OPINIÃO
Ele queria tirar uma fotografia com Fidel antes de este morrer, o que para um anticomunista como Marcelo é muito interessante de analisar do ponto de vista psicológico.
1. Schäuble entendeu fazer uma declaração de amor póstumo ao Governo Passos Coelho e de hostilidade ao Governo Costa. Não é surpresa para ninguém, mas faz estragos e a intenção é fazer estragos. Um homem como o ministro das Finanças alemão sabe que fala para os chamados “mercados” com voz bastante grossa, e, como pensa que é inimputável, faz o que quer e ajusta as contas que quer, sem qualquer preocupação com o país de que está a falar. Seria bom que alguém do PPE lhe dissesse que guarde as suas opiniões para si, a começar pelo PSD, que devia dizer que esse tipo de elogios são maus para o país, e são condenáveis sem adversativas. Mesmo que concorde, como concorda, com ele.
2. É-me incompreensível que gestores de um banco do Estado, mesmo com o bizarro acordo feito para não os equiparar a gestores públicos, não tenham de apresentar a declaração de rendimentos ao Tribunal Constitucional. Sou, por outro lado, muito menos crítico dos salários que lhes pagam — sempre achei que se devia pagar salários competitivos em várias áreas do Estado e do governo, quando as funções são muito complexas e especializadas e exigem conhecimentos e experiência que só existe no sector privado. Prefiro que se recrutem os melhores, porque, se o forem, poupam-nos muito mais do que aquilo que ganham. Mas estes salários milionários implicam responsabilidades acrescidas pelos resultados e, como se faz no privado, deveriam estar indexados a esses resultados.
Não sei muito bem que condições colocaram para aceitar o lugar, e se nessas condições se incluía a não obrigação de declarar os seus rendimentos, mas se foi assim foi um erro do ministro e um erro de avaliação próprio. Será apenas uma questão de tempo, até terem de o fazer a bem ou a mal.
Não sei muito bem que condições colocaram para aceitar o lugar, e se nessas condições se incluía a não obrigação de declarar os seus rendimentos, mas se foi assim foi um erro do ministro e um erro de avaliação próprio. Será apenas uma questão de tempo, até terem de o fazer a bem ou a mal.
3. A viagem do Presidente Marcelo a Cuba é puramente lúdica. Ele queria tirar uma fotografia com Fidel antes de este morrer, o que para um anticomunista como Marcelo é muito interessante de analisar do ponto de vista psicológico. Na verdade, é uma selfie de famoso com famoso, embora a dimensão das famas e o seu conteúdo sejam muito diferentes.
4. Parece que a Valónia, uma região da Bélgica, dificultou um acordo típico da actual vaga que está em preparação com os EUA (o TTIP) e, neste caso, com o Canadá. Não sou contra a existência de acordos de livre comércio — acho até que são à partida muito vantajosos para todas as partes, se se tiver cuidado em minimizar os gastos e garantir que não são viciados e desiguais. Mas o problema é que estes acordos são muito mais do que acordos de livre comércio — são acordos políticos assentes numa imposição de concepções económicas e sociais que fazem recuar muitas conquistas sociais e políticas que, em particular na Europa, se considerava estarem adquiridas. Daí a hostilidade com que são recebidos.
Para além disso, o modo como estes tratados, quer o CETA, que já se conhece, quer o TTIP, que ainda permanece bastante obscuro, foram negociados representa um crescendo de poderes para a burocracia europeia e muitos interesses que lhe estão associados, sendo depois impostos aos parlamentos nacionais em termos de “pegar ou largar”. Quando um parlamento regional como o da Valónia, acompanhado, aliás, por outros na Bélgica federal, diz que não, há um clamor público defendendo que se deve passar por cima deles e obrigar a que a tomada de decisão seja da Comissão.
