Nkamba Simango
Uria Simango
Arão Nguenha Pág.s 4 e 6
TEMA DA SEMANA 2 Savana 06-01-2017
N
ão é que o académico
torça para tal. Pelo contrário,
gostaria que os
60 dias de trégua fossem
transformados em premissas para
a construção de alicerces para
uma paz verdadeira e duradoura
no país. Mas Severino Ngoenha,
uma das mais destemidas vozes
da actualidade, lembra malabarismos
políticos entre o Governo
e a Renamo para depois alertar,
no SAVANA, que as tréguas são
problemáticas, porque elas podem
servir de momento para as
partes em conflito prepararem
novas estratégias para voltar à
guerra com mais força, para conquistar
mais espaços e prolongar,
definitivamente, a guerra.
Severino Ngoenha, que é reitor da
Universidade Técnica de Moçambique
(UDM), começa por dizer
que não há alguém que não tenha
batido palmas e ficado contente
por, finalmente, ter chegado o
momento para as armas se calarem,
as pessoas, bens e mercadorias
circularem, livremente, mas
sobretudo a salvaguarda de vidas
humanas, ainda que por uma semana
e agora por um mês.
Mas afirma que o conceito de tré-
gua é paradoxal, até porque, aos
olhos do académico, parece que,
na semana passada, os militares
precisavam de férias colectivas
para repousar, assim que é regra,
no fim de ano, entrar-se em férias
colectivas para as festividades da
quadra natalícia e de fim de ano.
Ngoenha, que é dos mais respeitados
filósofos africanos, sublinha
que as tréguas são problemáticas.
Diz que quando há uma trégua,
sem assinatura de um armistício
para uma paz, as partes, apesar
de estarem em paz, podem estar
a preparar novas estratégias para
voltar à guerra com mais força,
para conquistar mais espaços e
para prolongar, definitivamente,
a guerra.
“As tréguas são sempre uma questão
problemática porque elas
servem para repousar os militares,
que podem voltar ainda com
mais força. Ora, também podem
ser sinónimo de uma outra coisa,
e espero que seja isso o início
de um processo de discussão que
leve a uma reconciliação nacional
e a uma paz que seja duradoura”,
refere.
E, depois, recua à história: “por
aquilo que aconteceu em tempos
atrás, onde houve mais malabarismos
políticos, que verdadeiros
acordos de paz, que tomassem em
conta as populações, essas pazes
acabaram redundando em guerra.
Ora, para que esta trégua seja de
facto alguma coisa que se transforme
em paz, e numa paz duradoura,
é preciso acordos justos
e equilibrados, que tenham em
Severino Ngoenha e os possíveis cenários nos 60 dias do cessar-fogo
Trégua para preparar nova guerra?
Por Armando Nhantumbo
conta todos os moçambicanos”,
adverte o professor universitário
para quem, que os 60 dias não sejam
de trégua, mas de premissas
para a construção de alicerces para
uma paz verdadeira e duradoura.
“Quer dizer transformar esta tré-
gua como ponto de partida para a
construção de uma paz que tenha
em conta as reivindicações não
só de dois partidos, mas de todos
moçambicanos, da sociedade
civil e de outros partidos”, recomenda
ele que alinha na ideia de
um encontro muito mais largo e
abrangente para criar o substrato
de uma Nação onde a paz possa
residir e a palavra como único
elemento de debate político para
erradicar de uma vez por todas
estas confrontações que acabam
sempre em violência.
Em Dezembro último, o Painel
de Monitoria do Diálogo Político
entre o Governo e a Renamo,
hospedado pelo Parlamento Juvenil
(PJ), apresentou a proposta de
um roteiro para uma Conferência
Nacional como a solução para a
instabilidade em que o país está
mergulhado há longos cinco anos.
Entretanto, convidado a fazer
uma análise histórica de longos
dois anos em que Nyusi e
Dhlakama não conseguiram resolver
um assunto que, em duas
semanas e com simples telefonema,
teve uma luz verde, Ngoenha,
igual a si mesmo, respondeu que
“se eles brincaram com o povo,
metendo jovens a morrer todos os
dias porque não podiam fazer um
telefonema, então, a atitude deles
é imperdoável”.
Mas prefere imaginar que houve
todo um processo político que
permitiu que se chegasse ao ponto
a que se chegou, ou seja, que não
foi apenas uma questão de um telefonema
do presidente da Repú-
blica para desejar festas felizes ao
presidente da Renamo.
…então, que mostrem que
são verdadeiros líderes
Para Severino Ngoenha, na transformação
da trégua em alicerces
para uma paz verdadeira, é bom
ter-se em conta o histórico recente
do país, em que foram assinadas
pazes e pazes, perdões e perdões,
entretanto, todos fracassados.
“Então, é preciso irmos à base do
problema, àquilo que faz com que
o conflito exista que é, de um lado,
a Frelimo que quer que a Renamo
seja parte da Frelimo através dos
militares do exército, etc, e de uma
Frelimo que se confunde com o
Estado e, do outro lado, uma Renamo
que reivindica espaços, bens
e governação até contrariando a
Constituição”, adverte, acrescentando
que é preciso pensar numa
Constituição que abranja todas as
sensibilidades e não apenas a Frelimo
e a Renamo.
“Até podemos fazer Estados Gerais
da Nação. Podemos fazer a
grande reconciliação que fizeram
na África do Sul. Precisamos, de
facto, ir à raiz e à profundidade
das coisas para sairmos disto de
uma vez para sempre”, diz, recordando
que, se não fosse a guerra,
não teríamos a dívida enorme que
temos, que essencialmente foi
para a compra de armas que nem
foram para defender o país contra
a invasão estrangeira, mas para o
conflito interno.
E para Ngoenha, para que a paz
seja duradoura, diferentemente
daquela que resultou do Acordo
Geral de Paz, que, em 1992 pós
termo a longos 16 anos de uma
guerra fratricida entre o Governo
da Frelimo e a Renamo, é preciso
que seja justa.
“Justa significa que ela tem de ter
em conta todos os moçambicanos,
que crie instituições fortes,
que crie uma justiça de partilha
de bens, que descentralize um
pouco mais o país para que todo
moçambicano possa se sentir de
facto moçambicano”, explica.
Diz que é preciso aproveitar os
60 dias para convocar pessoas,
mentes e inteligências nacionais
que possam permitir o que chama
de desfrelimizar o aparelho
do Estado, desfrelimizar a governação,
desfrelimizar a economia,
avançando-se para uma economia
mais aberta e abrangente e criar
estruturas de um Estado forte
e repartição de poderes mais
substancial para que o Estado de
Direito possa voltar a emperrar
e que cada um possa encontrar,
como cidadão, um espaço para
poder participar da construção do
país.
Tem uma mensagem para Filipe
Nyusi e Afonso Dhlakama: “a paz
não tem preço, a vida humana não
tem preço e os bons políticos são
aqueles que sabem deixar como
legado às gerações seguintes, um
país em construção e em desenvolvimento
claro. Ora, as lideran-
ças que nós temos estão a deixar
um país em dívidas, com mortes,
em sangue e um país com uma estrutura
social em destruição. Ora,
cabe a eles, neste momento, mostrarem
que são verdadeiros líderes
que sabem meter os valores primordiais
em cima de rivalidades
internas ou de conflitos de carácter
histórico”.
O
padre Filipe Couto,
uma das vozes crí-
ticas à morosidade
no desfecho das negociações
para a paz em Mo-
çambique, agora prefere ser
optimista.
Conhecido como vertical, o
antigo mediador nacional do
diálogo político entre o Governo
e a Renamo, nos tempos
do Centro Internacional
de Conferências Joaquim
Chissano, em Maputo, diz
apenas que a prorrogação da
trégua, de uma semana para
dois meses, significa que “teremos
paz e não vamos começar
de novo a disparar”.
Para Couto, que já assumiu
o papel de porta-voz do grupo
de mediadores nacionais
do diálogo político entre o
Governo e a Renamo que
durou mais de cem rondas,
“Não vale a pena lembrar o passado”
- Padre Couto
“cepticismo pode valer muitas circunstâncias,
mas neste caso nosso
é melhor esperar com calma e serenidade”.
Quando questionado se era fácil
esperar com calma e serenidade,
tendo em conta o histórico deste
sinuoso caminho rumo à paz, um
percurso marcado por avanços,
mas sobretudo por recuos, até nos
momentos em que tudo parecia
bem encaminhado, Couto, que
em Maio de 2015, à saída da centésima
quarta ronda do diálogo
político, no Centro Internacional
de Conferências Joaquim Chissano,
visivelmente indignado com
mais uma sessão improdutiva,
disse que o Governo e a Renamo
não podem continuar a enganar o
povo, respondeu, esta terça-feira,
que não vale a pena recordar o
passado.
Entende o antigo reitor da Universidade
Eduardo Mondlane que
o mais importante é que houve
prorrogação da trégua que espera
seja para sempre.
À pergunta sobre o que terá mudado
em Filipe Nyusi e Afonso
Dhlakama que, em dois anos, não
se entendiam para pôr termo ao
conflito, Couto simplesmente respondeu
que os dois estão a trabalhar
para a paz.
Para a embaixada dos Estados
Unidos da América, que havia
saudado a primeira trégua de uma
semana, a “corajosa” liderança
demonstrada pelo presidente
da República e da Renamo,
ao prorrogarem a cessação
das hostilidades militares, representa
um avanço significativo
para uma paz duradoura.
“É nossa esperança que, com
base nesta conquista, o governo
moçambicano e a Renamo
possam demonstrar
coragem igual na resolução
das diferenças políticas que já
perduram e estabelecer uma
paz permanente e a base democrática
necessária para o
desenvolvimento sócio-económico
de todos os moçambicanos”,
refere aquela missão
diplomática, numa mensagem
enviada à nossa redac-
ção, horas depois de Afonso
Dhlakama anunciar, esta
terça-feira, o prolongamento
da trégua para 5 de Março
próximo.
Severino Ngoenha
Filipe Couto
TEMA DA SEMANA Savana 06-01-2017 3
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Uma semana depois de terem
decretado trégua por sete dias,
uma nova chamada telefónica
do líder da Renamo, Afonso
Dhlakama, a partir da Serra da Gorongosa
para o Presidente da República,
Filipe Nyusi, resultou num entendimento
para a extensão da “cessação
das hostilidades” por mais 60 dias.
A medida, segundo deu a conhecer
Dhlakama, que tem sido uma espécie
de “porta-voz” do acordo, visa criar um
ambiente favorável para se acelerar
com a retomada das negociações que,
de acordo o mesmo, se deverão centrar
no pacote sobre a descentralização.
Porém, ao que o SAVANA apurou,
Filipe Nyusi está determinado em pessoalmente
chegar a um entendimento
duradouro com Afonso Dhlakama,
isolando os falcões do seu partido que
determinaram que a paz não é prioridade
e que não há nada a concluir com
a Renamo e com os “seus amigos mediadores”.
A dado momento, Nyusi apercebeu-
-se que havia “ruídos na comunicação”
com a Renamo na mesa do diálogo
no Hotel Avenida, daí que abriu uma
linha pessoal com Afonso Dhlakama,
que também sente um “certo cansaço”
e frustrado com a lentidão das negociações.
Apesar de reportar algumas provoca-
ções levadas a cabo pelas tropas governamentais,
durante o período de
“graça” da primeira suspensão temporária
dos ataques militares, o líder da
Renamo entende que é preciso cultivar
um espírito de confiança de modo que
se caminhe rumo a uma paz duradoura.
Numa teleconferência na sede em Maputo
com a presença de parte considerável
da imprensa baseada na capital do
país e importantes quadros da Renamo,
Afonso Dhlakama argumentou que é
preciso ensaiar diversos modelos para o
alcance da paz “e este é um deles, pois
Deus não condenou os moçambicanos
para ficarem permanentemente nas
matas a se matarem”.
Assim, diz que foi neste sentido que,
depois de uma nova conversa telefónica
mantida nesta segunda-feira (02 de Janeiro),
com o presidente da República,
na qual fizeram o balanço da trégua de
sete dias, concordaram com a prorroga-
ção por mais 60 dias.
“Quero anunciar de novo a trégua por
60 dias, hoje 03 de Janeiro até 05 de
Março, estaremos a completar 60 dias.
Esta trégua ou prorrogação é mais para
criar um ambiente favorável para podermos
acelerar o diálogo aí em Maputo”,
enfatizou Dhlakama, aplaudido
ruidosamente por quadros da Renamo
presentes na teleconferência.
Considera a prorrogação um gesto que
visa diminuir mortes em Moçambique,
mas também pelo facto de ser moçambicano
e chefe de família que através de
uma estação radiofónica ouviu o apelo
dos moçambicanos que solicitavam o
alastramento da suspensão do conflito.
Garantiu uma vez mais Dhlakama que
os seus guerrilheiros não vão violar o
acordo, atacando as posições das tropas
governamentais. A este propósito diz
que abordou com Nyusi para que as
Forças de Defesa e Segurança (FDS)
façam o mesmo, pois na vigência dos
sete dias, o PR não conseguiu controlar
as suas tropas.
Narrou três situações que considerou-
-as de violação do consenso alcançado
a 26 de Dezembro do ano findo. O
primeiro foi o ataque protagonizado
pela posição das tropas governamentais
estacionada em Mutondo, no posto administrativo
de Canda, no distrito da
Gorongosa, a um mercado local, onde
Nyusi e Dhlakama dão bónus de 60 dias
Por Argunaldo Nhampossa
terão roubado produtos e queimado
barracas para dar a entender que se tratava
de homens da Renamo.
O segundo diz ter se verificado em
Nhaulanga, na zona de Mucoza, no
mesmo distrito, onde as FDS arrombaram
a casa de um membro da Renamo
levaram os bens e queimaram a
residência. Sobre a terceira, apontou a
persistência do governo em manter as
colunas nos primeiros dias da paralisa-
ção dos ataques.
“Acompanhei semana passada que as
FADM, PRM e FIR continuaram com
as escoltas e as populações perguntavam
porquê, se há trégua. Trégua signi-
fica que não há disparos, então porquê
os polícias ou forças armadas ainda
querem entrar nos camiões ou caros de
civis? Não queremos colunas, já não há
ataques, as colunas vão representar o
quê, só para retardar os transportadores
na vias de Moçambique”, disse. Sobre
as escoltas, em declarações à imprensa
estatal escolhida a dedo, Nyusi esclareceu
que visavam devolver a confiança
aos automobilistas que usam aquelas
rotas.
Dhlakama disse ainda que exigiu
de Nyusi garantias de que, a par das
FADM, FIR e PRM, o grupo dos esquadrões
de mortes também cesse com
as suas incursões durante a vigência da
nova trégua, alegando que há muitos
membros e simpatizantes do seu partido
que se encontram refugiados nas
matas por temer sequestros ou execu-
ções. Os esquadrões de morte estão a
ser usados por sectores fundamentalistas
da Frelimo para eliminar selectivamente
membros da Renamo e analistas
que não alinham com a narrativa do
partido governamental. O próprio líder
da Renamo escapou a duas emboscadas
levadas a cabo pelos esquadrões
de morte, em Setembro de 2015, em
Manica, ataques que não mereceram
nenhuma condenação pública de Filipe
Nyusi.
Mediação divide as partes
Apesar de ambos concordarem com
a necessidade de criação de um subgrupo,
composto por especialistas em
matéria de descentralização para acelerarem
o processo, as partes ainda divergem
quanto à mediação.
Na comunicação do chefe de Estado,
esta segunda-feira, à imprensa estatal,
sobre a decretação da nova trégua,
Nyusi disse não estar contra a entrada
de mediadores, mas que deviam ser
pessoas especializadas em metérias por
debater.
Esta terça-feira, Afonso Dhlakama
reiterou a sua posição sobre a questão
da mediação internacional. Referiu que
a mediação irá se manter, sendo que
as partes acordaram em constituir um
pequeno grupo técnico, no qual o governo
deverá indicar duas pessoas e a
Renamo também duas. A este grupo
deverá se juntar um constitucionalista
escolhido por consenso pelas partes.
A Comissão Mista deverá continuar
a discutir os outros pontos da agenda,
nomeadamente, matérias de Defesa e
Segurança para o enquadramento dos
elementos da Renamo nas fileiras das
FADM, PRM e SISE.
TEMA DA SEMANA 4 Savana 06-01-2017
Continua na pág. 6
N
o passado chamou-se American
Board, mas hoje leva
o nome de Igreja de Cristo
Unida em Moçambique.
Poucos, sobretudo as novas gerações,
ouviram falar dela, mas nem por isso
foi menos preponderante no movimento
nacionalista moçambicano.
Tal como a glorificada igreja presbiteriana,
ligada à elite da Frelimo do
sul de Moçambique com Eduardo
Mondlane como dos principais rostos,
a ex-American Board, associada
pelo regime dominante a “perigosos
reaccionários” oriundos do centro de
Moçambique, como Nkamba e Uria
Simango, foi determinante na luta
contra a opressão portuguesa, o que
lhe custou perseguição por um sistema
colonial intolerante para com as
chamadas igrejas protestantes. Nós,
no SAVANA, fomos revisitar a histó-
ria, ouvimos testemunhas vivas e, nas
próximas linhas, tentamos contar esse
passado sinuoso, de torturas e sangue,
que a história oficial, simplesmente,
ignora.
No seu livro intitulado “Toward
African Church in Mozambique”,
qualquer coisa como “Rumo à Igreja
Africana em Moçambique”, uma obra
que traça o percurso da ex-American
Board, da América à África do Sul,
passando pelo então Império de Gaza
até ao Zimbabwe, o historiador americano,
Leon Spencer, refere que foi
em Julho de 1892 que os primeiros
missionários americanos, liderados
por Fred Bunker, chegaram à Beira.
Tratava-se dos primórdios de uma
igreja que só viria a se fixar, oficialmente,
em 1905.
Com a presbiteriana fortemente presente
no sul de Moçambique, a ex-
-American Board centrou as atenções
na região centro, precisamente, nos
antigos distritos de Manica e Sofala,
hoje províncias.
Num contexto de colonização, para
além do evangelho, a igreja alargou
a sua acção para a consciencialização
das comunidades contra a opressão
portuguesa.
Com Manica e Sofala, na altura sob
domínio da Companhia de Moçambique,
que submetia as populações a
grandes plantações de açúcar e algodão,
a ex-American Board, que nos
seus cultos dava ênfase à liberdade
dos homens, foi a primeira igreja a
denunciar Portugal na então Sociedade
das Nações, hoje Nações Unidas,
acusando Lisboa de actos de escravatura
em Moçambique.
Reza a história que, por força da conjuntura
do século XIX, marcada pela
propagação dos ideais do liberalismo,
que preconizava a liberdade do homem,
Lisboa declarou, oficialmente, a
abolição da escravatura, em 1878.
Mas o certo é que Portugal continuava
a escravizar os “indígenas” nas
suas colónias. Assim, um contundente
relatório-denúncia submetido em
Nova York pela ex-American Board
fez com que o mundo se revoltasse
contra Portugal, o que azedou as já
tensas relações entre aquele país europeu
e a igreja de origem americana.
Nem mais: Portugal intensificou a
perseguição contra a igreja que chegou
a ser banida.
Foi mesmo na tentativa de escapar
das masmorras do colonialismo que
os seus membros decidiram mudar de
A ex-American Board e o nacionalismo moçambicano
A igreja que a história oficial preteriu
Por Armando Nhantumbo
designações. Assim, de American Board,
em 1905, passa a designar-se, em
1935, como Associação Evangélica
Portuguesa; em 1944 como Conselho
Intermissionário da Beira; em 1947
como Igreja de Cristo em Moçambique
- Ramo Manica e Sofala e só em
1985, depois da independência, é que
passou a se designar Igreja de Cristo
Unida em Moçambique (Ex-Missão
American Board).
Ligação com a Frelimo
No quadro do seu papel no nacionalismo
moçambicano, a American Board
enviou jovens para se juntarem à
Frelimo na Tanzânia, o berço da Luta
de Libertação Nacional. Feliciano
Gundana, natural de Sofala, que já
desempenhou as funções de Adjunto
chefe do Departamento de Defesa e
Segurança, governador de Inhambane,
Zambézia e Nampula, ministro
dos Combatentes e da Presidência
para Assuntos da Casa Militar, assim
como outros crentes, estudou na escola
da ex-American Board e foi pela
mão desta igreja que rumou à Tanzâ-
nia, onde se juntou à Frelimo.
Deolinda Guezimane, igualmente antiga
combatente e ex-secretária-geral
da Organização da Mulher Moçambicana
(OMM), o braço feminino da
Frelimo, mais tarde deputada na Assembleia
da República e Conselheira
de Estado, é também uma das muitas
jovens que “cresceu” na ex-American
Board, de onde mais tarde seguiu para
a Tanzânia.
Lucas Chomera, deputado da Frelimo
na Assembleia da República, onde
preside a Comissão da Administração
Pública e Poder Local, foi também
um dos vários jovens que hoje a igreja
diz terem sido “filhos de casa”.
Entretanto, quis o destino que, em
Moçambique, a igreja tivesse como
precursores “inimigos jurados” da
Frelimo. Um deles foi Nkamba Simango,
o primeiro moçambicano
doutorado nos Estados Unidos da
América (EUA), muito antes de Eduardo
Mondlane celebrado pela histó-
ria oficial como o primeiro doutor em
Moçambique.
Natural de Machanga, por volta dos
anos 1890, Nkamba Simango, descrito
na obra de Leon Spencer, investigador
e docente de história africana,
como um “líder religioso bem treinado”,
teve os primeiros laços com a ex-
-American Board na Beira e Monte
Selinda (em território zimbabweano),
mas essa ligação ficou fortalecida nos
EUA, onde para além de se formar
em Sociologia e Psicologia, ensinou,
mais tarde, Chindau no Departamento
de Antropologia da Universidade
de Columbia, entre vários outros tí-
tulos que obteve.
Fazendo da religião um instrumento
para a liberdade humana, Nkamba
Simango já observara, em 1921, que
“nos velhos tempos, o homem negro
era detido por indivíduos, enquanto
hoje é detido por governos e corpora-
ções”, defendendo que “devemos agir
para libertar estas pessoas” em referência
aos escravos.
