Dhlakama quer comissão da verdade para investigar morte de civis em Moçambique
Em entrevista por telefone à Lusa, Afonso Dhlakama anunciou o desejo de criar "uma comissão da verdade, à semelhança do que fizeram na África do Sul, com [Nelson] Mandela, depois do fim do 'apartheid'".
"Podemos criar uma comissão da Renamo, da Frelimo, do MDM [os três partidos representados no parlamento], mesmo alguns oficiais, para investigar nas zonas afetadas por esses confrontos militares", afirmou Dhlakama, que declina responsabilidades nas baixas de civis.
"Por amor de Deus! O que eu vi com os meus olhos foi uma campanha por parte das forças armadas de andar a queimar residências da população. Aqui na mesma Gorongosa, posto administrativo de Caia, nas zonas de Tasaronda, Vanduzi, Satungira, Casa Banana, Piro, mesmo nos distritos de Maringuè queimaram muitas casas", descreveu.
Segundo Dhlakama, que admite baixas de civis "por engano" no fogo cruzado nos confrontos com as escoltas militares das colunas de viaturas, no troço da única estrada que liga o sul ao centro do país, a Liga dos Direitos Humanos de Moçambique "sabe qual o lado que maltratou as populações".
"A Renamo nem o podia fazer por uma questão de coerência", observou. "Se estou no mato, a sofrer, com frio e a escapar de tiros, à procura da melhor vida da população e da democracia que é negada pela Frelimo [partido no poder], seria descabido, não significaria nada: estamos a lutar para quê?"
O líder da oposição afirmou que nunca se encontrou em parte incerta, comunicou sempre com a estrutura do partido, nunca lhe faltou nada nos últimos meses, e que se mantém na zona de Satungira, Gorongosa, na província de Sofala, a cerca de cinco quilómetros do local que abandonou, a 21 de Outubro de 2013, depois de um ataque do exército.
"Era o dia destinado para me matarem, só Deus é que não quis", recordou. "Parecia gingar, os obuses a cair à frente, atrás, mas ia a falar, a comunicar com a minha família, com meus filhos que estão na cidade, para que não chorassem porque se tratava de uma brincadeira", lembrou. "Nem sei como escapei".
Dhlakama disse que "nunca pensou que [Presidente, Armando] Guebuza em pleno dia poderia mandar pessoas com morteiros, bazucas, antiaéreas a disparar mesmo para matar", quando ao mesmo tempo enviava emissários com mensagens para ele e os militares das duas partes bebiam cerveja juntos e a água do mesmo poço na Gorongosa. "Foi então que comecei a pensar que os homens políticos podem fazer discursos bonitos mas por dentro são maus". Depois desse dia, passou a acreditar que devia sofrer por "uma luta para salvar milhões de moçambicanos".
"Reagi com muita força, enquanto as 'fademo' [Forças Armadas de Moçambique] começaram a regredir muito, a morrer como ratos", relatou. "Quantos milhares! O próprio ministro da Defesa, Graça Chongo [chefe das Forças Armadas] e todos os outros perderam milhares de tropas aqui", afirmou
"Mas não estou orgulhoso por isso, falo até com meu corpo arrepiado, porque são filhos de pessoas que morreram, morreram uns milhares aqui em Satungira. Eram por dia carregados 20, 30, 40 mortos, escondidos e lançados nas valas comuns", descreveu o líder da Renamo, referindo que, do seu lado, houve apenas 25 baixas, incluindo um oficial superior.
Segundo Dhlakama, o exército podia desconhecer qual a casa em que se encontrava mas sempre soube que estava em Satungira e semanalmente bombardeava a região com armas pesadas de longo alcance. "Felizmente, nem a população feriram, porque esses obuses caiam na serra, e eu reparava 'esses miúdos estão a perder tempo'", lembrou o líder da oposição, afastando informações da "propaganda da Frelimo" de que estava doente.
"Estou bem e pronto para iniciar a campanha eleitoral nos próximos dias", afirmou.
Lusa – 27.08.2014
O líder da oposição afirmou que nunca se encontrou em parte incerta, comunicou sempre com a estrutura do partido, nunca lhe faltou nada nos últimos meses, e que se mantém na zona de Satungira, Gorongosa, na província de Sofala, a cerca de cinco quilómetros do local que abandonou, a 21 de Outubro de 2013, depois de um ataque do exército.
"Era o dia destinado para me matarem, só Deus é que não quis", recordou. "Parecia gingar, os obuses a cair à frente, atrás, mas ia a falar, a comunicar com a minha família, com meus filhos que estão na cidade, para que não chorassem porque se tratava de uma brincadeira", lembrou. "Nem sei como escapei".
Dhlakama disse que "nunca pensou que [Presidente, Armando] Guebuza em pleno dia poderia mandar pessoas com morteiros, bazucas, antiaéreas a disparar mesmo para matar", quando ao mesmo tempo enviava emissários com mensagens para ele e os militares das duas partes bebiam cerveja juntos e a água do mesmo poço na Gorongosa. "Foi então que comecei a pensar que os homens políticos podem fazer discursos bonitos mas por dentro são maus". Depois desse dia, passou a acreditar que devia sofrer por "uma luta para salvar milhões de moçambicanos".
"Reagi com muita força, enquanto as 'fademo' [Forças Armadas de Moçambique] começaram a regredir muito, a morrer como ratos", relatou. "Quantos milhares! O próprio ministro da Defesa, Graça Chongo [chefe das Forças Armadas] e todos os outros perderam milhares de tropas aqui", afirmou
"Mas não estou orgulhoso por isso, falo até com meu corpo arrepiado, porque são filhos de pessoas que morreram, morreram uns milhares aqui em Satungira. Eram por dia carregados 20, 30, 40 mortos, escondidos e lançados nas valas comuns", descreveu o líder da Renamo, referindo que, do seu lado, houve apenas 25 baixas, incluindo um oficial superior.
Segundo Dhlakama, o exército podia desconhecer qual a casa em que se encontrava mas sempre soube que estava em Satungira e semanalmente bombardeava a região com armas pesadas de longo alcance. "Felizmente, nem a população feriram, porque esses obuses caiam na serra, e eu reparava 'esses miúdos estão a perder tempo'", lembrou o líder da oposição, afastando informações da "propaganda da Frelimo" de que estava doente.
"Estou bem e pronto para iniciar a campanha eleitoral nos próximos dias", afirmou.
Lusa – 27.08.2014
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