sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Frelimo é a melhor opção para governar Moçambique até...


Moçambicanas, moçambicanos, compatriotas!
Sou eu, outra vez. Desta vez estou aqui para partilhar convosco mais um pensamento sobre a nossa história comum, ainda jovem; sobre o nosso presente, repleto de problemas; e também sobre onde eu acho deveríamos estar a rumar, se for verdade que aspiramos ser um povo verdadeiramente independente e soberano.
A Frelimo governa Moçambique desde 1975, este (2016) ano completam-se 41 anos. Durante estes anos todos de governação da Frelimo, os moçambicanos—eu incluso—viveram alguns momentos bons e outros momentos maus. Por exemplo, a proclamação da independência nacional foi um momento bom desta história de 41 anos dos moçambicanos; a nacionalidade moçambicana nasceu nesse momento. Antes disso, os moçambicanos eram chamados (portugueses) "indígenas" ou "assimilados" (de Moçambique). Moçambique era então considerado "território ultramarino" de Portugal. Quer isto dizer que os moçambicanos não tinham direitos sobre a sua própria terra natal; o Estado português é que detinha todos direitos sobre esta terra—fora assim por cerca de 500 anos, até a assinatura dos Acordos de Lusaka, no sétimo dia do mês de Setembro de 1974, data em que foi fixado o dia 25 de Junho de 1975 como a data oficial para a proclamação da independência de Moçambique da administração colonial portuguesa.
Com a proclamação da independência de Moçambique não só veio a nacionalidade moçambicana; veio também a liberdade—a liberdade de os moçambicanos pensarem e agirem no seu interesse próprio interesse, sem depender da autorização de Portugal ou de qualquer outro Estado ou povo. A isto de um povo poder pensar e agir no seu próprio interesse, independente de qualquer outro Estado ou povo, chama-se "autodeterminação" ou "soberania". A conquista da independência de Moçambique e do direito dos moçambicanos à autodeterminação foi o móbil da luta de luta de nacional. Portanto, a proclamação da independência de Moçambique, no dia 25 de Junho de 1975, teve o significado do anúncio de que este desiderato estava realizado. Os moçambicanos passaram a ser, desde aquela data, um povo soberano. Com isso, novos objectivos imergiam, o mais importante dos quais era edificar um Estado novo que estivesse ao serviço de todos os moçambicanos, sem qualquer tipo de discriminação.
Naquela altura, a Frelimo era a única força política que existia em Moçambique. E era natural que assim fosse, pois a Frelimo foi o único movimento nacionalista a organizar e a guiar os moçambicanos na sua luta pela conquista da independência e soberania, direitos estes que eram particularmente negados aos povos negros de Moçambique pelo regime colonial português.
Na senda do objectivo de edificar o novo Estado, a Frelimo então preparou e aprovou a primeira Constituição de Moçambique independente. A aprovação dessa Constituição—pelo Comité Central da Frelimo—marcou o nascimento da primeira república em Moçambique, à qual se chamou "República Popular de Moçambique". Isto ocorreu em 1975.
A Constituição de 1975 definia a "República Popular de Moçambique" como um Estado soberano, uno e indivisível, sob direcção da Frelimo. Ou seja, a Constituição da República Popular de Moçambique vedava a existência de quaisquer outras organizações políticas que pudessem disputar o controlo do poder do Estado com a Frelimo, excepto a própria Frelimo. Aqui começou a desenhar-se a fundação dos problemas de Moçambique de hoje (estamos no de 2016!).
Dois anos depois da proclamação da independência e da aprovação da primeira Constituição de Moçambique, a Frelimo, que até então era um movimento de libertação, converteu-se em partido político de orientação político-ideológica "marxista-leninista"— uma ideologia que advoga a construção de uma sociedade sem classes, começando pelo estabelecimento de um Estado que dirige o processo de supressão de classes, processo este que se inicia com a abolição da propriedade privada (o mesmo que nacionalização) dos meios de produção; tal Estado é chamado "Estado Socialista". Como, pela Constituição da República de então, a Frelimo era a ÚNICA força política dirigente do Estado, a conversão desta força política em partido político de orientação ideológica socialista implicou que Moçambique se tornasse num Estado socialista. E assim foi por força da Constituição que a própria Frelimo aprovara dois anos antes. Moçambique tornou-se, então, um Estado socialista, dirigido por um único partido de vanguarda marxista-leninista—o partido Frelimo.
Estas coisas, de a Frelimo ser (i) a ÚNICA força política dirigente do Estado, (ii) um partido político de vanguarda marxista-leninista e, por essa via, (iii) forçar Moçambique a tornar-se num Estado socialista, não agradaram alguns moçambicanos que também tinham dado o seu contributo na luta pela independência nacional, sendo que alguns deles acabaram vendo-se obrigados a viver exilados na África do Sul, na Rodésia, no Quénia, na Europa e nos Estados Unidos de América, entre outros quadrantes de solo firme do planeta Terra.