Uma outra geração ligada à ex-
-Missão American Board, por sinal
a terceira, integrou o Reverendo Uria
Simango, que foi, mais tarde, um dos
fundadores da Frelimo, partido no
qual chegou a ser vice-presidente, co-
É
das poucas testemunhas vivas
sobre esse passado da
ex-American Board em Mo-
çambique. Seu nome completo é
Arão Zacarias Nguenha, por sinal
pai do antigo ministro da Educa-
ção, Alcido Nguenha. Nasceu a 15
de Maio de 1924, numa povoação
chamada Divinhe, no então Posto
Administrativo de Machanga,
hoje distrito. Desde tenra idade
que frequentou a American Board
e, em 1951, teve de deixar Sofala
para a então cidade de Lourenço
Marques, hoje Maputo, para os
estudos.
“Quando cheguei aqui fiquei admirado
porque era possível sentar
ao lado do branco num machimbombo,
o que era impossível na
Beira”, lembra, anotando que o colonialismo
português foi violento
no centro de Moçambique, mais
do que no sul.
Em Maputo fez a quarta classe
e cursou teologia. Ao regressar à
Beira, em 1958, numa altura em
que os ventos do nacionalismo já
se faziam sentir, Arão Nguenha,
professor e pastor na Igreja local,
tornou-se num dos alvos da “caça
ao homem” pela tenebrosa PIDE
(Polícia Internacional e de Defesa
do Estado). Foi assim que, dois
moçambicanos negros, feitos passar
de alunos, introduzidos pela
PIDE para recolher informações,
frequentavam as aulas do “recém
regressado” de Lourenço Marques.
Em 1963, Nguenha, contemporâneo
e amigo de infância de Uria
Simango, decide passar as suas fé-
rias na então Rodésia do Sul, hoje
Zimbabwe, precisamente em casa
de Uria Simango, que na altura era
também pastor da American Board,
em Monte Selinda.
Através dos “dois alunos” que havia
montado na Igreja, a PIDE,
que já tinha em Uria Simango
um “perigoso que andava a criar
movimentos subversivos contra os
portugueses”, monitorou a viagem
até que, aquando de regresso, interpela
o “viajante” na estacão dos
Caminhos de Ferro de Moçambique
(CFM) da Beira. Na ocasião,
a Nguenha foi-lhe arrancado o
passaporte. Afinal, era o início de
uma odisseia que o levaria até aos
calabouços.
adjuvando Eduardo Mondlane.
Tal como Nkamba Simango, Uria
teve a sua vida, intrinsecamente, ligada
a esta igreja de que pouco se fala.
Em “Uria Simango, um homem, uma
causa”, Barnabé Lucas Nkomo retrata
a “história da penosa trajectória polí-
tica de um missionário revolucionário,
cujo empenho e dedicação à causa da
libertação do seu povo foram negados
pela memória colectiva da história recente
do seu país”.
Também natural de Machanga, Uria
acabaria, barbaramente, assassinado
entre Maio de 1977 e Junho de 1980,
no campo de reeducação de M´telela,
distrito de Majune, província do
Niassa.
O testemunho de quem não escapou da PIDE
Como tal, no dia seguinte, pelas 09h
da manhã, foi recolhido num jipe até
aos calabouços da PIDE na Beira.
Já às 5h da tarde, juntamente com outros
60 presos, foi transportado num
camião até ao Aeroporto da Beira, de
onde seguiram para Lourenço Marques,
onde foram todos encarcerados
numa única cela da Cadeia Civil.
O julgamento de Arão Nguenha viria
a iniciar-se uma semana depois.
“No julgamento perguntaram-me se
eu conhecia Uria Simango e eu disse
que sim, era meu amigo. Perguntaram
qual teria sido a conversa que tivera
com ele durante as minhas férias e eu
disse que falávamos da igreja porque
éramos ambos pastores. Disseram-
-me que isso não lhes interessava, eles
queriam saber de coisas profundas.
Levantou-se um inspector da PIDE e
disse que ali não se brincava, que eu
contasse a verdade. No fundo da sala
estava o Chico Feio (um temido agente
moçambicano na polícia portuguesa)”,
reconstituiu, acrescentando que
foi sempre consistente em responder
que não tivera qualquer conversa de
natureza política com Uria Simango.
Sem argumentos, a PIDE reconduziu-o
para as celas da Cadeia Civil,
onde permaneceu quatro meses antes
de ser levado de volta à Beira.
“Mesmo assim, um inspector da
PIDE apareceu a nos aconselhar para
que deixássemos de sonhar com a independência
e esquecermos Eduardo
Mondlane” lembra o velho com 92
anos de idade.
Numa entrevista de passagem de testemunho,
Nguenha, que em Dezembro
de 1999 lançou um livro intitulado
“O que conheci da minha igreja”,
escrito em ndau, disse ao SAVANA
que a implantação da ex-American
Board em Moçambique foi um percurso
cheio de espinhos.
Anotou que, no início, os portugueses
não queriam saber de uma “igreja
de americanos”, por isso, os missionários
foram obrigados a se instalar
em Monte Selinda, do outro
lado da fronteira com o Zimbabwe.
Assinala que, apesar de a igreja
ter conseguido a permissão de se
implantar em 1905, só a partir de
1931 é que viria a se tornar vigorosa
no centro, com a chegada de
Guilherme Tapera Nkomo, um
pastor de Sofala que havia sido
enviado para o Zimbabwe e mais
tarde para Lourenço Marques para
prosseguir com os estudos.
Na memória guarda más recorda-
ções. Lembra-se de Matxemedje,
no distrito de Buzi, onde as comunidades,
incluindo mulheres com
crianças ainda no colo, eram submetidas
a trabalhos forçados nas
plantações. “As crianças eram enterradas
em covas, mesmo chorando,
porque àquelas mulheres eram
dadas metas por cumprir. Se não
terminassem tinham de trabalhar
até à noite. Não havia que tomar
conta das crianças, nem para amamentar.
Então, Nkamba Simango
e outros missionários fotografaram
aquelas crianças a chorarem e meteram
o problema em Nova York,
denunciando a cruelidade do regime
colonial. Aquilo foi uma grande
vergonha para os portugueses,
com um impacto muito grande”,
conta, acrescentando que, a partir
daí, “os portugueses começaram a
odiar muito a igreja”.
Diz que, como preço da denúncia,
Nkamba Simango acabou mesmo
por ser expulso de Moçambique
pelos portugueses.
“A ex-American Board teve um
grande impacto no centro, tal
como a presbiteriana que era odiada
no sul”, diz, acrescentando que
há muitos membros da ex-American
Board que foram, arbitrariamente,
presos pelos portugueses,
acusados de estarem envolvidos
em actos subversivos enviando jovens
para se juntarem à Frelimo,
na Tanzânia. “A independência de
Moçambique foi o fruto de um
trabalho árduo e abnegado de todo
Povo Moçambicano”, diz Nguenha
para quem, a referência ao papel da
igreja American Board, “corrige a
história”.
Arão Nguenha
Paróquia da igreja American Board em Machanga (Sofala)
TEMA DA SEMANA Savana 06-01-2017 5
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TEMA DA SEMANA 6 Savana 06-01-2017
P
edimos explicação a
entendidos na matéria
sobre o que estará por
detrás do esquecimento
da ex-American Board e o seu
papel no nacionalismo, num
país cuja narrativa exalta apenas
os feitos da presbiteriana da
Missão Suíça.
Para o historiador Egídio Vaz,
entrevistado há meses pelo
nosso jornal, estamos perante
um problema historiográfico
e também de representação
de narrativas. O historiador vê
aproveitamento político quando
se fala, neste país, do papel
das igrejas no nacionalismo.
Diz mesmo tratar-se do seguimento
do mesmo paradigma
usado pela história colonial.
Identifica censura ao meio e
argumenta que, para o paradigma
dominante, não faz sentido
promover a história de uma
igreja de que são oriundas figuras
como Nkamba Simango.
“A história de Moçambique
foi urdida para emprestar uma
simples narrativa”, diz Vaz, na
altura, acrescentando que em
Há relatos indicando que, em
1952, Machanga teria sido
palco de um levantamento
popular, mas 64 anos depois,
o Reverendo Arão Nguenha diz ter
sido “uma história falsa”.
A fonte conta que, na altura, Sofala
atravessava uma das mais severas secas
quando as autoridades coloniais
enviaram ajuda alimentar para distribuição
gratuita às comunidades a
braços com a fome. Entretanto, um
responsável pela administração local,
português de nacionalidade, começou
a vender os donativos, o que levou
membros da American Board a denunciarem
o caso na instância superior,
em Sofala.
Ao tomar conhecimento da “ousadia”,
o responsável denunciado mandou
prender os denunciantes. Estava
aberta uma campanha de desinformação
que custaria caro aos membros
da igreja.
Forçado pelos seus superiores de SoA
ctualmente sediada na Beira, a ex-American
Board é presidida pelo Reverendo Lucas
Amosse que, ao SAVANA, confirma que
desde sempre a Igreja teve contradições com o governo
colonial, uma vez que os missionários desta
congregação observaram e denunciaram desmandos
dos portugueses, ao mesmo tempo que despertavam
a consciência de cidadania.
“A primeira contribuição no nacionalismo foi a denúncia
pela continuação da escravatura. Segundo,
em Mambone (Inhambane) havia maus tratos e a
igreja se revoltou contra a administração. O próprio
Movimento de Libertação Nacional (Frelimo) teve
muitos membros que saíram da igreja para a luta”,
diz, acrescentando que a Igreja teve sempre uma
forte componente educacional, incluindo formação
técnico-profissional, concretamente, em agricultura,
carpintaria e serralharia.
Quem também confirma que o sistema colonial
português nunca viu de bons olhos a ex-American
Board é o reverendo Jorge Nhama, que explica que,
quando chega a Moçambique, a igreja não só divulgou
o evangelho cristão, mas também implantou as
chamadas escolas indígenas para despertar as mentes.
“Desde logo começou a ensinar artes e ofícios para
os filhos daqueles que não tinham capacidade de
continuar para outros níveis, de modo a começarem
logo a fazer alguma coisa útil a si e à sociedade em
geral”, diz, repetindo que nunca chegou a ser bem
entendida pelos portugueses que aceitavam melhor
a igreja católica, que não era mais do que uma extensão
do próprio sistema colonial.
Diz que, mesmo assim, nunca parou de preparar os
homens do amanhã e de consciencializá-los na causa
da libertação do país.
Dá como exemplo Nkamba Simango que diz que
até 1914 já era doutorado mas que, por incutir a cultura
do patriotismo entre os moçambicanos, sofreu
perseguições até abandonar o país para residir no
Gana, onde viveu até à sua morte em 1967.
Mortos no evangelho
Uma das perguntas que colocámos ao reverendo
Nhama foi no sentido de saber que preço a igreja
pagou pelo seu papel, ao que respondeu que, perante
Machanga e a falsa revolta
que terminou em prisões
fala, o denunciado libertou os presos
da American Board, mas aproveitou
para libertar também todos os outros
presos, detidos anteriormente por
outras causas, da cadeia local, tudo
para dar cunho a uma suposta acção
grevista.
Depois enviou um telegrama, não
para Sofala, mas para Inhambane,
a solicitar ajuda. O caso acabou por
chegar a Lourenço Marques e os supostos
grevistas, dentre eles Timóteo
Chimbirombiro, pai de Uria Simango,
foram presos e levados para os
calabouços da PIDE em Lourenço
Marques.
“Muitos deles morreram porque depois
foram levados para São Tomé
e Príncipe, Niassa ou para a Ilha do
Ibo como prisioneiros”, lembra o velho
Nguenha, que repete que o acto,
que chama de horrível, não passou de
uma propaganda cujas consequências
recaíram ao elo mais fraco, o povo.
“Não houve uma revolta revolucioná-
ria, eles foram reivindicar farinha de
milho que era de seu direito”, garante.
Na voz dos crentes
um sistema colonial intolerante às chamadas igrejas
protestantes, a ex-American Board pagou com
sangue e vidas humanas.
“É muito triste lembrar o que aconteceu. Pessoas
morreram, naquela altura a igreja era controlada, a
cada passo, pela PIDE. Lembro-me que, em pleno
culto, era possível encostar o carro e pegar pessoas
para a cadeia da PIDE; é só imaginar o que
ia acontecer lá, as pessoas eram batidas, sofriam
torturas e tivemos muitas pessoas da nossa igreja
que morreram por causa do evangelho. Em pleno
culto as pessoas eram mandadas parar e metidas
nos carros, com porradas, pontapés de botas, algemas…
porque já traziam nomes de certas pessoas
que eram acusadas de mobilizar ou mandar pessoas
para engrossar as fileiras da Frelimo e lutarem
contra o colonialismo português. Pessoas que
foram transportadas para São Tomé e nunca mais
voltaram. Pessoas que foram mortas na cadeia na
Beira ou em Lourenço Marques. Enfim, não foi
um preço baixo, custou sangue e vidas de pessoas
e hoje temos pessoas que ficaram sem os pais, sem
saber para onde o pai e a mãe foram” conta.
Explica como a igreja fornecia jovens à Frelimo na
terra de Mwalimo: “pregava-se nos sermões, ensinava-se
nos cultos que o país dependia de jovens,
eles ganhavam aquela consciência de que tinham
de fazer algo para libertar o país, então, diziam que
queriam ingressar e mais tarde surgiu a Frelimo e
os jovens também foram ingressando neste novo
movimento, mas houve o primeiro grupo que foi
antes até da criação da Frelimo”.
“É um problema historiográfico”
Moçambique há tentativas de se criar
uma história monolítica, um esforço
que acaba por decepar a riqueza da
história e o papel e lugar que as instituições
desempenharam na liberta-
ção nacional.
Dossiers complicados não
serão divulgados enquanto
actores estiverem vivos
Há quem classifica o tema como
bastante melindroso de tal forma
que impõe o anonimato. Mas culpa
o que chama de processo ideológico
na construção da história de Moçambique.
“De 1975 para cá, não temos uma
história consolidada”, diz, evocando
problema de posição dos que elaboram
a história. Mas a fonte vai mais
longe: “as convulsões sociopolíticas
de hoje mostram que há coisas cuja
explicação não foi esgotada. Mas
tem a ver também com o Estado
anacrónico que a Frelimo herdou.
Há muita coisa que não é divulgada.
Dossiers complicados de uma Nação,
enquanto os actores estiverem vivos,
nunca serão divulgados…os actores
políticos sempre mantiveram como
segredo”.
“É preciso despolitizar a
história”
Um antigo alto dirigente do Estado
moçambicano, pela Frelimo, fala da
ex-American Board com lágrimas ao
notar que à igreja não é dado o lugar
merecido.
Académico que é, avança teorias explicativas.
“A coordenação de forças
que existiu na Frelimo não nos permitiu
conhecer os vários lados da
história. É uma grande lacuna porque
não se pode compreender a história
de um povo ignorando esses desenvolvimentos
que têm muita ligação
com o que hoje somos”, repara.
Prossegue, afirmando que “é preciso
despolitizar a história”. Entende que
“a história de Moçambique ainda
precisa de ser estudada e explicada,
sobretudo, o que aconteceu no centro
de Moçambique”. Reitera que “para o
bem da Nação, é preciso que se estude
a história de forma mais integrada”.
Na mesma tese de que os problemas
que hoje temos têm muito que ver
com a própria formação da Nação,
remata: “hoje é preciso dialogar com
a história para fazer a paz”.
“Frelimo faz de conta que
se esqueceu”
“Nos deixa muito tristes”, responde
o reverendo Jorge Nhama quando
chamado a comentar sobre o esquecimento
da ex-American Board. Diz
que a conotação da igreja com figuras
como os Simangos pode estar por
detrás do conveniente esquecimento,
mas de uma coisa tem certeza: “se
não se fala hoje, alguém vai um dia
lembrar-se do papel desta Igreja”.
Fala mesmo de paradoxo: “Em Portugal,
Suíça ou América vais encontrar
uma história mais completa
sobre esta Igreja, inclusivamente,
universidades com o nome de Nkamba
Simango, mas aqui dentro fala-se
muito pouco dele; às vezes eu tenho
pensado talvez por ser ndau? Será?
São algumas perguntas que se suscitam”.
Diz que queiramos ou não,
a igreja tem uma palavra a dizer no
nacionalismo moçambicano e
lamenta que os louros vão apenas
para a presbiteriana.
Sobre se a Frelimo, a quem a
Igreja um dia forneceu jovens,
terá se esquecido, diz que não,
simplesmente, faz de conta
porque o partido conhece muito
bem o papel da ex-Missão
American Board.
Hoje com cerca de 11 mil
crentes e 31 paróquias espalhadas
um pouco por todo o país,
a ex-Missão American Board,
por sinal uma das fundadoras
do Conselho Cristão de Mo-
çambique (CCM), em 1948,
continua com vários projectos
ou actividades sociais. Tem
escolas primárias em Gogoi
(Manica) e Maramba (Sofala);
um centro de treinamento para
todos em Muxúnguè (Sofala),
que consiste em Alfabetização
e Educação de Adultos, e Formação
Vocacional; um centro
de Alfabetização e Educação
de Adultos e Formação Vocacional,
na Costa do Sol (cidade
de Maputo); uma escola
do nível secundário na Beira
(Sofala) e projectos de micro
finanças para alívio à pobreza
na Beira e Maputo.
Uria Simango Nkamba Simango
Reverendo Jorge Nhama
Egídio Vaz
Savana 06-01-2017
7
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8 Savana 06-01-2017 SOCIEDADE
Um cidadão de nome Sté-
lio Rodrigues Maculuve,
residente no bairro de
Malhazine, município
de Maputo, perdeu a vida, nesta
terça-feira, no Hospital Central
de Maputo, depois de ter sido
atropelado por um motorista em
fuga, no bairro de Magoanine C,
no passado dia 26 de Dezembro.
O acidente que culminou com a
morte do jovem, de 30 anos e pai
de um filho menor, verificou-se
momentos depois que Aristides
Paulo, conduzindo uma viatura de
marca GWM, ostentando a matrí-
cula ADI 738 MC atropelou cinco
pessoas no mercado de Magoanine
C e se pôs em fuga.
Segundo contam testemunhas
próximas da ocorrência, por volta
das 12:00 horas do dia 26 de Dezembro
de 2016, Aristides Paulo
fez-se ao terminal de transportes
semi-colectivos de passageiros no
bairro de Magoanine C e, no meio
de muita concentração de pessoas
e viaturas, iniciou uma série de
manobras perigosas, comummente
designadas por rali, tendo depois
desaguado num atropelamento colectivo
a cinco pessoas nomeadamente:
Valéria Malate, José Sulate,
Abas Eduardo, Cristina Ringue e
Dionísio Moisés. Após o atropelamento
colectivo, o jovem motorista
pôs-se em fuga.
Apercebendo-se da situação, alguns
condutores presentes no local
tentaram perseguir o infractor.
Durante a fuga, Aristides Paulo foi
danificando viaturas que tentavam
bloqueá-lo, destruindo muros e
numa das ruas acabou atropelando
o cidadão em causa. Mesmo
assim, o fugitivo não se rendeu e
continuou até que ficou bloqueado
quando foi embater num muro e
não conseguiu mover a viatura.
O jovem foi neutralizado e levado
ao posto policial do bairro de MaSobrinho
do director do IPAJ atropela, mata e foge e...
Ministério Público manda-o para casa
Por Raul Senda
goanine C de onde foi transferido
para as celas da Décima Oitava
Esquadra para o devido procedimento
processual, visto que as ví-
timas deram entrada no Hospital
Geral José Macamo (HGJM), área
da jurisdição da Décima Oitava
Esquadra.
As cinco vítimas foram assistidas
no HGJM enquanto que Stélio
Rodrigues, tendo em conta a gravidade
dos ferimentos contraídos,
foi transferido para a Unidade de
Cuidados Intensivos do Hospital
Central de Maputo, onde foi colocado
em coma induzido.
De manobras policiais à
intervenção do director
do IPAJ e a soltura do
infractor
Após o tratamento hospitalar, os
feridos dirigiram-se ao posto policial
instalado no HGJM para prestar
depoimentos sobre o sucedido
a fim de constar no processo.
As vítimas contaram todo o historial,
o agente da polícia responsável
fez as devidas anotações e ordenou
aos ofendidos a regressar no dia
27 de Dezembro com os produtos
danificados, visto que parte dos sinistrados
eram vendedores de rua.
Chegadas ao local, as vítimas, em
vez de serem atendidas pela polícia,
foram recebidas pelo tio do
infractor de nome Artur Juquessene,
director nacional de Administração
e Finanças do Instituto de
Patrocínio e Assistência Jurídica
(IPAJ).
Juequessene apelou às vítimas para
contornar as autoridades, anular o
processo e resolver o litígio de forma
amigável, visto que se avançassem
até ao tribunal corriam o risco
de não ganhar nada.
Segundo as vítimas, o pedido não
foi aceite pelos ofendidos, facto
que não agradou o chefe do posto
policial do HGJM de nome Flávio
Jamal que ameaçou as vítimas de
prisão.
No mesmo dia, os ofendidos acabaram
sabendo que os autos não
relatavam os factos sucedidos e invertiam
totalmente a realidade. Os
mesmos diziam apenas que houve
um atropelamento causado pelo
excesso de velocidade e que as ví-
timas já tinham recebido o devido
tratamento e em nenhum momento
falavam da fuga do condutor e
de outro ferido que estava no estado
de coma.
Um grupo de advogados contratados
pelos ofendidos apelaram
ao chefe do posto à rectificação
do auto e à reposição da verdade
factual, o que foi constantemente
recusado pelo agente.
Flávio Jamal aceitou o pedido dos
ofendidos depois da intervenção
do porta-voz do Comando da Cidade
de Maputo, Orlando Mudumane,
quando este foi abordado
sobre o assunto. Isso aconteceu
no dia 28 de Dezembro, altura em
que o processo foi conduzido ao
Ministério Público para efeitos da
verificação da legalidade e a posterior
envio do processo para o juiz
da instrução para a possível legalização
da prisão.
