O Conselho Cristão de Moçambique (CCM) emitiu esta semana uma nota em que considera que os consensos alcançados no diálogo entre o Governo e a Renamo e aprovação da Lei de Amnistia pela Assembleia da República abrem largos caminhos para a pacificação, reconciliação e convivência pacífica entre os moçambicanos, rumo ao desenvolvimento e solidificação da unidade nacional.
O CCM, que congrega e igrejas e outras instituições afins, expressa o seu reconhecimento aos actores envolvidos pelo empenho, dedicação, paciência e abnegação demonstrados ao longo do período do diálogo e manifesta a esperança de um melhor desfecho do processo.
Este sentimento não é tão-somente daquela congregação de instituições religiosas, é de quase todos os moçambicanos. A exultação com que se manifestaram os dignos representantes do povo esta semana na aprovação da Lei da Amnistia parece mostrar também isso. Deputados de bancadas desavindas abraçaram-se com grande entusiasmo numa manifestação de alegria de que o país está a caminho de pacificação, depois de quase dois anos de tiros em alguns cantos do país, sobretudo em Sofala.
Os tiros são sempre uma coisa indesejável na vivência e convivência dos homens e são coisas a evitar. O argumento da força não é um bom argumento. A força da razão é que pode conduzir a mais aproximação entre as pessoas, a mais tolerância, mais diálogo e a menos caminhos para vinganças e ódios.
Domingoesteve esta semana em Muxúnguè, zona mais afectada por esta tensão, e notou que a população quer esquecer tudo o que se passou e seguir em frente. Como escreve o nosso enviado (ler páginas 22 e 23 desta edição), “ali todos querem a paz eterna para trabalhar” e cita alguns depoimentos: “continuamos a rezar para que as armas se calem para sempre, porque queremos trabalhar para desenvolver as nossas vidas e o país em geral. Nossos filhos querem a paz para que cresçam sadios”.
São preocupações legítimas e genuínas de quem sofreu na carne toda a confusão gerada pelos ataques na Estrada Nacional Número Um (EN1) e pela constante tensão com a movimentação de homens armados.
É que, todos nós, moçambicanos, pensamos que agora a guerra tem de ser muito outra. Tem que ser necessariamente outra. Tem de ser uma guerra contra o subdesenvolvimento traduzido em fome, miséria, corrupção, pobreza e ausência de conhecimento.
O nome da paz já não é ausência de espingardas, a vomitarem balas e fogo. O novo nome da paz chama-se desenvolvimento sustentado. Em que todos somos militares e todos devemos ser militantes do progresso e bem-estar. Por isso, esta sede de que as armas devem mesmo se calar e para sempre, de modo a permitir um maior movimento de pessoas que querem tocar a sua vida para frente. De modo a permitir a livre circulação de bens, para alimentar os centros onde são necessários.
Como dizia o Presidente Guebuza num discurso sobre o assunto, “a paz é o que nos caracteriza como um povo, porque o moçambicano é propenso ao convívio e à interacção sã com outros moçambicanos e com povos de outras partes do mundo, concentrando-se assim no trabalho, um trabalho orientado para resultados no contexto do seu espírito empreendedor tendo em vista melhorar a sua vida”
Então, temos que acreditar que, depois destes consensos alcançados nos últimos dias, a guerra jamais voltará ao nosso convívio. Jamais instalar-se-á aqui, porque ela, como dizia o Padre António Vieira, é “aquele monstro que se sustenta das fazendas, do sangue, das vidas e quanto mais come e consome, tanto menos se farta. É a guerra aquela tempestade terrestre, que leva os campos, as casas, as vilas, os castelos, as cidades e talvez em um momento sorve reinos e monarquias inteiras. É a guerra aquela calamidade composta de todas as calamidades em que não há mal algum que, ou não se padeça ou se não tema: nem bem que seja próprio e seguro. O pai não tem seguro o filho, o rico não tem segura a fazenda, o pobre não tem seguro o seu suor, o nobre não tem segura a honra, o eclesiástico não tem segura a imunidade, o religioso não tem segura a sua cela; e até Deus nos templos e nos sacrários não está seguro”.
A paz que hoje almejamos tem de se concretizar na construção da Justiça, na criação de condições para que todo o ser humano possa exercitar-se em liberdade mediante o trabalho, para que goze de bem-estar e tranquilidade interior, para que tenha condições para gostar de si mesmo, para criar auto-estima, para se desenvolver em solidariedade com todos os outros.
Para que, como diz o CCM, com a paz se abram largos caminhos para a reconciliação, tolerância, “convivência pacífica entre os moçambicanos, rumo ao desenvolvimento e solidificação da unidade nacional”.
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