Outrossim, um Estado socialista, vizinho da África do Sul e da Rodésia (hoje Zimbabwe), dois territórios em que vigoravam regimes de segregação racial e com sistemas económicos de capitalismo privado, só podia ser visto por estes regimes e seus aliados como hostil e mau exemplo para os povos que lutavam pelo fim da discriminação racial naqueles territórios. E como que para piorar a hostilidade dos regimes minoritários brancos de Pretória e Salisbúria (hoje Harare) ao jovem Estado socialista moçambicano, este Estado ofereceu guarida—de forma bastante "arrogante"—aos combatentes dos movimentos nacionalistas que lutavam contra aqueles regimes, ora extintos. Aqui vale a pena anotar que, apesar de politicamente abominados, os regimes minoritários racistas então vigentes na África do Sul (do apartheid) e na Rodésia (de Ian Smith, hoje Zimbawe de Robert Mugabe) mantinham alianças económicas muito fortes com o bloco dos países da Europa Ocidental e dos Estados Unidos da América. Estes factores, combinados, propiciaram, desde logo, o surgimento de uma oposição política interna e externa muito forte contra a Frelimo e seu regime político. Por isso, os momentos que seguiram foram maus para os moçambicanos.
Não está longe da verdade dizer que o atrevimento e a teimosia da liderança da Frelimo em confrontar abertamente dois gigantes económicos vizinhos e hostis ao regime político então instalado em Maputo, nomeadamente a África do Sul (do apartheid) e a Rodésia (de Ian Smith), criaram a base político-ideológica para a emergência do conflito interno que ainda hoje se vive em Moçambique, caracterizado por uma instabilidade político-militar que alguns jornalistas e politólogos descrevem, erradamente, como guerra civil. Essa base político-ideológica foi inteligentemente aproveitada pelo regime minoritário racista da Rodésia (de Ian Smith) para criar a Renamo, não como movimento político-nacionalista, mas sim como um instrumento de desestabilização de Moçambique. Por isso é que é inequivocamente correcto dizer-se que, diferentemente da Frelimo—que foi criada por iniciativa de moçambicanos—, a Renamo foi criada por um regime externo hostil ao Estado moçambicano, que depois tratou de RECRUTAR moçambicanos descontentes ou ambiciosos para a integrar e lhe dar cunho nacionalista, mas como uma só missão: fazer de tudo para desestabilizar a governação de Moçambique e colocar o povo deste país contra o regime então instalado de Maputo, desde que fosse dirigido pela Frelimo. Por outras palavras, a Renamo foi criada apenas para servir como instrumento de operacionalização de uma alteração de regime político no Moçambique independente, com o fim último de permitir a instalação, neste país, de um regime político novo, que não fosse hostil ao regime então vigente na Rodésia (de Ian Smith). As pessoas que iam liderar esse novo regime em Moçambique estavam a ser preparadas e estavam bem protegidas na Rodésia, na África do Sul e em Portugal, entre outros sítios. Renamo era apenas uma matilha de cães de guerra, especialmente treinados só para morder, matar e vandalizar. Depois o Ian Smith mandaria instalar em Moçambique um regime que lhe desse dor de cabeça, qual lhe dava o regime "comunista" da Frelimo.
Vai daí que a liderança da Renamo, que data desse tempo, não está politicamente preparada. Esta é razão bastante para os "renamistas" continuarem sem saber distinguir entre Estado e Frelimo—mesmo hoje, 22 anos depois da instalação efectiva do regime de Estado de Direito Democrático em Moçambique. (A expressão "instalação efectiva" atende o facto de que em Moçambique realizam-se, regularmente, eleições para a escolha dos representantes do povo, com a participação de várias organizações sociais, entre partidos políticos e associações cívicas, tanto ao nível de todo o país quanto ao nível local.) Claramente, é porque a Renamo foi concebida e criada com um só propósito: destruir a Frelimo, única forma vista por Ian Smith para facilitar a instalação, em Moçambique, de um regime favorável ao seu próprio regime, felizmente já extinto. Não estava nos planos dos mentores da Renamo, transformar este bando numa organização política. Isto foi feito—com algum sucesso—por Joaquim Chissano, quando era Presidente de Moçambique, na sua vã tentativa de conseguir a pacificação efectiva de Moçambique, de modo que ele pudesse governar perpetuamente este país, qual faz Robert Mugabe no Zimbabwe, Eduardo dos Santos em Angola, Yoweri Museveni no Uganda, Paul Kagame no Ruanda, entre outros estadistas africanos há várias décadas no poder. Portanto, o pouco caris de organização política que a Renamo exibe hoje, deve-o fundamentalmente ao Joaquim Chissano.