No dia 29 de Dezembro, o jovem
infractor foi solto por uma procuradora
afecta às triagens nas
esquadras da cidade de Maputo,
alegando-se que não havia razões
para manter o motorista em reclusão,
visto que se tratava apenas de
um caso de ofensas corporais involuntárias
cuja pena é de 3 a 180
dias e que pode ser convertida em
multa, e que para os ofendidos havia
espaço apenas para o procedimento
cível.
O jovem, que sofreu atropelamento,
perdeu a vida na tarde desta ter-
ça-feira e o indivíduo que o atropelou
e fugiu por duas ocasiões,
sem emprego, residência fixa e seguro
da viatura, está em liberdade
e vai responder apenas pelo crime
de ofensas corporais involuntárias.
A decisão das autoridades judiciais
sobre a matéria está a causar um
clima de desconforto no seio das
vítimas e acusam o tio do jovem
de ter manipulado o processo tal
como prometera.
Frustrados com o comportamento
das autoridades policiais bem
como magistrada do Ministério
Público, neste processo, as vitimas
denunciaram o caso à Procuradoria
Geral da República, Gabinete
Central do Combate a Corrupção
bem como ao Comando Geral da
Policia da República de Moçambique,
esperando pela reposição da
legalidade.
Contactado pelo SAVANA, Artur
Juquessene, tio do infractor, recusa
qualquer envolvimento no processo.
Juquessene diz que interveio na
qualidade de encarregado do infractor
e não para manipular o
processo e que em nenhum momento
abusou da sua categoria
profissional para manietar as autoridades.
Por seu turno, as autoridades policiais
dizem que fizeram a sua parte
e não podem comentar decisões do
Ministério Público. O SAVANA
não conseguiu localizar a procuradora
que ordenou a soltura do
jovem motorista.
S
egundo deram a conhecer as autoridades
policiais, a festa de transição de 2016 para
2017, que compreende o período de 30 de
Dezembro a 2 de Janeiro, 16 pessoas perderam
a vida em consequência de 14 acidentes de
viação registados em todo o território nacional.
Estes números, segundo avançou o porta-voz do
Comando-Geral da Polícia, Inácio Dina, representa
uma redução em termos de número de mortos
se comparado a igual período do ano passado
em que foram registados 22 óbitos.
Já no que se refere ao número de acidentes, em
comparação com o idêntico período de 2015/16,
representa uma subida em virtude de terem sido
registados um total de oito casos de acidentes de
viação.
No que tange aos feridos com gravidade, foram
registados um total de 26 contra 27 do ano passado
e ainda o registo de danos materiais avultados.
A fonte policial revelou que os acidentes registados
foram maioritariamente do tipo atropelamento
carro-peão.
As províncias da Zambézia, Sofala e a cidade de
Maputo foram as que tiveram os maiores registos
de casos de natureza criminal. (Ilódio Bata)
Acidentes mataram 14 pessoas
Balanço preliminar da PRM
Artur Juequesssene e o sobrinho infractor Aristides Paulo
8PGRVPXURVGDQLÀFDGRVSRU$ULVWLGHV3DXOR GXUDQWHDIXJD DSyVDWURSHODPHQWRV
Savana 06-01-2017 9
PUBLICIDADE SOCIEDADE
No âmbito das condições gerais de ingresso no Ensino Superior, previsto na lei n° 27/2009, de Setembro (Lei do Ensino
Superior, artigo 23, n° 5 alínea a) onde a condição de acesso à formação conducente ao grau académico de Licenciatura é a
conclusão com aprovação da 12ª classe ou equivalente, o ISCTEM torna público que irão decorrer no dia 12 de Dezembro de
2016, Testes de Diagnóstico e Entrevistas Vocacionais para admissão aos cursos que a seguir se indica:
TESTES DE DIAGNÓSTICO E
ENTREVISTAS VOCACIONAIS
Para mais informações contacte:
Secretaria do ISCTEM, no Campus Universitário
Rua 1394 - Zona da FACIM, 322 - Maputo.
Tel: 82 309 41 30 ou 82 31 32 200
E-mail: secretaria@isctem.ac.mz
Poderão candidatar-se aos Testes de Diagnóstico indivíduos
que preencham os seguintes requisitos:
• Estudantes do Ensino Secundário Geral que tenham
concluído a 12ª classe do SNE ou a 11ª classe do antigo
sistema;
• Trabalhadores que tenham completado a 12ª classe do
SNE ou a 11ª classe do antigo sistema ou equivalente para
continuação de estudos, sem prejuízo da legislação em
vigor.
Período de Inscrição
A apresentação das candidaturas decorrem na Secretaria
do ISCTEM, até o dia 9 de Dezembro de 2016.
Os candidatos aos testes serão avaliados
apenas nas disciplinas nucleares dos cursos
da sua preferência.
Horário: 8:30H (Diurno) e 17:30H (Pós-laboral).
Escola/Curso Vagas
Diurno Nocturno Peso Peso
Disciplinas Requisitos
Disciplina 1 Disciplina 2
ESCOLA DE CIÊNCIAS BIOMÉDICAS
Medicina Geral
Medicina Dentária
Farmácia e Controle de Qualidade de Medicamentos
Psicologia Clínica
Nutrição
Radiologia
Optometria
100
40
35
ESCOLA DE GESTÃO DE NEGÓCIOS
Gestão de Empresas
Contabilidade e Auditoria
Gestão Financeira e de Seguros
Gestão de Marketing
Gestão de Recursos Humanos e Negociação
60
60
60
25
35
50% 50%
50% 50%
50% 50%
50% 50%
50% 50%
Matemática Português
Matemática Português
Matemática Português
Matemática Português
Matemática Português
ESCOLA DE ENGENHARIA E TECNOLOGIA
Engenharia Informática
Engenharia Geológica e de Minas
60 Matemática 50%
50
50%
50% 50%
Física
Matemática Física
ESCOLA DE ARTES E CIÊNCIAS
Arquitectura e Urbanismo
Direito
40
50
50% 50%
50% 50%
Desenho Matemática
Português História
30
30
30
25
30
30
-
-
30
-
-
30
50% 50%
50% 50%
50% 50%
Biologia Química
Biologia Química
Biologia Química
30
30
30
30
-
-
-
-
50% 50%
50% 50%
Biologia Química
Biologia
Biologia
Biologia
Química
50% 50%
50% 50%
Química
Química
www.isctem.ac.mz
EDITAL
2017
20 anos formando
com qualidade
10 Savana 06-01-2017 SOCIEDADE SOCIEDADE SOCIEDADE
O
aparente desinteresse do
novo Presidente dos EUA,
Donald Trump, por África
poderá traduzir-se num
cheque em branco para os ditadores
africanos, que se vão sentir livres
para intensificar a perseguição
à oposição, refere o mais recente
relatório da Economist Intelligent
Unit (EIU), um centro de pesquisa
da reputada revista britânica The
Economist.
Na sua análise, a EIU assinala que
a campanha de Trump foi caracterizada
por uma narrativa isolacionista
e nacionalista, o que sugere que
é improvável que queira despender
energia a criticar líderes autocráticos
e violações dos direitos humanos.
“Com efeito, a administração Trump
poderá colocar pouca ênfase sobre
boa governação, como condição
para a cooperação bilateral, como
foi feito pelo seu antecessor, Barack
Obama, numa tentativa de contrapor
a crescente influência econó-
mica da China em África. Isto vai
tornar mais fácil a vida dos ditadores
africanos, que tentam reprimir a
oposição”, considera o documento.
A África Sub-sahariana esteve ausente
da retórica de campanha de
Donald Trump, observa a EIU.
Numa das poucas vezes que discutiu
a região, pronunciou muito mal o
nome da Tanzânia – afirmando que
se tratava da Tan-ZAYE-nee-ya,
numa referência aos ataques terroristas
ocorridos em 1998 à embaixada
dos EUA, em Dar-es-Salaam,
capital tanzaniana, e Nairobi, capital
do Quénia, em que morreram 200
pessoas.
A análise refere que para os grupos
de oposição de países com governos
autocráticos em África a liderança
de Barack Obama em questões de
boa governação, democracia e direitos
humanos foi uma importante
âncora.
Por exemplo, os EUA comandaram
o passo na implementação de
sanções contra os alegados autores
dos abusos dos direitos humanos na
República Democrática do Congo
(RDC), instando o chefe de Estado
do país, Joseph Kabila, a respeitar a
Constituição e renunciar ao cargo,
quando o seu mandato terminar
este mês.
“Se o apoio externo se desvanecer,
líderes autoritários vão ter mais facilidade
para reprimir os seus opositores,
especialmente tendo em conta
que a China, um outro actor de peso
na região, assume uma tendência
equidistante em relação à política
doméstica de outros países”, lê-se
no documento.
A ambiguidade, considera o texto,
foi a marca registada da campanha
de Donald Trump. Em 2015, disse
que que ia encarcerar Robert Mugabe,
que governa o Zimbabué há
mais de 30 anos, tal como Yoweri
Museveni, Presidente do Uganda,
no poder desde 1986, aparentemente
por causa das suas tendências
ditatoriais. Este tipo de afirmação
sublinha o conhecimento dúbio de
Donald Trump da lei internacional,
mas também sinaliza a incerteza da
direcção que a política norte-ameriDesinteresse
de Trump por África
Ditadores africanos têm “cheque em branco” - EIU
cana irá seguir.
Para a EIU, é pouco provável que
as relações entre os EUA e a África
Sub-sahariana se fortaleçam
durante a liderança de Trump. O
pacote de ajuda económica, como o
AGOA, e as recentes iniciativas de
Barack Obama serão imediatamente
postos em perigo, tendo em conta
a ameaça do novo chefe de Estado
norte-americano de reduzir a ajuda
externa.
O Plano do Presidente dos EUA de
Alívio ao HIV/SIDA (PEPFAR)
– um plano de redução do HIV/
SIDA bem financiado e sucedido,
lançado por George Bush, poderá
continuar intacto, contudo, mais
devido à avaliação positiva que tem
recebido em todo o mundo e a sua
origem no partido republicano.
Sob a liderança de Donald Trump,
continua o relatório, o futuro dos
compromissos dos EUA com os tratados
internacionais será posto em
causa. A sua rejeição dos tratados
de comércio está bem documentada.
Tem consistentemente demonizado
a influência económica da China
e vai, provavelmente, assumir uma
abordagem mais dura para deter a
presença da China em África, potencialmente,
tentando obrigar a
África Sub-sahariana a escolher
entre o investimento e a ajuda dos
EUA e da China.
Donald Trump também fez referência
à tolerância zero na questão da
propriedade intelectual. Esta postura
poderá ajudar as companhias farmacêuticas
norte-americanas, desferindo
prejuízos económicos para
um número cada vez mais crescente
de fábricas que produzem genéricos
para produtos com patente norte-
-americana.
“Ele ainda terá de ilustrar a sua estratégia
anti-terrorismo em termos
mais concretos, mas pareceu que se
preparou para dar maior profundidade
na eliminação de potenciais
ameaças à segurança nacional, sugerindo
que vai continuar as iniciativas
contra o terrorismo”, lê-se no texto.
$XPHQWRGDLQÁXrQFLD
chinesa
De resto, prossegue a análise da
EIU, a Presidência Trump vai isolar
os EUA do continente africano,
resultando num potencial aumento
da influência económica e política
da China.
No curto prazo, o impacto da ascensão
do candidato republicano à Casa
Branca será relativamente modesto,
incluindo a volatilidade nos mercados
monetário e financeiro.
No médio prazo, as consequências
das tendências isolacionistas de Donald
Trump serão severamente sentidas
com o corte do fluxo da ajuda
e a menor concentração no apoio à
democracia e aos direitos humanos.
A ajuda às iniciativas de combate
ao terrorismo será provavelmente
mantida, dada a ameaça que este
flagelo representa para a segurança
nacional dos EUA, mas, no global,
as relações irão esfriar.
Moçambique com situação
sombria
Sobre Moçambique, a EIU mantém,
para a perspectiva 2017-21,
as previsões que foi avançando nas
suas edições consecutivas deste ano.
Considera que a Frelimo poderá
manter-se no poder, contudo, interesses
divergentes entre as várias
facções do partido no poder poderão
gerar uma situação de volatilidade
política entre 2017 e 2012.
Uma crise de liquidez, desencadeada
por um peso da dívida insustentável,
irá perigar a estabilidade macro-
-económica no curto prazo, agravando
o risco de incumprimento.
A restruturação do elevado volume
da dívida será uma necessidade
inevitável para Moçambique, como
forma de travar o risco de incumprimento.
Face a um contexto macro-econó-
mico hostil, as autoridades vão apertar
a política fiscal e monetária, num
esforço visando restaurar as relações
com o FMI e resolver os constrangimentos
de liquidez.
Essa acção, prossegue a EIU, vai
esbarrar com uma forte resistência
da elite política e do eleitorado e o
Produto Interno Bruto vai continuar
fraco no período em referência,
mantendo em níveis historicamente
baixos, podendo ficar-se pelos 4.4%,
devido a uma fraca procura interna
e reduzido investimento.
N
uma conferência de
imprensa, que visava
manifestar a satisfa-
ção da classe empresarial
nacional pela trégua e
a respectiva prorrogação por
mais 60 dias, decretada por
consenso pelo presidente da
República, Filipe Nyusi, e
o líder da Renamo, Afonso
Dhlakama, o vice-presidente
da Confederação das Associações
Económicas de Mo-
çambique (CTA), Agostinho
Vuma, não conseguiu despir
a pele de membro da Frelimo
e acabou resvalando em mo-
ções de louvor à figura do PR,
como tem feito no parlamento
como deputado da Frelimo.
Segundo Vuma, a cessação
temporária das hostilidades
militares é obra prima do
Presidente da República. De
seguida apelou ao líder da Renamo
para que mantenha o
compromisso da paz. Questionado
o porquê da não extensão
dos agradecimentos à contraparte
do diálogo, porque sozinho
Nyusi não teria logrado o
Vuma deixa de fora Afonso Dhlakama
CTA congratula “Deus Nyusi” pela trégua
Por Argunaldo Nhampossa
consenso, Vuma disse: “como devem
saber estamos num Moçambique
igual aos outros países onde não há
dois deuses”, disse.
Prosseguindo, incentivou o PR para
que continue na busca dos caminhos
da paz e que o líder da Renamo perceba,
tal como percebeu destas vez,
que os moçambicanos precisam da
paz.
“A CTA é da opinião de que o Presidente
da República, tal como fez
desta vez, ao liderar o diálogo directo
com o líder da Renamo, deve
assumir a liderança directa do diá-
logo por se ter demonstrado ser um
caminho eficaz”, anotou.
Vuma é também deputado da Assembleia
da República pela bancada
parlamentar da Frelimo desde 1999,
onde este tipo de discursos são característicos
em cumprimento de
disciplina partidária.
Trégua é mais-valia
Para a CTA, as hostilidades militares
afectam directamente a vida
económica do país e mancham o desempenho
de muitas entidades, sendo
que, caso este cenário prevaleça, a
situação económica pode ficar mais
dramática.
Apesar de reconhecer a existência
de outros factores como a deprecia-
ção da moeda nacional que influenciaram
para o fraco desempenho da
economia nacional, Vuma voltou
a frisar que a ausência da paz
falou mais alto.
Deste modo, congratula o consenso
alcançado para a decretação
de trégua, primeiro a de
sete dias, alegando que trouxe
um certo alento nas trocas comercias
entre as regiões sul-
-centro - e norte já no fecho
ano. Depois manifestou ainda
a satisfação dos empresários
pela prorrogação por mais 60
dias, mas entende que a maior
satisfação seria em caso de uma
paz efectiva.
“A cessação das hostilidades
militares no país desperta
grandes expectativas a nível do
sector privado. O fim das hostilidades
militares constituiria
uma mensagem clara a todos
os moçambicanos, investidores
e turistas de que 2017 será melhor
que 2016”, observou.
Disse ainda que, com a trégua
temporária, investidores há
com interesses em Moçambique
que já estão a encetar contactos
no sentido de perceber a
situação para não se atrasarem
quando chegar a hora.
Donald Trump
CTA insta Filipe Nyusi a assumir liderança directa do diálogo
Savana 06-01-2017 11 PUBLICIDADE SOCIEDADE
23UHVLGHQWHGD&RPLVVmR/LTXLGDWiULDGR´1RVVR%DQFRµYHPDRDEULJRGRGLVSRVWRQRVQV H GRDUWLJR GD/HLQÝ GH GH'H]HPEUR
(Processo de Liquidação Administrativa das Instituições de Crédito e Sociedades Financeiras), convocar a Assembleia dos Credores abaixo indicados, a
WHUOXJDUQRGLD GH-DQHLURGH SHODV KRUDV QRHotel VIP ORFDOL]DGRQD$YHQLGD GH6HWHPEUR QÝ HP0DSXWR FRPDVHJXLQWHDJHQGD
Único: Eleição do Representante dos credores na Comissão Liquidatária.
Obs:
2VFRQYRFDGRVGHYHPDSUHVHQWDUjHQWUDGDGDVHVVmR L GRFXPHQWRGHLGHQWLÀFDomR SDUD7LWXODUHVH LL 3URFXUDomRHGRFXPHQWRGHLGHQWLÀFDomR
para mandatários;
$VSURSRVWDVGHFDQGLGDWXUDHPIRUPDGH&9GHYHPREVHUYDURVUHTXLVLWRVGHHOHJLELOLGDGHSUHYLVWRVQRDUWLJR GDVXSUDFLWDGD/HL
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&DGDXPGRVFUHGRUHVWHPXPYRWR VHMDTXDOIRUDLPSRUWkQFLDGRVHXFUpGLWR Q GRDUWLJR GDVXSUDFLWDGD/HL
7RGDHTXDOTXHULQIRUPDomRUHODFLRQDGDFRPRSURFHVVR SRGHUiVHUREWLGDQD6HGHGRDQWLJR´1RVVR%DQFR 6$µVLWD$Y GH-XOKRQ QR(GLItFLR
GR,166 $QGDU &DL[D3RVWDO ²0DSXWRRXDWUDYpVGRVHJXLQWHHQGHUHoRGHH PDLO nossobanco@deloitte.co.mz
Credores convocados:
NOSSO BANCO, SA
Sociedade em Liquidação
Presidente da Comissão Liquidatária do “Nosso Banco”
CONVOCATÓRIA
DA ASSEMBLEIA DOS CREDORES DO “NOSSO BANCO”
0DSXWR 'H]HPEURGH
O Presidente da Comissão Liquidatária
Deloitte Moçambique, Lda.
Adérito Manuel Magaia INSS-Delegação da Cidade de Maputo
Advocacia Consultoria e Serviços,Lda INSS-Instituto Nacional de Segurança
Social
Alimamad Ussemane Motani INSS-SISSMO
Américo da Conceição M.Da Silva Pinto Joao Dias Loureiro
Arcus Consultores, Lda João Narciso Massochua
Assane Amade Assane Kayum Centre
Baptista Salomão Francisco Kayum Electrónica
Best Bargains-Soc.Comercial e Serviços Kayum Ferragens
Brithol Michcoma Moçambique, Lda Linhas Aéreas de Moçambique
Cassamo Osmane Ismael Lala Maputo Game Centre, Limitada
Centro Clínico Amparo, Lda Maputo Shopping Centre
China Super Billion,Lda Mara Matias Mangane
Clínica Nossa Saúde, Lda Margarida Oliveira da Silva
Construções Lafonense Marta Chamusse Tivane
Dora Consultores, Lda Mayur Pravinrai
Easy Technologies e Procurement, Lda METAL SOLUTION, LDA
EDMAR,Lda Moçambique Companhia de Seguros, SARL
EDM-Fundo de Pensões NADHARI OPWAY, LDA
EMOSE Oscar da Cunha Amaral
EMTPM-EMP.MUN.DE TRANSP.RODOV.DE
MPT,E.P
PETROMOC-Petróleos de Moçambique
Exitos - Consultoria de Gestão e Sistemas de
Informação, S.A.
Protal Produtos Alimentares
Felisberto António Chissambule Ragendra Dhirajilal
FUNDE-Fundação Univ.p/ Desenv. Educação Rolls Corporation, SA
GESPETRO-Soc.de Gestão e Participações SA Rolls Investimentos, Lda
Gildo Augusto Inácio Sahif Momade Bachir
Globo Construções, Lda SOLUÇÕES, LDA
Hasvanti Bai Maganlal Somague Moçambique,Lda
Henrique Castro Amaro-Arq.,Cons.Ass., Lda UP - Universidade Pedagógica
Hiper Distribuidora, Lda Vali Momade Bachir
Hiper Maputo Venâncio Lameque Sixpenze
12 Savana 06-01-2017 INTERNACIONAL SOCIEDADE
C
onservadores pretendem
revogar a lei o mais
depressa possível, mas
Trump quer cautela, pois
não tem alternativa. Obama esteve
no Congresso para se reunir
só com democratas e salvar a sua
herança.
Esta terça-feira foi animada no
Capitólio dos Estados Unidos,
com o início da batalha épica
sobre o funcionamento (e o financiamento)
do sistema de saú-
de norte-americano conhecido
como “Obamacare”. De um lado
esteve o Presidente, Barack Obama,
que, num gesto raro, foi ao
Congresso ajudar a bancada democrata
a acertar uma estratégia
que permita salvar o seu controverso
Affordable Care Act. Do
outro lado esteve o futuro vice-
-presidente Mike Pence, reunido
com a maioria republicana, a
marcar o passo para demolir a lei.
A missão de Obama para defender
e preservar a medida legislativa
mais significativa do seu primeiro
mandato na Casa Branca
parece ser a mais difícil. O que
não quer dizer que seja fácil a tarefa
dos republicanos para enterrar
o programa que veio garantir o
Começou a batalha para salvar ou matar o “Obamacare”*
Oque diz a proposta republicana
para acabar com o
“Obamacare”?
O líder da maioria republicana no
Senado, Mitch McConnell, deu o
primeiro tiro contra o “Obamacare”,
ao introduzir para debate no
plenário uma proposta orçamental
que lança as bases para o desmantelamento
do actual modelo
de acesso a cuidados médicos desenhado
pela Administração de
Barack Obama.
Em que consiste a proposta submetida
no Senado?
