelos aliados que agora fecham olhos
aos abusos de Déby feito baluarte da luta antijihadista.
Habré contou viver as prebendas do exílio em Dacar,
mas muitas das vítimas persistiram e com o apoio
da Human Rights Watch conseguiram reunir testemunhos.
Cúmplices no Chade e a conivência de Abdoulaye
Wade (Presidente do Senegal entre 2000 e 2012)
livraram Habré de dramas de maior depois de a Bélgica
ter emitido em 2005 um mandado internacional
de detenção, ao abrigo da lei de jurisdição universal
aprovada por Bruxelas em 1993 e que seria revista
em 2003.
A justiça senegalesa declarou-se incompetente para
julgar o caso, rejeitou pedidos de extradição para
a Bélgica, viu-se mandatada pela União Africana
(UA) em 2006 para julgar Habré por crimes de guerra,
crimes contra a humanidade e tortura, enquanto
em 2008 um tribunal de Ndjamena decretava pena
de morte à revelia para o ex-Presidente.
Em 2012, o Tribunal Internacional de Justiça ordenou
o julgamento de Habré em Dacar ou a sua extradição
para Bruxelas e o sucessor de Wade, Macky
Sall, negociou com a UA a criação de um tribunal
extraordinário para crimes internacionais graves cometidos
no Chade entre 1982 e 1990.
O Tribunal Penal Internacional (TPI) com jurisdi-
ção limitada a crimes cometidos após Julho de 2002
não tinha competência e só a instituição das Câmaras
Africanas Extraordinárias - financiadas pela UA,
UE, Chade, Alemanha, França, Bélgica, Holanda,
Luxemburgo e Estados Unidos - permitiu a deten-
ção de Habré em Junho de 2013.
Presidido por Gberdao Kam, do Burkina Fasso, coadjuvado
por dois magistrados senegaleses, o tribunal,
em função de leis internacionais e da legislação
em vigor no Senegal, deu por provados, no julgamento
iniciado em Julho de 2015, crimes de escravidão
sexual, homicídio voluntário, execuções sumá-
rias, raptos e torturas.
A sentença, a cumprir no Senegal, é passível de recurso
e representa a aplicação, pela primeira vez, do
princípio de jurisdição universal por um tribunal nacional
africano (julgando crimes cometidos noutro
estado na base de acordo com a UA), contemplando,
ainda, indemnizações às vítimas.
As controvérsias sobre processos no TPI por crimes
contra a humanidade envolvendo o ex-Presidente
da Costa do Marfim, Laurent Gbagbo, a oposição
ao mandado de detenção do Presidente do Sudão,
Omar al Bashir, a anulação do processo do vice-presidente
do Quénia, William Ruto, por insuficiência
de provas, em boa parte por intimidação de testemunhas,
ficam, entretanto, para reforçar a ideia de que
em África e no mundo afora a justiça pesa, sobretudo,
sobre os vencidos.
*Jornalista
Um pelourinho em África
Por João Carlos Barradas
Savana 04-06-2016 19 OPINIÃO
479
Email: carlosserra_maputo@yahoo.com
Portal: http://oficinadesociologia.blogspot.com
A
lcançar consensos a ní-
vel global é sempre difícil.
Mas, no contexto dos dias
de hoje, é impossível contornar
a questão. Se os países continuarem
a avançar sozinhos, o mundo
inteiro sofrerá.
Em Março, os encontros do G-20, o
Congresso Nacional Popular chinês
e os múltiplos grupos de reflexão,
todos eles expressaram uma crescente
consciencialização dos riscos
para a economia global colocados
pela deflação e o aumento da instabilidade
do sector financeiro. Para
reduzir estes riscos, o caminho que a
China tomar vai ser particularmente
importante. Mas evitar uma aterragem
forçada na China é condição
necessária mas não suficiente para
uma recuperação mundial.
Contra as recomendações de muitos
economistas chineses, os decisores
políticos optaram por não seguir a
abordagem ocidental convencional
de usar as taxas de câmbio flexíveis a
actuar como um amortecedor a fluxos
de capital voláteis e deste modo
libertar a política monetária para
fornecer liquidez para ajustamentos
estruturais internos. Satisfazendo
simultaneamente economistas
ocidentais e mercados financeiros
mundiais, que respiraram de alívio
quando os líderes chineses reafirmaram
o seu empenho em manter
o renminbi estável.
O receio era, se a China procurasse
taxas de câmbio mais baixas para
escapar à deflação, uma nova série
de desvalorizações concorrenciais
a nível global e ainda mais defla-
ção. Felizmente, os líderes chineses
reconheceram que, se o mundo se
mantiver atolado numa recessão
de balanços financeiros, a falta de
procura agregada, o continuar do
enfraquecimento do comércio, irá
também arrastar o crescimento do
seu próprio país.
Mas, claro, a China ainda precisa de
encontrar o caminho para lidar com
saída de capitais, prosseguindo as
reformas estruturais que são necessárias
para colocar a economia numa
trajectória de crescimento sustentá-
vel a longo prazo.
Como defendemos ultimamente,
a solução será manter uma taxa
de crescimento anual próxima dos
6,5%, enquanto prossegue no curto
prazo um multifacetado plano de
estabilização que vise estimular a
criação de emprego para compensar
perdas registadas na reestruturação
de indústrias ineficientes e na eliminação
da capacidade excedentária.
Entretanto, o Banco Popular da
China (PBOC) enfrentará a difí-
cil tarefa de manter a estabilidade
cambial e combater a deflação, assegurando
a liquidez necessária para
salvaguardar a mudança da indústria
para os serviços e consumo disponí-
vel a preços razoáveis.
Tendo em conta o montante de reservas
oficiais que a China já gastou
para estimular a economia e estabilizar
a taxa de câmbio e as saídas de
capital – o equivalente a três vezes o
excedente de transacções correntes
de 2015 – é muito importante diminuir
as reservas mínimas.
O Banco popular da China
(PBOC), tem de, naturalmente,
apertar o controlo do mercado cambial.
Mas também deve considerar
outros instrumentos macroprudenciais,
tal como uma espécie de Taxa
Tobin, imposto sobre as movimentações
financeiras internacionais,
pela primeira vez proposto em 1972
pelo economista laureado com o
Prémio Nobel, James Tobin, a fim
de desencorajar movimentações fi-
nanceiras internacionais de carácter
especulativo.
Tudo isto nos conduz ao Plano A –
uma inevitável estratégia para parar
a deflação na China. Mas, no sistema
global multipolar dos dias de
hoje, um país sozinho não consegue
salvar a economia da deflação. É por
essa razão que o mundo inteiro deve
também considerar a implementa-
ção de uma estratégia partilhada,
chamemos-lhe o Plano B.
Claro que, uma acção colectiva não
será fácil – até porque algumas das
medidas, como a política monetá-
ria ou política fiscal, foram postas
de parte na conferência de Bretton
Woods (1944), onde os líderes
mundiais criaram as regras para as
relações comerciais e financeiras entre
países que prevalecem até hoje.
Mas, face a uma ameaça sem precedentes
à estabilidade da economia
global, talvez seja tempo de convocar
um novo tipo de conferência de
Bretton Woods para determinar que
medidas colectivas são possíveis.
Há imensos incentivos para a acção.
Com as economias desenvolvidas a
enfrentar um rápido envelhecimento
da população, elevados encargos
da dívida pública, políticas econó-
micas esticadas, e políticas turbulentas,
a capacidade da economia
global escapar desta situação difícil
depende em grande medida dos pa-
íses emergentes.
Afinal, enquanto estas economias
estão a enfrentar os seus próprios
desafios, gozam de demografias mais
favoráveis e registam uma rápida
urbanização. Como resultado têm
um imenso potencial para ganhos
de produtividade, que permitem
reforçar o crescimento da economia
mundial, e uma elevada procura
em infra-estruturas sustentáveis de
maneira a reduzir a destruição dos
recursos naturais e reduzir o aquecimento
global.
O maior constrangimento na realização
do potencial das economias
emergentes é financeiro, com as instituições
de Bretton Woods incapazes
de providenciar o capital necessário.
Se o mundo conseguir escapar
à armadilha da deflação – para não
falar do aumento de rendimento e
da desigualdade na distribuição da
riqueza – esta situação tem de mudar.
O recente pânico gerado pela desvalorização
do renminbi chinês destaca
outro motivo imperioso para uma
acção colectiva. No mundo de hoje,
ninguém está livre de grandes e voláteis
fluxos de capital – nem mesmo
os países que construíram uma
imensa montanha de segurança na
forma de reservas de divisas estrangeiras.
Em 2007-2009, as economias desenvolvidas
conseguiram escapar a
uma crise de liquidez, em grande
medida porque a Reserva Federal
Americana esteve disposta em
empenhar-se em linhas de liquidez
com bancos centrais chave, a maior
parte deles aliados norte-americanos.