O exposto no parágrafo precedente explica por que o Afonso Dhlakama chama "inimigos" à Frelimo e sua liderança; e acaba sendo assim que, reciprocamente, a família Frelimo encara a família Renamo como inimiga. Esta situação constitui mais um momento mau para os moçambicanos, que grosso-modo estão divididos em "frelimistas" e "renamistas", mostrando-se ainda incapazes de conviver pacificamente. Mete mesmo muita pena ver irmãos a tratarem-se como inimigos entre si! As hostilidades político-militares que se vivem hoje em Moçambique são decorrentes deste conflito entre irmãos—instigado por regimes políticos já extintos na região da África Austral—, que os moçambicanos não conseguem superar, mais por causa da génese e propósito inicial da Renamo. Sim, a razão que dificulta a pacificação efectiva de Moçambique é mais o facto de a liderança da Renamo ter sido inicialmente formatada para destruir a Frelimo, e menos a pretensa—mas muito propalada—falta de vontade política desta (Frelimo).
Com efeito, hoje, a Frelimo só está a recusar que a transformação da Renamo num político não-armado passe pela sua destituição ilegítima do poder do Estado que ainda controla. Bem vistas as coisas, sem tomar qualquer partido—coisa difícil para um "frelimista" assumido qual eu!—a Renamo está a fazer exigências irrazoáveis, insensatas, que visam precisamente a exterminação da Frelimo. Para quem duvide do mérito deste argumento, faço um convite para apreciar o facto de que o Governo de Moçambique—dirigido pela Frelimo—já fez inúmeras cedência às exigências da Renamo, até que se chegou ao ponto-limite em que ceder a mais exigências significa aceitar passivamente que Moçambique não tem Governo. Ora, se a Frelimo dirige o Governo de Moçambique e Moçambique não tem Governo, isso implica que a Frelimo não existe; o Governo foi decapitado; o mesmo que dizer que a Frelimo já não existe. Ou seja, se o Governo ceder a mais exigências insensatas da Renamo—qual o caso da governação de seis províncias com um programa que não seja aquele aprovado pela Assembleia da República, com voto da Bancada maioritária, que é da Frelimo—, isso configurará a consumação do objectivo para o qual, afinal, a Renamo foi concebida e criada, nomeadamente e em recapitulação, destruir a Frelimo. É inaceitável. E não é sensato que os moçambicanos, mormente a juventude, exijam a extinção da Frelimo para a Renamo chegar ao poder. Isso seria equivalente a aceitar voltar ao tempo quando a Frelimo era a ÚNICA força política dirigente do Estado moçambicano, pois a Renamo não aceita conviver pacificamente nem com os outros partidos que também fazem oposição à Frelimo. Por outras palavras, a Renamo está a tentar aniquilar a Frelimo para instituir um novo regime monopartidário em Moçambique, mais ao estilo do Reich de Adolf Hitler na Alemanha Nazi. É uma mentira grosseira dizer-se a Renamo é pela democracia liberal em Moçambique. Não há provas disso. Atenção, moçambicanos!
Então surge a pergunta: Como alcançar a paz em efectiva em Moçambique? A minha proposta de resposta à esta pergunta tem três entradas que converge para a saída pretendida: paz efectiva. São seguintes:
1. Para se alcançar a paz efectiva em Moçambique, a Renamo tem que deixar de ver a Frelimo como inimiga, e vice-versa. E mais: a Renamo tem que deixar de confundir a Frelimo com o Estado; a Renamo tem que deixar de recorrer à violência armada para resolver diferendos políticos; a Renamo tem que aprender que não se combate o mal pelo—não se combate a corrupção com ataques terroristas contra cidadãos indefesos e destruindo bens públicos ou privados. Parece curto e simples, mas não haja esse engano! Ocorre que um cão treinado para uma certa actividade não pode ser usado para outra actividade sem passar por um novo ciclo de instrução para a nova actividade. Joaquim Chissano e Armando Guebuza chumbaram no exercício de transformar a Renamo em partido político civilizado. Filipe Nyusi pode conseguir, mas tem que ser inovador e ousado, mas mais ouvinte e reflexivo do que obstinado e vaidoso.