A manobra dos republicanos consiste
em eliminar do orçamento
dos departamentos estaduais
que financiam e supervisionam
os programas do “Obamacare” as
verbas necessárias para o seu funcionamento,
alegando que essa
medida terá como repercussão
a redução do défice orçamental.
Fazem-no através de um processo
designado como “resolução or-
çamental”, que inclui instruções
directas para a “reconciliação” da
legislação dos dois comités do
Senado e dos dois comités da Câ-
mara de Representantes que elaboram
os planos orçamentais de
distribuição da receita e despesa,
e uma versão inicial do orçamento
do Governo federal para o pró-
ximo ano fiscal.
Se a proposta for aprovada, o
Affordable Care Act é revogado?
Não, a lei aprovada em 2010
mantém-se em vigor, embora
deixe de poder ser aplicada na totalidade,
por falta de verbas. Para
que a revogação pura e simples
da lei resultaria num “caos” cujos
custos ninguém está disposto a
pagar. Por isso, nos próximos dias,
as duas bancadas jogarão ao empurra,
atirando para o adversário
o ónus e a responsabilidade por
todos os erros do “Obamacare” —
da concepção à aprovação, adop-
ção e (eventual) extinção.
A duas semanas de deixar a Casa
Branca, o Presidente reuniu-se
à porta fechada apenas com os
membros eleitos do seu partido
(um acontecimento que não é iné-
dito, mas é pouco comum) para
preparar tanto a “estratégia como
a mensagem” para o combate que
se avizinha. A sessão era sobretudo
política, mas, como informou
o porta-voz da Casa Branca, Josh
Earnest, incluía também algumas
sugestões práticas. “A recomendação
do Presidente é que os democratas
procurem contar as histórias
de quem obteve protecção
e para quem este programa foi a
diferença entre a vida e a morte.
O
ex-presidente americano George W. Bush e o casal
Hillary e Bill Clinton assistirão à cerimónia de posse
de Donald Trump no próximo dia 20 de Janeiro, em
Washington, informaram nesta terça-feira fontes ligadas
ao evento.
No total, três dos quatro ex-presidentes dos Estados Unidos
vivos estarão presentes no Capitólio para assistir a posse de
Trump: Jimmy Carter, Bill Clinton e George W. Bush.
Fontes ligadas ao casal Clinton confirmaram à AFP que a
adversária democrata de Trump nas eleições presidenciais de
Novembro e seu marido Bill, presidente de 1993 a 2001, assistirão
ao evento.
O ex-presidente republicano George W. Bush e sua esposa,
Laura, também estarão presentes, segundo as fontes.
“Estão felizes de poder testemunhar a passagem de poder pacífica,
uma marca de fábrica da democracia americana, e a posse
do presidente Trump e do vice-presidente (Mike) Pence”,
confirmou um porta-voz de George W. Bush, presidente dos
Estados Unidos de 2001 a 2009.
Jimmy Carter, 92 anos, presidente democrata de 1977 a 1981,
confirmou sua participação na cerimónia em Dezembro passado.
Apenas George H. W. Bush, 92 anos e com a saúde muito
frágil, estará ausente entre os ex-presidentes dos EUA ainda
vivos.
Hillary Clinton assistirá
posse de Donald Trump
Quanto mais pessoas perceberem
os benefícios da lei, mais popular
ela se torna e mais difícil para
os republicanos reunirem apoio
político para a destruir”, referiu
Earnest.
Essa é precisamente a armadilha
em que Donald Trump não quer
cair. Depois de os republicanos
tomarem a primeira iniciativa
para começarem a desfazer a lei,
o Presidente eleito deixou uma
série de mensagens no Twitter
alertando para os riscos de agir
depressa de mais. “Os republicanos
têm de ter cuidado. O desastre
do ‘Obamacare’ tem de ficar
nas mãos dos democratas”, escreveu.
É que, para cumprirem a sua
promessa de longa data de acabar
com o “Obamacare”, os conservadores
precisam de se entender e
apresentar um programa alternativo
— que até hoje nunca foram
capazes de fazer.
Para consolidar essa mensagem,
Trump mandou o seu número
dois, Mike Pence, para o Congresso.
O futuro Presidente quer
manter vigentes os aspectos mais
populares do programa, até para
evitar um descalabro eleitoral nas
intercalares de 2018.
No entanto, para muitos membros
da bancada republicana, eleitos
precisamente com base na sua
oposição feroz ao “Obamacare”,
não há que ter contemplações.
“Não vamos ficar à espera das
negociações entre Mike Pence e
[o presidente do Congresso] Paul
Ryan”, garantia o congressista de
Nova Iorque Chris Collins. “Para
que não restem dúvidas, vamos
revogar o ‘Obamacare’, e vamos
fazê-lo rapidamente”, prometeu.
Perguntas e Respostas
acesso a cuidados médicos a mais
22 milhões de americanos antes
desprotegidos perante a doença.
Como assinalavam os comentadores
políticos americanos, as
acções políticas desta terça-feira
no Congresso mostram como os
dois partidos têm consciência de
revogar o “Obamacare”, ou para
aprovar legislação que o substitua,
os republicanos teriam de assegurar
uma maioria de 60 votos
ou dois terços do Senado. Mas,
ao recorrer ao expediente da reconciliação
orçamental, garantem
que a medida é aprovada, uma vez
que esse processo só exige uma
maioria simples de 51 votos (e a
bancada republicana é composta
por 52 senadores).
Que aspectos do “Obamacare”
ficam comprometidos com esta
resolução?
Os republicanos querem deixar
sem financiamento algumas provisões
fulcrais da lei: os créditos
fiscais e subsídios que facilitam a
aquisição de seguros de saúde, ou
a expansão do programa Medicaid,
que sustenta a cobertura das
famílias mais pobres, por exemplo.
Também serão eliminadas as
multas e penalizações pagas pelos
indivíduos que não entrem no
sistema ou pelos empregadores
que não disponibilizem seguros
de saúde aos funcionários.
Depois da votação, o programa
deixa logo de ser financiado?
Quando votarem a proposta de
reconciliação orçamental, os congressistas
decidirão o calendário
da sua aplicação. Ao que tudo indica,
os republicanos tencionam
apressar a votação, que pode ser
já na próxima semana, mas pretendem
adiar a entrada em vigor
para terem tempo de redigir uma
lei alternativa ao “Obamacare”.
E estão divididos entre o fim do
financiamento logo em 2019 ou
2020, ano de eleições presidenciais.
*Publico.pt
Obama foi ao Congresso reunir só com os membros do Partido Democrata/Reuters
Mitch McConnell apresentou a proposta dos republicanos para desactivar o Obamacare
Joshua Roberts/REUTERS
Savana 06-01-2017 13 INTERNACIONAL SOCIEDADE
O
Economist Intelligence
Unit (EIU) considera que
as contínuas dificuldades
orçamentais em Angola e
a proximidade das eleições presidenciais
(previstas para Agosto e à
partida sem a candidatura de José
Eduardo dos Santos) vão potenciar
o surgimento de protestos.
A eventual repressão dessas manifestações
pelas autoridades poderá
agravar ainda mais a instabilidade
política e social no país.
Dificuldades económicas ameaçam estabilidade de Angola
De acordo com a unidade de aná-
lise económica da revista britânica
The Economist, “há o perigo de
um aumento dos protestos dado as
contínuas dificuldades orçamentais
no ambiente actual de preços baixos
do petróleo”.
No relatório sobre o país, a que a
Lusa teve acesso, os analistas económicos
sublinham também que
“as repressões fortes sobre os crí-
ticos podem funcionar como um
catalisador para mais instabilidade
sustentada”, mas consideram que o
partido no poder vai continuar as
mesmas táticas que tem seguido
até agora.
“O Movimento Popular de Libertação
de Angola (MPLA) vai
continuar a agir com força, seja
através de julgamentos mediá-
ticos, esforços para restringir o
acesso aos media eletrónicos cada
vez mais usados pelos apoiantes da
oposição ou pelo encerramento dos
protestos públicos pelos serviços de
segurança, suprimindo assim tudo
o que entender ser uma ameaça sé-
ria à sua hegemonia”, escrevem os
analistas.
No último relatório sobre Angola,
os analistas da EIU mantêm a previsão
de crescimento de 0,6% para
este ano.
“À medida que os preços do petróleo
recuperam, um crescimento
ligeiramente maior da despesa pú-
blica e do consumo privado deve
fazer subir a taxa de crescimento
para 3% em 2017 e 3,5% em 2018”.
Estas taxas de crescimento, embora
muito abaixo da média histórica
dos últimos anos, podem acelerar
se o acordo da OPEP em Setembro
sobre o limite da produção
fizer aumentar os preços do petró-
leo, mas ainda assim a EIU mantém
a previsão de um crescimento
médio de 2,7% entre 2019 e 2021.
Angola enfrenta desde finais de
2014 uma profunda crise financeira,
económica e cambial, decorrente
da quebra para metade
nas receitas com a exportação de
petróleo.
O
filho do presidente da
Guiné Equatorial, Teodorin
Obiang faltou, esta
segunda-feira, à primeira
sessão do seu julgamento em
França. Teodorin é acusado de usar
dinheiro público para viver com todos
os luxos.
O julgamento de Teodorin Obiang,
acusado de corrupção, começava
esta segunda-feira, em Paris (Fran-
ça). No entanto, o governante não
apareceu. Os seus advogados argumentam
que Teodorin “sofre de
uma necessidade compulsiva de
comprar” e que, para tal, usa diAcusado
de corrupção
Teodorin Obiang falta à primeira sessão do julgamento
nheiro obtido legalmente. Esta é a
primeira vez que a justiça europeia
actua contra um dirigente africano
por crimes cometidos no seu país.
Os advogados de Teodorin já tinham
tentado adiar o julgamento,
pediram imunidade diplomática
para o seu cliente e até fizeram um
apelo de última hora ao Tribunal
Internacional de Justiça, que foi negado
pelas Nações Unidas. O tribunal
francês tem até hoje, sexta-feira,
para decidir acerca do adiamento
ou a transferência do processo para
o Tribunal Internacional de Justiça.
Teodorin Obiang, de 47 anos, filho
do presidente da Guiné Equatorial
Teodoro Obiang (e vice-presidente
do mesmo país), está a ser acusado
pelas autoridades francesas de
branqueamento de capitais, desvio
de dinheiros públicos, abuso de
confiança e corrupção. O dinheiro
“roubado” — entre 2004 e 2011
pelo menos uns 110 milhões de
euros — serviu para uma vida de
luxos em França: um palácio na
Avenida Foch, em Paris, com 5.000
metros quadrados e seis andares,
avaliado em 107 milhões de euros.
Tem discoteca, piscina interior e
torneiras banhadas em ouro, conta
o El Mundo.
Mas esta não é a primeira acusação
contra Teodorin. Em 2014 o governante
viu-se obrigado a entregar às
autoridades americanas uma mansão
que tinha em Malibu, Califórnia;
um Ferrari e uma coleção considerável
de objectos de Michael
Jackson (entre os quais a sua famosa
luva) — somando 45 milhões de
euros — para não ser julgado por
corrupção.
Mais recentemente, em Novembro
do ano passado, foi acusado
de branqueamento de capitais, na
Suíça, pelo que lhe confiscaram um
iate e 12 carros, entre os quais um
Bugatti Veyron (acima dos dois milhões
de euros) e um Porsche estimado
em 800.000 euros.
A Guiné Equatorial, um país admitido
na Comunidade dos Países
da Língua Portuguesa (CPLP),
uma entrada que dividiu os membros,
é uma nação rica graças ao
petróleo. Contudo, essa riqueza
não se distribui equitativamente:
mais de metade da população vive
com menos de 25 dólares anuais e
nem tem acesso a água potável. Diversas
organizações não governamentais
têm pedido investigações
aos gastos realizados na Europa e
nos Estados Unidos por dirigentes
africanos alegadamente corruptos.
14 Savana 06-01-2017 Savana 06 -01-2017 15
NO CENTRO DO FURACÃO
Éa primeira grande entrevista
em que ‘abre o jogo’
abertamente sobre os processos
críticos que herdou
na gestão da TAAG. Peter Hill,
o britânico que gere a companhia
aérea de bandeira angolana desde
Setembro do ano passado, explica
como desfez negócios “intocá-
veis” e por que razão apenas um
estrangeiro seria capaz de tornar
a TAAG numa empresa rentável.
Mais ao fim, não deixou de mencionar
a meta histórica de médio
prazo: elevar as receitas ao nível
das despesas da companhia.
Já se passaram 12 meses à frente
da TAAG. Qual é o balanço possível?
É verdade. Foi há15 de Setembro
de 2015 que eu e minha equipa,
porque somos uma equipa, tomá-
mos posse da gestão da TAAG.
Entretanto, o plano de negócios
que vimos executando, concebido
pelo Governo em colaboração com
a Emirates, para ser implementado
nos próximos 10 anos, foi desenvolvido
na primavera de 2014.
Nessa altura, o país estava numa
situação muito diferente, em rela-
ção à situação em que se encontrava
em Setembro de 2015, quando
tomamos posse, e que se arrasta
até agora. Em 2014, o país ainda
estava numa plataforma muito
positiva. O petróleo ainda estava a
vender perto de 100 dólares o barril
e a vida era boa. Todo o mundo
estava ansioso para mais expansão
económica, maior desenvolvimento,
mais investimentos, assim por
aí. Passou-se um ano e a coisa toda
mudou. E foi nessa altura em que
assumimos a gestão da TAAG.
Acho que não se poderia ter escolhido
uma turbulência pior para
assumir o comando.
Em que estado encontrou a empresa?
A empresa atravessa por um período
de grande expansão. Novas
aeronaves, novos equipamentos, foi
removida da lista negra, de modo
que novas rotas foram iniciadas e
tudo caminhava a bom ritmo. Era
assim há vários anos. Quando começámos
a olhar para os livros,
para o modo como a forma de gestão
como foi concebida, tenho de
dizer que foi uma confusão. Não
necessariamente por culpa de alguém
em particular, mas apenas
porque estava fora de controlo. Por
isso, tivemos de segurar e estabilizar
o navio. Tivemos de analisar as
contas, a organização e, basicamente,
remodelá-la para tentar adequá-
-la ao que esperávamos que viesse
a tornar-se uma empresa sólida. É
o que temos vindo a fazer desde
então.
Houve uma atenção especial à
questão financeira, certamente.
Reformulámos completamente
a situação financeira da empresa.
Agora podemos dizer, com segurança,
que sabemos exactamente
quem somos e que dinheiro devemos.
Sabemos o que está no banco
e sabemos para onde estamos a ir,
em termos do nosso desempenho
financeiro. Sabemos o que temos
de aprovisionar, à medida que vamos
para frente. É um quadro
muito diferente do que herdamos.
Agora recebo um extracto mensal
das contas, verdadeiras e factuais.
Estou muito confiante em que o
Governo está muito feliz com isso,
os nossos credores também, e, certamente,
a equipa de gestão está
confortável com isso.
Sentiu necessidade de manter algumas
práticas anteriores, já que
se trata de um negócio do Estado
e que, por isso, encerra outras
preocupações de cariz social, por
exemplo?
Relativamente à organização, nós
tivemos de racionalizá-la. Reconhecemos
que isto é um negócio
do Estado, logo há pressupostos a
manter. Há muitos trabalhadores
na organização que não estão necessariamente
nas posições adequadas.
Temos de reconhecer isso
e tomar as medidas adequadas para
tentar ou retreiná-las ou mudá-las
para outras áreas. São pessoas, digamos,
complicadas. Não por culpa
delas, mas, se calhar, por culpa da
gestão anterior. De qualquer forma,
não despedimos ninguém. A única
coisa que fizemos, em termos
de redução da força de trabalho,
foi olhar para todas as pessoas que
estão acima da idade de aposentadoria
e certificar-se de que elas se
aposentassem. Nem todo o mundo
quer reforma, mas eu tenho a obrigação
de criar espaço para as pessoas
novas entrarem. Os mais jovens
balho? Ou o gestor faz o trabalho
ou o consultor! Não preciso de
duas pessoas para o mesmo trabalho.
Era assim em toda a empresa.
Por isso, tivemos uma grande
racionalização em ambas as áreas.
Ou dispensámos o consultor, o
que foi invariavelmente o caso, ou
dissemos ao gestor: se não é capaz
de fazer, sinto muito, vamos ficar
com o consultor até ao momento
em que podermos colocar o nosso
próprio funcionário e aí o consultor
sair. Por conta disso, nesse momento,
temos muito poucos consultores.
Na verdade, a empresa gastava
muito dinheiro com consultores,
estamos a falar em milhões de dó-
lares. Esse processo começou no
topo e estendeu-se a todas as áreas:
operações, finanças, tecnologias
de informação, etc. Não conseguia
acreditar na quantidade de consultores
que trabalhavam para esta
empresa. Essa foi a primeira coisa.
Houve mais?
Sim, os contratos com os fornecedores.
Tínhamos todo o tipo de
fornecedores, poucos bons, alguns
não tão-bons e outros ainda inacreditáveis
(risos..). Uso essa palavra
“inacreditável” e deixo-o pensar
o que pensar. Reavaliámos todos
esses fornecedores, renegociámos
tudo, até mesmo os bons. Novamente,
houve milhões que foram
poupados. A TAAG é relativamente
uma pequena companhia aérea,
mas há muitos anos que comprava
coisas de que realmente não precisava.
Temos grandes excedentes de
equipamentos em todas as áreas.
Estamos a tentar dispor de excessos,
onde podemos, pelo menos
as coisas de que não precisamos.
Alguns desses módulos temos de
viver com eles, outros tentamos eliminar.
Não é uma tarefa fácil, mas
estamos a tentar remover todos os
processos duplicados e os processos
excedentes que existiam. No
fundo, analisámos os processos e
emagrecemo-los. Assim, a gestão,
de certa forma, ficou muito mais
simplificada. Hoje, o pessoal vê o
que é, enquanto, antes, tínhamos
tantos processos na empresa, que
era difícil saber o que era válido
e o que não era. A redução dos
processos permitiu-nos também
encontrar maneiras de fazer com
que muitas pessoas executassem
diferentes tarefas muito melhor do
que eram capazes antes. Deixou de
fazer sentido, por isso, a quantidade
de consultores que forneciam
informações que não eram usadas.
Foi-me dito, entretanto, que eliminar
alguns desses contratos não
seria fácil.
Por que razão lhe disseram isso?
Porque havia muitas empresas locais,
agentes locais, todo o tipo de
pessoas envolvido por trás desses
processos, desses contratos. Eu respondia
‘ok’, mas o meu mandato é
para cortar custos, sempre que for
possível e é o que venho fazendo. E
isso foi apenas uma vez, em todos
esses processos, que me foi dito que
havia processos intocáveis. A realidade
é que as pessoas que me disseram
que se oporiam, não se opuseram.
E, no fim de contas, fomos
capazes de sanear muita coisa, o
que produziu enormes poupanças.
Voltando à questão dos recursos
humanos. Admite a possibilidade
de baixar salários?
Não necessariamente. Apenas racionalizar
o trabalho, olhando
para a taxa de trabalho no mercado
actual. Muitas empresas estão
a fazer isso agora. Quando não se
está a ganhar tanto dinheiro quanto
antes, tem de se certificar que a
força de trabalho seja acessível. Se
não for acessível, então tem de se
fazer algo. Podemos ter de encontrar
um mecanismo de oferecer um
esquema de afastamento voluntário.
Dessa forma, podemos ter
de oferecer às pessoas um pacote
de pagamento que vai encorajá-
-lo a pensar se quer ficar ou partir.
Quem partisse seria devidamente
compensado. Esta empresa já fez
isso antes, certas posições foram
eliminadas, mas depois foram recrutadas
novamente. Não é muito
inteligente fazer isso.
Sobre as rotas da TAAG, fala-se
em algumas não rentáveis. Considera
fazer cortes?
Há certas rotas que não têm sido
rentáveis quanto gostaríamos que
fossem. O voo para Cabo verde, por
exemplo, leva 5,5 horas no meio do
oceano Atlântico. É uma rota muito
cara, pois custa-nos 2,5 milhões
de dólares por ano, para transportar
apenas, em média, 20 pessoas por
voo. O 737 faz ida-e-volta com a
carga toda. Falando claramente,
não podemos dar-nos a esse luxo.
Então, Cabo Verde vai sair da programação.
Claro, que se o Governo
nos disser: “queremos que mantenha
o voo e estamos preparados
para subsidiá-lo”, nós aceitaremos.
Se o governo de Cabo Verde disser:
“vamos dar-vos concessões, reduzir
as taxas de aterragem, o custo do
combustível, etc, etc, se chegarmos
a algum tipo de assistência, vamos
continuar a rota como um serviço
público. Mas, até lá, as pessoas que
me desculpem, a empresa tem de
ganhar dinheiro.
E voos domésticos são rentáveis?
Não sei. Têm o seu custo, digamos
assim. Estamos a operar uma
abrangente rede de voos domésticos,
melhoramos um pouco nos
horários. Alguns desses voos têm
ligação com as rotas que deixam
Luanda para outros destinos, como
Lisboa. Lisboa é muito popular na
nossa rede, por isso é útil que alguns
desses voos conectem, para
que possam fornecer mais ligações
a Lisboa e Porto e vice-versa. Realmente,
tivemos de analisar a programação
nacional e internacional
e é curioso notar que, se olharmos
para as rotas internacionais, o que
acontecia era que os voos são Angola
para outros lugares, e de outros
lugares para Angola. Não é
esse o potencial de Luanda. Luanda
é um ponto importante e estratégico
para os serviços aéreos ao sul
do Sahara e precisamos aproveitar
isso. Por outras palavras, precisamos
trazer os voos provenientes da
América do Sul, Europa, China,
que liguem Luanda a outros pontos
em África, de modo a que pessoas
viagem de uns destinos para outros
e possam usar os nossos voos para
isso. Isso é algo que nunca foi feito
antes.
Porquê?
Primariamente, é preciso ter um
visto para transitar por Angola.