Só com um sistema de liquidez
mundial de segurança – suportado
por acordos cambiais de divisas
– podem os países alcançar a tão
necessária reflação, sem excessivos
receios de fuga de capitais e/ou desvalorização
da taxa de câmbio.
Finalmente, a acção colectiva é necessária
para tornar a política monetária
não convencional mais efectiva.
Até agora, essas políticas não
foram bem-sucedidas para relançar
a economia, em grande medida
porque bancos comerciais e outros
financiadores retêm a liquidez que
recebem dos bancos centrais, em vez
de a canalizarem para a economia
real concedendo crédito a pequenas
e médias empresas e investindo em
projectos de infra-estrutura de longo
prazo.
Não é coincidência o facto de entre
2010 e 2014, os maiores bancos,
empresas e fundos de investimento
terem aumentado a sua liquidez em
3 biliões de dólares – mais ou menos
o montante com que os bancos centrais
reforçaram as reservas de divisas
dos países no mesmo período.
Ao permitir aos países eliminarem
o excesso de capacidade, reduzir a
alavancagem, e equilibrar políticas
fiscais – reduzindo a incerteza geopolítica
em simultâneo – a acção
colectiva para escapar à deflação e
estimular o crescimento atenuaria a
aversão ao risco das instituições fi-
nanceiras, melhorando assim os mecanismos
de transmissão das políticas
monetárias não convencionais.
Alcançar consensos a nível global é
sempre difícil. Mas, no contexto dos
dias de hoje, é impossível contornar
a questão. Se os países continuarem
a avançar sozinhos, o mundo inteiro
sofrerá.
*Andrew Sheng é um ilustre membro
do Instituto Asia Global na Universidade
de Hong Kong e membro do
UNEP Advisory Council on Sustainable
Finance. Xiao Geng, director do
Instituto IFF, é professor da Universidade
de Hong Kong e membro do
Instituto Asia Global.
Plano B para a economia global
N
asci num ano hermafrodita:
1966.
Como se pode ver facilmente,
sessenta e seis tem
dois seis. É escusado dizer que o
seis é um número hermafrodita:
tem aquele gancho terrivelmente
macho, mas também tem aquela
forma diáfana de uma divina fêmea.
Nasci em 1966, e seja lá por isso
ou por uma razão qualquer, eu
também sou hermafrodita. Estou
a alcançar os 50 anos de idade e
não tenho mulher, nem filhos. Não
é por nada. Eu respeito muito o
conceito de família como célula da
sociedade, e, aliás, a maior parte dos
meus amigos tem mulher e filhos e
respeita tudo o que é laço familiar.
Eu também tenho, mas não troco
o meu recanto por isso. O meu recanto
fica na rua Sá de Miranda, na
Cidade de Maputo, numa casa de 2
pisos. Tinha um vizinho barulhento,
mas chamei-o à atenção, já não
é. Estou no rés-do-chão, gosto de
tratar da minha abacateira, gosto de
tratar da minha machamba de piripireiro
aos domingos, não tenho
cães, nem gatos, também não tenho
ratos, adoro a simplicidade organizada
da minha casa de três quartos,
uma sala grande e uma copa.
Gosto de ter a certeza de que, mesmo
de olhos fechados, posso ir à
minha biblioteca, que não é grande
coisa, mas tem 750 livros, e posso
ir, como estava a dizer, de olhos
fechados buscar um livro de Saint
Exupéry, do Aldino Muianga ou,
porque é que não, do Marcelo Panguana.
Gosto de apalpar as paredes,
mesmo na escuridão, e ver que este
quadro é do Chichorro, este é do
Ídasse e estoutro é do Victor Sousa.
Gosto da minha solidão. Eu sou
um hermafrodita. Pode ser que seja
uma fatalidade, mas nasci num ano
com dois algarismos seis. O seis é
um algarismo hermafrodita, tem
formas terríveis de macho, erguidas
para cima, mas também tem formas
diáfanas de uma fêmea meiga.
Então, tudo isso faz parte do meu
próprio carácter.
Poderia falar do nove. Nove também
é hermafrodita, mas o nove
é um hermafrodita, digamos, envergonhado,
porque tem a parte
feminina para cima e a masculina
para baixo. Mas, bom, isso é outra
conversa. O que estou a dizer é
que gosto de me ver assim mesmo
como sou. Estou a caminho dos
50 anos, aliás, estou mesmo quase
a completá-los, e acontece que estou
a fazer cinquenta num ano que
também termina em seis: 2016.
O seis é um número hermafrodita,
tem formas ásperas terríveis, agressivas,
de um macho, mas também
acomoda formas femininas, de uma
feminilidade diáfana, de entrega
total. Mas total mesmo. É assim
como me consigo caracterizar,
quando olho para mim.
Eu sou do seis, nasci em 1966, tem
dois seis, faço cinquenta anos em
2016. Então gostaria de repetir
aqui, para você compreender o que
estou a tentar dizer, a letra de uma
das músicas do Ney Matogrosso,
um dois poetas maiores, para mim,
brasileiro e assumidamente homossexual,
que diz: “Minha vida, meus
mortos / Meus caminhos tortos
(…) // Rompi tratados / Traí os ritos
/ Quebrei a lança / Lancei no
espaço (…) // E o que me importa
/ É não estar vencido”.
Depoimento 6
Por Andrew Sheng e Xiao Geng*
A
nos atrás dirigi uma
pesquisa tendente a
estudar o comportamento
eleitoral nas
primeiras eleições autárquicas
realizadas em Junho de 1998,
com equipas de investigadores
em três províncias. Na capital
de uma dessas províncias, fui
confrontado com o desespero
da equipa local. Foi-me dito que
tinham fracassado todos os seus
esforços para falar com membros
de um determinado partido
político, pois estes recusavam-se
sistematicamente a fazê-lo.
Efectivamente e por erro inicial
meu, os investigadores
trabalhavam sobre premissas
clássicas: a chave para eles residia
em fazer com que membros
do tal partido falassem,
que respondessem a perguntas.
Ora, tal como colocada, a questão
tinha de ser negada. Negada
a questão, tínhamos a resposta,
a saber: recusar responder é responder
de uma certa maneira.
Tinha faltado, portanto, a noção
da presença da ausência e a capacidade
para a analisar.
A presença da ausência
20 Savana 03-06-2016 OPINIÃO
A TALHE DE FOICE
SACO AZUL Por Luís Guevane
Por Machado da Graça
A
P
D
ois pais conversavam sobre como
educar os filhos. Inventemos dois
nomes. O Sr. Sexta-feira dos
Santos defendia o castigo corporal
como solução mais curta e imediata;
solução que desincentiva a repetição do
suposto erro. O outro, o Sr. Domingos
Castigo, defendia que, se os nossos filhos
cometem algo repreensível é porque nós
próprios criamos condições para tal. Não
fomos suficientemente inteligentes no
nosso apelo ao comportamento irrepreensível.
Podemos até assumir que os dois pais tenham
sido criados praticamente na esteira
da repreensão verbal seguida da correspondente
violência física. Entretanto, um
aplica aos seus filhos os métodos pelos
quais passou. O outro pode ter percebido,
durante o seu percurso de vida, que é possível
educar os seus filhos fazendo todo
Dois modelos
o esforço individual para não criar condições
para os indesejáveis momentos de repreensão
física.
Imaginemos estes dois pais a discutirem sobre
política, provavelmente sobre os raptos
e aplicação da “lei da bala” aos analistas ou
mesmo sobre assassinatos cujos mandantes
não têm rosto. Os dois professam a mesma
religião e idolatram o mesmo partido político.
Notaríamos que durante a discussão o Sr.
Sexta-feira teria tendência para a violência
e o Sr. Domingos para a ponderação, para a
procura das razões do problema. Ou seja, defenderia
que é importante, antes de se tomar
qualquer atitude, conhecer o problema para
se poder administrar a melhor a solução.
Nessa discussão o Sr. Sexta-feira dos Santos
está comprometido com a violência como
fonte de poder. É assim que foi educado. O
percurso até ao último nível académico adquirido
não conseguiu deseducar a sua parte
violenta ou reduzi-la ao meio de onde surgiu.
A obediência é um imperativo. A violência
física e psicológica é o seu recurso mais seguro.
O chefe deve ser endeusado. Aos que
pretenderem desendeusar ao “chefe e aos
seus” poderá ser aplicado uma “repreensão de
aviso” para o próprio indivíduo ou, em última
instância, uma “repreensão mais pesada”,
eliminando-o fisicamente, servindo de aviso
aos que comungam pensamentos que desconstroem
dogmas. O pensamento do Sr.
Sexta-feira é válido e muito comum nos paí-
ses onde as estatísticas de educação, nutrição,
direitos humanos, democracia, entre outros
indicadores, são muito, aliás, são bastante
preocupantes.
Por seu turno, o Sr. Domingos Castigo pensa
como os que não apresentam estatísticas preocupantes.