2. Para se alcançar a paz efectiva em Moçambique, a Frelimo tem que deixar de tratar o Estado moçambicano como sua propriedade—isto exacerba ódio entre irmãos instigado pelo já extinto regime da Rodésia (de Ian Smith) e reforçado pelo regime da África do Sul (do apartheid); a Frelimo tem que ensinar pelo exemplo que o Estado moçambicano é todos os moçambicanos, sem qualquer tipo de discriminação; a Frelimo tem que educar os seus militantes, mormente aqueles que estão ao serviço do Estado, a respeitar o bem público; a Frelimo, enquanto ainda no poder, tem dar exemplo dissuasor e indelével de ser um partido político intolerante para com todas as formas de manifestação da corrupção, quer dentro quer fora das fronteiras de Moçambique. O Estado moçambicano deve ser permitido envolver-se em negócios com Estados ou organizações percebidos como corruptos, quais foram as negociações dos créditos ora conhecidos por «dívidas ocultas». Os dirigentes da Frelimo, antigos ou actuais, devem abster-se de práticas que desiludem as expectativas do povo, tais como proferir discursos incendiários ou arrogantes e prometer mundos e fundos para depois lançar as pessoas no caos ou na miséria.
3. Materialização das mudanças propostas nos dois pontos precedentes só poderá ser efectiva se ocorrerem, concomitantemente, mudanças ao nível do comportamento cívico dos cidadãos moçambicanos, individual e colectivamente. Com efeito, afinal a Frelimo e a Renamo são duas organizações políticas que congregam cidadãos moçambicanos. Não haverá mudanças na Frelimo, na Renamo, no MDM ou qualquer outro partido político, enquanto não houver um sentido de responsabilidade cívica dos cidadãos moçambicanos, ao nível individual e colectivo. Um cidadão que apoia um ladrão, também pode ser um ladrão; um cidadão que apoia um assassino, também pode ser um assassino; um cidadão que aceita ser corrompido, também pode corromper. Um cidadão que premeia a mediocridade, também é medíocre. Um cidadão digno desta designação—cidadão—é que só aquele que se esforça por abraçar bons princípios e valores, e se esforçar por viver segundo eles, de forma volutária; é aquele que esforçar por conhecer a lei, e viver segundo ela de forma voluntária. Quem não consegue resistir à tentação de violar princípios, valores ou a lei, ainda não é cidadão ou défice de cidadania; precisa preocupar-se com a sua situação e buscar apoio onde pode ser obtido (numa igreja, por exemplo; até mesmo filiando-se num partido político que se guia por bons princípios e valores). Quando alguém que é cidadão de verdade cai no erro de infringir princípios, valores ou a lei, ele tem a nobreza de reconhecer que infringiu essas regras e de se desculpar com pesar e consternação, prometendo a si mesmo que não voltará a cometer o mesmo erro e vivendo o resto da sua vida para essa promessa. Não é nobre aquele indivíduo que defende o princípio de que «os fins justificam os meios»; não é nobre aquele que não se guia pela razão; tampouco é nobre indivíduo que defende a insensatez e os insensatos. A corrupção não é sensata, tampouco o terrorismo e a destruição de vidas e bens, quais métodos de combate à corrupção. «Existe tal cidadão, hoje?»—estareis perguntando. Sim existe; se não, então cada de nós buscar ser esse cidadão. É fácil? Não, porque é bom. E o lugar para se começar a praticar a ser esse cidadão é em casa; é na escola; local de trabalho; é na igreja; é num social; enfim, é onde estivermos, mesmo sozinhos. É só praticar sempre, que depois de algum tempo se ganha o hábito. Só um este perfil de cidadãos é que Moçambique pode, finalmente, alcançar paz efectiva.

Depois de apresentar a minha proposta de roteiro para a paz efectiva—que na verdade é a terceira, se a minha memória não me atraiçoa—resta-me explicar algumas coisas a quem se faça perguntas sobre o que me inspira a escrever estes testos longos fora da Física, que é a minha praia, como soi dizer-se.
Primeiro, a minha crítica veemente à Renamo e sua liderança é a manifestação do meu repúdio à defesa do princípio de que «os fins justificam os meios». Só indivíduos insensatos se guiam por este princípio. Quero ver a Renamo ser uma organização de pessoas sensatas.
