segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Será incongruência colossal?

Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
Ou é tudo parte de um plano previamente traçado?
Os factos falam por si e mesmo com gente à paisana não deixa de ser claro quem está protagonizando ataques contra as viaturas da comitiva de Afonso Dhlakama.
O desdobramento das forças de defesa e segurança sob comando do Governo de Moçambique é um direito e prerrogativa que lhes assiste, e ninguém tem problemas com isso.
Agora, outra coisa bem diferente é potenciar a eclosão de violência generalizada a coberto desse direito.
Os falcões da guerra, os defensores da solução de descontinuidade estão celebrando o relativo sucesso de uma operarão que colocou a coluna de viaturas da Renamo num aperto.
Se tivesse resultado na morte de AMMD, as celebrações do 25 de Setembro teriam sido coroadas de êxito, na óptica de alguns moçambicanos que defendem que não se pode compartilhar Moçambique.
Aqueles que nas redes sociais advogam a eliminação de AMMND do xadrez moçambicano querem, de facto, que Moçambique regrida para os tempos do partido único, das guias de marcha, dos grupos de vigilância.
Aqueles que, a coberto do direito de opinião, não se cansam de justificar “vitórias arrancadas” como se fossem legais e de efeitos vinculativos, fazem parte do batalhão de forças do “defunto partido único”.
A aparente situação de aceitação de derrotas autárquicas não consegue esconder a raiva e sentimento de contrariedade que consome os promotores das “vitórias arrancadas”.
Dissuasão e contenção são formas directas de lidar com uma situação difusa e perigosa. Mas quem não tem o realismo como fonte de orientação pode confundir argumentos e levar a que as coisas ou arranjos prévios entrem em colapso.
A táctica de colocar “cascas de banana” no terreno de passagem obrigatória de uma coluna automóvel de AMMD pode parecer o expediente válido para a eclosão de hostilidades definitivas, no entender de certos estrategas.
Gente de nomeada alinhando por discursos promotores da intolerância faz parte daquilo que Moçambique não precisa neste momento.
Numa altura em que se celebra o 25 de Setembro, Dia das FADM, atacar AMMD pode inserir-se na confirmação de que o PR ainda não é o comandante-em-chefe das FSD.
Ou será que ao PR foi dito pela Comissão Política do seu partido que não se preocupasse com o pelouro da defesa e segurança?
Aqui não se pode alegar infantilismo ou falta de percepção sobre as consequências de actos fortemente desestabilizadores. “Adultos” montando esquemas para que os outros escorreguem e entrem para a guerra aberta já foi por várias vezes tentado. A propaganda oficial já demonstrou estar em sintonia com essa versão estratégica, e a rapidez com que os porta-vozes se multiplicam em declarações contraditórias sugere que ainda não foi afinada a coordenação a este nível.
Quando a hipocrisia substitui o senso comum, há motivos para recear um regresso a todo o vapor de confrontações.
Enquanto pelo comportamento prático uma parte demonstra que quer acomodação das suas reclamações, a outra parte procura colocar o outro novamente na “parte incerta”, como forma de concluir o ciclo negocial.
Entre a guerra e a paz, a distância pode parecer grande, mas geralmente um pequeno deslize pode transformar a “paz podre” em guerra viva.
Os que se preocupam em “lançar gasolina na fogueira” estavam ansiosos em receber a notícia da liquidação de AMMD, acreditando que, sem a sua liderança, a Renamo se desmoronaria, não abriram as garrafas de champanhe preparadas.
Os “mediadores” os líderes religiosos encomendados, que dirão nas homilias que se seguem?
Há um sentimento generalizado de ansiedade, expectativa e temor pelo que pode vir a acontecer no país.
Há determinadas forças que foram “empurradas” para fora dos corredores do poder que deixaram os seus “peões e cavalos” bem plantados. Não tenhamos ilusões quanto ao que acontecerá. Tudo aponta para um recrudescer dos discursos de beligerância. Dizer que não há condições para a guerra é uma avaliação dissonante.
Quem entrou na corrida armamentista sabe o que tem, em termos de recursos. A “amiga China”, assim como faz no Sudão do Sul, pode reforçar o aprovisionamento militar.
Comando e contra-comando pode ser uma realidade, a julgar pelo que acontece no terreno. Alguém está mexendo com os cordelinhos, e importa saber gerir a crise de modo a que não se produza a guerra que alguns desejam.
Com a guerra, algumas contas bancárias engordarão e algum poder perdido pode ser recuperado, mas as consequências, a médio e longo prazo, serão desastrosas para todo um povo.
Por poder e em nome do poder em si, excluindo os outros, há quem teima em ranger os dentes e vociferar sua intolerância, arvorando-se em superior e único.
Há que saber ler nas entrelinhas e denunciar os falcões da guerra encobertos em estadistas de gabarito. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 28.09.2015

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