quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Frelimo e Amisse Cololo. O tiro saíu pela culatra.

O odor da “camisola suja” e a nova roupagem do voto regional
Em Nampula, quando Paulo Vahanle tomou posse depois de vencer as intercalares de Março deste ano, ele foi sabotado. Em poucos dias ficou sem meios para recolha de lixo. Os camiões foram propositadamente avariados. A sociedade local não fez barulho. Juntou forças e ofereceu ajuda a Vahanle. O efeito da sabotagem tinha sido contornado. Mas o autor da “obra” foi bem identificado. Eram apaniguados da Frelimo. A intenção era mostrar que Vanhale era incapaz, o que podia favorecer o candidato da Frelimo, Amisse Cololo, ontem. O tiro saíu pela culatra. Empresários de Nampula forneceram os meios para que Vahanle garantisse pelo menos serviços mínimos. Isso aconteceu também com o respaldo do voluntarismo dos citadinos locais, que por vezes arregaçavam as mangas para varrer as ruelas das profundas muhalas da cidade. Era claro que o autor da obra tinha de ser bem penalizado. Ontem, Amisse Cololo, considerado localmente como um marioneta do poder central, foi copiosamente derrotado. Foi a Frelimo quem perdeu, mais do que a Renamo quem ganhou.
Muitos nampulenses dizem que jamais a Frelimo voltará a controlar Nampula. Porque é uma “camisola suja”. O odor dessa camisola tem várias cores. A cor imediata tem traços de uma identidade regional que se quer impor perante os ditames das elites centrais de Maputo. Os nampulenses se dizem cansados da Frelimo. Qualquer um que vista aquela camisola vai perder. Essa conotação se estende para Quelimane. Manuel de Aráujo é apenas a expressão de um desejo popular de manter a Frelimo fora do poder. Vários anos de marginalização e pobreza entram na equação dos eleitores. Em Nampula e Quelimane muitos não votam impulsionados pelo referente imediato da gestão autárquica. Votam para reclamar oportunidades de emprego. Há um batalhão de jovens marginalizados e sem esperança. Boa parte deles acabam rumando para Maputo e Matola, onde disputam entre si os lugares do comércio informal.
Centenas de jovens chegam todos os dias do centro e norte. Trazem consigo no coração a herança do chamado voto étnico e uma nova roupagem do voto regional. O cada vez melhor desempenho da Renamo em Maputo e Matola decorre, também, da existência de maiores franjas de cidadãos oriundos das províncias do centro e do norte originalmente identificadas com o maior partido da oposição. Há uma nova sociologia de voto regional em Moçambique com manifestações desse voto em eleições locais. É um fenómeno que dá uma boa hipótese de estudo mas que pode ser entendido também como um cartão vermelho ao desempenho do Governo central.
Na Matola, António Muchanga é um mero populista que soube capitalizar melhor os anseios dessa franja do eleitorado. Nos próximos anos, se o actual fluxo de migração norte/sul se mantiver, o drama da Frelimo será maior. O partido deve abandonar discursos falaciosos e mostrar serviço com urgência se quiser manter-se no poder em 2019. Coisas terríveis como a saga dos reassentados de Cassoca (em Tete, onde a Jindal tem uma mina de carvão) não podem voltar a acontecer. A gestão da indústria extractiva tem de promover o emprego para os jovens. Com o actual crescimento demográfico, a exigência é ainda maior. O foco no desenvolvimento económico dos distritos deve ser repensado. Armando Guebuza tinha uma visão clara sobre isso mas as acções foram feitas apenas para reforçar a influência local do partido e suas elites, marginalizando os que estavam fora desse perímetro. Em Nampula, agora que a Exxon Mobil vai arrancar suas operações de pesquisa é preciso garantir que parte da riqueza gerada fique nas mãos locais, sob pena de um desastre em 2019. Em Palma também. Opções desatrosas como a de se entregar à ENI italiana um bloco para liquefação flutuante no Rovuma sem impacto concreto na economia local devem ser evitadas.
Os eleitores penalizaram, pois, o Governo central. A crise económica gerada pela dívida oculta (e sua impunidade) teve boa quota parte nesta penalização. A Frelimo deve perceber que o legado da luta de libertação não conta na equação das novas gerações. Em Gaza, a oposição cresceu de forma notória. E cada vez mais a ideia de bastião da Frelimo está se diluindo. E em Maputo, a opção por um candidato na idade da reforma, o Dr Eneas Comiche, em detrimento de figuras mais jovens, como Samora Machel, foi claramente errada. Muitos jovens disseram que não votaram numa pessoa que devia estar a descansar. A juventude quer sangue novo. O desempenho de Augusta Maíta na Beira mostra isso. Aguerrida, enérgica, bem instruída, Augusta fez cair o mito de que a Beira é o tal bastião da oposição. A exclusão de Venâncio Mondlane por uma CNE e um Conselho Constitucional em frete partidário também mobilizou algum eleitorado contra a Frelimo. Em Tete, o desempenho da Renamo indica que a aposta em candidatos corruptos, como César de Carvalho, é chumbada até pelas cliques locais do partido. Estas eleições foram uma antecâmara para as legislativas de 2019. Filipe Nyusi (e a Frelimo) tem uma grande batata quente nas mãos. Sua camisola está ficando cada vez mais suja. Mas a Renamo também. Tem de se organizar melhor e não confiar apenas nesta onda favorável. Nem toda a “breaking wave” é seguida de uma outra.
Foto: Sérgio Manjate
Comentários
Pedro Matule A camisola não esta só suja mas também a apertar.
