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30 Meticais
Maputo, Quarta-Feira, 27 de Junho de 2012
Director: Fernando Veloso | Ano 7- N.º 868 | Nº 154 Semanário
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de Moçambique Moçambique
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Dhlakama em grande entrevista
“Frelimo
matou
mais que
colonialismo” – acusa Afonso Dhlakama, presidente do Partido Renamo, formado a partir do Movimento de Resistência Nacional ou Resistência Nacional de Moçambique, contrariando os sucessos evocados por Armando Guebuza e seus correligionários 2 Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 27 de Junho de 2012
Destaques
Aunício da Silva, em
Nampula
Moçambique assinalou na
última segunda-feira o 37º aniversário
da proclamação da
Independência Nacional que
ocorreu a 25 de Junho de 1975.
Diversas correntes da sociedade
civil, religiosa e política têm
estado a tecer comentários distintos
alusivos à efeméride. Em
entrevista exclusiva ao Canal de
Moçambique, Afonso Dhlakama,
presidente do Partido Renamo,
juntou-se ao cortejo e
disparou: “O Partido Frelimo
traiu a independência nacional”.
Mas leia na íntegra as suas
palavras em discurso directo:
Canal de Moçambique
(Canal): Senhor presidente
Dhlakama, o país acaba de
assinalar o 37º aniversário
da proclamação da independência
nacional e, simultaneamente,
o Partido Frelimo,
seu principal opositor, fala do
“Jubileu da Frelimo”. O que
tem a dizer em relação à discordância
quanto à FRELIMO,
Movimento de Liberta-
ção Nacional, ser diferente de
Partido Frelimo?
Afonso Dhlakama (Dhlakama):
Esta grande festa tem 3
momentos diferentes. Para mim
é uma festa da independência
em geral para todos os moçambicanos.
A outra ocasião é mais
partidária para o Partido Frelimo
que são os 35 anos da sua
criação. O terceiro momento,
que para o Partido Frelimo é o
segundo, é dos 50 anos da fundação
da FRELIMO, Movimento
de Libertação Nacional… A
Frelimo está a lançar muitas
mentiras. Eles dizem que são
50 anos da fundação do partido
Frelimo, mas não, a Frelimo não
tem 50 anos entanto que partido
político. Agora, o movimento
de libertação nacional entanto
que FRELIMO, esse, sim, faz
50 anos. A Frelimo deve estar
a querer enganar a juventude.
Canal: No seu entender, senhor
presidente, que diferença se pode estabelecer entre
um partido e um movimento?
Dhlakama: É claro que um
partido é um movimento que
politicamente tem seus estatutos
e é registado dentro de um Estado.
O movimento é um grupo de
cidadãos que por uma determinada
razão se unem para lutar
pela sua libertação. A Frelimo,
como movimento, fundiu-se de
vários outros movimentos para
fazer frente ao colonialismo
português. Todos aqueles que
se fundiram não sabiam o que
a Frelimo ia fazer entanto que
partido, pois se soubessem não
o teriam feito. Veja que muitos
que lutaram junto com a Frelimo pela independência de Moçambique já não estão lá. Quando é movimento é a união de um povo na luta pela sua independência. Conseguido o objectivo quando se põe a questão de como dirigir o povo democraticamente começaram a surgir diferenças, como por exemplo: a FRELIMO do mato, do tempo da luta de libertação nacional e a que temos hoje. Se lá no mato diziam que eram contra o capitalismo, agora não. Até Guebuza é o homem mais rico do país. Na altura era crime porque o objectivo era a independência. Movimento é lutar política e militarmente, como fez a Renamo para destruir o instrumento armado da Frelimo. Canal: Em Junho de 1975 Moçambique viu-se independente do colonialismo português. Nos dias que correm e olhando pelo actual nível de vida, pode-se traduzir que o povo moçambicano está independente e a usufruir da independência? Dhlakama: Não. Mas ninguém pode hoje dizer que a luta contra o colonialismo foi uma má luta. Foi uma luta legítima para libertar Moçambique do poder colonial português. Ninguém pode dizer que foi em vão. Todos participámos da luta armada de libertação nacional, quer de forma directa como de forma indirecta. Só que o Partido Frelimo traiu a independência nacional. A