quinta-feira, 24 de setembro de 2015

No passado dia 11 de Setembro os Presidentes Jacob Zuma da África do Sul e Filipe Nyusi de Moçambique inauguraram na Matola um belo monumento em memória das vítimas dos assassinatos do apartheid nessa urbe. 

Em Janeiro de 1981 tropas terrestes do apartheid vieram matar alguns quadros do ANC e por tabela liquidaram alguns moçambicanos e até um pacífico cidadão português que conduzia a sua viatura no lugar errado e na hora maléfica. Afirmaram que se haviam enganado e pensavam que se tratava de Joe Slovo, para o efeito transformado num lusitano.
Antes disso, na Namaacha invadiram a casa de um português, cooperante na Agricultura e a sangue-frio, diante das crianças e da esposa liquidaram o homem. Tratou o Ministério de evacuar para Portugal o corpo, a esposa e filhos e a nossa embaixada organizou da transladação e do enterro na sua terra natal.
Em ambos casos das vítimas portuguesas a embaixada como o governo português nada fez. Se calhar prezavam mais a relação com o governo do apartheid do que a vida e segurança dos seus cidadãos.
Em Maputo, um comando do apartheid quis liquidar o falecido coronel tanzaniano, Ali Mahfoud. Ele habitava numa vivenda cerca duma agência do BCI na Julius Nyerere.
Ele estava fora do país nesse momento e os assassinos enganaram-se de endereço, entraram no prédio vizinho dito da TVM, e de um andar berraram para o chefe cá em baixo que não estava lá Ali Mahfoud, mas sim uma família moçambicana.
Matem à mesma ordenou o chefe. Assim fizeram.
Assassinaram a cientista sul-africana Ruth First com uma carta armadilhada enviada para o Centro de Estudos Africanos da UEM.
Feriram num outro atentado o jurista Albie Sachs, que sobreviveu mas perdeu um braço.
Na mesma época a força aérea sul-africana veio bombardear a Matola. Declararam ufanos que haviam destruído duas bases de misseis.
Os alvos atingidos: a creche da SOMOPAL onde mataram crianças e uma casa vizinha, do meu falecido amigo Morgadinho, que felizmente nem ele ou esposa ou empregados aí se encontravam no momento do crime.
Levei todos os embaixadores visitar, ver as crianças liquidadas na creche e a casa vizinha. Magnus Malan ministro da defesa do apartheid acabava de declarar que haviam atingido as tais bases de mísseis.
O Alto-Comissário britânico e os demais diplomatas desmentiram Malan na Rádio e TV que os acompanhava.
O aparelho estatal do apartheid, as suas forças de defesa e segurança viviam na mentira e a mentira servia para embalar e adormecer a população branca. Para cobrir os fracassos inventavam sucessos. Um regime odioso, que as Nações Unidas haviam declarado criminoso.
Se houve sanções americanas contra Pretória deve-se imenso ao Reverendo Sullivan que organizou nos EUA manifestações e boicotes contra as empresas que negociavam e se aproveitavam do regime iníquo.
A França continuou a vender aviões e helicópteros, as mineradoras e os bancos britânicos sacavam os seus benefícios, Israel em troca de poder testar a sua bomba nuclear e obter urânio para fabricá-las transmitiu os conhecimentos e apoiou o apartheid a produzir as armas de destruição massiva. O avião telecomandado abatido na baía de Maputo era de fabrico israelita, tal como o aparelho que desviou da rota o avião em que morreu Samora e vários companheiros.
Que se saiba os aliados do apartheid, os senhores do apartheid, os criminosos de guerra, jamais o TPI ou outra instituição intergovernamental condenou os patronos e aliados dos asquerosos. Finalmente contam mais os lucros do que as vidas humana, incluindo de crianças.
Compreende-se que para salvar a estabilidade e prevenir golpes o governo de Mandela e os que se sucederam não julgaram nem condenaram os autores das infâmias.
Sabe-se que os autores dos massacres de Wiryamu, Mukumbura, Inhaminga jamais alguém os julgou e condenou. Os assassinos, incluindo do General Delgado cujo corpo se encontra no Panteão português, os bandidos da PIDE e outros continuam a receber reformas e pensões do Estado, se calhar pelos bons serviços prestados à Nação portuguesa.
Os autores da chacina de Homoíne a 18 de Julho de 1987, boçais nacionais mas a mando do apartheid jamais alguém os julgou ou condenou pelo massacre de 427 pessoas.
O AGP e a amnistia perdoaram tudo, sacrifício necessário pela paz. Já haviam assassinado no seu campo na África do Sul o fundador da RENAMO Orlando Cristina, os irmãos Bomba, mataram no Malawi o antigo embaixador Ataíde e seus companheiros.
Finalmente o boçal mor não queria rivais ou gente que pensasse. Não, não vamos esquecer o tempo que passou, como diz a canção, queremos a Paz, a Unidade Nacional e progresso. Para isso perdoaremos, mas repito não vamos esquecer o tempo que passou. O saudoso escreveu um belo poema e livro sobre a chacina.
Hoje a Europa aflige-se com o drama dos refugiados. Discute-se quem e quantos recebem os malogrados. Morrem aos milhares nas travessias do Mediterrâneo. Faz dias descobriu-se que um embaixador francês fazia parte dos negociantes dos navios piratas, novos negreiros. Ontem carregando escravos para as Américas e para a Europa, hoje os míseros que fogem do terror do Boko Haram na Nigéria e países vizinhos, dos que no Médio Oriente em virtude da confissão religiosa ou etnia tornam-se objecto de mortandades.
Quem acusa os autores e criadores de Al Queda, do caos que se semeou no Médio Oriente e no Norte da África? Devemos gritar Viva os ventos democráticos ou Abaixo os semeadores do caos e mortandades? Quando se vai discutir, julgar e condenar os que provocaram o caos e as mortandades?
Quem protege os facínoras sobretudo quando bem colocados nos Conselhos de Administração das petroleiras, da banca e até em níveis elevados do Estado?
Devemos coexistir com a impunidade dos assassinos e dos promotores de genocídios?
Abraço todos que lutam contra uma democracia hipócrita e mentirosa que cobre as piores infâmias e negociatas.
P.S. O corpo de um bebé sírio, Aylan Kurdi, veio dar à costa, a imagem da criancinha morta circulou em todas as redes televisivas, nos jornais e nas mais variadas redes sociais. Porque morreu o bebé? Porque fogem pais, crianças, velhos da Síria, do Iraque, do Afeganistão, da Líbia e Nigéria? Acontecia isso nos tempos de Babrak Karmal, Sadam Hussein, Khadafi, Assad, quando não havia Al Queda, Estado Islâmico ou Exército Islâmico? Quem organizou e armou esses facínoras? Responder e reagir contra os criadores do Al Qaeda e Exército Islâmico, os destruidores do Iraque e Líbia faz parte da defesa da Humanidade contra a prepotência dos impérios da ganância.
Felizmente a sensatez prevaleceu e Castel-Branco e Fernando Mbanze foram absolvidos. Parabéns à sabedoria do Juiz João Guilherme e à Justiça! Ganhou Moçambique.
Há que gritar: Somos todos Aylan Kurdi. Somo as crianças e adultos assassinados e mortos pela ganância. Todos pensamos. Pela paz, não ingerência e contra a ganância, pelo pensamento livre o meu abraço,
SV
O PAÍS – 22.09.2015

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