A fonte de poder não é o castigo
corporal ou a eliminação física de quem apresenta
ideias e ideais diferentes dos nossos. A
fonte de poder, num país pobre, é o trabalho.
Nesse acto há falhas e estas suscitam
crítica, o que é normal para melhorarmos.
A fonte de poder é não criarmos
condições para que o espaço de crítica
seja gerado pelo nosso mau desempenho,
obrigando a soluções que o Sr. Sexta-feira
julga serem as melhores depois de ter
abraçado a pluralidade de democracia. À
violência como um recado deve sobrepor-
-se a entrega ao trabalho.
Cá entre nós: quantas vezes não ouvimos
este e aquele a dizer: “não bate na criança, só
vai piorar a situação, ainda é pequena.” De
facto, a nossa democracia ainda é pequena.
Deve ser acarinhada. Deve ser a nossa flor
que nunca murcha e que por isso é preciso regá-la
sem violentá-la. Quando violentamos
a democracia é porque não estamos a perceber
a racionalidade do seu espírito. A mudança
de mentalidade é, de facto, um processo!
Há poucos dias, em entrevista à rádio DW, da Alemanha,
o líder da Renamo afirmou que nunca
aceitaria ser vice-presidente de Moçambique.
E eu creio que Afonso Dhlakama pode ter mil
boas razões para não querer sê-lo. Só que, na minha opinião,
deu como resposta uma razão completamente errada.
Segundo ele, não aceitaria o cargo por ele não ser de esquerda,
ser do centro-direita.
Ora, isso mostra um desacerto ideológico que não é fá-
cil de aceitar no dirigente do maior partido da oposição
nacional.
Ao responder daquela forma, Dhlakama dá a entender
que o governo do partido Frelimo é um governo de esquerda,
no qual não quer ser integrado. Só que, há dezenas
de anos, o partido Frelimo, e os seus governos, deixaram
de ser de esquerda. Nem pouco mais ou menos.
Será que ainda alguém, hoje, é capaz de afirmar que o
partido governamental pertence à aliança operário-camponesa?
Onde vai já esse tempo? Alguém me indique
um dirigente de nível médio ou alto que seja operário ou
camponês. Um só que seja.
Pelo contrário, é no partido Frelimo que se encontram
todas as grandes fortunas do país. É lá que se cruzam os
empresários, os industriais, os grandes comerciantes.
Fogem de qualquer ideia de luta de classes como o diabo
da cruz e, pelo contrário, querem é ter os seus trabalhadores
calmos, nem que seja através da violência policial,
para aumentarem ainda mais os seus lucros.
Se formos a ver bem nada separa, em termos ideológicos,
o partido Frelimo, a Renamo ou o MDM. Todos
propõem a chamada economia de mercado (isto é, o capitalismo).
Há diferenças, depois, na maneira como cada um acha
que se deve chegar a esse objectivo e geri-lo.
Mas sobre o tipo de sociedade que cada um desses partidos
procura atingir se há alguma diferença ela escapa à
minha atenção.
Será que isso não pode ser base para o diálogo?
Uma das responsabilidades dos intelectuais não é de se fechar
nos escritórios ou de renunciar a todo o tipo de ac-
ção. É responsabilidade ética (Fréderic Lordon, E. Boulaga)
dos intelectuais agirem politicamente sem serem
políticos para repensar os problemas profundos da sua sociedade.
Escrevo este texto tendo como pano de fundo uma ideia que
foi desenvolvida pelo filosofo holandês Baruch Spinoza que é
desfazer-se dos pré-juízos e pensar livremente aquilo que parece
evidente mesmo que isso não possa agradar a todos.
Moçambique hoje não só é uma tragédia, mas conhece igualmente
três problemas que considero primordiais, pois eles produzem
consequências dramáticas. O primeiro problema é o
neoliberalismo que penetrou até aos «ossos» todos os extractos
sociais da nossa sociedade, com particular enfoque para todos os
políticos e grande parte dos intelectuais nacionais.
O segundo é a incompetência política dos partidos da oposição
em articular espaços potencialmente políticos. Terceiro, absentismo
dos intelectuais, excepto muito poucos. Esses três problemas
conjugados produzem uma sociedade estruturalmente
incompetente, onde nem a crítica profunda nem a produção de
um pensamento político alternativo é possível, por isso podemos
dizer que uma das tragédias que Moçambique vive hoje é a sua
incapacidade de se pensar a ele mesmo, seja por via de intelectuais
ou de actores sociais e políticos.
Para tentar reflectir sobre essa questão usarei a situação em que
nos encontramos, de endividamento letal, para mostrar que a
forma como estamos a pensar, agir ou orientar o debate sobre
esse assunto não só não é essencialmente criador de novas imaginações,
mas também não permite compreendermos a essência
do nosso problema.
O debate público sobre a dívida pública está essencialmente
orientado para saber quais os mecanismos foram usados para
endividamento ou ainda tende a frisar que se violou as leis diversas
do país ligadas ao assunto em epígrafe. Ademais, a estrutura
interna da tentativa de mobilização social que deveria ter lugar
no 30 de Abril estava centrada em exigir esclarecimentos.
Coloco as coisas de forma esquemática porque entendo que a
forma como estamos a pensar essa dívida é igualmente esquemá-
tica, salvo raras excepções. Olhando para esse debate público sobre
a dívida não constatamos, senão raras excepções, como ocorreu
na conferência sobre economia e governação, uma produção
intelectual essencialmente crítica que questiona aquilo que é o
problema de Moçambique.
Não consigo perceber como é que é possível abordar criticamente
essa dívida sem criticar severamente o neoliberalismo e
as consequências que o modelo capitalista de desenvolvimento
existentes em Moçambique. Não consigo perceber como é que
se pode pretender criticar essa dívida usando termos, conceitos,
quadros de análise totalmente neoliberais, infecundos para produzir
um olhar alternativo desse processo. Não me foi complicado
ouvir alguns académicos dizerem que um dos perigos dessa
dívida é a eliminação da classe média.
Mas de que classe média estava aquele académico a falar ? Não
está ele dominado por uma linguagem neoliberal e que inconscientemente
reproduz as instituições que ele pretende criticar?
Como é possível pretender-se uma crítica da forma como as
elites políticas governamentais endividaram o país sem fazer nenhuma
referência aos trabalhos de economia política marxista,
de sociologia crítica ou trabalhos sistemáticos sobre funcionamento
de países capitalistas periféricos. É para mim surpreendente
a ausência dessas perspectivas que, não sendo consensuais,
abrem outras perspectivas de compreensão do problema.
Essa situação mostra, quanto a mim, o absenteísmo crítico da
grande parte daqueles que se dizem académicos, que estão tão
neoliberalizados que não conseguem criticar o sistema econó-
mico e muito menos os quadros de leitura desse mesmo sistema.
Ou seja, tudo que dizem não só não põe em causa o sistema que
produz essas situações, mas também não questiona sistematicamente
a possibilidade do advento de uma nova possibilidade
política. Isso não pode ser outra coisa que uma crise cultural no
sentido de Bourdieu, crise da crítica no nosso país. Esta situação
tem um efeito directo na capacidade crítica ou modificante do
pensamento que sai desses académicos.
O pensamento que sai deles sendo acrítico na sua essência, ideologicamente
comprometido com o que se pretende criticar,
improdutivo politicamente é incapaz de articular esta situação
com uma nova proposta política, pelo menos como tentativa de
ultrapassagem da violência no neoliberalismo e do capitalismo
num país periférico como o é Moçambique. Efectivamente, essa
dívida que devia servir de momento de radicalizarmos a crítica
contra o modelo de desenvolvimento capitalista e a dominação
cultural ou política do neoliberalismo serviu apenas para pedir
esclarecimentos ou ainda a devolução dos fundos, exceptuando
poucos intelectuais que colocaram questões sérias.
Será isso a questão essencial neste momento? Esclarecimentos
para mudar o quê? Na realidade, as exigências desses académicos
são improdutivas se considerarmos que o intelectual/académico
deve levantar e propor reflexões para mudanças dentro de uma
sociedade. Em relação aos partidos da oposição tenho a dizer
que a sua incompetência política é muito grande.
Não consegui compreender como é que os dois partidos na Assembleia
da República não foram capazes de articular essa questão
da dívida com um projecto político alternativo ao que o partido
no poder implementa. Tudo do que dizem mostra apenas
que se encontram numa crise estrutural de produção um novo
movimento político como espaço de reconfiguração radical do
político (De Lagasnerie). Porque não usar esse movimento da
dívida para mostrar que o modelo capitalista de desenvolvimento
nos termos da Frelimo é apenas produtor de oligarquias e que
por isso a necessidade de propor um modelo alternativo de desenvolvimento
e de produção do político, onde a primeira coisa
a revolucionar é o lugar do Estado no processo desenvolvimento
nacional. Pouquíssimos deles ousa criticar o neoliberalismo
e muitos menos o capitalismo. Que alternativa são eles ao que
eles consideram o seu inimigo? Essa incompetência de produção
de novos espaços políticos é apenas a demonstração da crise de
produção de novas utopias políticas em Moçambique. Se todos
os extractos sociais estão sensibilizados em relação à essa dívida,
nem os intelectuais nem os políticos estão a ser capazes de articular
essa energia popular com a tentativa de produzir um novo
projecto político sobre aquilo que chamamos de Moçambique. A
incompetência é generalizada, a necessidade de um pensamento
alternativo e mais crítico é imperativo! Vivemos numa sociedade,
como diz o filósofo camaronês E. Boulaga, dominada por
uma «ilusão deformante».