Segundo, as minhas perguntas em cartas abertas ao Presidente Filipe Nyusi são a expressão do meu reconhecimento de que há muita coisa que andou e continua a andar mal com a governação de Moçambique pela Frelimo. Com efeito, vi Samora Machel permitir que o poder do Estado fosse usado contra, em vez de servir, o cidadão; isto em nome do poder popular. Vi Joaquim Chissano permitir a institucionalização da máxima de que «o cabrito como onde está amarrado»; isto em nome da facilitação do processo de criação do empresariado nacional. Ainda vi o mesmo Joaquim Chissano permitir a "institucionalização" do convívio com um partido político armado; isto em nome da paz. Vi Armando Guebuza institucionalizar a exclusão, mediante o discurso de «transformar o Distrito em pólo de desenvolvimento», e a subsequente criação do «Fundo de Desenvolvimento Distrital», ao qual só pessoas das simpatias dos dirigentes locais da Frelimo poderiam aceder. Ainda vi o mesmo Armando Guebuza a fechar-se em si próprio, sem mais querer ouvir aos que tentavam alertar-lhe sobre a tempestade que se avizinhava e constituía uma séria ameaça à continuidade da Frelimo no poder em Moçambique, acreditando ele (Armando Guebuza), obstinadamente, que a Frelimo estava bem preparada para superar a oposição que, entretanto, continuava a crescer. (Ainda me recordo que foi nessa altura que a Frelimo—o meu partido de coração—perdeu o controlo do poder local em Quelimane, e depois em Nampula e Gurúè, a juntar-se à Beira.) É assim que Armando Guebuza promoveu acomodação da mediocridade no seio da Frelimo e do aparelho do Estado moçambicano. Esta promoção da mediocridade acabou fazendo de Armando Guebuza o dirigente da Frelimo e de Moçambique mais contestado de jovem história deste país. Eu não o contestei, mas criticava discretamente o modo dele obstinado de agir. [Lembro-me de ter-lhe dito para "soltar" o Filipe Nyusi, quando este foi eleito candidato presidencial da Frelimo para as eleições gerais de 2014, porque o arrastava para as suas lendárias presidências abertas e inclusivas, mesmo sendo isso contra a lei.]
Terceiro, hoje estou a ver o Filipe Nyusi a desviar-se—cada vez mais perigosamente—do que prometeu no seu discurso inaugural. No seu discurso inaugural, Filipe Nyusi prometeu que o "seu" Governo seria integrado por pessoas seleccionadas entre moçambicanos com as qualificações adequadas para os cargos; mas em vez disso, ele formou um Governo integrado por "pessoas convenientes"—a conveniência sendo determinada, basicamente, por amizades pessoais e interesses económicos de grupos no seio da Frelimo. Filipe Nyusi também prometeu, no seu discurso inaugural, que seria dialogante um presidente dialogante com os cidadãos e com todas as forças vivas da sociedade moçambicana; mas em vez disso, ele hoje evita ouvir opiniões que não estejam alinhadas com o seu pensamento e interesses—chegando até a expressar irritação e rejeição por quem lhe confronta. Hoje vejo o Filipe Nyusi preferir mais ouvir "elogios" que sacrifiquem a sua ligação umbilical com a Frelimo, quais aqueles rasgados "elogios" feitos pelos painelistas do "STV Pontos de Vista". Crítica directa ou aberta agride Filipe Nyusi, que prefere refugiar-se no silêncio ou na indiferença.
Quarto, tenho notado que todas atitudes arroladas nos dois parágrafos precedentes—e outras assim—dos dirigentes da Frelimo, a todos os níveis do seu funcionamento, fazem com este partido seja visto pelo eleitorado, mormente pela juventude, como um partido cronicamente viciado de fazer o errado, em vez do correcto; cronicamente viciado de enganar, em vez de defender, o povo; cronicamente viciado de defender interesses de grupo, em vez dos interesses do povo. E como em política as percepções é que contam na formação da opinião pública, sem mudar estas percepções a Frelimo arrisca-se a enfrentar muitas dificuldades para vencer os próximos pleitos eleitorais—para não dizer arrisca-se a perder—se não houver uma mudança bem concebida e executada do "status quo of affairs".
Quinto, se a Frelimo perder os próximos pleitos eleitorais, eu vaticino, com forte convicção, que isso será desastroso para Moçambique. O país poderá entrar numa espiral de violência armada sem precedente na sua jovem história; a crise vai agudizar-se, porque ter-se-á "novos larápios magros" onde hoje estão "velhos larápios gordos. Definitivamente, enquanto Moçambique não estiver em paz efectiva—enquanto a Renamo continuar a preferir o recurso à violência armada para resolver diferendos políticos, enquanto os demais partidos políticos preferirem a política de terra queimada como forma de afastar a Frelimo do pode—, a esperança de dias melhores para os moçambicanos reside em continuar a deixar a Frelimo governar. Mas aí precisa-se de uma sociedade civil melhor organizada e com mecanismos aprimorados para fazer melhor fiscalização do exercício do poder soberano do povo pela Frelimo; precisa-se de uma sociedade constituídas por cidadãos de verdade, com o perfil descrito no número 3 da minha proposta de resposta à pergunta que coloquei mais acima, sobre como alcançar a paz efectiva em Moçambique.
