domingo, 16 de outubro de 2016

A nobre missão do professor

Editorial


Esta semana, o país foi fértil de eventos relativos à comemoração do Dia do Professor, o 12 de Outubro. Os professores festejaram este seu dia e houve os habituais discursos de circunstância realçando a nobre missão de ensinar, porque de facto, sem os professores não há desenvolvimento sustentável. Vivemos numa sociedade de conhecimento que é a maior riqueza de uma nação e os professores são o seu principal farol.
Esta é uma das profissões mais antigas e mais importantes pelo seu papel na formação do cidadão. Os pais entregam os seus filhos nas mãos dos professores e confiam no desempenho do seu trabalho, para que despertem neles o gosto de aprender.
Como sói dizer-se, todos nós somos formados pelo professor, sejamos nós médicos, engenheiros, veterinários, jornalistas, enfermeiros, pilotos, assistentes de bordo, secretárias, ministros, presidentes da república, etc. Os próprios professores são formados por professores. Por isso, não nos esquecemos facilmente de quem nos impingiu o primeiro abecedário quando entramos na escola, por mais anos que acumulemos na nossa vida. Não nos esquecemos daqueles que nos ajudaram a penetrar na complicada teia da ciência. E quando cruzamos com os nossos antigos mestres, continuamos a chamá-los de “nossos professores”, porque eles de facto continuarão a sê-lo até ao fim dos nossos dias.
É que muitas coisas só se aprendem na escola, com a mediação de um ser mais experiente: o professor, pois os professores são como mestres que levamos pela vida fora, que nos ensinaram o saber da vida num quadro de giz montado numa sala de aulas, ou colocado debaixo de uma mafurreira ou de um cajueiro num canto longínquo deste nosso belo Moçambique.
Independentemente dos modelos de ensino e aprendizagem que estejam a ser aplicados, o professor vai continuar a ser um parceiro de visão e experiência na construção do conhecimento, assumindo o seu papel de promotor, orientador, mediador, motivador e gestor da aprendizagem. Vai continuar a ser fonte de motivação para o aluno. O professor, como promotor da aprendizagem, continuará a ser um facilitador, termo mais corrente nos nossos dias. Um facilitador de acesso aos dados e informações, ao conhecimento acumulado pela sociedade, orientando, executando e avaliando factos, experiências e projetos, para que ocorra a construção desse conhecimento.
O professor é a figura mais importante no processo educativo, responsável pela formação de cidadãos e ensinando-os desde cedo sobre as diversas áreas do conhecimento humano, sobre a vida e sobre a sociedade. A pessoa do professor é fundamental no desenvolvimento do estudante e de um cidadão consciente. Ele é um facilitador de conhecimento que gera no estudante a dúvida, a reflexão e a contestação.
Desta forma, o professor é o ponto inicial da aprendizagem levando o estudante a questionar, inovar, a desenvolver e a procurar respostas para as perguntas que devem surgir.
É fácil perceber que transmitir conhecimentos não é uma tarefa fácil, principalmente numa sociedade como a nossa, onde o professor cada vez mais sofre com a desvalorização e recebe muitas vezes pouco respeito por parte dos estudantes, dos próprios encarregados de educação e de outros sectores sociais.
Nos dias que correm, a nossa escola está a ser afectada negativamente por factores sociais que corroem a própria sociedade, como a violência, as drogas, a desestruturação das famílias e a corrosão de valores éticos-morais. Nessas situações, exige-se que o professor seja também pai, mãe, educador, recreador, amigo, profissional, psicólogo, sociólogo, muitas vezes até mágico, para fazer simplesmente o que toda a sociedade espera  dele, que é mediar o conhecimento até aos seus alunos, muitas vezes problemáticos, carentes, violentos, tímidos, desligados, porque a sociedade se desligou também da escola, onde o professor tem o seu centro operacional.
É esta classe que ao longo destes 41 anos de independência de Moçambique, com todas as dificuldades que enfrentou, com todos os altos e baixos, e para utilizar uma expressão mais corrente, com todos os desafios decorrentes da situação do país, no meio dos maiores sacrifícios, produziu o que está à vista de todos nós, com um desempenho altamente positivo. Tendo partido do quase nada, a classe merece a nossa homenagem e reconhecimento. Caminhar por esse país fora e observar o panorama escolar, com crianças, adolescentes, jovens e até adultos bem entrados na idade, é um contentamento, sobretudo para quem olha para trás em visão retrospectiva e histórica.
Merece a nossa homenagem e reconhecimento o anónimo professor de Gilé, que, durante a guerra dos 16 anos, quando todos tinham fugido da sua aldeia, ele ficou ali com um grupo de petizes, ensinando-os o “beabá”, sem livros, sem cadernos, sem lápis, sem giz, usando apenas a mandioca seca para escrever, riscando num pedaço de quadro preto que ali existia.
Merece a nossa homenagem e reconhecimento o anónimo professor de Funhalouro que nos tempos difíceis da fome, ficou ali firme debaixo de um embondeiro, com os seus alunos, transmitindo conhecimentos e incutindo nos alunos que aprender era a melhor via para vencer a própria fome que ali os sacudia.
Merece a nossa homenagem e reconhecimento os anónimos professores que ao longo do tempo ficaram sem salários durante meses, mas mesmo assim não vacilaram e se mantiveram firmes nos seus postos cumprindo cabalmente com a sua missão que é de ensinar, como dizia Samora, fazendo da escola uma base para o povo tomar o poder.
É claro que os professores, como outras classes, passaram e ainda passam por grandes dificuldades na persecução do seu trabalho. O trabalho é a força motriz do desenvolvimento e é dignificado e protegido. Dignificar o trabalho significa, igualmente, criar condições para a dignificação dos profissionais, sendo a primeira e sua pedra angular a criação de condições para o exercício pleno das suas funções.
No que aos professores concerne, o seu empregador é, em grande maioria, o Estado. E aí há que referir que se exige que a Organização Nacional dos Professores (ONP/SNP) trabalhe com o patrão, com objectivos bem precisos rumo a metas bem definidas: preparação dos professores, salários condignos, habitação decente, assistência social, médica e medicamentosa, cursos de aperfeiçoamento constantes, etc. Que a ONP olhe com especial atenção também para os professores nos distritos e localidades.
Não há dúvida que nesta área se tem progredido imenso, mas também não há dúvida que se poderia progredir bastante mais. Todos sabemos que muitas das soluções exigem condições materiais que nem sempre estão ao nosso alcance, país pobre que somos.

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