Incompetência da oposição, absentismo dos intelectuais?
Por Régio Conrado
Ideologias
Savana 03-06-2016 21 SOCIEDADE
Necrologia R Necrologia R Necrologia R Necrologia R Necrologia
A Redacção do semanário SAVANA
lamenta o falecimento do seu colega
GH SURÀVVmR H FRPSDQKHLUR GH WULQFKHLUD
$OYDULWR GH &DUYDOKR MRUQDOLVWDGRMRUQDOZambezeRFRUULGRQHVWD
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MRUQDOLVWDV GR SAVANA apresentam
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Zambeze as mais sentidas condolênFLDV
Alvarito de Carvalho
Eleito como a principal base
de desenvolvimento do
país, o sector agrário tem
passado por várias adversidades
tais como a dependência aos
factores naturais, falta de financiamento,
o que impede a mecaniza-
ção e industrialização da área, para
além de outros tipos de incentivos.
Preocupado com a situação, várias
esferas da sociedade moçambicana
estão a buscar soluções com vista a
alterar este negro cenário.
Uma delas é a Aliança para uma
Revolução Verde em África
(AGRA) que tenciona investir, nos
próximos cinco anos, cerca de 40
milhões de dólares americanos para
a revitalização do sector agrário.
Paulo Mole, representante da organização
em Moçambique, reconheceu
que, apesar desde sector servir
como fonte de subsistência para
cerca de 80% da população mo-
çambicana, a agricultura continua
um sector crítico para a economia
de Moçambique, representando
cerca de 32% do Produto Interno
Bruto e cerca de 6% das exporta-
ções.
Mole, que falava à margem do encontro
de consulta entre as partes
interessadas no sector mormente, o
Governo, associações de camponeses,
parceiros de cooperação na área
agrária e a sociedade civil, referiu
que é nesta senda que a AGRA, em
parceria com o Governo, busca a
forma de transformar o sector num
verdadeiro polo de desenvolvimento
económico.
Para tal, o projecto levado a cabo
pela AGRA irá procurar promover
o aumento de produção agrícola
através do melhoramento dos solos
bem como das sementes.
Vai investir também no fortalecimento
das infra-estruturas e servi-
ços para a melhoria do acesso aos
mercados.
Sublinha que apesar de Moçambique
possuir um potencial agri-ecológico
invejável, a produtividade
agrícola está muito abaixo da sua
capacidade e isso afecta significativamente
a economia, a segurança
alimentar e nutrição.
Para desenvolver o seu projecto, a
AGRA elegeu três culturas de rendimento
nomeadamente o milho,
mandioca e soja por ser produtos
importantíssimos na melhoria nutricional,
mas que a sua produção
está muito abaixo do real potencial.
Nas consultas e estudos feitos, a
AGRA identificou como razões da
fraca produtividade agrícola os baixos
rendimentos de muitas das suas
principais culturas devido à baixa
adopção de variedades melhoradas,
a disponibilidade e uso de misturas
de fertilizantes adequadas, elevadas
perdas pós-colheita resultando em
rendimentos reduzidos para pequenos
agricultores para além de desenvolvimento
limitado do sector
privado.
No entender da AGRA, a falha da
cadeia de produção faz com que
Moçambique continue a exportar
produtos que, em condições normais,
seria um dos maiores exportadores.
Mole ressalvou que nos próximos
cinco anos, a AGRA vai trabalhar
com o Governo e outros parceiros,
para catalisar uma transformação
agrícola orientada pelo mercado
em Moçambique, que terá uma
impacto sobre 1,5 milhões de pequenos
agricultores e vai contribuir
para os objectivos nacionais de segurança
alimentar e o crescimento
económico inclusivo.
“Após uma ampla consulta com
o Governo, a AGRA junto com
várias partes interessadas e paceiros
de desenvolvimento resolveu
concentrar-se em quatro culturas.
Trata-se do milho, arroz, mandioca
e soja em 30 distritos nos corredores
de desenvolvimento de Nacala,
Beira e no Vale do Zambeze”, disse
Mole.
Assim, na base do referido projecto,
a AGRA vai fortalecer as ligações
de mercado de valores, melhorar a
qualidade na produção de sementes
e provisão de serviços ao agricultor
bem como na qualidade e quantidade
de mistura de fertilizantes
para além de aumentar o acesso ao
financiamento das Pequenas e Mé-
dias Empresas.
Sublinhar que a AGRA é uma
organização de cariz humanitário
fundada nos Estados Unidos da
América em 2006 numa parceria
entre as fundações Rockefeller e
Bill Gates. (RS)
Em Moçambique
Buscam-se soluções para viabilizar
o sector agrário
22 Savana 03-06-2016 DESPORTO
T
rês anos depois de assistir-
-se à falta de comparência
do Vilankulo FC (2013),
por reclamar longas viagens
terrestres, o Moçambola
presenciou, semana finda, uma
nova vergonha. Com três meses na
primeira divisão, depois de proclamado,
na Secretaria, vencedor da
poule zonal norte, o Desportivo
do Niassa averbou a sua primeira
falta de comparência, deixando nu
e dando cara a um problema estrutural
e financeiro do nosso campeonato.
Os jogadores do representante da
província do Niassa não se fizeram
presente ao Estádio 1º de Maio,
para o jogo da 10ª jornada frente ao
Ferroviário de Maputo, reclamando
falta de condições de trabalho, desde
transporte, alimentação e pagamento
de salários, algo que afecta a
maior parte do clubes.
Retirando os Ferroviários, a Liga
Desportiva de Maputo, a ENH de
Vilankulo e União Desportiva do
Songo, o campeonato nacional é
feito por clubes deficitários, onde o
atraso salarial superior a dois meses
não é novidade.
Com a prova a ser custeada, na
maior parte, pela Liga Moçambicana
de Futebol (LMF), a situação
inquieta o país futebolístico, pois, o
pagamento de salários é considerado
o maior fardo do clubes, dentre
as várias despesas.
Contactado pela SAVANA para
abordar esta situação, o Presidente
da LMF, Ananias Couane, considerou
ser preocupante o que se vive
nos clubes, mas afirma que a instituição
que dirige não tem competência
para interferir na gestão dos
clubes.
Para o gestor da prova raínha, a
crise financeira do Desportivo do
Niassa, que culminou com a falta
de comparência, deveu-se a problemas
estruturais, devido à ausência
de uma direcção.
“A situação do Desportivo do
Niassa agravou-se com a falta de
direcção. Desde que foi proclamado
vencedor da zona norte nunca
esteve claro quem ia dirigir o clube.
Sempre mostrou não estar preparado
para a alta competição. Quando
iniciamos os contactos existia uma
direcção, mas no decorrer do campeonato
alterou-se e não fomos comunicados”,
comenta.
Para Ananias Couane, a solução
para os problemas que se verificam
na prova está no licenciamento dos
clubes, que determinará qual o clube
que deve estar na primeira divisão.
“Ainda não pedimos garantias financeiras
para estar no Moçambola.
Mas, pensamos que o Licenciamento
dos Clubes vai ajudar-nos,
pois, o clube que não reúne os requisitos
não entrará no Moçambola”.
Para o licenciamento, cinco requisitos
são exigidos pela CAF, onde
destacam-se os critérios desportivo,
legal e das infra-estruturas.
O critério desportivo corresponde
à estrutura do clube no que tange
aos escalões por ele movimentado;
o seu corpo técnico; de saúde; entre
outros. Segue-se o critério das
Infra-estruturas, correspondente à
existência ou não de uma sede pró-
pria do referido clube, de um campo
próprio e suas características.
O critério legal refere-se à existência
de certidão de equitação actualizada,
estatutos, situação contratual
dos funcionários regularizada,
etc.
Entretanto, desde que o processo
foi introduzido no país, em 2008,
nenhum clube foi licenciado e apenas
os Ferroviários de Maputo e da
Beira e a Liga Desportiva de Maputo
estão próximos de conseguir
o feito.
Confrontado com esta questão,
Couane reconheceu que se o prazo
fosse hoje “não teríamos 16 equipas
no Moçambola”, mas acredita que
até Outubro o cenário será outro,
porque “nenhum clube quer estar
fora da prova”.
