terça-feira, 7 de maio de 2013

François Hollande e o ano de solidão de Angela Merkel: Voz da Rússia

7.05.2013, 19:37, hora de Moscou
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François Hollande
RIA Novosti

Bastou um ano para o presidente da França perder a popularidade. A Quinta República transformou-se numa província política e a Alemanha está sozinha com a crise europeia.

Um ano depois de François Hollande tomar posse no cargo de presidente, lembramos como, a caminho de Berlim e devido ao mau tempo, o avião do presidente da França foi atingido por um raio e teve de regressar, pondo em causa o seu primeiro encontro com a chanceler da RFA, Angela Merkel.
Analistas e jornalistas, a sério e brincando, tentaram adivinhar o que poderia significar esse sinal. Mas ninguém supôs que um fenômeno atmosférico comum seria o prenúncio de um sério esfriamento das relações entre Paris e Berlim.
Hoje os socialistas franceses, que chegaram ao poder encabeçados por Hollande, criticam a Alemanha e Ângela Merkel pessoalmente pela orientação errada no combate à crise. A terceira figura na hierarquia estatal da Quinta República, o presidente da Assembleia Nacional, Claude Bartolone até mesmo exortou abertamente ao confronto com a Alemanha para o bem dos interesses da França. Em Berlim, semelhantes démarches não são encaradas senão como manifestação de “cegueira suicida gaulesa”.
Tudo isto ocorre apenas alguns meses depois que, em janeiro deste ano, ambos os países terem assinalado pomposa e solenemente o cinquentenário do Tratado de Eliseu, assinado ainda pelo chanceler Adenauer e o general de Gaulle em 1963. Foi justamente este documento que abriu nas relações entre a França e a Alemanha a era da parceria privilegiada.
A atual situação reflete, antes de mais nada, a incapacidade do atual presidente da França de conduzir uma política de Estado de forma tão dura como o fazia seu predecessor Nicolas Sarkozy – considera o dirigente de pesquisas alemãs do Instituto da Europa da Academia de Ciências da Rússia, Vladislav Belov.
Devemos lembrar que a França, como um dos iniciadores da integração europeia, sempre teve ciúmes de que alguém, além dela, atentasse contra o papel principal de locomotiva ideológica deste processo. Mas François Hollande passa voluntariamente para segundo plano, dando a primazia à Alemanha – assinalou Vladislav Belov em entrevista à Voz da Rússia:
“A França transformou-se em uma incompreensível província política, o que absolutamente não é próprio dela, eu imagino que por causa da falta de preparação de Hollande em defender os interesses, antes declarados, tanto da França, como dos países do sul da Europa, que se baseiam em ideias de estímulo do crescimento econômico. Isto significa o aumento de injeções na economia dos países, inclusive através do Banco Central Europeu, em vez de medidas rígidas de poupança, nas quais insiste Berlim. Quando foi necessário salvar mais uma vez o Chipre, foi Berlim que passou ao primeiro plano com ações decididas, embora discutíveis, mas no entanto foi justamente a Alemanha que conseguiu resolver esta questão. Paris ficou na sombra, o que, em geral, leva alguns a falar de um certo esfriamento”.
O presidente anterior, Nicolas Sarkozy, mantinha relações bastante duras e firmes com Berlim, mas esta firmeza era baseada em opiniões construtivas – lembra Vladislav Belov. Nas decisões finais, as posições da Alemanha, França e seus parceiros do sul da Europa, eram conciliadas.
Mas hoje a Alemanha não tem em quem se apoiar no âmbito da solução da crise na zona do euro, ela não pode sozinha ser a locomotiva de saída da crise e não está em condições de arrastar o complexo conjunto de pacotes anticrise. Segundo Vladislav Belov, agora se trata não tanto de esfriamento nas relações entre Berlim e Paris, quanto da incapacidade de Hollande e sua equipe de apoiar a Alemanha na realização de mecanismos anticrise, orientados a favor da Europa.
A base das divergências franco-alemãs são os fatores econômicos, mas estas contradições não atingem a realidade internacional, considera, por sua vez, o dirigente do centro de pesquisas francesas do Instituto da Europa da Academia de Ciência da Rússia, Yuri Rubinsky:
“A Alemanha e a França são, mesmo assim, os principais participantes da UE e a salvação da União Europeia, a maior conquista da Europa Ocidental no período pós-guerra, é de sua responsabilidade, antes de mais nada, e de seu interesse. Por isso, eu penso que este conflito não é o primeiro, não será o último mas os dois países não escapam um do outro. Por isso, a reconciliação histórica da Alemanha e França, ocorrida há cinquenta anos, será mantida, a interação também, apesar de os seus interesses hoje coincidirem em diapasão muito mais estreito”.
Na própria França, os ex-aliados do presidente François Hollande consideram a política interna, externa e econômica de Hollande fraca e ineficaz. Por exemplo, o líder do Partido de Esquerda, Jean-Luc Melenchon, falou sobre isto no último domingo numa manifestação. Os adversários do presidente da ala de direita, do partido “União e Apoio do Movimento Popular” definem os resultados do primeiro ano de presidência de François Hollande com uma única palavra “malogro”. A julgar pelos resultados das pesquisas realizadas pela agência CSA, se as eleições presidenciais fossem realizadas agora, entre os candidatos de todas as forças políticas, François Hollande teria o menor número de votos dos eleitores – apenas 19%. E venceria Nicolas Sarkozy ou Marine Le Pen, da extrema-direita.

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