Com tesão e com afeto. Inclusive com o perdão por te trair, me perdoa, desapontada leitora, mas tem que ser assim
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Tudo bem que o xará não seja aquela unanimidade do tempo dos festivais, a unanimidade nacional da frase sacana de Nelson Rodrigues, mas, peraí, colega, esse ódio todo ao Chico é sintoma de que o país perdeu de vez o rumo das ventas e a ideia de delicadeza. O Brasil precisa voltar a amar Chico Buarque de Holanda. De todas as maneiras. Com tesão e com afeto. Inclusive com o perdão por te trair, me perdoa, desapontada leitora, mas tem que ser assim.
O Brasil carece voltar a amar o Chico ardentemente, não de forma sadomasoquista, aos chutes e pontapés, como leio agora nos comentários da página de cultura do “Estadão”, o primeiro a registrar o prêmio francês ao moço lírico dos tristes trópicos. Amo tanto e de tanto amar, acho que ele merece mais dengo, amo tanto e de tanto amar, acho que o país precisa saber da importância de ser Francisco não apenas por notícias frescas vindas de Paris ou do planeta... Todo aquele roteiro “Bye bye Brasil” precisa voltar a gamar no Chico, noves fora odiozinhos internéticos e passageiros.
No Tocantins, o chefe do Parintintins, quem curte rock vintage e Bee Gees, o pessoal do Ceará que ama Cidadão Instigado, Patativa e Godard... O país precisa viver a doce ilusão que Chico ainda representa a unanimidade rodrigueana. Tudo isso significa recuperar a delicadeza perdida, como no magistral documentário -para francês ver-, dirigido por Walter Salles e Nelson Motta (1990).
Corta. Digo, eu mesmo corto o barato, ao lembrar que o xará descobriu ele mesmo, em 2011, a “caixa de ódio” da internet. “Não sabia como era o jogo, fiquei espantadíssimo”, disse o torcedor do Fluminense, às gargalhadas. Chico descobrira os comentaristas de plantão que o chamavam de velho bêbado, petista, vagabundo da lei Rouanet etc. Só rindo dessa gente que não bate palmas e não pede bis para o conjunto da obra de Francisco Buarque de Holanda. No disco, no teatro ou no livro.
Não que o xará caísse no conto da unanimidade pregada sacanamente pelo Nelson Rodrigues..., mas, bicho, a rua ria bonito, a praia espraiava vendo o Chico passar no seu cooper do Leblon ao Arpoador... E até as herdeiras dos generais da Ditadura davam valor ao homem revoltado e suas abençoadas redondilhas poéticas, sejam as menores ou as maiores, redentora ou trágicas como Genis ou calabares. “Você não gosta de mim, mas sua filha gosta (....)”.
Que Francisco volte a ser aos olhos de nós todos, mesmo nos tempos pós-golpe parlamentar, o grande Chico. Pelo conjunto da obra, como o sábio júri do prêmio francês. Que volte a ser, no que lembro da entrevista aqui no EL PAÍS BRASIL ao amigo Antonio Jiménez Barca, o homem mais desejado. Recordo que o xará respondeu a pergunta da forma mais tranquila: “Isso já faz muito tempo”. Vale a pena ler de novo esse encontro.
O homem mais desejado. Imagina, desdenhou Francisco. Faz tempo uma ova. Tudo é quase ontem, poeta, como a gente nem se lembra, como a memória daquele estrangeiro do livro do Camus diante da provação de uma morte materna. Parabéns pelo prêmio francês e por tudo que representas para a humanidade - mesmo para os brasileiros do ódio e do contra.
Xico Sá, escritor e jornalista, é autor de “A
Pátria em Sandálias da Humildade” (editora Realejo), entre outros dez
livros. Comentarista dos programas “Papo de Segunda” (GNT) e “Redação
Sportv”.
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