independência não era para se fazer pior do que fez o colonialismo em Moçambique durante os 500 anos da colonização. Lembro-me muito bem que a PIDE-DGS torturou e matou muitos moçambicanos, mas a Frelimo em pouco tempo, depois da independência, matou muitos moçambicanos, mais do que foram mortos durante os 500 anos da colonização sem razão nenhuma. Os portugueses matavam porque matavam indígenas e, eles sabiam que a qualquer momento voltariam a Portugal porque estavam a colonizar e é daí que maltratavam pretos africanos. Os britânicos, os franceses, os alemães também fizeram isso em África. Agora, ninguém viu a razão da Frelimo depois da independência fazer coisas piores. Os da Frelimo por terem ido à Tanzânia ficar dez anos vieram instalar o sistema de aldeias comunais, amedrontando os pais e avós a deixarem os seus usos e costumes, cemitérios e fugirem para as montanhas onde morriam de fome e sede. Inventaram guias de marcha. Num único país uma pessoa para poder circular tinha que ter um ‘passaporte’ e não podia circular sem a autorização de grupos dinamizadores. Inventaram os campos de reeducação para reeducar alegando que os moçambicanos tinham os ‘cérebros sujos’. Oito mil guerrilheiros da Frelimo queriam fazer lavagem cerebral a milhões de moçambicanos. Muitos moçambicanos foram parar no Niassa e Cabo Delgado sem culpa formal, bastava uma pessoa comentar negativamente sobre a Frelimo era motivo para ser morto. Criou-se o tal SNASP que tinha poderes de perseguir, acusar, torturar e sentenciar a morte. Eu vi porque eu estava na Frelimo. A Frelimo aboliu rezas nas igrejas. Eu vi padres a serem presos porque diziam que essa coisa de religião era do colono. Capelas e mesquitas ficaram sedes da Frelimo, e não havia liberdade religiosa. Em caso da morte de um parente a família era proibida de rezar. Todos esses jovens que foram à Tanzânia, Samora Machel, Joaquim Chissano, Marcelino dos Santos, Armando Guebuza, etc., etc. os pais eram pastores, e só porque ficaram dez anos lá voltaram desumanos. O povo foi inteligente porque não recuou. Criou um movimento chamado Renamo para socorrer-se e a Renamo travou tudo isso. Hoje já não há aldeias comunais, campos de reeducação, fuzilamentos, guias de marcha, machambas do povo e já há partidos políticos. Os jovens estão a ser levados para uma história falsa que não é nada. Em termos partidários, como comunista que a Frelimo é pode celebrar todos esses massacres que andaram a fazer contra o povo moçambicano. Até fuzilaram os pais “O povo foi inteligente” “Doa a quem doer, a democracia em Moçambique foi trazida pela Renamo” Se tivesse lutado para ser presidente de Moçambique, já seria (Continuação da página anterior) “Todos participámos da luta armada de libertação nacional”. “A independência não era para se fazer pior do que fez o colonialismo em Moçambique
durante os 500 anos da colonização.”
“A Frelimo, como movimento, fundiu-se de vários outros movimentos para fazer frente
ao colonialismo português. Todos aqueles que se fundiram não sabiam o que a Frelimo ia
fazer entanto que partido, pois se soubessem não o teriam feito. Veja que muitos que
lutaram junto com a Frelimo pela independência de Moçambique já não estão lá.”
“Lembro-me muito bem que a PIDE-DGS torturou e matou muitos moçambicanos, mas a
Frelimo em pouco tempo, depois da independência, matou muitos moçambicanos, mais do
que foram mortos durante os 500 anos da colonização sem razão nenhuma. Os portugueses
matavam porque matavam indígenas e eles sabiam que a qualquer momento voltariam
a Portugal porque estavam a colonizar e é daí que maltratavam pretos africanos. Os
britânicos, os franceses, os alemães também fizeram isso em África. Agora, ninguém
viu a razão da Frelimo depois da independência fazer coisas piores.”
Em entrevista exclusiva ao Canal de Moçambique
“O Partido Frelimo traiu a independência
nacional”
(Continua na página seguinte)
“A Frelimo deve estar a querer enganar a juventude”
Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 27 de Junho de 2012 3
Destaques
Aboliram o sistema tradicional.
