O Presidente do Município
de Quelimane, Manuel
de Araújo, concedeu uma
entrevista ao SAVANA,
em que defende que o MDM (Movimento
Democrático de Moçambique)
precisa de se democratizar, porque
corre o risco de frustrar os seus
membros e o eleitorado que depositou
esperança na organização, como
possível alternativa à Frelimo.
Diz que a necessidade de aprofundamento
da democracia interna é a
mensagem que levará ao congresso
do partido, a realizar-se em Dezembro
próximo, na cidade de Nampula.
Araújo analisa a crise entre a direc-
ção do MDM e o edil de Nampula,
Mahamudo Amurane, e diz não concordar
com a forma como foi gerido
o conflito.
Lamenta a escassez de espaço de
diálogo dentro da organização e assume
que se vai candidatar às próximas
eleições autárquicas, se essa for
a vontade dos munícipes. O edil de
Quelimane debruça-se igualmente
sobre as dívidas ocultas e acusa o actual
chefe de Estado, Filipe Nyusi e
o seu sucessor Armando Guebuza de
venderem a soberania do país.
Nas linhas abaixo segue a entrevista,
que também analisou a governação
de Manuel de Araújo no município
de Quelimane.
O município de Quelimane celebrou,
recentemente, a passagem dos
75 anos após a elevação à categoria de
cidade. Contudo, nota-se que o crescimento
é mais nos assentamentos
informais do que uma urbanização.
O que está a falhar?
Este fenómeno não se regista apenas
em Quelimane. É uma realidade
de todo o país, incluindo a cidade de
Maputo. Em Moçambique, as cidades
registam a ruralização da urbanidade e
não a urbanização das ruralidades. Isso
é fruto da falta de planos ao nível de
planeamento urbano resultantes das
fraquezas da política nacional da gestão
das cidades.
Os planos e políticas de urbanização
nacional efectiva, desenhadas pelo governo
central, não passam de simples
papéis. O governo não tem meios materiais, humanos e financeiros para a
operacionalização desses planos.
Há várias leis e regulamentos que, em
princípio, deviam regular o processo de
criação, construção e crescimento das
cidades, mas que, infelizmente, não são
postos em prática.
Deixemos Quelimane, que é uma pequena
cidade, e nos focalizemos no
município de Maputo, que é a capital
do país e compara como estava a cidade
em 1970 e como é que está hoje.
Sem esforço nenhum, conclui que
Maputo de hoje é mais rural que de
1970, porque, o que está a acontecer
nas nossas urbes é que hábitos rurais
invadiram as cidades.
O edil está a dizer que as pessoas que
vivem nas cidades não estão a conseguir
adaptar-se aos hábitos urbanos...
É verdade. Há uma diferença muito
grande entre o habitante e o munícipe.
O que acontece nas cidades moçambicanas
é que estão povoadas por habitantes
e não por munícipes.
Explique melhor essa diferença.
Munícipe é uma categoria de habitante
que possui certos atributos. Um munícipe
está consciente dos seus deveres
e direitos, tem princípios e comportamentos
urbanos, está ciente de que
viver na cidade tem custos. O mesmo
já não acontece com o habitante. A urbanidade
tem custos e poucas pessoas
têm capacidade para custear o preço de
viver numa cidade.
A retórica do senhor presidente leva-
-nos a crer que o município de Quelimane
tem mais habitantes que munícipes...
Quelimane não podia ser uma ilha. É
bom saber que aquele grupo de pessoas
que está a ruralizar as cidades moçambicanas
também dominou Quelimane
por mais de 40 anos até à sua liberta-
ção em Dezembro de 2011 [vitória de
Manuel de Araújo nas eleições intercalares].
Nós chegámos há seis anos e esse tempo
é pouco para inverter o cenário, mas
estamos a virar o barco para o rumo
certo.
Portanto, a ruralização que caracteriza
Quelimane não deriva do fraco
desempenho da governação local,
mas do problema geral do país...Claro que sim. Estes problemas come-
çam com a política das nacionalizações
adoptada pela Frelimo pouco depois da
independência.
No período colonial, para viver na cidade,
tinha de preencher certos requisitos.
Com a independência, aboliram-
-se esses impedimentos e não se educou
os cidadãos. A consequência foi
a invasão das cidades por pessoas que
não sabiam como se vive num meio
urbano.
Hábitos rurais foram levados para as
cidades e as infra-estruturas urbanas
não estavam adequadas para tal.
Por exemplo, a cidade de Quelimane
foi concebida para 50 mil pessoas e
hoje vivem 400 mil pessoas.
