segunda-feira, 23 de julho de 2018

A PONTE MAPUTO-KATEMBE E OS CRÍTICOS DE GUEBUZA


Ponte-Maputo-Katembe
Por Viriato Caetano Dias (viriatocaetanodias@gmail.com)

Governo para ser bom precisa haver passado. José Pedro Machado – O Grande Livro dos Provérbios. 4ª edição, Alfragide, 2011, p. 259.
Um amigo contou-me que, aquando da construção da Ponte Vasco da Gama, insurgiram-se vozes críticas que se opunham àquele empreendimento. Uns achavam que o valor era exorbitante cotejando com os elevados índices da pobreza que grassavam em Portugal, mas a maioria entendia que a construção da ponte era necessário para dinamizar o desenvolvimento económico. Perante a celeuma, o ministro das Obras Públicas de então, disse o seguinte: “os vindouros hão-de olhar para esta ponte como uma coisa que sempre existiu ou que sempre esteve aí”. No fundo, o que aquele dirigente pretendia dizer é que a maioria das pessoas não se importaria em saber os custos e o quão difícil foi a construção daquela que é considerada uma das mais imponentes pontes do mundo. A obra, depois de feita, fica. Esta é a grande mensagem para os críticos. 
Este intróito tem uma razão de ser. Quando se anunciou a construção da Ponte Maputo-Katembe, um pequeno grupo de privilegiados, predominantemente académicos, questionou a importância daquela gigantesca obra de engenharia. Impuseram-se contra os valores e a importância da obra, criaram alaridos e fizeram comparações exíguas e ficcionais, visando agitar e confundir os moçambicanos. Felizmente, tenho de reconhecer – o que aliás faço com grande prazer – que o presidente Guebuza fez a diferença. Poeta e dirigente visionário que os tempos actuais exigem, Guebuza compreendeu que a construção daquela ponte vai permitir (i) acelerar o crescimento económico do país, (ii) acabar com a desertificação e o “ensardinhamento” de pessoas na cidade de Maputo que já mostra sinais de ter rebentado pelas costuras, (iii) abrir novos bairros habitacionais acompanhado de novas infra-estruturas, (iv) encurtar distância entre as suas margens, resolvendo deste modo o velho problema de transporte, (v) aumentar o fluxo de turistas para a Reserva Especial de Maputo e Ponta do Ouro, (vi) facilitar a mobilidade de pessoas, aquisição de bens e serviços, descongestionamento do tráfego na fronteira de Ressano Garcia, etc.
Ser dirigente é saber assumir riscos, cujas decisões devem reflectir a favor da maioria e não em benefícios dos apetites de meia dúzia de gatos-pingados. Provavelmente o dinheiro gasto na construção da ponte daria para construir 1000 salas de aulas no distrito de Matutuíne, mas a sua ausência afectou dolorosamente durante muitos anos a vida de milhões de alunos. Lembro-me de alunos perderem aulas porque o mau tempo condicionou a circulação do ferryboat. Quantas embarcações, transportando passageiros e cargas, não terão naufragado durante a travessia? Estes e outros pesadelos estão prestes a chegar ao fim, no dia em que se inaugurar a ponte. Portanto, os ganhos serão maiores que os gastos, salvo os casos em que se registaram a perda de vidas humanas. Essas adversidades serviram-nos de lição e influenciaram os decisores. A felicidade, parafraseando o meu amigo Nkulo, é uma arquitectura que recomenda dedicação, paciência e sacrifícios abnegados.
Ao tomar a decisão da construção da Ponte Maputo-Katembe, Guebuza sabia que iria receber uma chuva de críticas. O país não tinha dinheiro (ainda somos dependentes económicos) e, como não se fazem omeletes sem ovos, o governo do dia teve de endividar o país para erguer aquele gigantesco empreendimento. Disse-me uma vez um amigo psicólogo que no dia em assumirmos as dificuldades como barreira total, a vida termina aí mesmo. Guebuza ensinou-nos que não temos o direito de nos limitar à crítica, temos, pois, o dever de contribuir para o progresso económico e o bem-estar social do país. É um dever de memória e um dever de reconhecimento render a minha homenagem ao presidente Armando Emílio Guebuza. Moçambique deve a Guebuza a construção da Ponte Maputo-Katembe e seria justo que se atribuísse o seu nome. Sei que surgirão vozes discordantes que se reservarão no direito de se opor, a esses recomendo: não utilizem em circunstância alguma a ponte Maputo-Katembe.
Uma vez que comecei por falar da Ponte Vasco da Gama, termino com uma longa frase do saudoso amigo e Professor José Hermano Saraiva: Todos os abismos do mundo podem ser vencidos pelas pontes do talento humano. O que é preciso, é saber a forma com que se há-de fazer a ponte para transpor o abismo. Sempre que se faz uma ponte nova o mundo fica mais perto. É preciso fazer pontes no mundo. É preciso transpor todos os abismos. É preciso preencher e encurtar os caminhos. Eu sou pelas pontes. Ponte quer dizer progresso, passo em frente. É claro, não podemos fazer as pontes de maneira que depois tenhamos que vir a dormir debaixo delas. Este é outro problema, o problema de organizar o mundo, o mundo com pontes sobre todos os abismos que ainda existem, mas o mundo que nem por isso fique menos luminoso ou menos humano. Eu penso que se algum dia fosse possível construir uma ponte entre o céu e o inferno (e era bem bom que isso acontecesse), o céu deixava de ser céu e o inferno deixava de ser inferno. Penso que todas estas mudanças precisam de ser previstas, planeadas, acauteladas.
Zicomo e um abraço nhúngue ao Pedro (Pepe).
WAMPHULA FAX – 23.07.2018

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