Presidente Nyusi e o discurso camaleónico
Os ventos da mudança sopram e já aquecem o discurso do Presidente Nyusi. Desde o último Comité Central da Frelimo, onde o Presidente da República foi eleito pelos camaradas, com quase 100% dos votos, para a direcção do partido, que o seu tom discursivo fez acrobacias e assumiu novas cores.
Quando, a 15 de Janeiro último, tomou posse na Praça da Independência, fez um discurso cor-de-rosa que corou os rostos dos moçambicanos, alimentado a esperança de uma nova página na História do país. Era a força do verde. Até os mais cépticos perderam o fôlego da crítica e deram-lhe um voto de confiança. Entrou para o período de graça, onde o bicefalismo do poder - de Guebuza, no partido, e o seu, no Estado - lhe rendeu mais elogios e apoios. Era inatingível, era a vítima do Estatuto do seu partido.
Na noite de 29 de Março, depois de eleito presidente da Frelimo, uma nova página verdadeiramente se abriu; com continuidade das acções, mas também com sinais de afirmação de uma liderança parcialmente divorciada dos compromissos de 15 de Janeiro, dia da sua investidura como Presidente da República.
Vejamos:
Antes do Comité Central, o Presidente Nyusi teve encontros humildes com Afonso Dhlakama, cumprindo a sua promessa de saber ouvir ideias discordantes. Como resultado, remeteu para a Assembleia da República a proposta da Renamo de autarquias provinciais. Depois do Comité Central, porém, encarnou os membros da Comissão Política que, em reacção à sua decisão, tinham, no passado, pregado pelo país a recusa da proposta da Renamo. Hoje, antes mesmo da proposta ir a debate, a recusa vem dele próprio.
Quando tomou posse, Nyusi foi categórico: “Podem estar certos, caros compatriotas, que tudo farei para que, em Moçambique, jamais, irmãos se voltem contra irmãos, seja a que pretexto for”. Hoje, somos surpreendidos com um discurso que impõe limites aos esforços para garantir e consolidar a Paz.
No discurso de investidura, Nyusi disse que o povo era o seu “único e exclusivo patrão”. Mas, hoje, não ouviu o patrão - através dos representantes do povo - para saber se deve ou não ajoelhar-se pela Paz.
São estes os sinais de mudança que nos fazem questionar: que outras promessas podem vir a ser quebradas? Ainda assim, passam apenas três meses de governação, pelo que ainda estamos no auge da confiança, mas não podemos deixar de expressar esta pluma de preocupação que se levanta da almofada onde nos queremos deitar com a tranquilidade de que, em Moçambique, vale a pena viver.
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