Sexto, tenho em mim que a salvação da Frelimo nos próximos pleitos eleitorais vai depender não dos malabarismos políticos (de costume ou de ocasião), mas sim da medida em que a sua liderança souber criar as condições necessárias para o fortalecimento da acção fiscalizadora da sociedade civil ao poder político. «Que condições são essas?»—podereis estar perguntando. Bem, não vou responder à esta perguntar, excepto juntos aos órgãos da Frelimo. E a isto é que se chama disciplina partidária—para conhecimento do jornalista Salomão Moyana. Não configura indisciplina partidária questionar publicamente o Presidente do meu partido, ainda por cima sobre matérias que são de domínio público. Antes pelo contrário, o questionamento concita à reflexão e faz parte da conduta de boa militância. O que configura indisciplinar partidária é falar publicamente da vida privada do partido, qual seria, por exemplo, divulgar pormenores de uma estratégia de acção política-partidária para a conquista do eleitorado em antecipação à sua implementação, ou emitir um juízo de valor que pejora o meu partido ou sua liderança, ante o eleitorado, e seja comprovadamente infundado ou doloso.
Sétimo e enfim, até ao alcance e consolidação da paz efectiva, só a Frelimo é suficientemente competente ou qualificada para governar Moçambique. Mas não seja por isso que a Frelimo tem que não se abster de quaisquer manobras que impliquem o retardamento do processo de pacificação efectiva do país, para se manter no poder. Antes pelo contrário, para a Frelimo continuar no poder por muito mais tempo, deve acelerar o processo de pacificação efectiva de Moçambique, e lutar contra todas as manobras que tendam frustrar este processo. Por exemplo, exigir-se a violação da lei para acomodar interesses de grupo é uma manobra para frustrar o diálogo pela paz. Isso tem que ser combatido pela Frelimo e, também, por todos os cidadãos moçambicanos e entidades do Estado. Os deputados da Assembleia da República, por exemplo, devem abster-se de fazer pronunciamentos que atentam contra o progresso do diálogo em curso.
Morte política exemplar aos deputados nacionais, provinciais o municipais que não têm postura de Estado!
Para a operacionalizar esta morte, Moçambique precisa urgentemente de um Código de Conduta do Deputado. O povo soberano deste país NÃO DEVE continuar a tolerar que as suas contribuições sejam usadas para pagar ordenados a deputados e demais representantes do povo cujos actos promovem e perpetuam desentendimentos fratricidos entre moçambicanos.
Viva a Comissão Mista que conduz o diálogo pela paz efectiva em Moçambique!
E mais não disse.
Muito obrigado pela atenção dispensada!
Comentários
Mussá Roots Mais um lençól a la profe...

É Renamo que confunde a frelimo com o Estado, ou é a Frelimo que se confunde ela própria com o estado, profe?
Gosto43 h
Julião João Cumbane Houve um período da história de Moçambique independente em que a Frelimo se confundiu com o Estado. Esse período está identificado nesta reflexão, mas não especificado. Trata-se do período entre 1975 e 1990. Em 1990 instituíu-se a segunda república em Moçambique, chamada "República de Moçambique". Desde esse momento começou a haver uma separação entre Frelimo e Estado. Está sendo difícil, mas está a ocorrer e é cada vez mais nítida. De acordo, Mussá Roots?... Agora, quem não consegue ver isso só pode ser alguém que se idebtifica com os querem a exterminação da Frelimo. Não é aceitável!
Gosto11 h
Mussá Roots Separação essa que está se revelando difícil, para a maioría dos membros da frelimo/Estado, tal é o parto de uma grávida aos 41 anos...compreende-se isto, afinal estavam mal habituados...

Profe, a frelimização do Estado, é informal, mas factual e nítida...
Gosto31 h
Omardine Omar Realmente, o estado moçambicano esta autenticamente frelimizado e este facto só terminará com a ruptura final. Onde a vontade geral do povo sera atendida.
Gosto31 h
Omardine Omar Infelizmente meu caro prof. Julião João Cumbane, irei discordar contigo em alguns pontos que o teu eloquente artigo apresenta.
1. Em nenhum momento a colonização foram 500 anos, existiu um período de relações comerciais, em que ganha outros rumos com a conferencia de Berlim -1884/85 que serviu de motor para impulsionar e instalar a colonização, que para o nosso caso tem outras dimensões com a instalação do estado novo de Salazar, por isso desde 1498 à 1884/85 o que vigorou foram as relações comerciais, embora existissem algumas manobras dilatórias vigentes na época.
2. Durante estes 41 anos de governação, o que o povo vive é a endocolonizacao, motivo este que mim leva a questionar se a independência realmente serviu para o povo para bureau politico da frelimo?
3. Moçambique precisa de uma neorevolucao como forma eficaz para a salvação das futuras gerações, porque durante este período o que se assiste um leviatha hobbesiano em acção.
4. A melhor opção para governar o país é o povo.
Gosto43 h
Mussá Roots Esta de 500 anos de colonização, é um erro clássico infelizmente quase oficializado...cometído por figuras até do nível do profe aquí...
Gosto12 h
Omardine Omar Penso que o metodo descritivo da história política perdeu as linhas mestras da reflexao actual. Esta história de 500 anos já não tem enquadramento hoje. As pessoas devem saber o que escrevem...