Algumas coisas que têm sido escritas a propósito das dificuldades colocadas pela Valónia são sinistras, porque representam a tentação autoritária da actual Europa de impor contra tudo e contra todos as soluções que só interessam a alguns. Ao varrer-se todas as instâncias europeias que podem fazer a regulação, ao minimizar-se os tribunais nacionais, ao impor-se condições sobre os direitos de os governos nacionalizarem ou expropriarem, dentro do quadro da legislação nacional, ao colocar-se fora dos acordos as leis laborais os contratos colectivos, os sindicatos, está-se a fazer uma globalização política pelo modelo único, com prejuízo da soberania nacional e do voto popular.
Para além disso, o modo como estes tratados, quer o CETA, que já se conhece, quer o TTIP, que ainda permanece bastante obscuro, foram negociados representa um crescendo de poderes para a burocracia europeia e muitos interesses que lhe estão associados, sendo depois impostos aos parlamentos nacionais em termos de “pegar ou largar”. Quando um parlamento regional como o da Valónia, acompanhado, aliás, por outros na Bélgica federal, diz que não, há um clamor público defendendo que se deve passar por cima deles e obrigar a que a tomada de decisão seja da Comissão.
Algumas coisas que têm sido escritas a propósito das dificuldades colocadas pela Valónia são sinistras, porque representam a tentação autoritária da actual Europa de impor contra tudo e contra todos as soluções que só interessam a alguns. Ao varrer-se todas as instâncias europeias que podem fazer a regulação, ao minimizar-se os tribunais nacionais, ao impor-se condições sobre os direitos de os governos nacionalizarem ou expropriarem, dentro do quadro da legislação nacional, ao colocar-se fora dos acordos as leis laborais os contratos colectivos, os sindicatos, está-se a fazer uma globalização política pelo modelo único, com prejuízo da soberania nacional e do voto popular.
5. Querer saber onde está Mário Nogueira para o picar para sair para a rua com a Fenprof. Querer humilhar o PCP e o BE “por estarem tão mansinhos” e picá-los para quebrarem com fragor a “paz social”. Queixar-se de que não há manifestações e chorar de saudades pela desocupação do espaço em frente das escadarias da Assembleia. Apelar à CGTP para que faça greves e motins como fazia “antes”. Dizer com mágoa, como Marques Mendes, “quem os viu e quem os vê”, com saudades de “quem os viu”. A lista do ridículo seria interminável. Ó homens! Eles têm uma coisa muito mais importante do que a rua — ganharam poder político. Ó homens! E, muito mais do que isso, têm poder político para ajudar melhor a “rua” do que se viessem para a rua. Aliás, é isso mesmo que, dia sim, dia não, vocês dizem. Então, em que ficamos? “Quem governa é o BE”, ou o “PS meteu-os no bolso”? Não foram “eles” que perderam poder, foram vocês. E sempre podem ocupar o vazio da rua e das manifestações, está lá à disposição. E não há causas mobilizadoras? Ou não há gente?
6. Sócrates é o pior da política portuguesa e que possa continuar a fazer política pelos intervalos da chuva mostra bem como existe uma degradação da vida política e como isso é indiferente aos partidos, neste caso a começar pelo PS. Eu nem sequer estou a escrever isto pressupondo que ele seja culpado das graves acusações que lhe fazem — isso é para outro foro e até lá existe a presunção de inocência. Não é por isso, é por tudo o resto. Pagou ou não ao “Abrantes” (e o PS veja lá se não continua a ter outros “Abrantes” em funções...)? Escreveu ou não os livros que têm o seu nome ou encomendou-o a um nègre? Comprou ou fez comprar milhares de livros seus para fazer subir a obra nos tops? Para cada uma destas acusações que não envolvem necessariamente crimes, uma vez explicada a origem do dinheiro, está-se perante um homem que vive e respira na mentira e que envenena o poço da nossa república. Sócrates é o exemplo vivo de alguém que mostra todos os dias como os partidos políticos são mais sensíveis à dissidência e ao delito de opinião do que a reiteradas “más práticas”, isto para usar um eufemismo.
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