Renamo alarga perímetro belicista
Quanto mais a Frelimo se queixa, mais a guerrilha da Renamo intensifica e expande as suas acções belicistas, com alvos perfeitamente identificados: postos policiais e de saúde. Objectivo: roubo de armas e uniforme, medicamentos, por arrasto, bens de utilidade. Mas sobretudo pressão na mesa negocial.
Na calada da madrugada de sábado para domingo, 12 indivíduos invadiram a sede do posto administrativo de Maiaca, distrito de Maúa, Niassa, entre eles apenas três não traziam armas.
Correram simultaneamente em direcção ao posto policial e a unidade sanitária, onde se apoderaram de uniforme, queimaram processos e atearam fogo às instalações, enquanto noutro extremo da pacata vila, roubaram medicamentos diversos.
Já na residência do chefe do posto administrativo, os homens armados roubaram electrodomésticos e destruíram a infraestrutura. Findo isso, puseram-se em fuga. Os bens roubados foram transportados pelos três homens que não traziam nenhum armamento, claramente com a missão específica de recolher os produtos do roubo.
Resta saber se os homens não armados foram “mobilizados’ no seio das populações para a missão, como chegou a ser frequente durante a guerra civil dos 16 anos, ou fazem parte do quadro de pessoal da guerrilha.
No espaço de menos de uma semana, o distrito de Maúa volta, assim, a ser alvo dos da Renamo.
Penúltimo domingo, o posto administrativo de Mapula esteve sob alçada da guerrilha, que pilhou o posto policial e a unidade sanitária.
E no sábado, anteontem, a vez coube a vila-sede distrital de Mopeia, província da Zambézia.
Tal como noutras incursões, em Mopeia a intenção era, também, o roubo de material bélico.
Debalde.
O administrador diz que as armas foram distribuídas pelos agentes policiais, já a advinhar nas intenções dos elementos da Renamo.
Fica claro que a orientação de não deixar armas e outro material bélico em instalações policiais surge dos comandos provinciais ou central.
Baixas no exército
Niassa é das províncias que não tem sido assolada na mesma proporção das de Sofala e Manica, onde acções militares assumem dimensões alarmantes.
Desde que a negociação iniciou na cidade de Maputo, entretanto, que a Renamo expande as suas acções para as demais províncias por sí reivindicadas na sequência dos resultados eleitorais de Outubro de 2014.
Até ao momento, somente Nampula não tem registado escalada de acções belicistas.
Em Sofala, as autoridades militares dizem que nos últimos meses sofreram baixas nas suas fileiras quantificadas em 108, dado entretanto que coloca dúvidas, por em termos estratégicos não ser usual revelar este tipo de informação.
Não apenas como podendo o inimigo tirar alguma vantagem estratégica, como por poder contribuir para o ‘baixar da moral combativa” entre os militares.
A Renamo não costuma revelar as suas baixas, e quando o faz, tem sido em efectivos quantificados em baixa, o que se compreende perfeitamente. Nestes casos, coloca pressão do lado do inimigo, como tendo sofrido maior número de baixas.
Numa altura em que a negociação está em curso, o governo e a Renamo se posicionam nas matas em busca de argumentos que coloquem pressão sobre o lado contrário da contenda.
Nessa disputa campal, a Frelimo surge como a organização que mais queixas apresenta – compreensível pela enorme responsabilidade política face ao eleitorado, populações sob sua alçada atravez do governo – lamentando e até pedindo para que a Renamo cesse os ataques.
O exército limita-se, perante o actual quadro, a reagir às acções da Renamo, uma vez que os seus homens recorrem à estratégia própria de guerrilha, aparecendo onde menos se espera, atacam e imediatamente desaparecem, para depois atacarem num noutro local, forçando os militares a novas perseguições, num exercício que nunca mais acaba.
De resto, a mesma estratégia utilizada durante a guerra civil e noutras que foram surgindo nesse intervalo.
Pelo meio, a guerrilha rouba armas, uniformes, medicamentos e até alimentos, bens suficientes para a sobrevivência onde se encontra confinada, ainda pessoal ligado à saúde, para intervenções de primeiros socorros em caso de necessidade extrema.
Há semanas, no distrito de Tsangano, Tete, para além de medicamentos, os da Renamo levaram consigo pessoal ligado à saúde.