Gosto12 h
Julião João Cumbane O povo moçambicano é soberano, mas não se governa directamente. Delega o seu poder soberano à uma organização (geralmente um partido político) que apresente uma proposta de governação e esta (proposta) seja sufraga pela maioria do eleitorado. A isto chama-se "democracia liberal". De acordo, ó Omardine Omar? O seu ponto 4 peca por não estar alinhado com este princípio de exercício da soberania pelo povo. Os teus pontos 2 e 3 não passam de simples crenças, porque carecem de argumentos que os sustentem. E o teu ponto 1 está simplesmente fora do eixo desta reflexão. Não é a história de colonização de Moçambique que está em interrogação nesta reflexão. É o futuro de Moçambique que está a ser interrogado, à luz da experiência de governação acumulada nos últimos 41 anos.
Gosto11 h
Narcísio Mula Não é verdade que foram 500 anos. Até existem partes de Moçambique onde a colonização nem sequer chegou a ser de 100 anos. Por exemplo, Ngungunhane só foi preso em 1898, o que significa que uma parte do sul de moçambique não tinha sido colonizada (pelo menos de forma efetiva) até essa data
Omardine Omar Meu caro Julião João Cumbane, se digo que o povo é que deve governar, é porque a escolha deve ser livre, e povo deve ser consultado em tudo e não quando chega no tempo de eleições apenas, nós não estamos e nunca tivemos oportunidade de viver num contexto democratico, o que se assiste hoje é uma isonomia em que se encaixam pressupostos oligárquicos. A questão que levantou é que a nossa colonização em nenhum momento durou 500 anos, leia mais meu caro PhD. Julião, porque a história esta em constante atualização.
A Frelimo deve libertar-se da governação porque desta forma, o país vai se tornar numa Somália autentica é que acadêmicos como o sr vão gastando seus fosforos a defenderem coisas que menos entendem. A nossa história foi viciada para acomodar os 41 anos que defendes.
Por fim, a luz de tudo que o país vive, não acho correcto que este partidão continue esfolando o povo. Ok!
Gosto11 h
Angelo Francisco Mas neste momento para governar Moçambique, qualquer coisa é melhor do que a Frelimo.
Gosto21 h
Omardine Omar Narcisio Mula, Ngungunhane foi preso em 1894 e não 1498 porque este foi o ano da chegada dos portugueses ou de Vasco da Gama. Ok!
Gosto157 min
Narcísio Mula Ta corrigido isso. Eu falhei. Se fosse 1498 iria dar mais de 100
Gosto155 minEditado
Omardine Omar Ok ilustre.
Estevão Wa Ka Nhabanga O titulo é bonito e sugestito mas o corpo ( do texto) justificou nada.
Caros compatriotas alguem disse e escreveu a necessidade das nações africanas libertarem-se dos garas dos seus libertadores.
Gosto141 min
Brazao Catopola Na segunda feira eu comento isto... aff. tanta contradição para sexta feira
Gosto12 h
Julião João Cumbane O "só-calibrado-para-detectar-contradições", Brazao Catopola! Leu, não entendeu, quer reflectir, e diz que é porque há contradições. Tsc.
Gosto21 h
Brazao Catopola Kkkkk. sabes que não. marxismo leninismo não é o que disseste ser. não é verdade que a frelimo foi a única que lutou. não é verdade que o país deu liberdade. não é verdade que o país teve sempre eleições. não é verdade que se permitia ter ideias contrárias. não é verdade que o socialismo não requer a propriedade privada. se quiseres posso apresentar outras contradições. a minha questão não é ver erros é evitar deformatação. como se pode ser um partido de vanguarda marxista leninista? não é verdade que Portugal colonizou Moçambique por 500 anos. até primeira década do século XX Portugal so tinha acesso a a zona costeira de Moçambique. nao e verdade que a independencia foi so trazida pela frelimo. entenda. ningiem esta contra frelimo. estamos a favor de um estado de base solida.
Julião João Cumbane Tal qual eu disse! Brazao Catopola leu para detectar erros e não para estudar o argumento. Resultado: faz comentários desfasados com o propósito desta reflexão. Uma manifestação clara de um pedantismo arrogante e arrepiante, porque obstaculiza a evolução intelectual dos moçambicanos.