Aliás, o alargamento dos clubes de
14 para 16, neste ano, é apontado
como um dos factores que ditaram
este cenário. Couane nega e considera
que aceitaria se tivesse acontecido
com as equipas repescadas.
“Se fosse Desportivo de Nacala ou
1º de Maio a averbarem falta de
comparência diríamos que repescamos
dois clubes e não analisamos
as questões financeiras e estruturais
e de organização. Mas, Desportivo
chegou ao Moçambola por ter ganho
a poule zonal norte e não pelo
aumento de clubes”, explica.
Outra solução, segundo Couane,
seria a recolha do dinheiro dos
patrocinadores para uma posterior
destruição pelos clubes para fazer a
sua gestão.
“Um dos modelos que pretendemos
implementar é de recolher dinheiro
dos patrocinadores e fazer uma distribuição
pelos clubes para fazerem
a sua gestão (alojamento, transporte,
alimentação e salários), ficando
para LMF fazer o acompanhamento.
O dinheiro seria distribuído,
mensalmente, mediante a prestação
de contas e caso não cumprissem, a
LMF retira o valor e paga salários
aos atletas”, avança, acrescentando
que é um modelo que necessita de
uma robustez financeira.
Se ainda restavam dúvidas
em relação à possibilidade
de fusão das candidaturas
de Nicolau Manjate
e Carlos de Sousa (Dr. Cazé) em
uma única lista, a assembleia-geral
extraordinária da semana passada
demonstrou que os dois candidatos
querem arriscar, cada um à sua
maneira, o que faz prever eleições
do próximo dia 9 deste mês bastante
renhidas até porque é ponto
assente que os núcleos provinciais
de Nampula e Quelimane e a Associação
de Patinagem da Cidade
de Maputo terão direito de voto,
contra os procedimentos anteriores
que legitimavam tal exercício
exclusivamente aos membros fundadores.
Não se sabe ao certo o que terá ditado
a que os dois candidatos não
tenham aceite unir-se numa única
lista , pois em alguns círculos chegou-se
a avançar que as conversa-
ções e os contactos que iam acontecendo
decorriam a bom ritmo e
que fazia antever um rápido entendimento
na família da modalidade
tida como muito pequena.
A par disto, muita pressão foi sendo
feita por algumas individualidades
ligadas à patinagem no sentido de
Carlos de Sousa abdicar de concorrer
ao cargo com o argumento de
que este, quando era vice-ministro
da Juventude e Desportos, pouco
fez em prol da modalidade.
Outras vozes entendem que depois
de te ter saído derrotado nas
Desportivo do Niassa averba falta de comparência e dá cara a um problema crónico do nosso campeonato
“Só o licenciamento determinará quem
deve estar no Moçambola”
'HIHQGH$QDQLDV&RXDQHSDUDTXHPD/0)QmRWHPFRPSHWrQFLDSDUDDIHULUDFDSDFLGDGHÀQDQFHLUDGHFDGDÀOLDGR
Por Abílio Maolela
Falhou a tentativa de fusão numa única lista
Nicolau Manjate e Dr. Cazé desavindos
Por Paulo Mubalo
eleições à presidência da Liga
Moçambicana de Futebol, devia
concentrar-se em outras tarefas não
executivas, tendo em conta o seu
historial como médico das selec-
ções nacionais.
Mas os que pensavam que com
essas palavras iriam desanimá-lo
enganaram-se redondamente, pois,
ainda que de forma sorrateira, ele
não se deixou incomodar e, desafiando
os seus detractores, decidiu
concorrer à presidência da Federa-
ção Moçambicana de Patinagem.
Para já, os candidatos vão afinando
a máquina, cada qual procurando
esgrimir os seus argumentos na
tentativa de ganhar o potencial
eleitorado, embora com aparente
vantagem de Nicolau Manjate,
pelo trabalho que vem realizando
na modalidade. Mas Carlos de
Sousa, ainda que de forma discreta,
está também a procurar namorar o
seu eleitorado. Vai visitando alguns
clubes que praticam a modalidade,
vai interagindo com os fazedores
do hóquei para deles perceber o que
acham da sua candidatura e os pontos
que deve privilegiar caso venha
a ser eleito.
Em termos de manifesto, Carlos
de Sousa vai dar mais ênfase à formação,
enquanto Nicolau Manjate
promete encorajar os clubes, Académica,
Desportivo, Estrela Vermelha
e Ferroviário, a consolidarem
a prática da modalidade a nível da
alta competição, o que passará por
aumentar o número de jogos de seniores
masculinos a nível da cidade
de Maputo; aumentar o número de
provas.
Na componente formação, o candidato
da lista “A” pretende uniformizar
os métodos de formação no seio
dos clubes, bem como organizar
cursos regulares de formação para
monitores, treinadores, árbitros, dirigentes,
numa primeira fase, a ní-
vel interno e, posteriormente, fora
do país, através de bolsas.
“O meu sonho era terminar o pró-
ximo ciclo do mandato com uma
obra visível relativamente à construção
de um campo ou pavilhão
de raiz, com parquet, pertença da
FMP. Gostaria, também, de deixar
como herança para os futuros
presidentes da FMP uma sede do
organismo, construída de raiz.
Já no que tange à componente material
desportivo, Nicolau Manjate
e seu elenco entendem que a falta
de equipamentos para a prática
da modalidade e de acessórios é o
principal nó de estrangulamento
dos clubes, daí que tenham desenhado
algumas saídas.
Nicolau Manjate Dr. Cazé
“O Licenciamento dos Clubes vai ajudar-nos, pois, o clube que não reúne os requisitos
não entrará no Moçambola”, Ananias Couane
Savana 03-06-2016 23 PUBLICIDADE
24 Savana 03-06-2016 CULTURA
Por Luís Carlos Patraquim
94
Estamos ainda na estação das sombras e não se pode dizer que a culpa seja de Platão
e da sua famosa alegoria da caverna.
A culpa – se é que isso é assim na longa duração da história – também não é
da camaronesa Léonora Miano, autora de Estação da Sombra, uma obra extraordinária,
do melhor que se publicou em língua portuguesa em 2015, servido por uma
tradução à altura, da responsabilidade de Miguel Serras Pereira. O livro ganhou o prémio
Fémina de 2013
Leiam o excerto a seguir como um aviso para a nossa contemporaneidade: “ A des-razão
apoderara-se do mundo, mas alguns recusaram-se a habitar as trevas. Vós sois os descendentes
dos que disseram não à sombra. A sombra esta por cima do mundo. A sombra impele
as comunidades a enfrentarem-se, a fugirem da sua terra natal. Quando tiver passado
o tempo, quem guardará a memória de todas estas dilacerações? As gerações por nascer
saberão que foi necessário fugir para escapar às aves de rapina”.
A obra de Léonora Miano é, sob a forma de um poderoso poema em prosa, uma elegia a
todas as vítimas de um dos maiores crimes da história, o comércio esclavagista da África
para as Américas. A dedicatória/epígrafe é comovente: “Aos residentes da sombra, que o
sudário atlântico envolve. Àqueles que os amavam.”
E são esses nomes que Léonora Miano vai resgatar do limbo do esquecimento com uma
trama narrativa que é a metaforização do real. Na terra dos mulungos deflagra um pressagiante
e misterioso incêndio, o primeiro sinal da mudança dos tempos. São capturados os
primeiros homens que os habitantes do litoral reclamam para o comércio a iniciar-se com
os traficantes europeus. Nas terras, até então pacíficas, ficam as mulheres e as crianças. E
serão elas, sobretudo as mulheres, as protagonistas da agónica luta de resistência que são
obrigadas a travar. Sob a aura de uma África pré-colonial, cujos valores de um humanismo
visceral impregnam o combate doravante a desenrolar-se, sem resvalar para nenhum edílico
paraíso perdido que a intervenção brutal das primeiras incursões coloniais tivesse conspurcado,
Léonora Miano tem a mestria e o sopro poético de nos apresentar uma narrativa
da força e da fragilidade do humano em situação, das suas cosmogonias fundacionais,
dos seus mitos, das adequações e interpretações que as abissais acontecências obrigam. O
sublime emerge na sua condição única, a da inevitabilidade dessa situação-limite de onde
emergem as gramáticas que lhe resistem, preservando o múnus essencial.
Trata-se também de um requisitório sobre um tempo histórico que a historiografia europeia
não revisita amiúde, muito menos para se pensar a si própria.
Através do romance, a jovem autora resgata o que, com outra estratégia, Aimée Césaire
deixou como legado e forma definitiva, na sua violentíssima e certeira Carta sobre o Colonialismo.
Léonora Miano convida-nos a frequentar os lugares infectos que a historiografia europeia
e africana ou esquece, o recalcado europeu, ou idealiza e arvora em cliché do início da
“grande noite” – essa que Achille Mbembe escalpeliza -, para nos devolver o trágico canto
do humano, desse outro e o mesmo Prometeu Acorrentado, o negro, assim designado pelo
esclavagista e depois colonialista.