A cidade de Maputo foi projectada
para 250 mil habitantes e hoje alberga
mais de dois milhões de pessoas. De lá
a esta parte, nenhuma infra-estrutura
foi construída para responder a essa
demanda.
Agora diga, como é possível gerir uma
cidade nestas condições, que infra-estrutura
pode aguentar uma pressão de
400 mil pessoas, enquanto foi concebida
para 50 mil.
Numa das entrevistas ao SAVANA,
o edil disse que um dos seus sonhos
era transformar Quelimane numa
cidade moderna. Contudo, o cenário
que acima descreveu mostra que esse
desejo está prestes a terminar num
sonho...
O sonho continua e estamos no caminho
certo. Nos últimos seis anos, a
cidade que mais infra-estruturas ergueu
no país foi Quelimane. Depois
de 40 anos de destruição, em seis anos,
conseguimos erguer várias estradas,
mercados, unidades sanitárias e outras
infra-estruturas de interesse social.
Estamos ainda na linha, contudo, há
grandes desafios conjunturais, sobretudo
na vertente política.
Nos últimos cinco anos, Moçambique
teve duas guerras intercaladas, que tiraram
por completo a confiança dos
investidores e Quelimane não podia
ser excepção. Depois tivemos a situa-
ção das dívidas ocultas, que levaram o
país ao precipício.
Estes factores fizeram com que todo o
trabalho que estava a ser feito no sentido
de trazer parceiros que nos possibilitasse
dar um passo mais rápido rumo
ao desenvolvimento, acabaram ficando
prejudicados. Hoje, todo o investidor,
quando olha para Moçambique, só lhe
aparece a imagem de um país inseguro
e gerido por um grupo de mafiosos e
corruptos.
A geografia de Quelimane faz com
que alguns bairros se separem através
de riachos. Porém, com as cheias de
2015, muitas das “pontecas” que estabeleciam
a ligação desabaram e a comunicação
entre os bairros virou um
martírio. Como é que o município
está a atenuar esse sofrimento?. Há
planos de reposição das “pontecas”?
Temos quatro “pontecas” fundamentais
na ligação entre bairros e todos
desabaram nas cheias de 2015. Não temos
uma solução definitiva, porque os
custos de reposição estão muito acima
das nossas capacidades. Contudo, não estamos de braços cruzados, enquanto
o governo central não se pronuncia, estamos
à busca de financiamentos.
Qual é orçamento anual do município e quanto é que seria necessário
para uma gestão ideal?
Temos um orçamento de cerca de 300
milhões de meticais, mas para o nosso
pleno funcionamento, precisaríamos
de cerca de 1.500 milhões de meticais,
cinco vezes mais do que o nosso actual
orçamento.
Quais são as fontes de financiamento
do município?
Cerca de 35% vem de receitas próprias
e o resto vem de fontes externas.
Os 35% significam crescimento ou
queda em relação à gestão anterior?
Estamos a subir. Quando chegamos, as
receitas internas cobriam apenas 20%
do nosso orçamento.
As bicicletas são a espinha dorsal do
sector de transportes em Quelimane
e várias correntes entendem que
se perdeu durante o seu mandato
a oportunidade de disciplinar esta
actividade e torná-la mais eficiente
economicamente. Que resposta dá a
esse entendimento?
Isso não é verdade. Juntamente com os
taxistas, estamos a mudar o cenário, temos
campanhas de educação e sensibilização
sobre normas de trânsito, com
o nosso apoio, os taxistas criaram uma
associação. Neste momento, estamos
no processo de registos e oficialização
das actividades.
Gestão de resíduos sólidos
Quantos “táxis-bicicleta” operam na
cidade de Quelimane?
Os números variam entre 1.000 a
1.500. Agora, o grande problema é
dos compatriotas que vêm de fora da
cidade de Quelimane. Temos taxistas
que vêm dos distritos de Quelimane,
Inhassunge e Nicoadala, mas que exercem
a sua actividade dentro do município.
Esses estão fora do nosso controlo,
mas não podemos impedi-los de
exercer a actividade, porque também
estão à busca de sobrevivência.
Outro problema que aflige a cidade
de Quelimane e que foi motivo de
reparo por parte do chefe de Estado
tem a ver com a gestão de resíduos
sólidos. O município de Quelimane
não consegue recolher lixo?
A nossa capacidade de recolha de lixo
melhorou muito. Nos últimos meses,
investiu-se muito em meios materiais.
O problema está na mentalidade das
pessoas (voltando ao debate de muní-
cipe e habitante). Os munícipes teimam
em não acatar os nossos apelos.
