Dércio pode ser mais uma vitima do mau jornalismo
Por: Virgílio Conjo
Desde a tarde da ultima quarta-feira que o conteúdo dos debates nas redes sociais e nas conversas de café ganhou um denominador comum, Dércio.
Tornado público pelo programa televisivo Balanco Geral, Dércio é um jovem de 21 anos de idade, que, fraudulentamente, contraiu matrimonio com uma jovem de 28 anos de idade, com todas as despesas pagas pela família da noiva. Diz-se que, para lograr os seus intentos, Dércio fez-se passar por um engenheiro de construção civil, bastante influente nos meandros da elite nacional, com contas chorudas no exterior.
Todavia, segundo conta-se, Dércio alegou que estava impossibilitado de aceder a sua riqueza devido a excessiva burocracia dos bancos nacionais, mas queria a todo custo casar-se. Assim, a família da noiva deu um voto de confiança ao tão apaixonado genro e apoiou-o com mais de meio milhão de meticais para a realização do lobolo e do “casamento civil”. A festa foi linda e de arromba.
A historia narrada pelo Balanco Geral emocionou muita gente. Os homens mais jovens vangloriam a atitude do Dércio, pois consideram que este deu uma lição de moral aos pais que escolhem/ aceitam genros em função do status quo que os tais ostentam. Enquanto isso, outros debatem o facto de um “puto” ter montado um esquema capaz de colocar de quatro toda uma família. E como esta familia pode ter sido tão ingénua.
Pessoalmente, não gostaria de discutir os méritos e os deméritos das estratégias usadas pelo jovem para “ludibriar” a família da noiva. A razão do meu posicionamento é simples: não sei até que ponto a historia narrada pelo Balanco Geral corresponde a verdade factual ou verdade circunstancial, tendo em conta os objectivos comunicacionais do narrador.
Depois de ver os programas que se debruçam sobre o caso, percebi que há ali “muita poeira”, há um claro exercício de assassinato da reputação do jovem Dércio. Em bom rigor, um mau serviço a imprensa.
O Balanco Geral, quanto a mim, nunca foi referência de um serviço jornalístico e de informação que se preze. Daquele Balanço Geral pesa mais o culto a ignorância que outra qualquer coisa. Um jornalismo em que, o “suposto” jornalista torna-se no principal personagem dos factos. Ele- o jornalista- entrevista, julga e sentencia. Tudo feito de forma tão desregrada, ferindo sucessivamente a lei de imprensa, a ética e deontologia profissional. E mais, o jornalista atropela os mais fundamentais direitos humanos. Ele ignora a presunção de inocência.
EU ainda acho que Dércio pode ter sido vitima de um mau jornalismo. Não quero aqui sair em defesa do jovem, mas tudo que sabemos sobre o Dércio foi dito e julgado pelo apresentador do Balanco Geral, Jorge Matavel, sem apresentar evidencias das suas acusações. Aliás, tudo que ele mostra são imagens de um casal, uma família e amigos muito felizes com a festa – aquilo que acontece em qualquer festa. Até ali, não há novidade naquelas imagens. Não há absolutamente nada que ligue as imagens ao conteúdo da acusação de burla.
O Balanco Geral não cruza fontes de informação que explicam e/ou testemunham como Dércio burlou toda família da noiva.
Podem dizer que foi uma denuncia, é isso? Ainda que tenha sido, depois de receber as denuncias os órgãos de comunicação social deve indagar os envolvidos e dar o direito a resposta aos acusados e suspeitos. O Balanco Geral não fez nada disso. Não entrevistou a família da noiva. Não falou com a própria noiva. Não falou com a suposta equipa de madodas que foi alugada. Não falou com a verdadeira família do noivo. O Balanco Geral não procurou falar com Dércio e ouvir a sua versão dos factos. O Balanco Geral limita-se a dizer que houve falsificação de idade, mas não provou porque acha que Dercio tem 21 anos e não 28. Não procurou evidencias para provar que ele não é engenheiro…FEZ NADA DISSO.
O Balanço Geral, simplesmente, recebeu as imagens e mandou o seu papagaio dizer tudo que ouviu dizer. Não sabe que “Ouvir dizer não se escreve”. O jornalista deve se lembrar que o seu canal não é para um clube de amigos, onde pode fazer fofoca. O jornalista deve investigar para que as suas matérias sejam realmente de interesse público. Até aqui tudo que se sabe sobre a historia do Dércio foi dito pelo próprio Matavel sem suporte de nenhuma fonte, nem em regime de anonimato.
O Balanço Geral pode estar a matar a imagem de um inocente. O Dércio pode ser mais uma vitima do mau jornalismo.
Verdade seja dita, mais do que uma profissão e um trampolim para
fama-barata, o jornalismo é uma arte que precisa de ser preservada, através da pesquisa, rigor, isenção, imparcialidade e profissionalismo.
fama-barata, o jornalismo é uma arte que precisa de ser preservada, através da pesquisa, rigor, isenção, imparcialidade e profissionalismo.
Não matem a nossa arte!
Att. Jorge Matavel
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