Quando chegámos aqui, reunimo-
-nos com oficiais do departamento
de migrações, altos funcioná-
rios ministeriais e dissemos-lhes:
“olhem, Luanda é uma potencial
placa giratória, não precisam pedir
vistos a quem entra em Angola”. E
eles concordaram e estão a eliminar
a maior parte dos vistos de trânsito
para as pessoas que apanham voos
de ligação dentro de 24 horas, e os
resultados do sucesso já são signifi-
cativos. Embora o mercado angolano
não cresça de momento, estaPCA
da TAAG, abre o livro
“As empresas angolanas, em reorganização,
deviam ser geridas por estrangeiros”
Por Cândido Mendes*
Peter Hill, britânico de nacionalidade, é um consultor internacional
de empresas de aeronáuticas, com especialidade
em ´start-ups’ aéreos e ‘rebranding’. No seu longo
‘currículo aéreo’, constam os cargos de PCA das linhas
aéreas de Oman, (2008-2011), Sri Lankan Airlines (1999-2008),
além de várias consultorias prestadas a FlyDubai, GM Commercial.
É membro fundador da Emirates, a companhia que o trouxe
à TAAG.
mos a conseguir trazer os clientes
dos mercados ao redor, o que aumenta
a nossa carga dentro e para
fora de Angola em voos internacionais.
Por exemplo, quando, em
Março ou Abril, começámos a ligar
Joanesburgo e Cidade do Cabo,
para os nossos voos para Lisboa e
Porto, tínhamos 6,7 passageiros.
Seis meses depois, estamos receber
entre 80 e 90 passageiros que
vêm através daqueles destinos que
conectam com o nosso voo para
Lisboa e Porto. Neste inverno, ligaremos
para o nosso voo para o
Brasil, Havana e talvez Dubai. São
essas coisas que irão aumentar o
nosso negócio daqui para frente. E
isso permitiu-nos manter voos di-
ários duplos para Portugal todo o
tempo, mesmo no Inverno, quando,
no passado, teríamos de reduzir o
número de frequências nessa altura,
por falta de demanda.
Onde vê a TAAG chegar sob o seu
comando?
A Emirates tem um contrato de
gestão de 10 anos aqui. Eu, provavelmente,
vou estar aqui por mais
dois anos, mais ou menos. Até
agora, financeiramente esperamos,
pelo menos, atingir o ‘breakeven’
no momento em que sair. Isso é
um grande passo, porque esta empresa
nunca o fez ao longo da sua
história. Em segundo lugar, queremos
construir a marca para que
as pessoas olham para a TAAG
como uma das transportadora aé-
reas líderes em África. Esse é o objectivo.
Se vamos ser capazes de o
alcançar, vamos ver... De qualquer
forma, vou recebendo declarações
positivas de muitos dos nossos
clientes regulares que estão a notar
diferenças. Os voos são muito mais
pontuais do que eram no passado.
O interior da aeronave é muito
mais limpo, muito melhor do que
eram. O serviço de chão começou
a funcionar melhor. Não é o ideal,
porque não estamos a operar num
aeroporto ideal. É um muito congestionado
aeroporto, lotado. Mas
tentamos melhorar os processos
que controlamos tanto quanto podemos.
O que gostaria de ver em
três anos é as pessoas dizerem: “Há
aí o voo da TAAG? eu vou com a
TAAG”, enquanto, no passado,
era: “TAAG? que outra companhia
também vai?”
*valoreconomico.co.ao
Peter Hill, PCA da TAAG
precisam de ser promovidos, é sua
prerrogativa, seu direito e temos a
certeza de que é possível.
Como primeiro PCA não-angolano,
na história da TAAG, enfrentou
resistência por esse facto?
Ou terá sido pelas reformas que
aplicou?
Esta não é a primeira vez que assumo
um cargo, como estrangeiro.
Estive em Omã, no Sri Lanka e fiz
parte da equipa que fundou a Emirates.
Logo, isso não é novo para
mim e não o é para a maioria da
minha equipa também. Em termos
de TAAG, isso foi completamente
novo. O pessoal ficou realmente
um pouco preocupado que isso tenha
ocorrido. Tive conversas com
ministros e vários funcionários do
Governo. É muito mais fácil para
um estrangeiro chegar a uma empresa
aérea, como a TAAG, e implementar
políticas que realmente
têm efeitos benéficos sobre o negócio.
Elas podem até perturbar as
pessoas em Angola, mas a pessoa
encarregada de as realizar, no caso
eu, não tem qualquer pressão que
não seja a pressão de ser o CEO da
empresa.
Deve depreender-se que a TAAG
não avançaria com angolanos à
frente?
Pelas razões que referi, é mais fácil
para mim implementar a mudan-
ça, do que seria para um angolano.
Porque o angolano seria pressionado
por todos os tipos de pessoas e
interesses externos. Quanto a mim,
eu realmente tive a vida facilitada.
Quando se coloca algum tipo de
pressão de alguém do Governo
para fazer determinada coisa, respondo:
eu tenho um mandato do
Presidente, que me diz que isso
tem de acontecer como um negó-
cio. Eu simplesmente indico isso,
quando alguém me desafia, inquirindo
por que faço isso ou aquilo.
Quando lhes digo isso, eles recuam.
E eu acho que isso é benéfico. Se
quem estivesse sentado na minha
cadeira fosse um angolano, acho
que seria muito mais difícil para
ele. Mesmo para mim, não é simples,
mas eu não tenho essa pressão.
Por isso, acho que empresas como
esta, quando se estão a reorganizar,
devem talvez trazer um estrangeiro
por um período de tempo, apenas
para assentar as coisas, nivelar
a empresa, colocá-la num melhor
curso, e depois devolvê-la a um angolano
qualificado, para assumir o
comando.
Recentemente, disse à imprensa
que a TAAG conseguiu poupan-
ças de 70 milhões de dólares em
um ano. Que despesas teve de
cortar?
Os 70 milhões de dólares é o montante
que conseguimos economizar
desde a nossa chegada. Na realidade,
no total são 120 milhões
de dólares, porque há ainda os 50
milhões de dólares que tivemos de
aprovisionar para as contas deste
ano e do ano anterior.
Como fizeram isso?
Tivemos de passar pente a tudo.
Analisámos os contratos e a forma
como estes foram concebidos. Será
que precisamos de todos eles? Tí-
nhamos contratos de consultoria
em quase todas as áreas da nossa
actividade. E eu perguntava-me: se
eu tenho um gestor aqui que deve
desempenhar a sua função, por que
razão tenho um consultor sentado
ao lado dele a fazer o mesmo tra-
16 Savana 06-01-2017 PUBLICIDADE SOCIEDADE
Nós, mulheres, raparigas e homens, representantes do
Governo, da Sociedade Civil, do Sector Público e Privado,
de instituições académicas, religiosas e Parceiros de
Cooperação, reunidos no Centro Internacional de Conferências
Joaquim Chissano, na Cidade de Maputo, de
19 à 20 de Agosto de 2016, na 5ª Conferência Nacional
sobre Mulher e Género, organizada pelo Ministério do
Género, Criança e Acção Social, realizada sob o lema
“Moçambique, mulheres e homens unidos pelo desenvolvimento
sustentável” e com o objectivo de:
$YDOLDURJUDXGHFXPSULPHQWRGDVDFo}HVFRQVWDQWHV
da Declaração da IV Conferência Nacional sobre Mulher
e Género, realizada em 2014;
5HÁHFWLUVREUHDFRQWULEXLomRGDPXOKHUQRGHVHQYROvimento
sustentável do País;
3DUWLOKDUH[SHULrQFLDVHERDVSUiWLFDVGHYiULRVDFWRres
em relação a acções tendentes a igualdade de gé-
nero, empoderamento da mulher e desenvolvimento
sustentável;
'HÀQLUDFo}HVSULRULWiULDVSDUDDSURPRomRGDSDUWLcipação
de mulheres e homens no desenvolvimento
político, económico, social e cultural.
5HFRUGDQGR H HQFRUDMDGRV SHOR SDSHO GHVHPSHQKDGR
por Samora Machel, primeiro Presidente de Moçambique,
no tratamento igualitário entre o homem e a mulher
na luta pela emancipação da mulher;
5HFRQKHFHQGRRVHVIRUoRVTXHWrPVLGROHYDGRVDFDER
pelo Governo, sociedade civil, instituições religiosas e
parceiros de cooperação, referentes à implementação
dos objectivos e prioridades da igualdade de género;
Notando a progressiva participação de mulheres e homens
na luta pela igualdade de género e respeito pelos
direitos humanos da mulher e da rapariga;
Assumindo que a mulher tem um papel preponderante
na promoção da Paz e na transmissão dos valores morais;
Conscientes que os progressos visando a promoção da
igualdade de género na área social, económica, cultural
e política bem como o alcance do desenvolvimento sustentável
dependem da contribuição da mulher;
Preocupados com:
2DFHVVROLPLWDGRGDVPXOKHUHVDRVUHFXUVRVSURGXWLYRVHDRÀQDQFLDPHQWR
2IUDFRDFHVVRGDVPXOKHUHVj-XVWLoDDQtYHOGDVFRmunidades;
$SUHYDOrQFLDGHSUiWLFDVVRFLDLVQRFLYDVTXHGLÀFXO-
5(3Ô%/,&$'(02d$0%,48(
0,1,67e5,2'2*e1(52 &5,$1d$($&d®262&,$/
V CONFERÊNCIA NACIONAL SOBRE MULHER E GÉNERO
DECLARAÇÃO
tam o desenvolvimento da mulher e perpetuam a discriminação e a violência baseada
no género;
$YXOQHUDELOLGDGHGDVPXOKHUHVHGDVUDSDULJDVjLQIHFomRGR+,9²6,'$HDUHGXomR
do conhecimento sobre os métodos de prevenção desta doença;
$SUHYDOrQFLDGHJUDYLGH]HVSUHFRFHVTXHDIHFWDPRGHVHQYROYLPHQWRGDUDSDULJD H
$H[LVWrQFLDGHEDUUHLUDVVyFLR FXOWXUDLVTXHSURSLFLDPDVGHVLJXDOGDGHVGHSRGHUH
incapacidade das mulheres e raparigas na tomada de decisão, no acesso e utilização
dos diferentes serviços sociais básicos.
Constatamos o seguinte:
$SUHYDOrQFLDGHEDUUHLUDVTXHGLÀFXOWDPDVPXOKHUHVQRDFHVVRDRVPHFDQLVPRVGH
ÀQDQFLDPHQWRHFRQWUROHGDWHUUDHRXWURVUHFXUVRVSURGXWLYRV
$QHFHVVLGDGHGHDVVHJXUDUR IXQFLRQDPHQWRDGHTXDGRGRV&RQVHOKRV3URYLQFLDLV
SDUDR$YDQoRGD0XOKHU GDV8QLGDGHVGH*pQHURQDVLQVWLWXLo}HVS~EOLFDVHSULYDdas
a todos os níveis;
$QHFHVVLGDGHGHDODUJDUDDVVLVWrQFLDWpFQLFDYLVDQGRRPDLRUDSRLRGDVPXOKHUHVQR
negócio e a estruturação e gestão das suas empresas;
2UHIRUoRGDSURWHFomRHVHJXUDQoDGDPXOKHUHUDSDULJDQDVHVIHUDVIDPLOLDU FRPXnitária
e públicas; e
$SDUWLFLSDomRGDVPXOKHUHVQRVyUJmRVGHWRPDGDGHGHFLVmR FRPGHVWDTXHSDUDRV
yUJmRVORFDLV FRQWLQXDDLQGDDEDL[RGRV
No entanto, reconhecemos com satisfação:
$LPSOHPHQWDomRLQVWUXPHQWRVOHJDLV HVWUDWpJLDVHSODQRVTXHSURPRYHPHSURWHgem
os direitos da mulher e da rapariga;
$UHDOL]DomRGHSURJUDPDVGHHPSRGHUDPHQWRGHPXOKHUHV UDSDULJDVHGDVIDPtOLDV
2DODUJDPHQWRGRVVHUYLoRVHFXLGDGRVGHVD~GHSUHYHQWLYRVHFXUDWLYRVEDVHDGRV
QRVGLUHLWRVVH[XDLVHUHSURGXWLYRV
Presidente Filipe Nyusi acompanhado pela MGCAS - Cidália Chaúque, Governadora da Cidade de Maputo
( Iolanda Cintura) e Bettina Maas em representação das Nações Unidas no País
Savana 06-01-2017 17 PUBLICIDADE SOCIEDADE
$LQFOXVmRÀQDQFHLUD PRWLYDomRSDUDRFUHVFLPHQWRGDVSHTXHQDVHPpGLDVHPSUHVDV
pertencentes e geridas por mulheres;
2SDSHOGHVHPSHQKDGRSHODVLQVWLWXLo}HVUHOLJLRVDVQDSURPRomRGDSD] PRUDOL]DomR
da sociedade e na valorização e respeito dos direitos da mulher e da rapariga;
2VSURJUHVVRVHP WHUPRVGHSDUWLFLSDomRGDVPXOKHUHV QRV yUJmRVHSURFHVVRVGH
tomada de decisão a todos os níveis.
Por tudo isso, acordamos e recomendamos:
1. Prosseguir com a divulgação da história da emancipação da mulher moçambicana e
o seu envolvimento na luta pela independência nacional;
2. Prosseguir com o enaltecimento do papel desempenhado por Samora Machel na valorização
da mulher e na promoção da igualdade de género;
5HYHUHSURVVHJXLUFRPDLPSOHPHQWDomRGHOHLV SROtWLFDVHSURJUDPDVTXHSURWHJHP
os direitos da mulher;
3URPRYHUDUDWLÀFDomRGHLQVWUXPHQWRVOHJDLVTXHSURWHJHPHSURPRYHPRVGLUHLWRV
das mulheres e raparigas;
([SDQGLURDSRLRHDVVLVWrQFLDWpFQLFDjVPXOKHUHVSDUDDLGHQWLÀFDomRGHVROXo}HV
PDLVDGHTXDGDVGHÀQDQFLDPHQWRHLPSOHPHQWDomRGHSURMHFWRVGHLQYHVWLPHQWR
([SDQGLUDVDFo}HVGHGLVVHPLQDomRGHFRQKHFLPHQWRVVREUHRVPpWRGRVGHSUHYHQomRHWUDWDPHQWRGR+,9 6,'$ HVSHFLDOPHQWHSDUDPXOKHUHVHUDSDULJDV
7. Alargar os programas de educação da rapariga dotando-a
de capacidade de tomada de decisões sobre os
VHXVGLUHLWRVVH[XDLVHUHSURGXWLYRVHSURPRYHUDPXdança
de mentalidade;
(QYROYHUDVHVWUXWXUDVFRPXQLWiULDVQDSURPRomRGD
igualdade de género e prevenção dos casamentos prematuros
e gravidezes precoces;
5HPRYHUDVEDUUHLUDVVyFLR FXOWXUDLVTXHLPSHGHPD
participação efectiva das mulheres em todos os processos
políticos e de desenvolvimento social e económico;
5HIRUoDUDVDFo}HVYLVDQGRDLQFOXVmRÀQDQFHLUDGD
mulher e o crescimento das pequenas e médias empresas
pertencentes e geridas por mulheres;
11. Alargar as acções para assegurar o acesso e retenção
das raparigas nos diferentes níveis de ensino, a alfabetização
e educação de adultos e formação técnico pro-
ÀVVLRQDO
5HIRUoDU DVPHGLGDV SDUD SUHYHQLU H FRPEDWHU RV
casamentos prematuros nomeadamente a remoção das
SUiWLFDVVRFLDLVQRFLYDV DUHYLVmRGD/HLGD)DPtOLDH
adopção de outras medidas legais;
5HDOL]DUDFo}HVGHSUHYHQomRHFRPEDWHDYLROrQFLD
contra a mulher, especialmente as mulheres idosas e as
PXOKHUHVFRPGHÀFLrQFLD
(VWDEHOHFHUXPDSODWDIRUPDGHLQWHUYHQomRKDUPRQL]DGDGDVFRQÀVV}HVUHOLJLRVDVQDSURPRomRGD3D]H
dos direitos da mulher e da rapariga;
(QYROYHU DV LQVWLWXLo}HV UHOLJLRVDV QD HGXFDomR H
preservação de valores morais valorizando o papel da
família e os direitos da mulher e da rapariga;
5HIRUoDUDSDUWLFLSDomRGDVPXOKHUHVQRDOFDQFHH
manutenção da Paz destacando o seu papel na família
e nas comunidades;
0RQLWRUDUDVDFo}HVGDVFRQÀVV}HVUHOLJLRVDVH WRmar
medidas para o respeito dos direitos humanos e
promoção de práticas sociais positivas;
18. Desenvolver acções que visam aumentar a participação
da mulher a todos os níveis com destaque para
os órgãos locais;
'LYXOJDUHÀVFDOL]DURVPHFDQLVPRVGRDFHVVRGDV
mulheres aos recursos produtivos especialmente à terra;
20. Implementar programas de educação das crianças e
jovens sobre a igualdade e a equidade de género;
(VWHQGHUHFDSDFLWDURV&RQVHOKRVSDUDR$YDQoRGD
0XOKHUHDV8QLGDGHVGH*pQHURQDVLQVWLWXLo}HVS~EOLcas
e privadas a todos os níveis;
'LYXOJDUDVPHWDVGR*pQHURQRV2EMHFWLYRVGH'Hsenvolvimento
Sustentável e estabelecer um sistema de
SURGXomRGHHVWDWtVWLFDVGHJpQHURÀiYHLV
'HÀQLU H LPSOHPHQWDU PHFDQLVPRV GH PRQLWRULD
das estratégias e políticas públicas visando o alcance
dos objectivos de desenvolvimento sustentável e a integração
do género.
A responsabilidade de coordenação da implementação
da Declaração é do Ministério do Género, Criança e
Acção Social e a sua operacionalização será garantida
pelas instituições públicas, organizações da sociedade
civil, instituições académicas, instituições religiosas,
sector privado e parceiros de cooperação.
Presidente da República discursando na abertura da V conferência
Parte dos participantes da V Conferência
18 Savana 06-01-2017 OPINIÃO
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admc@mediacoop.co.mz
Administração
www.savana.co.mz
EDITORIAL Cartoon
O
discurso oficial da ditadura
angolana atribui o atraso
do país à guerra.
A guerra foi responsável por uma
total devastação, e por isso o país
tem demorado muito tempo a erguer-se
e a recuperar.
Ainda agora o governador do Malange
fez eco desse pensamento
quando num discurso afirmou:
“Agostinho Neto, independência
nacional, José Eduardo dos Santos,
paz, reconciliação nacional e reconstrução
nacional até às bases do
desenvolvimento, e João Lourenço,
desenvolvimento e prosperidade.”
Esta tripla estratificação explicaria
por que razão o mandato de José
Eduardo dos Santos fora um fiasco
para Angola em termos económico-sociais.
Tal aconteceu devido ao
facto de o ditador-presidente ter
estado ocupado com questões de
guerra e paz. E já o próprio José
Eduardo tinha afirmado, no seu
surreal discurso do Estado da Na-
ção de Outubro de 2016: “Muitos
questionam por que razão não começámos
este processo [diversificação
da economia] muito antes,
mas na verdade ele começou há
muito tempo, só que não havia condições
objectivas no nosso país para
avançarmos mais depressa. Quando
terminou a guerra em 2002, Angola
e o Cambodja eram os países
do mundo que tinham mais minas
anti-pessoal e anti-tanque.”
José Eduardo usa o argumento da
guerra, em particular as minas espalhadas
pelo território, para justificar
A guerra e o atraso de Angola
Por Rui Verde*
todo o atraso económico angolano
e a dependência do petróleo. Não
explica como gastou os mais de US
$309 biliões de receitas fiscais derivadas
da exportação de petróleo
e de poupança líquida do Estado,
arrecadados entre 2002 e 2014.
Esta teoria pode encontrar eco na
propaganda, mas não na realidade.
Estamos perto de 2017, a guerra
terminou em 2002. Passaram-se,
portanto, 15 anos.
Façamos um pouco de história
comparada.
Em 1945, terminou a Segunda
Guerra Mundial, com a derrota da
Alemanha nazi. A própria Alemanha
fora invadida pelos exércitos
anglo-americano, de um lado, e
russo, do outro. No final, a capital,
Berlim, era o rosto da devastação
do país.
Costuma-se chamar a este ano –
1945 – o ano zero da Alemanha.
O país ficou sem nada. “Milhões
de metros cúbicos de entulho eram
a única coisa que restava das metrópoles
alemãs depois do final da
Segunda Guerra Mundial.(…) Os
bombardeios às cidades alemãs
haviam deixado 20 milhões de
desabrigados no país. Quatrocentos
milhões de metros cúbicos de
entulho tinham de ser removidos.
Um comparativo para demonstrar
a situação: dos 750 mil habitantes
de Colónia antes da guerra, haviam
restado 40 mil.
Quinze anos depois, 1960. A Alemanha
Ocidental é dos países mais
desenvolvidos e prósperos do mundo.
Aconteceu o chamado “milagre
económico”. Entre 1952 a 1960, o
investimento aumentou 120% e a
economia cresceu 80%.
Isto quer dizer que, se é verdade
que a guerra destruiu a Alemanha,
tal não foi razão para que, 15 anos
depois, a Alemanha não fosse um
dos países mais prósperos do mundo.
Foram precisamente os mesmos
15 anos que não serviram para Angola.
Dirão que Angola não é a Alemanha.
Certo, mas daqui deriva que,
se Angola não cresceu e não se
tornou um país próspero depois de
2002, não foi por causa da guerra,
mas por outros condicionalismos:
a má governação, a apropriação da
riqueza por uma pequena clique
dominante, a corrupção, a falta de
educação e a falta de investimento
na população.
A diferença entre Angola e a Alemanha
no pós-guerra é que Angola
teve uma classe dirigente não democrática
cujo único objectivo foi
enriquecer e gozar dos despojos da
guerra. Os generais vitoriosos sentiram
o direito ao saque. Ganharam
a guerra, e agora tudo é deles.
Sentiram-se verdadeiros Senhores
da Guerra, donos do país, do povo,
das riquezas.
Essa – e não a própria guerra – é a
única razão pela qual Angola não
evoluiu depois do conflito.