Mas a Estação ainda é de Sombra. Em Crítica da Razão Negra, Achille Mbembe alerta-
-nos “pela primeira vez na história humana, o nome Negro deixa de remeter unicamente
para a condição atribuída aos genes de origem africana durante o primeiro capitalismo
(predações de toda a espécie, desapossamento de autodeterminação e, sobretudo, de duas
matrizes do possível, que são o futuro e o tempo). E acrescenta o autor de África Insubmissa:
“ A este novo carácter descartável e solúvel, à sua institucionalização, enquanto padrão
de vida e à sua generalização ao mundo inteiro, chamamos o devir-negro do mundo”.
Nele estamos, entre dívidas, oscilações bolsistas, usura, cartilha neo-liberal e guerras por
encomenda. Com a democracia em Estado de Excepção.
Estação da Sombra T
eve lugar no dia 27 de Maio, na cidade
de Maputo, o lançamento do Álbum
“Raízes”, do conceituado mú-
sico moçambicano Wazimbo, cuja
última obra a solo intitulada “Makwêro” foi
lançada há 18 anos.
No evento, Wazimbo fez a apresentação
do seu novo produto, que tem o BCI como
patrocinador oficial, e Emídio Semedo da
Nambu Produções como produtor executivo.
“Tive que namorar os patrocinadores durante
quatro anos para gravar este trabalho. As
relações entre os artistas e empresários, tendo
em conta a situação económica do país”, explica
wazimbo.
O CD “Raízes” é composto por 12 faixas e
contou com a participação de amigos do mú-
sico, nomeadamente HortêncioLanga, Ótis,
Tony Paco, Leman Pinto entre outros. “São
temas conhecidos e outros inéditos. Trabalhei
com vários artistas amigos. O ritmo que trago
é o habitual. Por isso que o título do disco enfatiza
esta questão de preservação dos ritmos
nacionais”, enaltece o artista.
Figura incontornável das artes e cultura de
Moçambique, Humberto Carlos Benfica,
mais conhecido por Wazimbo, nasceu no
fim da década de 40, no bairro da Mafalala,
na então cidade de Lourenço Marques, hoje
Maputo, onde reside e produziu um vasto repertório
musical que atravessa gerações. “O
“Tive de namorar quatro anos
com os patrocinadores”
disco é uma homenagem para os artistas que
trabalham para desenvolver a música de raiz
nacional. Este é o ritmo que tenho trabalhado
e desenvolvido na companhias de exímios
artistas amantes deste género musical”, enaltece
o artista.
A sua carreira internacional iniciou-se na
década de 70, quando em 1972 o músico
ganhou um contrato internacional para rumar
a Angola. Neste país fez parte da banda
“Dinossauros” e regressou a Moçambique,
dois anos mais tarde. Integrou nessa altura
a Associação Moçambicana dos Músicos
(AMMO), juntando-se a uma das bandas
mais importante do país, o Grupo RM.
Neste grupo ladeou, na qualidade de vocalista
principal, com artistas como Sox, Zeca
Tcheco, Alexandre e Milagre Langa e outros.
“É uma forma de homenagear estes artistas
que fazem e fizeram pela nossa cultura. É um
momento triste porque perdemos um grande
artista, homem de família. Refiro ao baterista
Zeca Tcheco”, lamenta.
Na década 80, juntou-se à “Orquestra Marrabenta
Star de Moçambique”, agrupamento
com o qual gravou os discos “Independence”
e “Marrabenta”, pela editora alemã Piranha.
“Foram momentos áureos do nosso grupo.
Éramos muitos artistas juntos. Quando recordo
os tempos passados do grupo, quase
que caiem lágrimas. São coisas da vida”, fi-
naliza. A.S
A relação entre os artistas e patrocinadores é bastante distante actualmente, lamenta Wazimbo
Ofotógrafo moçambicano Mário Macilau
acaba de ganhar uma bolsa
para a criação de uma oficina de formação
denominada Cultura, similaridades
e diferenças. Trata-se de um apoio
da Itaú Cultural, uma instituição privada que
pertence ao banco brasileiro Itaú voltada para
a pesquisa e produção de conteúdo e para o
mapeamento, incentivo e difusão de manifestações
artístico-intelectuais.
A escolha do projecto de Mário Macilau teve
em conta o bom desempenho, experiência e
visão demonstradas durante as intervenções
do fotógrafo moçambicano em recentes actividades
na faculdade de artes visuais da FAAP
- Fundação Armando Alvares Penteado, onde
actualmente se encontra em residência artística.
Há 27 anos que Itáu Cultural promove e divulga
a produção artística brasileira dentro e fora
do país, tendo como visão inspirar e ser inspirado
pela sensibilidade e pela criatividade das
pessoas para gerar experiências transformadoras
no mundo da arte e da cultura brasileiras.
A entidade brasileira diz que é uma grande
satisfação apoiar e receber as oficinas de formação
criadas pelo jovem fotógrafo Mário
Macilau que, para além da fotografia, vai desenvolver
o potencial criativo dos participantes
com o recurso da expressão livre no fazer
artístico e na exploração de diversos materiais
existentes ou respeitando as possibilidades que
todos os participantes têm. A oficina vai juntar
mais de 20 participantes e contempla uma plataforma
de interacção.
Para Mário Macilau, “esta é uma oportunidade
excelente não simplesmente pelo apoio financeiro,
mas sim pelo apoio moral e pela quebra
da fronteira entre Moçambique e Brasil, se
calhar essa oportunidade vai também motivar
instituições similares em Moçambique a levar
artistas visuais com mais seriedade uma vez
que no nosso país as instituições privadas simplesmente
apoiam ou consideram unicamente
a música como arte”.
Macilau acrescenta: “quando desenhei o projecto
levei diversas notas em consideração desde
as nossas origens, diferenças e similaridades
tendo em conta que a cultura é o conjunto de
crenças, comportamentos, linguagens e de toda
a forma de vida de um determinado tempo ou
grupo de pessoas localizado num determinado
espaço geográfico dentro do nosso amplo
universo”.
Mário Macilau pretende criar uma oficina
intensiva contando com a participação de 20
participantes. Estas oficinas propõem a escultura
de um imaginário colectivo que se afasta
da possibilidade de criar qualquer peça de arte
à longa distância e se isolando da sua subjectividade.
“Trata-se de um processo experimental
em que o ponto de partida para criar tais peças
parte antes das nossas próprias histórias, nossos
hábitos, nossas acções válidas segundo os
parâmetros culturais com os quais nos identifi-
camos”, realça a fonte.
A oficina Cultura, similaridades e diferenças
pretende criar estratégias de envolvimento em
transformação global de padrões sociais de
representação, interpretação e comunicação,
integrando maneiras que podem mudar senso
de auto conforto ou da sensibilidade em expor
a nossa vida, imagem, identidade ou segredo
a todo o mundo. “Esta ideia surge como um
ponto de partida teórico à prática como uma
possibilidade de aprender, mas também como
um meio de reflexão colectiva sobre o passado
ao corrente presente. Desde há muitos anos, a
nossa história foi adulterada, a nossa cultura
foi omissa e até hoje a nossa cultura, história é
contada por quem vem de fora”, recorda Mário
Macilau.
O jovem fotógrafo acredita: “esta oficina não
será um fim, mas sim uma oportunidade de reverter
o espelho para nós mesmos, para vermos
a nossa própria imagem no reflexo e contribuir
para a criação do novo caminho para o futuro
através de manifestações artísticas e culturais
como um meio válido de expressão activa”, fi-
naliza.
A.S
Interculturalidade entre Moçambique e Brasil
Dobra por aqui
SUPLEMENTO HUMORÍSTICO DO SAVANA Nº 1169 DE JUNHO DE 2016
SUPLEMENTO
2 Savana 03-06-2016 Savana 03-06-2016 3
Savana 03-06-2016 27 OPINIÃO
Abdul Sulemane (Texto)
Naita Ussene (Fotos)
Ilec Vilanculo
Nesta sociedade em que por um simples vacilo somos derrubados
pelo adversário, ou pelos inimigos, por não concordar com algumas
opiniões, é preciso que sejamos firmes para enfrentar esses desafios.
Então, quando ouvimos sobre uma empresa como a mediaCoop,
jornal SAVANA, particularmente, percebemos que é um jornal
forte neste mercado, tendo em conta a situação que vivemos.
Não é fácil sobreviver numa sociedade em que muitas vezes somos vistos como
os do contra. Entre outras situações, não partilhamos de algumas e muitas
ideias. E por aí em diante. Quando somos dignificados pelo papel aliado ao
desempenho que o Jornal SAVANA teve em estimular o desenvolvimento
económico de Moçambique, pela Pmr África, sentimos o valor do mérito.