Outra questão tem a ver com um depósito
municipal de resíduos sólidos
que não temos. Ao nível da cidade de
Quelimane, não temos espaço. Pedimos
espaço ao governo provincial para
a construção do nosso aterro sanitário.
O próprio governador, Abdul Razak,
prometeu, mas, até hoje, a promessa
ainda não foi materializada. Tivemos
um financiamento dos países nórdicos
para a construção de uma lixeira municipal
e acabamos perdendo essa oportunidade,
porque o governo provincial
está a recusar ceder o espaço.
Quelimane celebrou 75 anos, dos
quais seis sob administração do
MDM. Quando olha para a cidade o
que lhe magoa?
Fico triste cada vez que olho para a cidade
e lembro que ficou 40 anos abandonada,
viveu 40 anos de destruição
contínua. Fico triste quando me recordo
que a cidade foi saqueada durante
40 anos. Triste quando me lembro
que a única estrada pavimentada em
40 anos é a que dava acesso ao local
do congresso da Frelimo, realizado em
2006. Fico triste quando me recordo
que essa estrada só resistiu apenas dois
Manuel de Araújo ao SAVANA:
MDM precisa de democratizar-se
Por Raul Senda (texto) e fotos de Naita Ussene
anos e nós tivemos de reconstruir.
A imagem que se tem do edil é de
uma pessoa ausente e que está sempre
no avião? Porém, justifica-se dizendo
que está à busca de parceiros.
Em termos concretos, pode nos resumir
os ganhos do município nessas
viagens?
Muita coisa. O problema de vocês, jornalistas,
é que não lêem o meu manifesto.
O meu programa centra-se em
muita coisa, mas o meu foco é tirar
Quelimane do buraco. Veja que o edil
de Quelimane é dos poucos, se não o
único, que movimentou vários embaixadores
para a sua autarquia, homens
de negócios de vários quadrantes do
mundo escalaram Quelimane, firmá-
mos parcerias com várias entidades
internacionais. Hoje, Quelimane está
no mapa do mundo. Isso é resultado
dessas viagens.
Fala-nos em termos materiais
Os ganhos não são imediatos. Antes,
tínhamos de colocar Quelimane nas
montras internacionais. Ninguém conhecia
Quelimane e um dia teremos
ganhos. Roma não foi construído num
dia. Portanto, peço que me exijam as
omeletes no fim do meu mandato.
Agora estou à procura de ovos.
Espero que o Congresso
democratize o MDM
Está disponível para recandidatar-
-se?
Isso não depende de mim. Depende
dos munícipes de Quelimane. Se disserem
avança, irei me recandidatar,
para além de que estou disponível para
mais um mandato porque há necessidade
de terminar o trabalho que comecei.
É que, neste momento, se vier
outra pessoa, há sérios riscos de Quelimane
voltar ao buraco onde esteve
durante 40 anos e isso iria doer-me
bastante.
Porém, se o desejo for contrário, também
vou aceitar, porque não posso recusar
o pedido do meu povo.
Se avançar para a recandidatura será
pelo MDM?
Até ao momento não vejo razões para
não concorrer pelo MDM. Já recebi
convites de outros partidos, mas neste
momento sou do MDM e é pelo
MDM que vou concorrer.
Pode citar nomes desses partidos?
Não interessa mencionar, mas os partidos
que têm domínio do espaço político
nacional são sobejamente conhecidos.
Está a falar da Renamo?
Não falei de partido, mas de partidos e
não vou mencionar nomes.
Como irá reagir, caso o partido opte
por um outro candidato?
Desobedecer a vontade dos munícipes
seria um grande erro do partido,
porque isso seria um sinal de que os
órgãos do partido desprezam as bases,
não escutam a base.
Qualquer órgão que não escuta a vontade
da base é um órgão ilegítimo e
não deve ser obedecido.
Em Dezembro, teremos o II Congresso
do MDM. O que espera que
esta magna reunião traga de mais-
-valia para o partido?
Espero maior democratização interna
do partido. O MDM precisa de
se democratizar mais ao nível interno
e espero que isso se materialize neste
Congresso.
E se o teu desejo falhar?
Se falhar, será uma grande frustração
para mim, para os restantes membros e
para o povo moçambicano, isso porque
o povo depositou muita esperança no
MDM como uma possível alternativa
à eterna colonização da Frelimo.
Se essa democratização interna não
se materializar, aventa a possibilidade
deixar o partido?
Não sou pessoa de abandonar o barco
no meio do caminho. Luto pela defesa
das minhas ideias. Desistir é arma
predilecta dos fracos. Apesar de todas
as fragilidades que ele exibe, o general
Alberto Chipande me ensinou alguma
coisa. Na Frelimo, o general Chipande
engoliu sapos desde 1962 até hoje, resistiu
e acabou vencendo.