A guerra não pode continuar a servir
de alibi para o atraso, a ganância
e a corrupção da ditadura angolana
que mantém o país na miséria.
*makaangola.org
Uma conversa telefónica durante a quadra natalícia é tudo o
que foi necessário para que o Presidente Nyusi e Afonso
Dhlakama concordassem numa trégua de sete dias, que seria
prolongada caso tudo corresse conforme o desejado.
E os dois homens voltaram a conversar no dia 2 de Janeiro, para nesta
ocasião concordarem, mais uma vez, que era necessário prolongar a
trégua por mais sessenta dias.
Se durante a guerra dos 16 anos a principal dificuldade enfrentada
pelo então governo de Joaquim Chissano foi primeiro identificar a
verdadeira liderança da Renamo e depois localizá-la, hoje essa tarefa
tornou-se mais facilitada, muito graças à evolução das tecnologias
de comunicação. Nuysi sabe muito bem onde encontrar Dhlakama,
e tem os instrumentos para com ele comunicar, sempre que o quiser.
Isto então levanta a questão lógica de que, se os dois se podem comunicar
com tamanha facilidade, e pelos vistos se entendem muito bem,
o que é que lhes impede de alcançar um entendimento mais global,
que de uma vez por todas ponha fim à actual situação de conflitualidade
militar no país?
Esta pergunta pode ter várias respostas. Mas aquela que parece ser
mais justa é que a solução para o actual conflito político e militar
ultrapassa a vontade individual dos dois líderes.
Nyusi já o disse, publicamente em várias ocasiões, que se tudo dependesse
dele e do presidente da Renamo o problema já teria sido
resolvido. Isto implica a existência de outros factores ou forças sobre
os quais nem Nyusi nem Dhlakama devem ter controlo. Quais são,
essa é a pergunta multimilionária.
O facto de Nyusi e Dhlakama poderem falar constantemente, trocando
cordialidades e irem ao ponto de tomar decisões importantes,
aparentemente subalternizando os chefes das suas delegações
nas negociações entre as duas partes parece sugerir a existência de
dois processos paralelos; um formal, que decorre em Maputo com o
envolvimento de mediadores internacionais, e um outro em que os
dois titulares discutem as suas ideias e procuram, entre eles, encontrar
soluções que poderão eventualmente ser impostas sobre as respectivas
delegações como um fait accompli.
É uma estratégia que pode produzir resultados, mas que também
pode ser arriscada, sobretudo se os entendimentos ao nível da cúpula
estiverem a ser feitos à revelia da vontade das chefias militares dos
dois lados e, particularmente, no caso do Presidente Nyusi, se os seus
contactos informais não estiverem a ser amadurecidos primeiro ao
nível do partido Frelimo e do seu elenco governativo.
Tem sido dito, e de forma reiterada, que o Presidente Nyusi não está
devidamente sincronizado com alguns sectores dentro do seu próprio
partido quanto à abordagem que deve ser dada para o alcance de um
entendimento com a Renamo. Se é que tal corresponde à verdade,
nunca se soube qual é a solução que tais sectores defendem para que
se estabeleça no país a tranquilidade e a concórdia que tanto se deseja.
Estará Nyusi, de forma consciente e deliberada, a fazer uma jogada
de risco próprio para forçar um entendimento, mesmo que para isso
tenha de sacrificar o seu futuro na liderança da Frelimo?
Do lado da Renamo, a situação é ainda mais enigmática. A sua estrutura
de tomada de decisões parece muito centralizada na figura do
presidente, e pouco se sabe das dinâmicas internas, especialmente sobre
se é Dhlakama quem controla os seus militares ou se são estes que
ditam as regras de jogo. Se for este último caso, a questão será sobre
até que ponto estarão estes conformados com as decisões anunciadas
pelo seu chefe.
É a resposta a este conjunto de questões que determinará se o actual
estado de tréguas se transformará numa cessação definitiva das hostilidades,
ou se o país voltará a resvalar para uma nova vaga de violência
pior do que a actual.
Mas no meio de toda esta incerteza, será importante saber que garantias
Nyusi estará a dar à Renamo para que esta apareça agora inclinada
a assumir uma postura mais conciliatória.
Os próximos sessenta dias serão, sem dúvida, determinantes para
o futuro de Moçambique. Será este um país de paz e reconciliado
consigo próprio, ou de uma conflitualidade cíclica que o conduzirá
inevitavelmente a assumir o estatuto de mais um estado falhado num
continente onde tantos outros abundam.
Os sessenta dias que ditarão
o futuro de Moçambique Meus companheiros
gambianos nada pode
me separar do amor
pelo poder! Sobre
derrota que sofri?
Ok, eu menti
Savana 06-01-2017 19 OPINIÃO
510
Email: carlosserra_maputo@yahoo.com
Portal: http://oficinadesociologia.blogspot.com
É
grande a preocupação de
muitos de nós com a qualidade
do ensino no país.
Todavia, acontece que
esquecemos muitas vezes a qualidade
da educação ministrada.
Se a qualidade do ensino remete
para a didática, a qualidade da
educação remete para a ética.
São dois fenómenos que não
devem ser encarados apenas
tecnicamente.
Na verdade, uma avaliação da
qualidade do ensino e da qualidade
da educação no país deve
Ensino, educação e
síndrome do cobertor curto
passar por uma pesquisa de natureza
estrutural e histórica que
tenha em conta os estatutos e as
relações sociais.
Porque há uma pergunta que
devemos colocar de frente: qualidade
de ensino e de educação
para quem e para quantos?
Se não quisermos responder a
essa pergunta, ficaremos sempre
reféns da síndrome do cobertor
curto: ao taparmos uma parte
dos problemas, deixamos outras
a descoberto.
O
quanto as políticas do
novo presidente vão aumentar
a produção e a inflação
é difícil prever.
Após anos de hibernação, a economia
dos EUA conseguirá se
erguer para uma grande retomada
nos próximos anos? Com a chegada
de um governo republicano
empenhado em reformular uma
economia já próxima do pleno emprego
com as prometidas barreiras
comerciais elevando os preços de
bens importados competitivos e a
independência do Banco Central
tendendo a ser atacada, uma inflação
mais alta — provavelmente
acima dos 3% em alguns momentos
— é quase uma certeza. E a
produção também poderá surpreender,
possivelmente alcançando
4%, pelo menos temporariamente.
Impossível? De jeito nenhum.
A economia já parece estar crescendo
num ritmo de 3% ao ano.
E mesmo os mais ferrenhos opositores
das políticas económicas
do presidente eleito Trump teriam
que admitir que elas são consistentemente
favoráveis aos negó-
cios (com a notável excepção do
O boom de Trump?
Por Kenneth Rogoff*
comércio).
Considere-se a regulação. Sob o
presidente Barack Obama, a regulação
trabalhista cresceu significativamente,
sem mencionar um
aumento dramático na legislação
ambiental. E isso sem considerar
a sombra enorme que o Obamacare
projecta sobre o sistema de
saúde, que sozinho representa 17%
da economia. Certamente, não estou
dizendo que repelir a regula-
ção da era Obama vai melhorar o
bem-estar médio dos americanos.
Longe disso. Mas as empresas ficarão
em êxtase, talvez até mesmo
dispostas a investir novamente. O
impulso na confiança já é palpável.
E há ainda o prospecto de um
amplo estímulo, patrocinado por
uma elevada expansão dos gastos
desnecessários em infra-estrutura
(presumivelmente, Trump vai
destruir a oposição do Congresso
a altos déficits). Desde a crise financeira
de 2008, economistas de
todos os espectros políticos defenderam
aproveitar as taxas de juros
extremamente baixas para financiar
investimentos em infra-estrutura
produtiva, mesmo ao custo de
um maior endividamento. Projectos
altamente rentáveis se pagam.
Bem mais controverso é o plano
de Trump de um corte de impostos
que beneficia desproporcionalmente
os ricos. É verdade, colocar
dinheiro nos bolsos dos poupadores
ricos dificilmente parece tão
efectivo quanto dar dinheiro aos
pobres. A concorrente de Trump,
Hillary Clinton, de forma memorável
fez um trocadilho com o
nome de Trump (“Trumped-up
trickle-down economics”), referindo-se
ao efeito trickle-down
(segundo o qual a aplicação de um
alívio tributário para os ricos, teoricamente,
beneficia toda a economia
pois estimula o consumo e os
investimentos). Mas, seja como for,
corte de impostos pode ser bom
para a confiança das empresas.
É difícil saber exactamente quanto
mais de dívida o programa de
estímulo de Trump vai acrescentar,
mas estimativas de US$ 5 trilhões
em dez anos — um aumento de
25% — não parecem exageradas.
Muitos analistas económicos de
esquerda, que depois de insistir
por oito anos na gestão Obama de
que não havia qualquer risco de os
EUA se endividarem, agora alertam
que o grande endividamento
no governo Trump vai asfaltar a
rodovia financeira para a destrui-
ção. É uma hipocrisia de tirar o
fôlego, mesmo que agora estejam
mais perto de estarem certos.
O quanto as políticas de Trump
irão aumentar a produção e a infla-
ção é difícil prever. O quanto mais
perto a economia americana fica
de esgotar sua capacidade, mais
inflação haverá. Se a produtividade
americana realmente entrou em
colapso, como acreditam muitos
académicos, estímulos adicionais
tenderão a elevar os preços bem
mais do que a produção; a demanda
não vai induzir nova oferta.
Por outro lado, se a economia
americana realmente tem grandes
quantidades de recursos subutilizados
e não empregados, o efeito
das políticas de Trump no crescimento
poderão ser considerá-
veis. No jargão keynesiano, ainda
existe um grande multiplicador
na política fiscal. É fácil esquecer
que a maior parte da recuperação
global vem do investimento das
empresas, e se ele começar a ocorrer,
finalmente, tanto a produção
quanto a produtividade poderão
começar a crescer de forma aguda.
Aqueles que estão muito enredados
na ideia de uma “estagnação
secular” dirão que maior crescimento
sob Trump é quase impossível.
Mas se acreditam, como eu,
que o crescimento lento dos últimos
oito anos se deveu sobretudo
ao excesso de endividamento e ao
temor da crise de 2008, então não
é tão difícil de acreditar que a normalização
está bem mais próxima
do que pensamos. Afinal, até hoje
virtualmente todas as crises financeiras
eventualmente chegaram ao
fim.
Claro, tudo é um olhar optimista
sobre a economia de Trump. Se o
novo governo se mostrar errático e
incompetente (uma possibilidade
real), a depressão rapidamente vai
sobrepujar a confiança. Mas cuidado
com os especialistas que estão
certos de que Trump trará uma
catástrofe. No dia da eleição, o colunista
do “New York Times” Paul
Krugman insistiu inequivocamente
que uma vitória de Trump
levaria ao colapso do mercado de
acções, sem qualquer recuperação
à vista. Investidores que confiaram
em seus insights perderam uma
boa quantidade de dinheiro.
Ao risco de exagero, é sábio lembrar
de que não é necessário
ser uma boa pessoa para fazer a
economia funcionar. De muitas
formas, a Alemanha foi tão bem-
-sucedida quanto os EUA em usar
programas de estímulos para tirar
a economia da Grande Depressão.
Sim, tudo isso poderia ter terminado
muito mal. O mundo é um
lugar perigoso. Se o crescimento
global entrar em colapso, a economia
americana poderia sofrer severamente.
Apesar disso, é bem mais
provável que após anos de lenta recuperação,
a economia americana
possa, enfim, estar pronta para se
mover de forma significativamente
mais rápida, pelo menos por um
período.
Kenneth Rogoff, ex-economista-chefe
do FMI, é professor de Economia
e Política Pública na Universidade
de Harvard
P
ara “caçar os ratos que roubam
o dinheiro arduamente
ganho pelos pobres” o
primeiro-ministro da Índia
retirou abruptamente de circula-
ção 86,4% das rupias emitidas pelo
Banco Central e a conta caiu pesada
sobre os desvalidos de sempre.
A 30 de Dezembro, ao expirar
o prazo anunciado por Narenda
Modi a 6 de Novembro para
substituição das notas de maior
denominação (1.000 rupias e 500
rupias - 14,12 e 7,60 euros), quase
90 por cento deste papel-moeda
fora depositado em bancos.
O montante retirado de circula-
ção é, contudo, inferior ao estimado
pelo Governo que admitia, ao
obrigar a respeitar regras estritas
de depósito para reconversão, eliminar
perto de 1/3 do papel-moeda
a reconverter.
Tais montantes estariam presumivelmente
na posse, sem justificação
legal, de pessoas ligadas à economia
subterrânea, responsáveis por
actos de evasão e fraude fiscal,
actividades criminosas (incluindo
falsificação de moeda) e terroristas.
Os proventos ilícitos num país
onde, segundo afirma o próprio
primeiro-ministro, apenas 2,4 milhões
de contribuintes declaram
rendimentos superiores a 14 mil
euros são, afinal, como seria de esperar,
essencialmente convertidos
em metais preciosos, bens imobiliários,
divisas e activos no estranO
sacrifício do pobre
Por João Carlos Barradas
geiro.
A reconversão de 2016 tal como
anteriores reconversões bruscas -
caso da efectuada ainda sob domí-
nio britânico em 1946 (envolvendo
10% das rupias em circulação
a trocar em 10 dias) e em 1978
(abarcando 1% da moeda a substituir
em três dias) - falhou, portanto,
no objectivo declarado por
Modi de expropriar os ganhos ilí-
citos de “elementos antinacionais e
anti-sociais”.
A economia informal, que supera
40% do PIB da sexta maior economia
mundial e emprega 4/5 da
mão-de-obra, segundo a maioria
das estimativas, foi, contudo, fortemente
prejudicada pela reconversão.
O sistema bancário obrigou a longas
e improdutivas esperas e passou
agruras para responder à procura
(nas zonas rurais contam-se
7,8 filiais por 100 mil habitantes),
constatando-se a impossibilidade
de imprimir em tempo útil número
suficiente de novas notas de 500
e 2.000 rupias (uma denominação,
por sinal, propícia ao universo ilí-
cito segundo a lógica que presidiu
a esta iniciativa de Modi).
O pequeno comércio registou,
consequentemente, perdas superiores
a 60%, a construção civil
cessou pagamentos, o corte e polimento
de diamantes em Surat foi
suspenso e o balanço dos 50 dias
de convulsão, além dos prejuízos
a curto prazo, levou a revisões em
baixa quanto ao crescimento do
PIB no último trimestre de 2016
para valores na ordem dos 6,5%.
O executivo de Modi subestimou
os custos da brusca reconversão
numa economia em que 98% das
transacções de consumo quotidiano
envolvem pagamentos em
dinheiro vivo e cerca de 40% dos
1,2 mil milhões de indianos não
possuem contas bancárias, quando
medidas de efeito mais significativo
no combate à corrupção e actos
ilícitos como a introdução de IVA
à escala nacional estão por concretizar.
Subsídios para o pagamento de juros
sobre empréstimos para pequenas
explorações agrícolas e aquisições
de primeira habitação de
baixo custo contam-se, entretanto,
entre as medidas anunciadas por
Modi no discurso de Ano Novo
para aliviar agruras e preparar o
eleitorado que em 2014 concedeu
uma maioria aos nacionalistas do
Bahratiya Janata para as eleições
de 2017.
As expectativas não são, apesar de
tudo, excessivamente pessimistas
pois a oposição não conseguiu
apresentar alternativa ao discurso
de Modi em defesa do pobre espoliado
e caça ao rico predador.
As eleições estaduais de 2017, sobretudo
a votação em Uttar Pradesh
(cerca de 200 milhões de habitantes),
selarão o veredicto sobre
a reconversão monetária de Modi.
Jornalista
20 Savana 06-01-2017 OPINIÃO
SACO AZUL Por Luís Guevane
T
erminados os sete dias de tré-
guas, iniciadas a 27 de Dezembro
de 2016, temos agora,
conforme o que já estava estabelecido,
um prolongamento de dois
meses. Este pequeno passo é, no fundo,
uma grande possibilidade de reencontro
cujo conteúdo é a paz, é o entendimento,
é a “não-guerra”. Algumas
violações e aproveitamentos de oportunistas
foram simplesmente a ressaca
da instabilidade político-militar que,
ainda assim, não tiveram combustão
suficiente para deitar abaixo o actual
esforço. Assim, a criação de um ambiente
de paz (entendido como ausência
de hostilidades político-militares)
significa, entre outros aspectos, a existência
de excelentes condições para a
produção e consequente possibilidade
de aprovação da lei da descentralizaA
vez do “problema”
ção.
Com este nível de entendimento, concordamos
que em algum momento não nos
preocupemos em apontar os culpados
disto ou daquilo. Entretanto, não é demais
que nos ocupemos do “problema”. O
que é que esteve na origem do problema
que descambou em hostilidades político-
-militares? Uma resposta simples e cómoda
seria: a democracia. Mas, essa resposta
obrigar-nos-ia a enfrentar uma outra pergunta:
será que a democracia é que criou
este problema de desentendimento entre
moçambicanos? Se concordarmos que um
dos aspectos da democracia é a livre escolha,
pelo cidadão, dos seus representantes,
e que nessa escolha o voto é crucial e tem
que ser respeitado, então, a fraca clareza
num processo eleitoral pode criar, aliás,
tem criado convulsões políticas e sociais.
Então, somos todos tentados a concordar
que a democracia criou problemas de
instabilidade político-militar em Moçambique.
“Somos tentados” porque a democracia
em si não é o problema! A fraude
é um empecilho mas surge na sequência
do jogo democrático. O problema não está
em os partidos terem os seus delegados a
fazer o controlo dos votos; está em termos
instituições credíveis aos olhos de todos.
A credibilidade passa não só por compactuar
com elevados níveis de organização
mas também pelo entendimento que os
respectivos gestores dos órgãos eleitorais
têm do conceito “democracia”. Quem não
entende minimamente o referido conceito
facilmente envereda no xadrez da fraude.
A falta de clareza nos resultados eleitorais
cria inevitavelmente um forte repúdio.
Deste modo, conseguimos tocar no problema
sem apontar este e aquele como culpado.
Entretanto, estamos mais interessados
nas prováveis soluções. Será que os
telefonemas entre o Presidente da República
e o Líder da Renamo chegaram
a acomodar a questão das “províncias
da Renamo”? A lei da descentralização
conduz a esse aspecto?
Cá entre nós: julgamos importante um
forte comprometimento das partes na
resolução do problema (político e militar)
para que não seja mais uma estratégia
de se jogar com o factor tempo só
para melhorar a imagem do país, reconquistar
a confiança do FMI e respirar
alguns dólares. Enquanto vamos tirando
proveito das tréguas militares, os trabalhos
da auditoria internacional prometem
trazer, nos próximos meses, alguns
ganhos para o país. Os finais do mês de
Fevereiro e primeira quinzena de Março
poderão vir a ser muito promissores em
termos de notícias e debates.
N
yusi e Dhlakama gostam muito um
do outro. Tanto que cada um deles
esteve desejoso, até mesmo ansioso
de fazer qualquer sacrifício que fosse
necessário para oferecer ao outro uma prenda
de grande valor como prova suprema do
amor que nutrem um pelo outro. A trégua
(pausa!) nos combates por ocasião do Fim de
Ano não poderia ser melhor coisa! Mas tinha
que ser uma trégua com alguns atritos, para a
receita funcionar bem.
Ora vejamos a seguir como tudo acontece.
Primeiro é preciso notar que nós os outros
somos considerados beneficiários secundá-
rios pelos beligerantes, mas de grande valor
para que os dois beneficiários primários (os
beligerantes) disfrutem do benefício que
pode resultar de tal transação. Na realidade
espera-se que nós (os secundários) desempenhemos
um papel na mudança do equilíbrio
de forças. Segundo, (e em com sequência do
primeiro aspecto) ato de oferecer a trégua
tem mais valor para quem o fizer (ou parecer
que o fez). Por exemplo, pode-se supor que
quem oferecer a pausa nas hostilidades terá
maior apoio dos beneficiários secundários
(nós os outros) que o passariam a considerar
humanista. Representamos isto na figura
em anexo a este texto, onde damos benefício
de valor 2 a quem oferece a pausa. Aceitar
a pausa também tem benefícios, embora não
comensuráveis aos derivados do acto de oferecer.
Por isso damos valor 1 ao benefício resultante
desse acto de aceitar a pausa.
O ponto de partida é o quadrante B (FogoFogo),
no qual as bases de apoio a qualquer
um dos beligerantes se vão corroendo pois
todos os moçambicanos (simpatizantes ou
não da FRELIMO ou da RENAMO) querem
o fim das hostilidades militares e os beligerantes
nada ganham em obstinarem nos
combates armados. Por outro lado, existe um
‘núcleo duro’ em cada uma das organizações
que não está a favor da Pausa (ou do fim da
guerra), e que solidificaria o seu apoio ao seu
partido se continuasse a fazer fogo mesmo na
Tréguas, prolongamentos e a falta de credibilidade dos actores
Por Roberto Tibana*
presença de uma oferta unilateral de pausa
feita pela outra parte.
Para nós os beneficiários secundários, o preferível
é o quadrante D (PausaPausa, ou Pausa
por ambas as partes). Mas será que pela sua
natureza FRELIMO e RENAMO podem ir
direto para o Quadrante D (isto é de FogoFogo
para PausaPausa?).
Suponha que Nyusi decide fazer Pausa.
Dhlakama tem duas respostas possíveis. Faz
também pausa, mas neste caso nenhum deles
capturou totalmente para si a presa pela qual
lutam e ainda as pessoas perguntam porquê
pausa e não FIM de toda a insanidade? Outra
possibilidade é Dhlakama rejeitar ou violar a
Pausa. Neste caso a FRELIMO ganha mais
simpatia, mas também Dhlakama granjeia
um pouco mais de simpatia por parte do seu
núcleo duro. O reverso também se aplica. Se
Dhlakama faz pausa e Nyusi viola (continua
a combater mesmo que esporadicamente),
Dhlakama ganha pontos na sociedade mas
Nyusi também granjeia mais apoio do núcleo
duro da FRELIMO.
O mais curioso de tudo isto é que convém
a quem oferecer a pausa que a outra parte a
recuse ou viole. E equivalentemente pelas razões
já indicadas existe também um incentivo
para a outra parte recusar ou violar a pausa.
