Wednesday, September 27, 2017

Presidente da República advogou para a maior tolerância a opinião diferente e CIRCULAÇÃO DE IDEIAS.

É PRECISO MUDAR AS TÁTICAS A CADA DEZ ANOS SE QUISERMOS MANTER A NOSSA SUPERIORIDADE
- Napoleão Bonaparte

A citação que fiz sobre mudança, encerra o discurso do Presidente Filipe Nyusi, feita ontem, dia 27 de setembro de 2017, durante a abertura do XI Congresso do partido Frelimo.
No discurso por si proferido ontem, o Presidente da República advogou para a maior tolerância a opinião diferente e CIRCULAÇÃO DE IDEIAS. Se a tolerância pela opinião diferente é a pedra angular para a consolidação da Paz, Democracia e Tolerância, já a circulação de ideias é uma proposta que se afigura desafiadora. Será que existem tantas ideias para circular? De que ideias o Presidente Nyusi está a procura e encoraja sua circulação?

Estive colado aos diferentes órgãos de informação para apurar dos analistas o sentido do discurso e o que notei foi a mesmice: repetição dos lugares-comuns, dos preconceitos, de palpites etnocêntricos etc., etc., menos um esforço para tornar o discurso inteligível. Para quem quiser compreender o discurso do PR, a melhor coisa que pode fazer é ir ler o discurso em si.
O DISCURSO COMO UMA TESE
O discurso de abertura do XI Congresso pode ser tido como uma tese; uma visão de mudança de paradigma (da praxis política e da praxis de governação) que o Presidente Nyusi quer ver implementado.
Ora, importa antes, fazer algumas perguntas básicas:
1.Qual é o sentido da mudança?
2.Que benefícios essas mudanças fazem/fariam tanto para a Frelimo, para os cidadãos e para o nosso sistema democrático?
3.Quais são as vantagens dessas mudanças/perigo da actual forma de fazer política?
4.Terá ele sido persuasivo o suficiente persuasivo nas suas propostas?
5.Qual é o grau de liberdade que a Frelimo está disposta a (com)ceder?

As respostas a estas perguntas podem conduzir para uma melhor análise do seu discurso.
Se tivesse que resumir por minhas próprias palavras diria o seguinte: O Presidente Nyusi tem essencialmente três problemas por resolver imediatamente e outros por influenciar o curso: o conflito armado; a economia e as eleições gerais e autárquicas. Resolver esses três problemas vai implicar, como ele próprio afirma no seu discurso, FAZER AS COISAS DE OUTRA MANEIRA.
O modelo patrimonialista/clientelista de gestão do poder está a chegar ao fim dada a sua congénita insustentabilidade. Deixe-me clarificar os conceitos para tornar as coisas mais compreensíveis: em termos simples, o patrimonialismo é a característica de um Estado que não possui distinções entre os limites do público e os limites do privado. Por sua vez, o clientelismo é um subsistema de relação política, em que uma pessoa recebe de outra a proteção em troca do apoio político. Existe uma vasta literatura que já estudou isso, incluindo o Professor Macuane, e seus colegas em “Power, conflict and natural resources: the Mozambican crisis revisited” (African Affairs, 1–24; doi: 10.1093/afraf/adx029). Portanto, e falamos de “despartidarização do estado ou participação económica ou mesmo descentralização é porque estamos implicitamente a reconhecer que esses problemas existem.
Por outras palavras, “em meio de uma situação de escassez de recursos disponíveis para redistribuir a cada vez maior número de pessoas (clientelismo) e num contexto de acirrada competição política que torna o acesso e gestão do poder cada vez desafiante e ante um eleitorado cada vez cínico e crítico há que FAZER AS COISAS DE OUTRA MANEIRA”. Hostilizar o adversário político só polariza a relação dos cidadãos com o partido no poder; a cooptação já não é garante do sucesso político; o eleitorado precisa ser convencido com actos. Portanto, parece que não restam tantos caminhos senão uma abertura de portas para uma GLASNOST e PERESTROIKA (abertura e reforma), ou seja, a reconstrução do sistema económico e abertura do Partido ao diálogo transpartidário (que vá para além do partido).
No fundo, trata-se de antecipar e esvaziar “o saco de pirose” partilhado por uma parte significativa da sociedade com relação à forma como a Frelimo se comporta na sua relação com os outros ao nível da economia e política; praxis que, na sua perspectiva, propiciam relações incestuosas, clientelistas, exclusivistas e até de corrupção. E a corrupção é em si autodestrutiva.
Como é que isso se faz (de outra maneira)? Não vi isto no texto do Presidente. Talvez tenha sido de propósito, para não sugerir alguma imposição a um órgão que de resto é soberano. Todavia, o texto do Presidente é de facto um manifesto bem claro onde ele se disponibiliza a liderar a solução de pelo menos três problemas imediatos, já por mim mencionados (o conflito armado; a economia e as eleições). E se o meu entendimento estiver perto do certo, tal implica alargar o espectro da descentralização; normalizar as relações com as IFIS (instituições financeiras internacionais; e aqui também inclui sanar as lacunas de informação do relatório da Kroll) e montar uma máquina de competentes para a campanha e um secretariado da Frelimo ajustada aos desafios de uma competição política acirrada.
Isto tem custos. A começar pelo desafio da mudança. Encontrar pessoas certas que não seja apenas amigas mas certas para os lugares certos; confiar para além da lealdade afectiva, gerir melhor os quadros na base de critérios de meritocracia, entre outros. Falarei desses desafios no próximo texto.

“A mudança não virá se esperarmos por outra pessoa ou por algum outro momento. Nós somos os que esperamos. Nós somos a mudança que buscamos” - Barack Obama
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Comentários
Marshall D. Teach Viva,
Para reparo: ontem foi dia 26.

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