Centelha por Viriato Caetano Dias (viriatocaetanodias@gmail.com )
Nunca, nunca, nunca acreditar que qualquer guerra será fácil, ou que qualquer pessoa que embarque nessa estranha viagem pode medir as marés e furacões que encontrará. WinstonChurchill (1874-1965), estadista britânico.
O Centelha desta semana tinha como pano de fundo a descoberta de nados mortos encontrados na lixeira de Malhampsene, na Matola, província de Maputo. Não quero fazer acusações com base em notícias de tabloides, apontando o dedo para designar réus, sejam realmente culpados ou não, mas não me aplaco enquanto a verdade não vier à superfície e os prevaricadores responsabilizados pelos seus actos. Esperava que alguns dirigentes, habituados a falar de moralidade na imprensa, se demitissem dos cargos que ocupam como forma de se penitenciarem pelo sucedido, garantindo, deste modo, a imparcialidade investigativa. O meu amigo Nkulu não tem dúvida que o que vemos hoje é apenas a pequeníssima parte da nádega da sua majestade, veremos vergonhas e escândalos de dimensão continental, se continuarmos vivos. Se a ponta de iceberg já nos incomoda, o que dizer do que está mais a fundo?
Porque o crime não apodrece, o amigo leitor pode contar comigo e lá estarei, nas primeiras fileiras da marcha, pronto para dar o peito à bala em protesto contra a negligência, o abuso de poder, a desvalorização cultural, etc.
A minha calvície, padrinho da experiência, é prova de muitas observações e vivências. Preocupa-me o comportamento das “nossas bússolas” governativas, incluindo da oposição. Estou farto de ver dirigentes deste país e dos partidos políticos de crucifixos religiosos pendurados ao peito e às vezes sacrificando os joelhos nos bancos das igrejas em actos de oração, mas não prestam nenhumas acções que conduzam à paz perpétua deste maravilhoso país.
Por causa disso, o país caminha, vertiginosamente, para o abismo político, económico, social, caso a liça entre os dois partidos políticos (Frelimo e Renamo) seja eleita o meio de resolução de conflitos. A guerra entre os dois “inimigos figadais” já há muito começou, só faltava vítimas mortais.
A guerra dos 16 anos deixou capítulos ainda por fechar, nomeadamente na interpretação do Acordo de Roma.
Todo o esforço no sentido de unir o que os desune resulta num autêntico fracasso. Não há forma de perceber que a paz é o bem essencial do nosso povo, o balsamo das nossas frustrações, alimento espiritual que conforta a pobreza que encalça o desenvolvimento do país. Na guerra dos 16 anos, duas coisas os políticos não aprenderam: a primeira é que a guerra é de facto “um incêndio sempre difícil de apagar” , a segunda é que a “cicatrização da guerra leva o dobro que a guerra leva”. Os resultados económicos podem até ser animadores, fruto da esporádica união dos dois partidos, mas não poderão restituir as vidas dos perecidos. Se não somos capazes de aprender a união das formigas, que constroem “castelos de paz” carregando materiais com peso superior a do seu corpo, só nos resta a providência divina para impedir um novo conflito, cujas vítimas estão ainda por contabilizar.
Tal como na guerra dos 16 anos, a actual está a destruir o tecido social moçambicano. As causas podem ser partidárias, mas as consequências são nacionais. Preocupa-me a extraordinária capacidade que alguns políticos têm em destruir o que se levou décadas a construir. Um observador atento constatará que as duas partes em conflito pabulam-se por ter morto, em combate, militares e civis. Cada soldado que nos morre, morre consigo uma família, uma parte de Moçambique. O respeito à vida perdeu cotação. O que se pensava estar enterrado (o ódio entre irmãos), voltou à ribalta e o luto instala-se num país que conheceu 20 anos de jejum da guerra. O ódio ainda impera entre as partes e desta forma não se pode construir uma nação arco-íris. Engane-se quem pense que esse conflito Renamo e Frelimo terá vencedores.
O único vencedor, em todas as desgraças, é o diabo.
O povo moçambicano estará nestas alturas que nos chegam imagens de Manica a fazer as contas a vida. Que futuro nos reserva? Onde pedirá asilo para escapar as balas dos guerrilheiros?
Alguns pensam que a morte de alguns elementos da Renamo é o fim deste partido (armado), outros pensam que a retaliação da Renamo acabará com a Frelimo. Engano total, pois “Nem o vento é tão inconstantecomo a guerra”. É mais fácil mobilizar pessoas para a guerra que para uma marcha de paz ou de combate à pobreza.
A guerra é compensatória para quem a faz e funciona como a nicotina no sangue de alguns dos comandantes fanáticos: vicia. Sabe-se entrar, mas dificilmente se pode sair, porque vicia e gera mortes de inocentes. Fácil é formar guerrilheiros para matar, difícil e escasso é formar bombeiros para apagar o fogo. Já aqui o disse, o presidente da República deve falar ao país e fazer um pouco mais do que tem feito para a promoção da paz. Eu bem sei que ele está comprometido com a paz, mas a Frelimo não é Nyusi, daí a necessidade de haver ruptura de pensamento para o bem do povo moçambicano. Zicomo (obrigado).
WAMPHULA FAX – 28.09.2015
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