Deixados a si sós, é pouco provável que estes
dois convivam no PausaPausa (quadrante D).
Nós não sabemos exactamente o que se passou
antes e após a divulgação da trégua (quem
pôs a oferta na mesa?). Mas isso é imaterial
neste momento. Se seguirmos a lógica do
jogo descrito acima, pelos pronunciamentos
de Dhlakama (que ganham credibilidade
por não serem desmentidos pelo Governo),
parece que nos dias da trégua estava-se
no quadrante A (Pausa pela RENAMO e
fogo ou movimentos de violação por parte
da FRELIMO). Mas não nos esqueçamos
que os dois se gostam. O próprio Dhlakama
menciona os incidentes violação não como
assunto de grande importância e por isso não
sai do jogo. Antes pelo contrário. Entra para
o seu prolongamento.
Mas existem vários motivos para se pensar
que no prolongamento a outra parte possa
tentar usar “a sua vez” violar enquanto o outro
mantém a pausa (um exemplo: para “salvar a
honra”). Sendo assim, o mais provável é que
nos próximos meses vamos assistir a deslocamentos
intermitentes entre os quadrantes A
(FogoPausa) e C (PausaFogo). Neste último
quadrante (o C) Nyusi vai manter a Pausa e a
Dhlakama vai violá-la. Acontece porém que
de uma pausa com violações as partes por si
só não podem saltar para D (PausaPausa).
Ou elas voltam para B (FogoFogo) ou invertem
as posições de novo para A (FogoPausa).
Isto já vimos que convém aos dois beligerantes
(sem respeito pelos interesses dos “beneficiários
secundários”).
Mais: é que enquanto Nyusi prefere o Quadrante
C Dhlakama prefere o quadrante A.
É este conflito de interesses que faz com que
não tenhamos a certeza do que se passou:
quem foi que ofereceu a pausa? Note que
interessa a parte que oferece a trégua que a
outra a viole, pois só em face de um oponente
que se recusa (ou viola) a trégua é que a oferta
tem o valor político esperado.
Assim, na minha maneira de ver (pelo menos
com a informação disponível) ainda vamos
assistir a mais FogoPausa e pausaFogo. E a
intensidade de tudo isto vai ser calibrada de
maneira sincronizada com o andar das negociações
entre as duas partes durantes os
dois meses de ´trégua”. Tanto mais que nem
sequer observadores ou testemunhas independentes
existem para verificar, certificar e
garantir o que estão a fazer. É como os generais
que têm medo de destruir as pontes atrás!
O seu cometimento na batalha final pela paz
não é credível.
Se quiserem ser credíveis deviam já declarar
um fim definitivo de hostilidades militares
e convocar a Conferência Nacional Sobre a
Paz, Reconciliação e Desenvolvimento onde
todos os assuntos sejam dirimidos com a participação
de TODOS. Não só de “seus” especialistas,
e sem a chantagem das armas.
*Texto retirado da página do autor no facebook
Savana 06-01-2017 21 PUBLICIDADE
22 Savana 06-01-2017 DESPORTO
2
016 fica na história como
um “ano adverso e difícil”,
como referiu o Presidente
da República, Filipe Nyusi,
no seu informe à nação, em Dezembro
último. A crise financeira,
provocada por uma conjugação de
factores, com destaque para a retirada
do financiamento externo
ao Orçamento do Estado, devido
à descoberta de dívidas escondidas
(USD 1.4 mil milhões) e a seca, que
afectou a zona sul; e a crise político-
-militar são apontadas como responsáveis
pelo mau ano.
A “adversidade” deste ano bissexto,
que deixamo-lo há seis dias, fez-se
sentir no desporto, onde, por um
lado, mais da metade dos clubes
tiveram dificuldades de honrarem
com os seus compromissos, levando
alguns atletas a faltarem aos treinos
e jogos do primeiro escalão do
nosso futebol.
Por outro lado, apesar do país ter
participado em vários eventos desportivos
(exemplo dos Jogos Olímpicos,
Paralímpicos, CAN e Mundial
de Futsal, etc.), os mesmos não
produziram resultados satisfató-
rios, excepto a medalha de bronze
dos Jogos Paralímpicos e do título
africano de Vela.
Nesta edição, partilhamos, com os
nossos leitores, os momentos que
marcaram o ano de 2016, que na sua
maioria foram negativos que positivos,
destacando o desabamento
do muro da Piscina Olímpica do
Zimpeto e as mortes de Frederico
dos Santos, Joaquim João, Samuel
Chirindza e Ferreira Garincha.
Janeiro
-Passavam 25 dias do novo ano
(2016), quando o Presidente da Federação
Moçambicana de Futebol
(FMF), Alberto Simango Jr., anunciou,
em conferência de imprensa, a
contratação de Abel Luís da Silva
Costa Xavier, como seleccionador
nacional de futebol, uma decisão
muito criticada, devido à sua fraca
experiência.
O facto é que, até à data da sua
contratação, o curriculum vitae do
luso-moçambicano apontava, como
treinador, a sua passagem por três
clubes portugueses sem maior expressão,
nomeadamente, OlhanenDo
desastre do Zimpeto ao bronze paralímpico
Retrospectiva-2016
Por Abílio Maolela
se, Farense e Desportivo de Chaves,
onde também não conseguiu cumprir
com os seus contratos.
Esta contratação aparecia como um
“golpe duro” à nação futebolística,
muito pelo facto de a FMF ter rejeitado
a continuidade do croata Boris
Pucic que, em dois jogos, devolveu
a confiança ao país, ao forçar o desempate
por penáltis, no Jogo de
Qualificação ao Mundial de 2018.
Fevereiro
-Este mês é marcado pelo anúncio
e aprovação, em Assembleia-Geral,
do regresso da II Liga de Futebol,
uma competição que trouxe mais
problemas que competitividade,
uma vez que alguns clubes abandonaram-na,
antes do início, devido à
problemas financeiros.
Aliás, a decisão foi mais política que
desportiva, pois, faz parte do manifesto
eleitoral da actual direcção, porém,
sem sustentabilidade. Durante
a AG, o Presidente da FMF prometeu
apoiar os clubes em algumas
despesas, algo que não se concretizou
e criou embaraços no desfecho
da prova, como foi o caso da zona
norte, onde o Benfica de Nampula
desistiu nas últimas jornadas.
-O segundo mês do ano termina
com a triste notícia da morte do
Treinador do Tubarões de Maputo
e Seleccionador Nacional de Nata-
ção, Frederico dos Santos, vítima do
desabamento de uma das paredes da
Piscina Olímpica do Zimpeto.
O incidente, que ocorreu na tarde-
-noite de 20 de Fevereiro, após as
primeiras jornadas do campeonato
da Cidade de Maputo, deixou a
nu a negligência e falta de rigor na
construção e fiscalização de obras
públicas, assim como as negociatas
que imperam na contratação de empreitadas
públicas.
Aliás, além de Frederico dos Santos,
a parede feriu mais oito pessoas, das
quais o nadador Denílson da Costa,
que viu o seu percurso ao Rio de Janeiro
interrompido.
Março
-Como sempre, o mês de Março
marca o arranque do campeonato
nacional de futebol, que, em 2016,
teve a particularidade de contar, pela
primeira vez, com 16 equipas, mas
também pelo regresso das faltas de
comparências, tendo o Desportivo
do Niassa como o protagonista e a
face mais visível da crise económica
que abalou os clubes;
-Outro evento de realce foi a reforma
estrutural levada a cabo pelo
Ministro da Juventude e Desportos,
Alberto Nkutumula, no pelouro do
Desporto, exonerando, numa sentada,
Amélia Cabral, Inácio Bernardo
e António Munguambe, dos cargos
de Directores Nacional do Desporto,
do Fundo de Promoção Desportiva
e do Instituto Nacional do Desporto,
respectivamente;
-Destacar também a mais uma eliminação
precoce das equipas mo-
çambicanas, nas competições africanas.
O Ferroviário de Maputo
(na Liga dos Campeões) pelo AS
Vita, da República Democrática do
Congo, enquanto a Liga Desportiva
de Maputo (Taça CAF) sucumbiu
diante do Sagrada Esperança, de
Angola.
Abril
-O quarto mês do ano é marcado
por dois momentos díspares. O
primeiro e mais triste foi a morte,
vítima de doença, de Joaquim João
Fernandes, antigo capitão do Ferroviário
de Maputo e da selecção
nacional de futebol. O desaparecimento
físico do “homem elástico”
representou também a partida de
mais um craque sem o devido reconhecimento.
-Enquanto que o segundo e mais
alegre foi a qualificação da selecção
nacional de futsal para o Campeonato
do Mundo da modalidade,
após terminar em terceiro lugar, no
campeonato africano.
Junho
-O mês da independência nacional
começa com os sócios do Maxaquene
a demitirem, em Assembleia-
-Geral, a direcção liderada por
Ernesto Manhiça Jr. e convocarem
eleições antecipadas;
-Seguiu-se a morte do primeiro
árbitro-FIFA, José Ferreira Garrincha,
vítima de doença. À data dos
factos, Garrincha era Presidente da
Comissão Nacional de Árbitros de
Futebol;
-O mês termina com mais uma notícia
triste, que foi a morte, vítima
de doença, do árbitro internacional
Samuel Chirindza, o porta-estandarte
desta classe, nos últimos anos.
Julho
-Neste mês, há registo para a recondução
de Nicolau Manjate à presidência
da Federação Moçambicana
de Patinagem, num processo que
durou quatro meses, tendo o ex-
-vice-Ministro da Juventude e Desportos,
Carlos de Souza, o maior
protagonista, ao ter apresentado a
sua candidatura no dia das eleições
(em Março, facto que levou o escrutínio
a ser adiado por várias vezes) e
desistido um dia antes das eleições,
em Julho;
-Também foi neste mês em que Má-
rio Coluna tornou-se, a título póstumo,
no segundo Doutor Honoris
Causa, em Ciências do Desporto,
no país, depois da Lurdes Mutola.
O grau foi concedido pela Faculdade
de Educação Física e Desportos,
da Universidade Pedagógica, como
“demonstração de vénia à sua figura”,
à semelhança do que era feito
pelos adversários;
-Registo também para a recondução
de Ernesto Júnior e sua equipa, no
Maxaquene, até ao fim do mandato.
Agosto
-Para o mês de Agosto, dois factos
apenas mereceram maior registo. O
primeiro foi a participação de Mo-
çambique nos Jogos Olímpicos, realizados
no Rio Janeiro, onde o nosso
país voltou a bater mais um record:
o da delegação com maior número
de dirigentes.
-O segundo é a homenagem, pela
FMF, a Augusto Matine pela sua
entrega, dedicação e profissionalismo
na formação de jogadores.
Setembro
-O mês de Setembro marca a estreia
do nosso país no mundial de futsal,
realizado na Colômbia, tendo regressado
com três derrotas, em igual
número de jogos;
-Também foi neste mês em que
Moçambique regressou ao pódio
olímpico, com Edmilsa Governo
a conquistar a medalha de bronze,
nos Jogos Paralímpicos, ao terminar
a final dos 400 metros T-12, na terceira
posição, em 53,89 segundos.
Esta foi a maior conquista nacional
do ano findo, visto que Moçambique
não subia ao pódio olímpico,
desde 2000, quando Lurdes Mutola
venceu a medalha de ouro, nos Jogos
Olímpicos de Sydney, na Austrália.
Outubro
-Neste mês, o registo vai para a
conquista, pela Liga Desportiva de
Maputo, da primeira Taça da Liga,
vencendo o Maxaquene, na final,
por 3-0.
Novembro
-O mês que marca o encerramento
da época futebolística testemunhou
as conquistas inéditas do campeonato
nacional de futebol e da Taça
de Moçambique, pelo Ferroviário
da Beira e União Desportiva de
Songo, respectivamente;
-Também foi neste mês que o ex-
-treinador da UDS, Artur Semedo,
acusou os irmãos Sidat (Shafee e
Rafik) de ditarem os campeões no
país.
Dezembro
-No último mês do ano, a equipa
feminina de basquetebol do Ferroviário
de Maputo viu o Inter Clube,
de Angola, a conquistar a Taça dos
Clubes Campeões de África, realizados
em Maputo;
-Ainda neste mês, Domingos
Langa regressou à Federação Mo-
çambicana de Xadrez, ao ser eleito
presidente, depois de, à última da
hora, ter sido “forçado” a desistir de
concorrer ao cargo de presidente da
direcção do Maxaquene;
-Registo também para a conquista
do Campeonato Africano de Vela,
com Maria Mabjaia e Deisy Nhaquila;
-Por fim, o ano termina com a permanência
de Shafee Sidat na presidência
da Federação Moçambicana
de Atletismo, ao adiar as eleição dos
novos órgãos sociais, alegando falta
de estatutos da Federação e das
Associações Provinciais, facto que
torna todas as instituições ilegais.
O intrigante é que Shafee Sidat
tornou-se presidente nas mesmas
condições e, nos seus quatro anos,
apenas se preocupou em construir
edifícios das Associações Provinciais
que legalizá-las.
A queda do muro do Zimpeto foi o momento mais negro de 2016
O bronze paralímpico constitui o momento mais alegre do ano desportivo
Savana 06-01-2017 23 DESPORTO DESPORTO
ALUGA-SE
Aluga-se, a partir de 02 de Janeiro
GH ÁDW7 GXSOH[ F :&
na Av. 24 de Julho à Polana (predio
=LWDPDU 6XSHUPHUFDGR/0
Contacto: 82-730-7430
É
já no dia 12 de Fevereiro,
que arranca mais uma
edição do campeonato nacional
de futebol, segundo
garantiu o órgão gestor da modalidade
(Liga Moçambicana de
Futebol).
Assim, com o sorteio e calendário
definidos, os clubes começam a
arrumar as suas casas, para fazerem
melhor que a época passada
e, nesta semana, 13 clubes abriram,
oficialmente, as suas épocas
futebolísticas, tendo se dedicado
à apresentação dos seus planteis,
assim como aos habituais exames
médicos.
Ferroviário de Maputo, União
Desportiva do Songo e Maxaquene
são alguns dos clubes que
abriram as suas oficinas, tendo se
juntando as já abertas do Ferrovi-
ário da Beira e da Liga Desportiva
de Maputo.
Dos 16 clubes que farão parte do
Moçambola-2017, apenas o Costa
do Sol ainda não abriu as portas,
tendo programado fazê-lo, na pró-
xima semana.
Se o “canário” ainda não trabalha,
dos que começaram, apenas os
Ferroviários da Beira e de Maputo
apresentaram os seus planteis, com
a particularidade dos “locomotivas”
de Maputo terem refrescado a
sua equipa técnica, com a contratação
de Lucas Bararijo, ex-treinador
do Clube de Chibuto, para o
comando técnico.
Bararijo, que substitui Carlos
Manuel no cargo, chega aos “locomotivas”
da capital do país com
a missão de conquistar todas as
competições oficiais (Moçambola,
Taça de Moçambique e Taça da
Liga), mas com particular destaque
para o campeonato nacional.
Para alcançar esse objectivo, o antigo
treinador do Ferroviário da
Beira tem, por um lado, à sua disposição,
30 jogadores, destacando-
-se o veterano Luís, os internacionais
Edmilson, Diogo, Jeitoso,
Chico, Germano, César Machava;
e os reforços Sidique (ex-Desportivo
de Maputo) e Avelino (ex-Liga
Desportiva de Maputo).
Por outro lado, conta com a ajuda
da direcção do clube que promete
criar todas as condições para que a
equipa consiga os seus objectivos.
Com o Moçambola-2017 à porta
Clubes afinam máquinas
Por Abílio Maolela
Para trás, o vencedor de duas Taças
de Moçambique pelo Ferroviário
da Beira deixa o Clube Chibuto e
nega falar das razões da sua saída,
justificando que “a vida de treinador
é esta. Não temos casa própria
porque estamos sempre à procura
de um sítio para trabalhar”.
Diferentemente dos outros anos,
onde a pré-epoca locomotiva tem
sido feita fora da capital moçambicana,
desta vez, a mesma será feita
em Maputo, estando em negocia-
ção um torneio entre os Clubes
Ferroviários, a ser realizado na Cidade
da Beira.
Entretanto...
Se os Ferroviários de Maputo, da
Beira e a Liga Desportiva de Maputo
têm os planteis quase definidos,
o mesmo não se pode dizer do
Maxaquene que, depois de perder
a sua espinha dorsal, vê-se obrigado
a constituir o plantel com jogadores
da formação.
Antoninho Muchanga foi o escolhido
para dirigir uma equipa que
da noite para o dia vai lutar pela
manutenção que pelo título.
Dos novos membros da LMF (UP
de Lichinga, Associação Desportiva
de Macuácuá e Textáfrica de
Chimoio) são escassas as novidades,
sabendo-se apenas que o
Textáfrica mantém Abdul Omar,
no comando técnico; e a Universidade
Pedagógica foi buscar Vítor
Matine, que na época passada era
adjunto de Carlos Manuel, nos
“locomotivas” da capital.
de Artur Semedo ter conquistado
a primeira Taça de Moçambique,
que valeu a presença daquela equipa
na Taça Nelson Mandela.
Para alcançar os objectivos propostos
pela direcção de José Costa, o
antigo capitão dos “Mambas” conta
com a ajuda de Victor Mayamba,
ex-treinador do Desportivo
do Niassa e dos atletas Cley (ex-
-Estrela Vermelha), Mayunda e
Mário Sinamunda (ex-Liga Desportiva
de Maputo) e Gildo (ex-
-Ferroviário da Beira).
Em Gaza, o Clube de Chibuto já
se encontra no terreno, porém, ainda
sem o seu treinador principal,
que só chega este fim-de-semana
ido de Portugal, terra onde há dois
anos, Junneid Lalgy e sua companhia
foram buscar João Eusébio,
que seria despedido após duas jornadas.
Referir que o Moçambola arranca
no dia 12 de Fevereiro, com dois
derbies na agenda: Costa do Sol-
-Liga e Maxquene-Ferroviário de
Maputo.
Enquanto isso, no Songo, Chiquinho
Conde foi solicitado para levar
a equipa local à conquista das três
principais provas nacionais, depois
Este é o plantel com o qual o Ferroviário de Maputo almeja conquistar o seu 11º campeonato nacional
24 Savana 06-01-2017 CULTURA
Um grupo de jovens executantes
da música tradicional
moçambicana,
residentes no bairro do
Chamanculo, em Maputo, tomaram
a iniciativa de promover actividades
musicais no seu bairro.
“Depois de muitos anos a executarmos
a música e dança tradicional
moçambicana, decidimos
criar um espaço que todos fins-
-de-semana promovesse música
para os residentes do bairro. Logo
sentimos que a iniciativa foi bem
apadrinhada pelos artistas mais
velhos que residem aqui no bairro”,
explica Inácio Cossa, promotor da
iniciativa.
A iniciativa surgiu de várias conversas
entre os integrantes do colectivo.
“Já tínhamos essa ideia há bastante
tempo. O que dificultava era a falPromovendo
música no Chamanculo
ta de espaço. Agora que temos este
pequeno espaço arrancamos. Com
tempo vamos procurar melhorar o
lugar. As entidades do bairro sempre
mostraram querer ajudar, mas a
falta de lugar dificultava o início do
projecto. Anteriormente tocávamos
no passeio e víamos que os residentes
aderiam em massa. Isso fez com
que reflectíssemos para a procura
de lugar. Agora queremos levar o
projecto avante. Pretendemos que
eSUHFLVRLPSXOVLRQDUDFWLYLGDGHVFXOWXUDLVQRVEDLUURV DÀUPD,QiFLR&RVVD
N
este início do ano, os artistas
esperam ter muitas
actividades por realizar,
comparado ao ano passado.
“Neste ano que está a iniciar
esperamos ter mais trabalhos
comparativamente ao ano passado.
Sabemos que a situação da
tensão político-militar que vivemos
fez com que muitos artistas
ficassem limitados de realizar as
suas actividades em outros pontos
do país. Esperamos que a recente
cessação das hostilidades seja o
início rumo a uma paz definitiva.
E com isso termos mais campo de
manobra para realizar o nosso trabalho
como sempre fizemos”, disse
o Saxofonista Matchote.
Os trabalhos dos artistas não se
restringem apenas à capital. “Temos
várias províncias onde normalmente
temos apresentado os
nossos trabalhos e, se ficamos no
mesmo lugar, fica difícil encontrar
um lugar para apresentar os nossos
Artistas esperam mais actividades em 2017
concertos”, lamenta o guitarrista
Juma.
Para os artistas plásticos, a escassez
de galerias e a dificuldade de viajar
para outros pontos faz com que
não tenham espaço para vender os
seus quadros. “Não temos muitas
galerias para apresentar os nossos
trabalhos. Os artistas plásticos não
param de pintar e ficam com muitos
quadros sem conseguir vender.
Noutros tempos tínhamos a possibilidade
de vender noutros pontos
do país. Mas agora, com as hostilidades,
dificilmente temos viajado.
Aguardamos com muita ansiedade
que a paz volte para que todos mo-
çambicanos desempenhem as suas
tarefas com facilidade”, apela o artista
plástico Walter Zand.
Mesmo os artistas consagrados
têm dificuldades de apresentar e
vender os seus trabalhos. “Se fizermos
uma análise das exposições
dos artistas consagrados no ano
passado, contam-se aos dedos os
artistas que realizaram uma exposição
das suas obras. No caso dos
artistas mais jovens fica ainda mais
difícil. O cenário que vivemos no
ano passado não ajudou nenhum
moçambicano que viva do seu suor,
principalmente os artistas. As artes
e cultura quase que nao se fizeram
sentir e temos esperança que as
coisas mudem este ano. Necessitamos
da paz para mostrarmos os
nossos trabalhos aos que apreciam.
Quem gosta dos nossos trabalhos
não apenas vive no nosso bairro
ou na nossa província, mas sim
em todo o Moçambique. Como
vamos chegar aos locais de maior
concentração de turistas com este
cenário de guerra que vivemos no
país”, questiona o artista plástico
Noel Langa.