Se o general Chipande tivesse desistido
da luta, Filipe Nyusi não seria
Presidente de Moçambique. Portanto,
há que aprender alguma coisa desse
exemplo de resistência e perseverança.
É preciso saber esperar, é preciso saber
lutar, não limitar a sua visão a resultados
imediatos, mas a longo prazo.
Como é que analisa a crise entre a
direcção do MDM e o edil de Nampula?
A minha posição é do domínio da direcção
do partido. Manifestei o meu
ponto de vista através de uma carta
que fiz ao presidente do partido, com
o conhecimento da Comissão Política.
O que diz a carta?
Manifestei a minha indignação com
a forma como o partido geriu a questão
do conflito. Disse ao presidente do
partido e aos membros da Comissão
Política que me distanciava da estraté-
gia do partido em relação à gestão do
conflito de Nampula.
Acho que o partido teria gerido aquele
assunto de outra maneira.
Qual seria a melhor estratégia de
gestão na sua óptica?
Primeiro, é importante que o MDM
tivesse um espaço de interacção dos
quatro edis. Um meio em que os quatro
edis se reunissem regularmente.
Esse espaço não existe dentro partido.
É esse espaço que nos permitiria discutir
muitos assuntos de ordem interna
e evitar que as nossas questões ou
inquietações furassem paredes.
No caso de Nampula, houve erros de
ambas as partes e a consequência foi
aquilo que o povo assistiu. Se tivesse
havido uma boa gestão, sobretudo da
direcção do partido, não teríamos chegado
àqueles níveis.
Numa organização, os conflitos são
coisas normais, fazem parte do crescimento,
agora, a forma como esses
conflitos são geridos é que marca a
diferença.
Explique-se melhor senhor presidente.
Qual é que seria a melhor forma
de gerir esse conflito?
O diálogo. É o diálogo que nos permite
prever, prevenir, gerir e resolver
conflitos. Se numa organização falta
espírito de diálogo, os conflitos serão
regulares e o fim será desastroso para
as partes.
Ao pronunciar-se sobre a crise, o edil
de Nampula relatou uma situação
que também aconteceu com o senhor
num passado não distante. Estou a
falar de uma espécie de linchamento
público por parte da direcção do partido.
Como é que geriu a situação.
Maturidade.
De quem?
Da minha parte.
Quer dizer que o edil de Nampula é
um principiante?
O que eu disse é que se não fosse maduro,
Quelimane estaria na mesma situação
de Nampula.
O edil de Nampula disse ainda que
alguns membros da direcção do
MDM queriam aproveitar-se do município
de Nampula para proveitos
pessoais, mas ele recusou. Aconteceu
consigo também?
Isso acontece em qualquer organiza-
ção e não apenas com a direcção do
MDM. Isso acontece na Frelimo e na
Renamo, no nosso sistema político os
partidos não têm meios de sobrevivência
e a espectativa é que os membros
que estão nos órgãos de direcção da
administração pública sustentem a sobrevivência
dos partidos.
Como é que geriu?
Mandei-os passear...
No início caracterizou as divergências
entre o edil de Nampula e
a direcção do MDM como sinal de
crescimento do partido. Ao que tudo
indica, estamos perante uma grave
crise interna que poderá redundar
numa cisão. Que lhe parece essa leitura?
O MDM não está dividido. Vai às
eleições autárquicas com uma dissidência.
Contudo, não podemos deixar
de frisar que qualquer dissidência fragiliza,
a união é que faz a força. Continuo
a ver esta situação como própria
de crescimento.
Para além da dissidência de Amurane,
a Renamo aposta em concorrer
nas próximas autárquicas. A presença do MDM em Nampula não estará
ameaçada?
O MDM já existia antes de Nampula
se libertar da colonização frelimista.
Isso foi graças ao MDM. Portando,
manter Nampula era uma mais-valia
para o partido, mas perder não pode
ser visto como o fim do MDM.
O presidente do município de Nampula
acusou-o de cobardia, aparentemente
por assumir uma postura mais
defensiva em relação à direcção do
MDM. Que comentário lhe merece
esse adjectivo?
Achei aquilo normal. Sou uma pessoa
madura. A minha educação, a minha
forma de estar e o meu ser não me permite
concentrar nesses aspectos.
A minha experiência de vida permitiu-
-me aprender a aturar malucos, loucos,
intelectuais e filósofos. Isso me permite
relacionar-me com todos.
Onde é que coloca Amurane nesse
grupo?
Eu compreendo que o edil de Nampula
foi imaturo. Ele está a fazer política
há três anos e eu faço política há mais
de 22 anos. Portanto, mesmo que não
concorde, respeito a opinião dele.
O edil de Nampula caracterizou o
líder do MDM como ditador. Acha
que o partido é dirigido de forma autoritária?
A opinião é dele. Aliás, a nossa Constituição
abre espaço para cada moçambicano
dizer aquilo que pensa e o edil
de Nampula não podia ser excepção.
Agora, uma coisa é certa, precisamos
de aprofundar a democracia no nosso
partido.
Como é que avalia o encontro Nyusi-
-Dhlakama? Acha que o actual processo
negocial vai colocar termo definitivo
às crises políticas cíclicas que
o país tem vindo a viver?
Estou muito feliz com os últimos desenvolvimentos.
Tive a oportunidade
de falar com os dois líderes e congratulei-os
pelas conquistas.
Agora, é importante termos na mente
que esta não é uma paz segura, porque
não tem bases sólidas. Precisámos de
uma paz transparente e conclusiva,
visto que a paz não é só ausência de
guerra.
Por várias vezes, tivemos o calar das
armas, mas não tivemos paz, porque
faltou reconciliação entre os moçambicanos.
A reconciliação passa por cada mo-
çambicano aceitar o pensamento do
outro. Todos os moçambicanos são
iguais.
A relação institucional entre
os edis da oposição e os governadores
da Frelimo foi
sempre problemática. Como está
a sua relação com o governador
Abdul Razak?
Abdul Razak é uma figura que respeito
bastante, foi uma pessoa que
quando chegou, tinha alto sentido
de Estado, mas mudou de postura.
Isso porque foi isolado dentro do
partido dele. Na última reunião da
Frelimo na Zambézia, ele concorreu
para o Comité Central, mas
teve de retirar a sua candidatura,
porque não tinha apoio.
Há um conflito entre o governador
e o primeiro secretário da Frelimo
na Zambézia, há uma crise interna
dentro da Frelimo e uma das vítimas
é o governador.
Abdul Razak está a ser sacrificado,
porque tem sentido de Estado, tinha
boas relações com Manuel de
Araújo. Ademais, o primeiro secretário
da Frelimo na Zambézia esperava
mordomias de Estado por
parte do governo da Zambézia.
Abdul Razak está isolado dentro
da Frelimo na Zambézia e quase
que não manda. Não tem nenhum
poder...quem manda é o primeiro
secretário e os seus pupilos que estão
no governo provincial.
Eu não me entendia com os anteriores
governadores, porque não tinham
postura de Estado. Tinham
postura partidária. O actual governador
tinha postura de Estado e é
por isso que me entendia com ele,
mas isso lhe custou isolamento.
Para salvar a sua pele, está a distanciar-se
de Araújo. Por exemplo,
pela primeira vez, Abdul Razak
não participou nas festividades dos
75 anos da cidade de Quelimane,
não recebeu os embaixadores que
foram assistir ao dia da cidade. Isso
não era comum da parte de Abdul
Razak.
O primeiro secretário da Frelimo
na Zambézia disse recentemente
que Manuel de Araújo estava a
trazer colonos de volta a Quelimane.
Qual é o seu comentário?
Aquele indivíduo é ignorante. O
meu pai ensinou-me a não responder
a ignorantes. Ademais, a
ignorância é uma doença e todo o
ignorante deve ir ao hospital para
se curar. O que aconselho àquele
senhor é ir à escola, porque ele não
estudou. Por vezes, não percebo
como é que um partido com tantos
quadros de qualidade admite ter
um primeiro secretário ignorante
numa província tão estratégica
como Zambézia.
Como é que vê a forma como o Estado está a gerir a questão
das chamadas dívidas ocultas?
Acho que o governo está comprometido com aqueles que
venderam a soberania do país. Houve um acto de traição à
pátria da parte de Armando Guebuza e de Filipe Nyusi, porque o actual
chefe de Estado fez parte desse governo que hipotecou a nossa
soberania. Nyusi e Guebuza traíram a pátria, venderam a soberania
que conquistamos com sangue dos nossos compatriotas.
Durante muitos anos, Guebuza apregoou-nos a auto-estima, mas ele,
depois, vendeu o país e hoje estamos reféns da vontade de estrangeiros.
O Presidente Filipe Nyusi reúne condições para se recandidatar?
Do ponto de vista moral, não, mas como é um partido de ladrões, claro
que vão pôr um outro ladrão para poder lhes proteger.
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