Brazao Catopola Tudo isso Cumbana eu aceito sem magoas. agora Você é docente e não se deve permitir a erros graves de conceitos. Isso é o que você fez e pior ainda é assumir os erros como o dado certo. Eu sou pedante sim, mas quando escrevo e discuto busco fundamentos sólidos. Quando escreves algo bom digo-o e não vejo mal nisso
Gosto11 hEditado
Antolinho André Meus senhores sejamos sinceros connoscos mesmos. Sinto que alguns concidadãos estão para banalizar esta grande reflexão do sr. JJC carregada de muitas verdades. Porquê tentam sublinhar a questão dos 500 anos como se fosse o cerne do assunto? Compatriotas, esta reflexão devia ser feita por todos nós em todos os locais onde nos encontramos. Há muitos interesses: pessoais, familiar, e em grupo, ... que estão a ser mal defendidos. Os moçambicanos deviam fazer desta reflexão a Bíblia para o dia a dia.
Gosto11 h
Brazao Catopola Antolinho André, banalizar é tornar algo mesquinho. mesquinho é dizer que Portugal colonizou Moçambique durante 500 anos. Prove que Portugal entrou em todo Moçambique até antes de 1910. não ha evidência disso salvo a presença em alguns lugares. você não pode fazer análise com bases incorretas
Gosto11 hEditado
Antolinho André Sr não dê primazia os 500 anos porque a nossa história diz partindo vários pressupostos documentados. Se quer que a nossa história seja reeditada vais a tempo de propor porque afinal nada está acabado. Mas enquanto não se torna oficial a tua visão não passa de entretenimento aos demais leitores.
Brazao Catopola Ops... você e o Cumbana dizem que são 500 anos. eu quero provas. não me venha com discurso que todos dizem. já ouvi isso e hoje sabemos de quanta "verdade" foi assim produzida. Eu ja fiz minha parte sobre isso. Leia minha dissertação de mestrado e doutoramento. O vosso problema é pensar que dizer diferente é ser contra o partido. a presença de Portugal aqui data sim de século xvi mas a colonização não. não é não mesmo
Gosto11 hEditado
Antolinho André Kkkkkkkkkkkkkkkk, ....Pensar que dizer diferente é ser contra o Partido...", isso quem está a dizer é o sr e não eu. Portanto não nego que tenhas feito algum trabalho sobre a matéria mas até aqui os nossos manuais de história ainda não foram actualizados para reflectir sobre o assunto que julgo pacifico porque afinal há muita coisa inacabada. Apenas eu gostaria que o texto reflexão apresentado pelo prof não deve ser confundido com simples problema dos 500 anos. Veja só estamos agora a discutir em volta dos 500 anos e deixamos a magna reflexão do sr. Prof. Para todos efeitos muito obrigado.
Brazao Catopola Antolinho André... Discutiremos outro dia. tens razão. Hoje é sexta feira dia de tudo para mim menina debater política... como meus comparsas aqui dizem "cara desliga". Hoje desliguei. Vamos debater na segunda. concordo com teu argumento
Hermes Sueia Antecipou a campanha Professor Cumbane?
Omardine Omar Meu caro Julião João Cumbane e Antolinho André, insistir neste tipo de reflexão hoje é banalizar o excelente acervo bibliográfico que esta a ser desenvolvido e trabalhado pelos academicos imparciais. Entendam que a Frelimo precisa de autoreformar-se, e criar uma comissão de verdades e reconciliação como forma de mudar definitivamente as façanhas estoricas escritas no gabinete por seus ideólogos.
Narcísio Mula O JJC até começou bem o texto. Descreveu bem a vida a partir da Independência, a transformação da Frelimo com Partido ùnico e de tendencia marxista-leninista, a conversão do Estado para o Socialismo, as hostilidades com o regime do apartheid e o de Ian Smith. Tudo verdade. O oceano começa a transbordar quando dá a entender que a Renamo não foi criada pelos moçambicanos. Isso não é verdade. É verdade que sim, o aparteid e o regime de Smith apoiaram a Renamo (por que tinham interesses) mas nao é verdade que foram eles que criaram.
Gosto153 minEditado
Joaquim Gove Sem comentários. Onde os temperos estão equilíbrados, apenas os vaidosos encontram falhas no paladar...
Mais que em qualquer ocasião que me ocorra comentar, este é pós melhores posts de Julião João Cumbane, desde que comecei a lê-los!
A construção de uma juventude que reflecte e crítica na base de realidades e com frontalidade é o primeiro passo...
Obrigado...
Hermes Sueia KKKKKKKKK...........
Omardine Omar Kkkkkkkkkkk
Omardine Omar A MRN ou hoje Renamo foi fundada a 03 de Fevereiro de 1976 em Manica por Andre Matado Matsangaissa e Janota, leia Fabricio Sabate, Memorias soltas... Entenderá todos os aspectos que nortearam o surgimento da Renamo, o único partido que conheço que foi fundado fora do país foi a frelimo com Adelino Guambe a 07 de Junho de 1962 em Ghana, mas que devido a discriminação da juventude foi oficializado em Dar-es-Salam por Mondlane e campanhia, a 25 de Junho do mesmo ano meu caro.
GostoMostrar mais reações

Sem comentários: