Soldados sírios lutam pelo controlo de Aleppo.
SANA/EPAImagens amadoras publicadas na internet mostram um grupo de soldados sírios aparentemente capturados por rebeldes e estendidos no chão, a gritarem enquanto são crivados de balas. O vídeo tem a data de quinta-feira 01 de novembro e embaraça a oposição síria na véspera de uma reunião no Qatar para tentar unificar a liderança rebelde. A ONU e grupos defensores dos direitos humanos afirmam que o sucedido pode ser considerado um "crime de guerra".
O Observatótio sírio para os Direitos Humanos calcula que quinta-feira terão sido mortos pelo menos 83 soldados sírios, metade dos quais na província nortenha de Idlib, onde fica Saraqeb. A execução dos soldados mostrada no vídeo terá tido lugar quinta-feira durante uma ofensiva contra vários postos de controlo governamentais.
O vídeo intitula-se "Prisioneiros e mortos do regime militar no posto de controle de Hmeisho". Quinta-feira, o Observatório sírio para os Direitos Humanos reportou a morte de 12 soldados em Hmeisho, nos arredores de Saraqeb. Os rebeldes controlam agora totalmente a cidade após a retirada do exército sírio.
No vídeo, vários homens, aparentemente rebeldes, cercam, num edifício em construção, mais de uma dezena de prisioneiros, alguns com uniformes de soldados, deitados de barriga para baixo e talvez feridos. "Estes são cães de Assad" diz um dos homens armados em relação aos capturados, os quais são então pontapeados e espancados e parecem aterrorizados quando um dos rebeldes grita "malditos!".
Segundos depois, entre gritos dos prisioneiros, inicia-se um tiroteio, durante 35 segundos. Sob a chuva de balas os corpos dos detidos agitam-se, entre uma nuvem de pó levantada pelos tiros que atingem também o chão.
Oposição condena execuções
A autenticidade do vídeo está a ser confirmada mas a filmagem é consistente com relatos dos combates da Associated Press na área. Asuma Monajed, responsável por um grupo da oposição síria baseado em Londres, já apelou a uma investigação ao sucedido, exigindo que os responsáveis pelas mortes sejam encontrados e julgados.
As suspeitas recaem sobre brigadas autónomas conhecidas por operar na região, em particular um grupo islâmico, de ideologia salafista semelhante à al Qaida, o Jabhat al-Nusra.
Monajed alega que o governo sírio criou no passado unidades rebeldes "falsas" para cometer atrocidades e manchar a reputação dos rebeldes. "Não dizemos que este foi o caso. Temos de identificar a unidade", afirma Monajed acrescentando que os rebeldes raramente cometem atrocidades, quando comparados com o governo de Assad.
Perseguição religiosa
Em agosto, um outro vídeo mostrou diversos prisioneiros ensanguentados a serem colocados diante de uma parede e fuzilados por rebeldes perante uma multidão, em Aleppo. Ativistas sírios identificaram os executados como membros do clã Barri, com fortes ligações ao governo sírio. O vídeo foi severamente criticado e levou a Administração Obama a condenar as táticas rebeldes. A desunião e desorganização das várias forças rebeldes a operar na Síria tem sido um dos obstáculos ao apoio ocidental expresso à oposição ao governo de Assad. No próximo fim de semana, numa reunião no Qatar, os Estados Unidos tentarão unir as várias fações da oposição síria sob uma única liderança.
Em 19 meses de conflito surgiram diversos vídeos de execuções sumárias e de outros assassínios brutais por parte de opositores armados. Um grupo de observação xiita denunciou a decapitação de vários iraquianos xiitas a viver na Síria.
A organização de direito pontifício Ajuda à Igreja que Sofre tem vindo igualmente a denunciar o rapto e assassínio de sacerdotes e de fiéis cristãos greco-ortodoxos em Damasco, assim como a destruição da catedral de Homs, bombardeada em outubro.
Atrocidades de Damasco
Também o governo sírio tem sido acusado de diversas atrocidades e crimes de guerra, em particular em bombardeamentos e ações das milícias sahabia, pró-governamentais.
Esta sexta-feira, ativistas sírios denunciaram o bombardeamento por aviões governamentais da cidade de Harem, na província norte de Idlib, no qual terão morrido pelo menos 70 pessoas.
A força aérea síria intensificou ainda os bombardeamentos do subúrbio de Goutha em Damasco, um bastião rebelde que as forças regulares não têm conseguido retomar.
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