Não é por acaso que o representante da organização que atribuiu os prémios
disparou um olhar de reconhecimento para os Editores do jornal SAVANA,
Fernando Gonçalves e Francisco Carmona, depois de entregar a distinção, o
segundo Diamond Arrow consecutivo. Podemos dizer que é um grande olhar
de afeição. Para o ano queremos estar lá de novo.
O MDM também foi galardoado pelo seu desempenho. Mesmo sendo um
evento de entrega de galardões, os intervenientes não perderam tempo para
trocar algumas ideias sobre determinados assuntos candentes do país. Refi-
ro-me ao chefe da Bancada do MDM, na Assembleia da República, Lutero
Simango e o Editor do jornal SAVANA, Fernando Gonçalves.
Todos os momentos são preciosos quando se trata de reflectir sobre os assuntos
preocupantes que são problemas por resolver na nossa sociedade. Pela concentração
que exibe o académico João Pereira, ficamos curioso para saber o que
estaria a ouvir da Presidente da Comissão dos Assuntos Sociais, do Género,
Tecnologia e Comunicação Social, Conceita Sortane.
Nessa senda de premiados também fomos acarinhados por uma visita bem
agradável. A passagem do nosso colega Fernando Manuel. Esteve numa animada
conversa com o Editor Executivo do jornal SAVANA, Francisco Carmona,
Benvinda Tamele (do sector comercial) e o fotojornalista, Naíta Ussene.
Aqui termino com a última foto onde vemos o Presidente do Município da
Beira, Daviz Simango, exibindo o galardão. É preciso frisar que o Município
da Beira é um vencedor assíduo nas edições realizadas deste certame. É preciso
ter mérito para estar em determinados lugares. Repararam que algumas pessoas
aparecem duas vezes nas fotos? É preciso ter mérito.
Por mérito
IMAGEM DA SEMANA
À HORA DO FECHO
www.savana.co.mz EF+VOIPEFt"/099***t/o
1169 Diz-se... Diz-se
Foto: Naíta Ussene
Além da geografia e da etnolinguística,
que aproximam
os dois países, Moçambique
significa 10% das trocas
comerciais da África do Sul com o
continente africano e 2% do comércio
internacional sul-africano com o resto
do mundo, de acordo com dados do
Serviço de Receitas da África do Sul, o
equivalente sul-africano da Autoridade
Tributária em Moçambique.
Em Moçambique, o capital sul-africano
tem uma presença de peso. Colossos
da economia sul-africana como Sasol,
4UBOEBSE#BOL
4BTPMF"GSJDBO3BJObow
Minerals contam interesses de
peso na “Pérola do Índico”.
Por isso e muito mais, Moçambique interessa
à África do Sul e o que se passa
do lado de cá é minuciosamente escrutinado
por analistas de mercado e por
órgãos de comunicação social.
/VNUSBCBMIPTPCSFPQBÓT
PSFQVUBEP
jornal sul-africano City Press diagnostica
e alerta: “Moçambique está à beira
do colapso”.
“Moçambique está à beira do abismo
económico, devido a uma onda de vio,,,1o 1169
A
Hidroeléctrica de
Cahora Bassa (HCB)
encerrou o exercício
das suas actividades
de 2015 com um resultado
líquido positivo de 4.154,7
Milhões de Meticais. Este
resultado representa uma evolução
positiva de cerca de 73%
face ao ano anterior, de acordo
com o Relatório de Gestão do
Conselho de Administração e
com o Balanço e a Demonstração
de Resultados respeitantes
ao exercício em referência,
aprovados na sessão da
Assembleia Geral realizada
na cidade de Maputo, no dia
12 de Maio de 2016.
Com este desempenho em
HCB com resultados positivos
2015, a produção de energia
atingiu o máximo registado
na história da empresa desde
a sua criação, situando-se em
16.978 GWh, representando
um acréscimo de 6,8% em relação
ao verificado em 2014.
O presente cenário permitiu
que a Hidroeléctrica de
Cahora Bassa continuasse a
amortizar com antecipação de
prestações o empréstimo de
USD 800 milhões, contraídos
para a reversão da maioria accionista
de empreendimento
para o Estado moçambicano,
prevendo-se a amortização
antecipada do mesmo, caso se
mantenha o actual desempenho
da empresa.
O
receita total da
Seguradora Internacional
de
M o ç a m b i q u e
(Ímpar) foi de 531,9 milhões
de Meticais no ano
passado, representando
um crescimento de 14,6%
face ao período homólogo
de 2014, que foi de 464
milhões de meticais.
Segundo uma nota de
imprensa enviada à nossa
Redacção, esta evolução
positiva da receita pro-
Ímpar cresce 14,6%
cessada foi influenciada pelo
lançamento de novos produtos,
nomeadamente, Mais Auto e
iAuto, reestruturados mais em
linha com as necessidades do
Cliente. A receita de prémios
da Ímpar foi de 1.802,7 milhões
de Meticais em 2015, o que representa
um crescimento de
2,8% face aos 1.753,0 milhões
de Meticais realizados no mesmo
período do ano transacto.
Refira-se que a Seguradora foi
recentemente, pelo segundo
ano consecutivo, distinguida
com a atribuição, da notação de
Rating “AA-“, a mais alta
atribuída a uma seguradora
em Moçambique, pela
maior agência de notação
a Global Credit Ratings
(“GCR”).
No contexto da sua polí-
tica de Responsabilidade
Social, em 2015, reforçou
o seu compromisso com a
sociedade moçambicana,
ao apoiar, criar e desenvolver
projectos contínuos e
sustentáveis com impacto
na melhoria da envolvente
social.
Savana 03-06-2016 2
“
EU AMO O MEU BAIRRO,
quem ama cuida e
quem cuida limpa” é uma
forma inovadora que o
Conselho Municipal da Cidade
de Pemba (CMCP), província
de Cabo Delgado, Norte de Mo-
çambique, identificou para servir
de vector de sensibilização para
o saneamento básico nos bairros
através de jornadas de limpeza
envolvendo todos os segmentos
da sociedade.
De 23 a 28 de Maio passado, o
Presidente do Conselho Municipal
da Cidade de Pemba, Tagir
Assimo Carimo, trabalhou no
âmbito deste programa no Bairro
Municipal de Mahate, onde se
reuniu com estruturas de base, visitou
empreendimentos económicos
e infra-estruturas sociais.
A visita de trabalho incluía a auscultação
sobre os principais desafios
dos munícipes daquela parcela
municipal, para além de participa-
ção em jornadas de limpeza, actiPemba
lança “EU AMO O MEU BAIRRO”
vidade desportiva local e um show
musical. Esta semana (30 de Maio
a 3 de Junho) é a vez do histórico
Bairro de Paquitequete.
No final de cada visita, o Edil e
sua comitiva envolvem-se numa
jornada de limpeza em locais indicados
pelos residentes, participa
num torneio desportivo que culmina
com a realização de um show
musical e cultural abrilhantado por
artistas e músicos locais organizados
para o efeito com a colabora-
ção do conceituado músico Carlos
de Lina.
O CMCP desenvolve esta ferramenta
EU AMO O MEU BAIRRO
desde os princípios deste ano
para a consolidação da Governa-
ção Participativa iniciada pelo Edil
de Pemba no início do seu mandato
em 2014.
O Edil de Pemba, Tagir Carimo,
tem recebido rasgados elogios
por vários sectores da sociedade
pela forma como interage com os
munícipes directamente nos seus
locais.
Segundo Carimo, o programa ora
em curso vai abranger todos os 12
Bairros da Cidade em duas voltas
e insere-se no processo da melhoria
de prestação de serviços administrativos
municipais a partir da
base, desde o quarteirão passando
pela Unidade e até ao Secretário
do Bairro, dotando-os de ferramentas
para a melhoria do bem-
-estar dos munícipes.
Os líderes destas estruturas de organização
político – administrativa
receberam um cartão de identificação
aquando da realização da
II reunião de quadros e dirigentes
municipais nos meados de Abril
passado.
O aperfeiçoamento do EU AMO
O MEU BAIRRO ocorre um mês
depois da Conferência do OIDP
realizada na Cidade da Matola
de 3 a 6 de Maio deste ano, onde
foram partilhadas diversas ferramentas
de boa governação e participação
do cidadão a nível dos 53
municípios do país e outros municípios
estrangeiros.
Os governantes municipais, que
são eleitos de cinco em cinco anos,
têm desenvolvido diferentes formas
de envolvimento de todos os
actores no processo de desenvolvimento,
desde o sector privado,
passando pelos parceiros de desenvolvimento
até às organizações da
sociedade civil especializadas.
O envolvimento dos munícipes no
processo de tomada de decisões,
para além do clássico modelo de
participação eleitoral, opera nas
autarquias moçambicanas desde o
início do processo de municipalização
em Moçambique. A presta-
ção de contas e a responsabilização
social na governação municipal são
princípios de base para os municí-
pios moçambicanos.
Nos últimos dez anos da municipalização
têm-se multiplicado variadas
ferramentas de monitoria e
responsabilização social.