Olímpio Cambona
A exoneração do vice Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas de Defesa de Moçambique, Olímpio Cambona, pelo presidente da República, Filipe Nyusi, não levantaria nenhum sururu se o homem não tivesse um passado da Renamo.
Cambona foi parar aquele posto mercê da saída de Mateus Ngonhamo, também ele oriundo da Renamo no quadro do entendimento de Roma.
EXPRESSO – 01.08.2016
Renamo volta a atacar no centro de Moçambique - Polícia
Homens armados da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) atacaram hoje um posto policial no distrito de Moatize, na província de Tete, centro de Moçambique, e destruíram uma viatura, anunciou a Polícia moçambicana.
Luís Nudia, porta-voz do comando da Polícia de Tete, disse à Lusa que o grupo de atacantes abriu fogo contra agentes policiais posicionados num posto de controlo em Mboza, junto à estrada N7, a cerca de sete quilómetros da vila de Moatize, e de seguida incendiou uma viatura particular.
"O ataque dos homens armados da Renamo a um posto policial ocorreu no período das 00:30 de madrugada desta segunda-feira e há danos materiais, queimaram uma viatura que estava ai parqueada", precisou Luís Nudia, adiantando que os polícias no local responderam aos tiros.
Este é um segundo incidente que as autoridades atribuem à Renamo em Tete em menos de uma semana, segundo o porta-voz do comando da Polícia, após uma invasão e saque de medicamentos no centro de saúde de Banga, no distrito de Tsangano.
Nos últimos dias as autoridades moçambicanas registaram outros ataques de homens armados da oposição, nas províncias de Niassa, norte do país, e da Zambézia, centro.
No domingo, homens armados da Renamo invadiram a localidade de Maiaca, na província de Niassa, e assaltaram o centro de saúde, as instalações da polícia e a casa do administrador.
O ataque, realizado de madrugada por um grupo de 12 homens da Renamo, nove dos quais armados, foi o segundo numa semana a uma localidade no distrito de Maúa.
Na sequência do incidente, o diretor de Ordem no comando provincial da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Niassa, João Mucuela, avançou que foram mobilizados mais agentes para reforçar a segurança na região.
Os atacantes, segundo testemunhos locais recolhidos pela Rádio Moçambique, levaram medicamentos do centro de saúde, peças de fardamento das instalações da Polícia, onde queimaram processos e outros bens, e eletrodomésticos da residência do administrador local, que ficou parcialmente destruída.
Na madrugada de sábado, um grupo de 20 homens armados da oposição invadiu a vila sede do distrito de Mopeia, província da Zambézia, e ocupou o comando da polícia durante uma hora.
Segundo Vidal Bila, administrador distrital de Mopeia, citado pela Rádio Moçambique, a normalidade voltou após a partida dos homens da Renamo, depois de um tiroteio de 45 minutos com efetivos da polícia e a fuga em pânico da população.
Os atacantes, descreveu o administrador de Mopeia, queimaram uma viatura da polícia e outra dos serviços de educação, saquearam a unidade de saúde do distrito, tendo levado medicamentos, lençóis e redes mosquiteiras.
A instabilidade militar entre o braço armado da Renamo e as Forças de Defesa e Segurança, que se agravou nos últimos meses, tem tido como palco as quatro províncias do centro do país e são raros os relatos de violência política no norte.
A Renamo não reconhece os resultados das eleições gerais de 2014 e exige governar nas províncias de Sofala, Tete, Manica e Zambézia, centro de Moçambique, e também em Niassa e Nampula, no norte.
A região centro de Moçambique tem sido a mais atingida por episódios de confrontos entre o braço armado da Renamo e as Forças de Defesa e Segurança, além de denúncias mútuas de raptos e assassínios de dirigentes políticos das duas partes.
A Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder) revelou no sábado que, nos últimos seis meses, 108 membros da sua formação foram assassinados só em Sofala, segundo dados do partido no poder nesta província do centro do país.
As autoridades atribuem também à Renamo ataques a unidades de saúde nas últimas semanas e emboscadas nas principais estradas do centro do país, onde foram montadas escoltas militares obrigatórias em três troços de duas vias.
Apesar da frequência de casos de violência política, as duas partes voltaram ao diálogo em Maputo, mas o processo negocial foi suspenso até ao regresso dos mediadores internacionais, previsto para 08 de agosto.
AYAC (HB) // EL
Lusa – 01.08.2016
ZICOMO
FUNGULANI MASSO
A LUTA É CONTÍNUA