Em toda a África
há tradição. Amarraram
muitos régulos. Chegaram
a dizer que os régulos eram
uma criação do colonialismo
português e esqueceram-se que os pais e avós eram
régulos. Até fuzilaram os
pais porque não queriam régulos por terem aprendido
o comunismo na Tanzânia.
Criaram machambas estatais,
designadas “machambas
do povo” e ninguém podia ter
a sua machamba a partir das
aldeias comunais. Ninguém
podia exigir receber se não
era chamado capitalista. Ninguém
podia ter a sua galinha.
Houve fuzilamentos pela introdução
da pena de morte e
hoje temos o problema da juventude
que sem respeito chamam
os pais de camarada. Foi
a Frelimo que introduziu dizendo
que é emancipação. Pai
é sempre pai, mesmo que o filho
se doutore. Não estou a elogiar
o colonialismo português.
Quando a Frelimo canta os
50 anos é triste porque o povo
moçambicano quer ouvir verdades
e não recordar as humilhações,
torturas e abusos.
Eu, Afonso Dhlakama, não
peguei a arma para lutar para
ser presidente de Moçambique
porque se eu tivesse lutado para
isso já teria sido há muito tempo
e não havia necessidade de irmos
a Roma porque já tínhamos cercado
todo o país. 85% do país
estava sob controlo da Renamo
e estávamos a cercar Maputo.
Mesmo assim fomos suportar
brincadeiras em Roma. Assiná-
mos o Acordo Geral da Paz para
termos o poder através de eleições livres, justas e transparentes
que era a razão da nossa luta, só
que agora, chega de brincadeiras.
A vitória da Renamo tem sido
adiada. Como vê nas últimas
eleições a Frelimo leva para dizer:
vamos ver o que a Renamo
vai fazer já que Dhlakama diz
não querer a guerra, então não há
perigo por isso vamos levar. Mas
eles estão enganados porque há
várias guerras e não é só a única
forma de guerra que a Frelimo
tem medo que se possa fazer.
Nós estamos a preparar a revolução
pela manifestação. Pa Canal:
Olhando para a saúde da própria Renamo de que
o senhor é presidente, que planos
mais concretos e realizáveis
existem no seio do partido?
Dhlakama: Deixa-me antes
dizer que a Renamo não só trouxe
a independência mas também
a nova realidade do povo
moçambicano e é por isso que a
Renamo lutou pela democracia.
Doa a quem doer, a democracia
em Moçambique foi trazida
pela Renamo. É a Renamo que
a garante, por isso os inimigos
da democracia, que são os nossos
irmãos da Frelimo, atacam a
Renamo. O exemplo disso foi o
ramos um bocadinho porque
queríamos fazer em Janeiro/
Fevereiro, mas, por razões de
logística e negociações com
a própria Frelimo, parámos.
Canal: Das conversações
que já teve com o presidente
da Frelimo, Armando Guebuza,
que resultados práticos
já foram produzidos?
Dhlakama: Ainda não tivemos
resultados próprios em relação
ao que estamos a exigir,
mas estamos a negociar e se
alguém aceita negociar porque
devemos correr para estragar
tudo? De facto está a caminhar
a passos de camaleão ou então,
estão a querer tentar retardar, mas
se for o caso vamos dizer que
basta e arrancamos ao ataque.
Canal: Haverá uma terceira
ronda?
Dhlakama: Vai haver sempre
encontros até que a gente assine.
(Canal de Moçambique)
ataque à democracia no dia 8 de
Março deste ano. A Renamo não
respondeu porque senão íamos
ferir a democracia que é o poder
político que nós temos. Não resta
dúvida que alguma coisa deve ser
mudada. A situação não se pode
manter como está. Aguentamos
muito. Este ano é o 20º ano da
celebração do Acordo Geral da
Paz e, isso é muito, mas até hoje
nós os lutadores pela democracia
não estamos a sentir nada. Continuamos
a ser alvos militarmente.
Somos presos, perseguidos e excluídos
de tudo, mas não estamos
arrependidos por termos assinado
o Acordo da Paz, e isto vai ficar
na história para todo o mundo ver.
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