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Remane Abudo A ver vamos
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Kamal Badrú Uma leitura clara
Lamento que o meu partido frelimo se tornou um partido de formação de gente de elite. Se nota que se dá mais valores aos membros com maior poder económico e se esquecem do real povo que irá votar
Urgente uma reflexão interna
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Anibal Neves A Frelimo tem a faca e o queijo na mao por isso apenas pode queixar-se de si própria pelos resultados que está a colher. Haamm, admito que esses resultados até poderiam ser piores se nao fossem os comportamentos ou espirito de "Marandzas" que se apoderou de muitos mocambicanos! A Frelimo precisa se readaptar aos tempos actuais e procurar ser menos arrogante, humilde e cumpridora da lei.
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Manjate Custodio Uma reflexão a ter em conta pois foram estas eleições antecâmara para 2019.
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Natingue Musico O povo pensa pelo estômago à mesmo que se estudar meios e apostar em reformas e programas suscetíveis de trazer rendimentos palpáveis para os cidadãos.Há muito que se fez mas ainda insuficiente para o que o povo almeja e intenda que é viver com dignidade,principalmente hoje jovens muito bem instruídos e também instrumentalizados,sobre como se manifestar,pesa nas urnas ....As dívidas mal explicadas ,os mega projetos também que pecam nos reassentamentos.e acima de tudo a falta de prestação de contas generalizada em todos os setores do estado...Eu penso que essas preferências pela oposição é mais por Desmérito da Frelimo do que por mérito delas.pois peçam também em falta de clareza nos seus manifesto.em fim Vamos todos lutar pelo pais
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Mustafa Helder Helder A coisa tá feia... ainda vai ficar muito suja!
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Jaime Cumbana Marcelo Mosse julgo que me Mocambique se vota por clubismo. Sou da Frelimo voto name Frelimo. Nao eh da Frelimo vota no partido da oposicao que resalva os interesses dos "excluidos".
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Mario Nhantumbo Jaime Cumbana Não é assim tão linear meu caro. Há muitos votos para oposição vindos da posição, atente ao facto de um determinado partido não conseguir angariar se quer o número total de membros (em votos) numa autarquia - isso sim devia lhe chamar ateVer mais
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José de Matos 5 estrelas!
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Mouzinho Zacarias Egídio Vaz e lenon Arnaldo venham aprender de Marcelo Mosse
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Enock Adriano Egidio Vaz é assessor da imprensa na presidência já não pensa asim
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Responder32 minEditado
Enock Adriano Foi moldado, alcoolizado, e batizado
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Delirio Nhantumbo Tirei chapéu escreveu.....
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Ndibe Novais Bem falado
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RicoBoss Nhantumbo Palavras para que grande abordagem ilustre Marcelo Mossw
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Adelino Benjamim Matecana Uma leitura pacifica e clara; realmente esta situação deve servir para uma introspeção, uma observação interna e procurar perceber o que esta falhar e mudar... É preciso realmente sairmos de discurso falsos, o povo já despertou, vamos trabalhar para fazer crescer o País...
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El Patriota Duvido. Já é tarde, os vícios já estão nos ossos...
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El Patriota Excelente!
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Angelo Malate Tomei nota
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Responder57 min
Gildo Xavier É isso aí Mosse...o partidao devia abandonar discursos falaciosos
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Responder56 min
Guilherme Paulo GZ O tiro saiu mesmo pela culatra, espero que o caso Nampula sirva de lição para os demais Municípios
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El Patriota Gosto desta frase. Resume tudo: "Vários anos de marginalização e pobreza entram na equação dos eleitores"
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Mario Pelembe Sempre a favor de bandidos armados
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Eusebio Jose Boa observação Mosse,os ventos do norte galgam ao sul, os discursos da libertação,guerra civil estão ultrapassados,novas abordagens para a geração 2000 precisa _se para os que dirigem a nação.
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Kendo Mangulle Há muito trabalho a ser feito.
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Carlos Sérgio O que diz EV???????????????
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Miro Guarda Dizem que o perigo do sismo são os contra-choques
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Solomone Manyike Um ponto de vista interessante
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Responder38 min
Francey Zeúte Brilhante Marcelo Mosse. Está aqui feita a radiografia das eleições autárquicas. Quem de direito, sem reservas e nem ódios deve olhar para esta nota esclarecedora e meter a mão na massa. Parabéns Mosse!
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Andrade Muhale Factos de descrevem o que esta acontecendo em Moçambique. A revolução bate a porta
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Abel Philip Obra de Afonso Dhlakama está surtir efeito..
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Responder27 min
Julião João Cumbane Concordo PARCIALMENTE contigo, "morimão" Marcelo Mosse! A juventude reclama espaço e tem todo o direito. Mas eu não vejo preparação dessa juventude para assegurar a preservação das conquistas que Moçambique alcançou nos últimos 43 anos. Vejo é uma juventude alienada que nem aquela que foi usada pelas potências ocidentais para derrubar Muammar Qadafi na Líbia e Sadam Hussein no Iraque. Moçambique nas mãos dessa juventude alienada corre grande risco de perder tudo o que já consquistou política e economicamente. Julgo ser isto que a FRELIMO DEVE perceber e se preparar melhor, para evitar o descalabro.
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Responder10 minEditado
Abel Philip Gilberto Mendes e Samora Machel Jr esses nao estao preparado?
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Responder16 min
Abel Philip Se temos exemplo de Manuel de Arauje, Devis Simango e mesmo venancio Mondlane, com muita força para merecer guiar distino desse país..
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Responder15 min
Abel Philip Veja a diferença entre Arao Nhancale e Calisto Cossa!!!
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Amed Jackson Falou certo sr. Marcelo Mosse.
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Responder17 min
Helder Condjo Celso Guirrugo venha ca ler o melhor do Marcelo Mosse.

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