COM estridências quase iguais a explosões de bombas, correm por estes dias no país, com regularidade impressionante, notícias tristes, horrorosas, dramáticas, a abrirem telejornais e a preencherem as primeiras páginas dos jornais: “X mortos em Maputo, em Inhambane, Y mortos na Zambézia, em Niassa, em Manica, em Tete”, em consequência de acidentes de viação.
Só nas últimas semanas foram reportadas dezenas de mortes vítimas de acidentes de viação, em diversos pontos do país. Tais acidentes não só mataram como mutilaram dezenas, para além de destruírem milhões de meticais em bens diversos.
Já lá vai o tempo em que viajando de machimbombo para Matola, Namaacha, Chókwè, Mandlakazi, Inhambane, Beira, etc, o passageiro quase que não se preocupava com a sua segurança. O autocarro estava nas mãos de um condutor experiente, sério e, por isso, responsável. Um dos indicadores a certificar essa seriedade e responsabilidade era a idade do condutor, bem como o seu historial na carreira de condução para além, claro, da certificação devida/requerida.
Com efeito, “naquele tempo” (não é saudosismo não!), para a condução de autocarros de transporte de passageiro só eram admitidos indivíduos de idade madura – geralmente com pouco mais de 35 anos. Dois outros requisitos engrossavam a lista das exigências: o historial no processo de aquisição gradual dos certificados de condução para os níveis requeridos. Para começar o indivíduo habilitava-se a conduzir viaturas ligeiras. Passava desta categoria para a de condutor de pesados. Daqui “partia” para Condutor Profissional e de Serviços Públicos. Só depois de adquirido este último nível é que o indivíduo era admitido pelas empresas transportadoras para conduzir autocarros de transporte de passageiros.
Com raríssimas excepções, hoje, quando se embarca num mini-bus de transporte de passageiros vulgo “chapa-cem”, ou num machimbombo, também de transporte de passageiro, em qualquer parte do país, e, se movido pelo instinto de segurança olhares para quem estiver aos comandos do veículo, seguramente que na maior parte das vezes ficarás estarrecido. É que na cadeira do condutor os teus olhos encontrarão um jovem com menos de 25 anos de idade! E perante esse facto pensarás com os teus botões: é este indivíduo que me levará ao destino!? E, com a boca a saber a cortiça perguntarás a ti mesmo se chegarás inteiro e vivo a esse destino!...
As razões para essa apreensão são muitas e por demais conhecidas. É que, semana sim, semana sim, e, nalguns casos dia sim, dia sim, são reportados acidentes rodoviários que ceifam vidas para além da destruição das próprias viaturas e de muitos outros bens. Invariavelmente, as explicações para tanta carnificina e destruição apontam para excesso de velocidade, condução em estado de embriaguez, ultrapassagens irregulares. Em resumo, muitos dos acidentes acontecem porque os condutores não respeitam as regras básicas de trânsito.
Assumindo que muitos dos condutores envolvidos nos acidentes tornaram-se tal (condutores) depois de frequentarem escolas de condução, fica difícil entender como é que os atropelos ao código de estrada se tornaram tão “normais e comuns”… Mas, observando aleatoriamente os condutores em acção, um pouco por todo o país – eu tenho o privilégio de viajar com alguma regularidade pelo país e vejo isso, facilmente se chega à conclusão de que alguns dos condutores apenas “passaram” pelas escolas de condução.
Quer dizer, nada estudaram do que lhes foi ministrado. Ou então as escolas de condução fingem que ensinam mas, na verdade, não cumprem a sua função. Inquietante mesmo é a facilidade com que as autoridades permitem que jovens imberbes casa dos 20, 22, 23, por aí, sejam autorizados a conduzir autocarros de transporte de passageiro. Mais grave e confrangedor é que a despeito das evidências de que muitos dos acidentes resultam da irresponsabilidade própria da mocidade dos condutores, essas mesmas autoridades “olham para o lado”, continuando, portanto, a autorizar os putos a matar e destruir.
Olhando para o panorama actual ressalta à vista de todos que, em geral, a origem do problema está identificada. Assim sendo, o que deve ser feito para reverter o actual estado das coisas? Seguem algumas sugestões: a)fiscalização permanente da actividade formativa das escolas de condução, b)licenciamento das escolas de condução mediante cumprimento de um caderno de encargo definido por instituição relevante, c)especialização das escolas de condução (seleccionar determinadas escolas para a formação de condutores de transporte de passageiros), d)estabelecimento de Termos de Referência para a admissão de condutores de transporte de passageiros, e)fiscalização multidisciplinar nas estradas, f)proibição da actividade de transporte público a empresas recorrentemente envolvidas em acidentes de viação, e g)obrigatoriedade de escalar dois condutores para os autocarros de transporte de passageiros.
Marcelino Silva
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