A
representante Pan-
-Africana de Rela-
ções Públicas e Gestão
de Reputação da
Public Relations Consulting,
Magna Carta, foi indicada
como a Agência Africana de
Relações Públicas do Ano
2016, na cerimónia de entrega
dos prémios SABRE, que
decorreu na noite de quarta-
-feira, 25 de Maio, em Berlin,
na Alemanha.
Uma nota recebida na nossa
Redacção indica que a decisão
foi anunciada pelos editores
do Relatório Holmes, que
analisaram o desempenho de
400 agências com base num
cuidadoso método de pesquisa.
O processo de avaliação contou
com as candidaturas das
melhores agências de Relações
Públicas e firmas de
comunicação estratégica do
Mundo, nomeadamente, da
Europa, Médio Oriente e
África.
Relativamente à África, concorreram
ao prestigiado galardão
“African PR Agency of
the Year”, cinco agências de
MAGNA CARTA premiada em Berlim
Relações Públicas africanas:
Epic MSGLGROUP, Atmosphere,
Burson-Marsteller,
Djembe Communications e
Magna Carta.
“É para nós um orgulho enorme
sermos prestigiados como a
grande finalista e, consequentemente,
reconhecidos pelo
sector e pelos nossos colegas”,
afirmou Vincent Magwenya,
CEO da Magna Carta.
A Public Relations Consulting
foi nomeada, em Julho de
2015, representante exclusiva,
em Moçambique, da Magna
Carta.
Com uma rede Pan-Africana
de 19 países em franco crescimento,
que integra Moçambique,
Nigéria, Gana, Quénia,
Maurícias, Angola e mais recentemente
o Zimbabwe, a
filosofia da Magna Carta de
apostar na evolução permanente
da sua rede e dos associados
exclusivos que a representa
continua a ser o motor
de integração das melhores
práticas globais em comunica-
ção, relações públicas e reputa-
ção, com a oferta de serviços
cada vez mais personalizados a
nível local.
Gestores e técnicos dos Conselhos
Empresariais Provinciais
(CEPs), órgãos
máximos de consulta da
Confederação das Associações Económicas
de Moçambique (CTA) a
nível das províncias estão, desde esta
terça-feira, 31 de Maio, a ser capacitados
em matérias de Liderança e
Processo de Diálogo Público-Privado.
Esta capacitação, que decorre na cidade
da Matola, província de Maputo,
e que terá a duração de quatro dias,
insere-se no âmbito da revitalização e
reforço institucionais dos Conselhos
Empresariais Provinciais e visa refor-
çar as habilidades destes órgãos assim
como harmonizar a metodologia de
trabalho e a relação com a CTA.
O reforço das habilidades e a harmonização
da metodologia de trabalho
irão conferir maior dinâmica no funcionamento
e gestão destes órgãos,
o que irá permitir que conduzam de
forma eficaz o Diálogo Público-Privado
a nível local.
Segundo o presidente da CTA, Rogério
Manuel, que dirigiu a cerimó-
nia de abertura, há necessidade de
preparar os quadros para fazer face
aos desafios impostos pelo novo modelo
do Diálogo Público-Privado e
para melhor satisfazer as necessidades
dos membros da organização.
“Um dos desafios de qualquer organização
é a capacitação permanente
Gestores e técnicos dos
Conselhos Empresariais
Provinciais da CTA capacitam-se
dos membros e colaboradores. Por
isso, através desta formação, pretendemos
que os Conselhos Empresariais
Provinciais maximizem o seu
desempenho e resultados”, afirmou
Rogério Manuel.
Durante a capacitação serão abordadas
temáticas ligadas à organização
e funcionamento da CTA, gestão
operacional, postura e liderança, organização
do lobby, técnicas de negociação,
gestão financeira e prestação
de contas, apoio ao desenvolvimento
empresarial, desenvolvimento de serviços,
entre outras.
Entretanto, os gestores e técnicos
beneficiários desta capacitação vão
participar no III Seminário Nacional
dos Conselhos Empresariais Provinciais,
que irá decorrer no sábado, dia
4, sob o lema “Consolidando o Di-
álogo Público-Privado e Cultivando
o Espírito de Liderança e lobby no
Seio dos Actores”.
Para além dos presidentes, vice-presidentes,
gestores e técnicos dos CEPs,
o seminário contará com a presença
dos membros do Conselho Directivo,
Direcção Executiva, responsáveis
pelos pelouros, técnicos da CTA e
outros convidados.
Espera-se que esta interacção, entre
a CTA, CEPs e pelouros, contribua
para o reforço das capacidades e troca
de experiências sobre o Diálogo
Público-Privado e outras matérias
relevante
Savana 03-06-2016
3
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Savana 03-06-2016 4
O
Governo propõe adop-
ção de um novo modelo
de gestão dos Centros
de Multimédia Comunitários
(CMC’s), que garanta a
sustentabilidade e a participação
activa de todos os intervenientes,
através da abordagem de um
mecanismo multissectorial coordenado
e ajustado à realidade
do Programa Nacional dos Centros
Multimédia Comunitários
(PNCMC’s).
Esta informação foi divulgada
Nhambiu defende novo modelo de gestão dos CMC’s
nesta segunda-feira, aquando da
realização da primeira Reunião
Nacional dos Centros Multimédia
Comunitários, realizada
sob os auspícios do Ministério
da Ciência Tecnologia, Ensino
Superior e Técnico Profissional
(MCTESTP).
Na ocasião, Constantino Sotomane,
representante do Ministério
da Ciência Tecnologia,
Ensino Superior e Técnico Profissional,
referiu que o PNCMC’s
estabelece em todo o país Centros
Multimédia Comunitários,
que por sua vez constituem
instrumentos que servem para
informar, educar a comunidade.
Estes enquadram-se nos esfor-
ços nacionais de desenvolver
um sistema de disseminação de
conhecimento científico e tecnológico,
aproveitando as novas
Tecnologias de Informação e
Comunicação.
“O país conta actualmente com
59 Centros Multimédia Comunitários,
distribuídos por todas
as províncias do nosso país, daí
a necessidade de união de sinergias
visando a consolidação dos
CMC’s já criados e expansão
para os outros distritos do nosso
país”- acrescentou Sotomane.
Por fim, o representante do ministro
apelou ao envolvimento
de todos na implementação do
modelo, principalmente dos governos
provinciais e distritais na
divulgação das acções do governo
central através dos CMC’s.
A
Universidade Eduardo
Mondlane (UEM) graduou,
na última sexta-
-feira, 1032 estudantes,
dos quais 412 do sexo feminino
e 620 do sexo masculino. Foram
918 licenciados, 112 mestrados
e dois Doutores.
Dos estudantes licenciados, 43
são do ensino à distância, facto
que resulta dos esforços que
a UEM está a introduzir para
aumentar sua credibilidade e
eficiência. Parte dos graduados
inclui estudantes provenientes
de outros países do continente
africano e europeu.
De acordo com o Reitor da
UEM, Orlando Quilambo, a
presença de estudantes oriundos
de outros países enquadra-
-se num programa da UEM, de
garantir a mobilidade académica
dos seus estudantes nacionais e
da sua internacionalização através
do acolhimento e formação
dos estudantes das variadas partes
do mundo.
O Reitor anunciou a graduação,
pela primeira vez na história
do país, dos primeiros mestres
em Engenharia de Petróleo,
que resulta da parceria entre a
UEM e o sector produtivo nomeadamente
com a multinacional
Anadarko, que facilitou
a interacção com universidades
africanas e americanas para em
conjunto desenharem o currículo
do curso cuja implementação
coube a UEM.
UEM gradua 1032 quadros
Segundo Orlando Quilambo,
a UEM vai continuar a formar
quadros competentes das diferentes
esferas da vida e que
sirvam de pilar para o desenvolvimento
humano e sustentável
que o país tanto almeja. “Para o
efeito, a UEM já está introduzindo
e adoptando mecanismos
para a integridade académica,
bem como outras formas de
atendimento aos estudantes e
membros do CTA”, disse.
Por sua vez, a vice-ministra da
Ciência e Tecnologia, Ensino
Superior e Técnico Profissional,
Leda Hugo, defendeu que
o Ensino Superior deve forjar
nos graduados os valores entre
os quais a auto-estima, o sentido
patriótico e de unidade nacional,
estimular uma concepção
mais activa da vida, que alinha
a formação para o exercício de
uma profissão ao exercício da
cidadania.
“A nossa expectativa com esta
cerimónia é termos assegurado
que a UEM, como instituição
de ensino superior, seja capaz
de alargar os vossos horizontes e
potencialidades, e de incentivá-
-los a não se darem por satisfeitos
apenas com o diploma ou o
salário decorrente do diploma
que ostentam, mas sim, em razão
da vossa produtividade, criatividade
e empenho nos processos
de transformação das potencialidades
de que o nosso país é dotado
em riqueza e bem-estar dos
moçambicanos”, frisou.
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