Os artistas que têm suas galerias
também sentiram a falta de visitantes
porque não tem sido fácil
chegar. “Por exemplo, os turistas
que têm visitado as nossas galerias
deixaram de vir desde que ouviram
que o nosso país está numa situa-
ção de guerra. Quem viaja para um
país que está a viver hostilidades
militares”, questiona o decano das
artes plásticas moçambicanas.
A esperança de que o presente ano
seja de mudança para a tranquilidade
alimenta a alma dos artistas.
“Esperamos que as partes envolvidas
tenham sensibilidade e que
criem condições para que o país
volte a estar em paz. Com o ambiente
de paz, os aristas e a população
em geral vão poder realizar as
suas actividades em prol do desenvolvimento”,
finaliza o artista.
A.S
Artistas esperam que o ano de 2017 seja melhor em eventos culturais
A
banda Hodi e o músico
Waca Sitoe vão partilhar
o palco do espaço artístico
Xima, esta sexta-feira,
6 de Janeiro de 2017, a partir das
22:00horas, na cidade de Maputo.
O concerto do Xima vai marcar o
início da temporada 2017 da banda
Hodi, com presença do Músico Felix
Waca Sitoe. A colaboração entre
a banda Hodi e Waca Sitoe iniciou
há sensivelmente seis meses e vários
concertos foram realizados. “Este
concerto vai dar o pontapé de saída
das actividades do nosso projecto.
Temos muitos concertos agendados
para este ano e esperamos que se
concretizem. Estamos preparados
para cumprir com o nosso prograBanda
Hodi actua no Xima
ma deste ano”, disse Elias Manhiça.
Este espectáculo vai acontecer num
ano em que a banda Hodi prepara-
-se para participar pela terceira vez
pautar por esta via para que a sociedade
tenha referências e desenvolva
nas suas vidas como indivíduos integrantes
de uma sociedade”, destaca
o músico.
O artista espera que os amantes da
música jovem moçambicana adiram
em massa para partilhar o momento.
“Sabemos que estamos no iní-
cio do ano e as preocupações em
termos de organização das tarefas
são muitas, mas esperamos que se
façam presente no local para disfrutar
deste momento musical que
estamos a proporcionar. E que sirva
também do seu início em termos de
participações em eventos culturais
realizados neste local em particular
e noutros pontos do país no geral”,
remata. A.S
Banda Hodi actua nesta sexta-feira
no Festival Afro Swing, um evento
internacional que irá decorrer em
Março, realizado pela Associação
Hodi. “Este e outros concertos que
vamos realizar vão servir para nos
aprimorar para participar nos festivais
a que a nossa banda foi convidada.
Servirão igualmente para
mostrarmos ao público amante da
música moçambicana o trabalho
que temos realizado nos últimos
tempos”, frisa Manhiça.
No concerto serão apresentados
temas como Muzondi, Tsombene,
Nhanda ya Wansati e outros que fazem
parte do repertório de Felix. E
os temas: Sida, Chimeli, Minsinha,
dentre outros pertencentes à banda
Hodi. “Vamos levar para este concerto
temas que retratam situações
que acontecem na nossa sociedade.
Somos uma banda que pauta por
temas que sensibilizam a sociedade.
Acho que os artistas devem sempre
também no nosso bairro tenha um
lugar de referência em termos de
música”, afirma Inácio Cossa.
Promover todo o tipo de arte e cultura
que se faz no bairro é um dos
principais objectivos. “Sabemos que
aqui no bairro existem muitos fazedores
de arte e cultura. Queremos
que esses todos artistas exibam os
seus trabalhos aqui. Temos artistas
plásticos, grandes músicos conhecidos
a nível nacional e internacional.
Se tivermos todos esses artistas
como impulsionadores deste lugar,
acreditamos que vamos fazer o nosso
papel em termos de promoção
da cultura moçambicana no bairro
e quem sabe tornar este local como
uma referência cultural da capital”,
frisa Cossa.
Para os artistas do bairro do Chamanculo,
é de louvar a iniciativa
dos jovens artistas. “Agradou saber
que os jovens artistas residentes
daqui do nosso bairro tiveram essa
iniciativa de criar um local onde
proporcionam música ao vivo. Isso
vai incentivar de alguma forma aos
mais novos a singrarem pela arte e
deixarem de se envolver em actos
de má conduta”, frisa Jimmy Dludlu.
Na mesma ocasião, o pianista Vali
referiu que a iniciativa vai ajudar
na mudança de imagem negativa
a que o bairro é conotado. “Muitas
pessoas, quando falam deste bairro,
conotam a uma zona perigosa e
sem segurança. E esta iniciativa vai
ajudar a mostrar que o que muitas
vezes é dito sobre o bairro não é
verdade. Em todo o lado existem
problemas. E esses jovens estão a
mostrar, mesmo com os problemas
que existem, que procuram inverter
essa imagem não muito saudável do
bairro”, finaliza. A.S
Dobra por aqui
SUPLEMENTO HUMORÍSTICO DO SAVANA Nº 1200 DE JANEIRO DE 2017
2 Savana 06-01-2017 SUPLEMENTO Savana 06-01-2017 3
37',È>-2,37()637È6-3)-7%96%
...e no Japão, só porque faltou a luz durante
20 minutos, o ministro da tutela,
convocou a imprensa e em sinal de penitência
e respeito pelos cidadãos, manteve-se
nesta posição o tempo em que
a luz faltou. Por cá, o nosso ministro já
andaria marreco.
Savana 06-01-2017 27 OPINIÃO Abdul Sulemane (Texto) Ilec Vilanculo (Fotos) A
festa de passagem de ano foi comemorada de forma tranquila.
Mesmo com a crise, as famílias procuraram a todo o custo
ter o mínimo para a festa de transição. Com um bocado juntaram
os membros das suas famílias para comemorar.
No meio dessas comemorações, foi normal ver nas ruas, nas casas e
outros lugares as pessoas a divertirem-se. No meio dessas comemorações,
houve ainda pessoas que, de alguma forma, não sabemos se
foi por causa do ambiente festivo ou por terem consumido algumas
bebidas alcoólicas, já não tinham tempo para depositar os recipientes
dos conteúdos consumidos.
Reparem nesta primeira imagem. A quantidade de garrafas de vidro e
latas no chão deixa os mais sensíveis preocupados. São essas garrafas
de vidros e latas que, por qualquer descuido, podiam ferir qualquer
um que se encontrava nesta rua a festejar. Apelamos a todos para
evitar deixar garrafas de vidro no chão. Tenham a cultura de depositar
nos locais próprios para o bem de todos.
Os ambientes festivos foram diversificados. Outros estiveram dentro
dos seus quintais e aproveitaram o espaço disponível como pista de
dança. Cada um exibia os seus passos de dança da melhor forma
possível. A segurança dos membros da nossa família sempre foi fundamental,
principalmente nestes momentos de festa onde a euforia
contagia a todos.
Outros preferiram um ambiente mais tranquilo. Mesmo no quintal
ou dentro de casa festejaram. Reparem como esta família se encontra
tranquila junto à mesa, nem parece que estão numa festividade. Isso
para dizer que festa não se deve conotar com agitação.
No ambiente de festa existem vários momentos. Existem aqueles em
que passamos a refeição todos juntos. Vamos nos divertido até que
chegue aquele momento em que se dá a transição para o outro ano.
E quando isso acontece paramos todos e organizamos as bebidas e
fazemos o brinde pela passagem para outro ano. Foi o que aconteceu
com esta família na quarta imagem.
E estas outras pessoas que se encontram na áltima imagem tiveram
tempo para fazer a pose para foto que marca o brinde da passagem
para o 2017.
Esperamos sempre que o novo ano seja melhor comparado ao anterior.
Isso desejamos todos. Mesmo que seja de uma forma inconsciente.
Então, de forma consciente, a equipa do jornal SAVANA
deseja a todos os moçambicanos um próspero 2017 e que tenhamos
a oportunidade de sermos brindados com o retorno de uma paz efectiva.
Muita saúde e concretização do que mais almejamos. Se não conseguirmos,
pelo menos, dar um passo para alcançar o desejado. Sãos os
nossos votos.
Rescaldando as festas
IMAGEM DA SEMANA
À HORA DO FECHO
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( #,)5 5hfgl5R5 5 5R5 o
1200 Diz-se... Diz-se
Foto: Ilec Vilanculos
A
Autoridade Tributária de
Moçambique (AT) anunciou,
na passada sexta-
-feira, que durante o ano
fiscal de 2016 arrecadou 173 mil
milhões de meticais na cobrança
de impostos. Esta cifra supera a
meta de 165 mil milhões estabelecida
no quando da aprovação
do orçamento rectificativo em
Agosto do ano findo, como consequência
da suspensão do apoio
financeiro pelos parceiros, devido
à descoberta das dívidas ocultas.
2016 é o primeiro ano em cheio
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Savana 06-01-2016
EVENTOS
1
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EVENTOS
“
A ENH tem um papel
fundamental para o desenvolvimento
do País,
razão pela qual temos de
trabalhar incansavelmente de
modo a contribuímos para o desenvolvimento
sustentável”. Esta
afirmação foi feita por Letícia
Klemens, Ministra do Recursos
Minerais e Energia, quando falava
durante a visita que efectuou,
Letícia Klemens na ENH
recentemente, à Empresa Nacional
de Hidrocarbonetos (ENH),
braço comercial do Governo nos
projectos de petróleo e gás.
Klemens, que se fazia acompanhar
pelo seu vice Augusto de
Sousa Fernando e seus assessores,
Afonso Mabica, Fátima
Momade e Ilídio Bambo, acrescentou
ainda a necessidade de as
futuras instalações de habitação,
hotelaria, hospitais entre outras
estarem preparadas para acomodar
a canalização de gás natural
por forma a, com o aumento do
acesso ao gás, facilitar as ligações.
A governante, que fez a visita
no âmbito das visitas que tem
estado a efectuar às intuições de
tutela, considerou igualmente
importante o facto de se estabelecerem
acordos com os municí-
pios e outras partes interessadas.
É a primeira visita de Klemens à
ENH após a sua nomeação em
substituição de Pedro Couto,
que foi despachado para dirigir
a HCB.
Por sua vez, Omar Mithá, PCA
da ENH, adiantou o facto de a
empresa colocar o País em primeiro
lugar, pelo que a companhia
que dirige está a trabalhar
no sentido de conduzir Moçambique
para um desenvolvimento
sustentável através da monetização
sustentável dos recursos,
acréscimo do valor dentro do
País, fortalecimento da matriz
energética, redução de assimetrias
regionais e participação da
comunidade através do emprego,
de prestação de serviços, entre
outras.
Savana 06-01-2017 EVENTOS
2
O
Millennium bim e o Instituto
Superior de Artes
e Cultura (ISARC) desenvolveram,
recentemente,
um projecto de decoração
e pintura de diversos caixotes do
lixo colocados em zonas movimentadas
da Cidade de Maputo.
Esta iniciativa é a continuidade
do projecto realizado o ano passado
pelo Millennium bim em
que foram oferecidos à FEIMA
– Feira de Artesanato, Flores e
Gastronomia de Maputo, 18 caixotes
do lixo pintados por vários
artistas. O objectivo é incutir na
comunidade em geral o espírito
de responsabilidade ambiental,
dando destaque ao caixote do lixo
como instrumento essencial para
a preservação do ambiente, para
além de contribuir para que Maputo
se torne numa cidade mais
Millennium bim valoriza caixotes de lixo na Cidade de Maputo
limpa, com mais cor e com a cultura
moçambicana embelezando
as suas ruas.
Para a pintura e decoração dos
caixotes do lixo, foi usada a técnica
do óleo sobre metal, com expressões
que variam entre o abstracto
e o realismo, com motivos
alusivos à fauna, cidadania, urbanismo
e capulana. Este projecto
permitiu ainda aos estudantes entrarem
em contacto com diferentes
materiais e projectos culturais
com impacto na sociedade, o que
enriquece o ensino, a aprendizagem
e o próprio percurso artístico
do estudante.
A educação e a cultura são dois
dos pilares de acção do programa
de responsabilidade social do
Banco, que tem vindo a ser executado
ao longo dos anos, com
significativo impacto na vida dos
moçambicanos.
O
Ministério da Saúde
(MISAU) faz um balanço
positivo em torno
das festividades do natal
e transição do ano de 2016 para
2017. Segundo a informação
avançada pelo sector, nesta ter-
ça feira, na cidade de Maputo,
durante o período de 20 de Dezembro
de 2016 a 02 de Janeiro
de 2017, as festas foram caracterizadas
por um ambiente de
tranquilidade, relativamente ao
igual período do ano transacto.
De acordo com o MISAU, no
período referido, as unidades sanitárias
do país atenderam perto
de 9325 doentes, dos quais 779
internados e 42 óbitos.
Durante a quadra festiva foram
registados 1864 casos de acidentes
de viação que resultaram em
19 mortes, dados que mostram
que houve uma redução de 16%
comparativamente ao ano de
2015/2016, onde foram registados
2206 casos e 24 óbitos.
MISAU avalia positivamente a quadra festiva
(QWUHWDQWR FDVRVGHYLROrQFLDGRPpVWLFDHVH[XDODXPHQWDUDPVLJQLÀFDWLYDPHQWH
Outra redução assinalada durante
o período da quadra festiva,
concerne aos acidentes devido
ao uso de objectos pirotécnicos,
onde foram registados 23 casos
sem óbito, uma evolução em 75%
em relação ao período de ano
transacto, onde foram registados
38 casos e quatro óbitos.
“Apesar destes dados que mostram
uma evolução em termos
de ambiente de calmo neste ano
comparativamente ao anterior, a
quadra festiva foi manchada pelo
F
oi anunciado, recentemente,
numa conferência de
imprensa tida em Sandton,
África do Sul, o primeiro
alinhamento dos artistas a fazerem
parte da 18ª Edição do Cape
Town International Jazz Festival
(CTIJF). Surpreendentemente,
um dos orgulhos da nação mo-
çambicana, no que toca à música
Jazz, Moreira Chonguiça, irá subir
ao palco ao lado do camaroMoreira
Chonguiça e Manu Dibango - A Dupla do Cape Town Jazz Festival 2017
nês Manu Dibango, naquela que
promete ser uma das mais distintas
performances deste festival.
Estas duas individualidades do
mundo do jazz já outrora actuaram
neste gigantesco e um dos
mais seguidos festivais do continente,
mas agora irão unir os
seus talentos para celebrar as diferentes
manifestações da música
jazz. Para além desta actuação, a
ter lugar nos próximos dias 31 de
aumento de casos de violência
doméstica e violência sexual que
subiu de 239 para 255, e 112 para
140 respectivamente”, contou
Ussene Isse, Director Nacional
de Assistência Médica.
Para Ussene Isse, estes dois factores
preocupam sobremaneira o
sector da saúde, principalmente,
porque 60% casos de violência
sexual ocorreram em menores de
15 anos. Esta situação demonstra
que ainda há muito trabalho
a ser feito para resolver este problema.
Daí que todos são chamados
a darem o seu contributo,
nomeadamente na mobilização e
participação comunitária, disseminação
da informação pelos órgãos
de comunicação social para
mudança de atitudes por parte
da pessoas e, principalmente, um
trabalho multissectorial integrado.
“Temos de desencadear um estudo
para tentar aferir os factores
sociais e antropológicos que
estão por detrás deste fenómeno
(violação sexual em crianças)”,
revelou.
Para todos os efeitos, um dos aspectos
positivos registado pelo
MISAU nesta fase é a existência
de stock de sangue nas unidades
sanitárias.
Março e 1 de Abril, no Centro
de Conferência Internacional de
Cape Town, conta-se que estas
duas lendas estarão a trabalhar
em algumas surpresas para o
corrente ano, que irão deliciar os
seus fãs.
Para além destes irão actuar
igualmente Jazz Funk Soul com
Everette Harp, Jeff Lorber &
Paul Jackson Jr (EUA), as divas
En Vogue (EUA); Ernie Smith
(AS), VuDu (AS), Rudresh
Mahanthappa Bird Calls (EUA);
Gretchen Parlato (EUA), Siya
Makuzeni (AS), Skyjack (AS),
Tune Recreation Committee
(AS) Darren English (AS/
EUA), Marcus Gilmore (EUA),
Dope Saint Jude (AS); Laura
Mvula (ENG); Judith Sephuma
(AS); The Rudimentals (AS),
Sekunjalo Edujazz Band (AS),
Deepak Pandit (India), Escalandrum
(Argentina), Soweto
String Quartet (AS).
O CTIJF tem mostrado consistentemente
que está em sintonia
com o que seu público quer. Isso
foi comprovado o ano passado,
quando o festival venceu o primeiro
lugar como um dos festivais
favoritos da África do Sul e
foi reconhecido como sendo um
dos melhores festivais de música
no mundo pela Fest 300.
Savana 06-01-2016
EVENTOS
3
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Savana 06-01-2017 EVENTOS
4
A Escola Comunitária Luís Cabral- ECLC informa
aos alunos, pais, encarregados de educação e ao pú-
blico em geral, que ainda tem vagas para matricular
novos ingressos da 6ª, 7ª, 8ª, 9ª, 10ª, 11ª e 12ª classe
por 500,00 meticais. Podendo obter mais informações
na secretaria daquela escola sita na sede do bairro
Luís Cabral, entrada a partir da Junta ou Maquinague
ou pelos telefones: 847700298 ou 826864465 ou ainda
871232355.
Matrículas para 2017
C
erca de meia centena de
membros dos conselhos
consultivos distritais do
distrito de Boane, província
de Maputo, acabam de se
beneficiar de uma capacitação
em matéria de governação, monitoria
de projectos de desenvolvimento
e tomada de decisões,
numa acção levada a cabo pela
Agência de Colaboração em
Descentralização e Desenvolvimento
Local, a AGECAP.
AGECAP é um organismo não
governamental que actua em
assuntos de governação e desenvolvimento
local nos sectores
de educação e desenvolvimento
económico local, visando prestar
apoio às comunidades no sentido
de influenciar o processo de tomada
de decisões no concernente
à governação local.
Com efeito, desde o ano passado
a esta parte, a ONG promoveu
várias capacitações, elaborou e
distribuiu o manual de orientação
destinado ao grupo dos
conselhos consultivos, para lhes
auxiliar no exercício das suas actividades.
Durante este período, membros
dos conselhos consultivos da
região sul beneficiaram destas
formações com vista a reverter
o cenário calamitoso da não deAGECAP
capacita membros
de conselhos consultivos
volução dos fundos disponibilizados
aos mutuários e permitir
a comunidade influenciar o processo
de tomada de decisões da
governação local.
Com efeito, alguns membros dos
conselhos consultivos que beneficiaram
de formação disseram
estar muito satisfeitos com apoio
a si concedido. Carolina Hubo,
chefe do Posto Administrativo
de Motala-Rio, é um dos beneficiários
da iniciativa. A benefici-
ária disse esperar que a iniciativa
replique-se para as outras regiões
do país, uma vez que a experiência
tem se revelado boa para si e
para seus pares. Uma ideia igualmente
defendida por Dino Wetman,
outro beneficiário.
Apesar dos esforços que vem sendo
desenvolvidos pela AGECAP,
resultados vindo das pesquisas
efectuadas revelam que os membros
dos Conselhos Consultivos
locais não têm acesso às políticas
públicas que orientam a constituição
e funcionamento dos
seus órgãos. Ou por outra, não
tem acesso ao guião sobre a Organização
e Funcionamento dos
Conselhos Consultivos Locais
e o Manual de Apoio aos Conselhos
de Escola. Estes também
não se têm beneficiado do treinamento
regular para elevarem
as suas capacidades de realizar as
tarefas e de influenciar o processo
de tomada de decisões da governação
local participativa.
As pesquisas revelam ainda que,
em alguns distritos, a ausência
de instrumentos normativos
para operacionalizar o previsto
no manual de procedimentos
do FDD. Há situações em que
os camponeses têm dificuldades
de concorrer e ter acesso ao fundo
porque não existe formulário
para elaboração e submissão de
projectos ao FDD. Foram verificadas
situações em que os membros
dos Conselhos Consultivos
locais não têm acesso a um documento
para efeitos de consulta
sobre análise de viabilidade de
projectos de rendimentos, resultando
na aprovação de projectos
com maior risco de fracasso que
depois não conseguem reembolsar
o financiamento.
“É a pensar em ultrapassar estas
dificuldades que a AGECAP
tem vindo a realizar algumas iniciativas
isoladas de treinamento e
reprodução/distribuição das políticas
públicas de interesse dos
membros dos conselhos consultivos
locais e conselhos de escola,”
disse o director executivo daquele
organismo, Bernardo Ginja.
O
s Serviços de Gastroenterologia
do Hospital Central
irão realizar laqueação
elástica endoscópica em
100 pacientes com varizes esofágicas,
graças à oferta de bandas elásticas
feitas pela seguradora Ímpar.
De referir que este procedimento
de laqueação elástica endoscópica
no HCM tinha sido suspenso, já
há algum tempo, por falta de bandas
elásticas. E no âmbito das suas
acções de responsabilidade social,
a ÍMPAR sensibilizou-se com a
causa e permitiu que se reiniciasse
com o programa, que é extensivo a
pacientes de todas as Províncias de
Moçambique.
“Ao fazermos a intervenção endoscópica,
que se traduz na laqueação
ou no fechar das varizes com
Ímpar retoma programa da
gastroenterologia do HCM
bandas elásticas, estamos a contribuir
para que o paciente não tenha
episódios de sangramento que,
acompanhados da toma regular
de medicamentos, pode influenciar
positivamente na qualidade de
vida das pessoas” – disse Prassad
Modcoicar, Director dos Serviços
de Gastroenterologia do Hospital
Central de Maputo, na altura da
entrega do material hospitalar.
“A ÍMPAR manifesta a sua satisfação
por contribuir com a oferta
destes acessórios, o que vai permitir
que os Serviços de Gastroenterologia
do Hospital Central de Maputo
possam cumprir o seu primeiro
pilar que é o de prover serviços de
excelência para os pacientes do Sistema
Nacional de Saúde” – afirmou
Rui Oliveira, Administrador da Seguradora.
8PDÁDWSDUDHVFULWyULRVWLSR
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