Um dos piores inimigos da economia é a sua ideologização;
quando preceitos ideológicos, e não os fundamentos econó-
micos, são determinantes na tomada de decisões económicas.
Durante muitos anos, depois da liberalização económica
introduzida na segunda metade da década de oitenta, Moçambique
manteve níveis de crescimento e de desenvolvimento notáveis, insu-
flados ainda mais com o fim da guerra em 1992. O país beneficiou de
muita simpatia e ajuda internacional, incluindo uma sufocante dívida
que ascendia os 4 biliões de dólares. Enquanto perdurava essa bonan-
ça, o país conseguia suspirar de alívio, com níveis de inflação que se
podiam considerar de suportáveis. Foi uma era em que, no que diz
respeito à economia, os fundamentos económicos sobrepunham-se a
qualquer tipo de considerações ideológicas.
Mas quase vinte anos depois, as coisas mudaram de rumo. A ideologia
voltou a assumir o seu posto de comando e as decisões económicas
passaram a obedecer aos ditames dos ideólogos. Quanto o país tinha
no banco para fazer face às suas necessidades deixou de ser matéria de
qualquer preocupação. Podiam, sempre que necessário, ir ter com os
amigos chineses para a obtenção de créditos comerciais que pouco ou
nada tinham a ver com a capacidade do país de os pagar futuramente.
De qualquer modo, havia recursos naturais que podiam ser usados
como colateral, para além das futuras receitas do carvão, petróleo e gás.
Infelizmente, ninguém se apercebeu de que nos seus esforços de industrialização
para poder ombrear com a águia, o dragão estava a fazer o
dumping da sua liquidez em excesso, ciente de que venha chuva venha
sol, a longo prazo, no âmbito da paciência chinesa, as dívidas nunca
deixarão de ser pagas; um país pode ir à falência, mas nunca fecha as
portas.
Com os empréstimos contraídos à China e outros credores, foram
construídos vários projectos de prestígio. Projectos de prestígio são
bons e podem aumentar a auto-estima do seu promotor. Mas vale sublinhar
que eles se tornam perniciosos quando financiados com dinheiro
emprestado, especialmente quando o devedor não dispõe de
grande capacidade para a sua amortização. Edifícios de prestígio e estádios
não produzem dinheiro ou postos de emprego para os milhares
de jovens que graduam anualmente pelas várias universidades espalhadas
por todo o país.
Agora, o Ministro Maleiane, que bem conhece a humilhação de um
chefe de família ter que se alimentar de sopa numa madrugada nas ruas
frígidas da Cidade da Luz, diz que não há uma relação causal entre a
deterioração da nossa situação económica e a dívida que levamos às
costas.
Ele diz isso apenas por uma questão de pudor e sentido de Estado. Na
verdade, desde o dia em que em Janeiro deste ano ele pôs pela primeira
vez os pés no imponente edifício da Praça da Marinha, ele ficou a saber
qual era a verdadeira situação do país e as suas causas. Ele entende que
de nada vale chorar sobre o leite derramado. O que importa é impor
mecanismos que não permitam que a situação se torne pior do que
está. É uma missão herculana.
Os danos são a deterioração progressiva da economia. Os agentes económicos
vivem num ambiente de incerteza, o que significa que haverá
um impacto negativo na sua capacidade de contribuir para as receitas
do Estado e manutenção dos poucos empregos que ainda existem. Os
níveis de pobreza irão aumentar substancialmente e a classe média, a
bandeira de propaganda dos últimos anos, simplesmente deixará de
existir.
A CTA propõe agora medidas administrativas para tentar salvar o sector
empresarial. Mas isso é desaconselhável. Há outras soluções que a
curto prazo podem ajudar a mitigar a crise. Estas incluem uma redução
substancial nas despesas do governo, esforços para uma maior rentabilização
das empresas públicas, talvez através da sua privatização total
ou parcial, e investir mais nos sectores da agricultura média e familiar.
A grande lição que se pode tirar da actual situação é que uma gestão
prudente da economia desaconselha gastar hoje o que não se tem, simplesmente
porque se tem uma vaga ideia de receitas futuras. A receita
só se torna válida quando está seguramente guardada nos cofres.
Não que fazer? Mas sim, que fazermos? Esta deve ser a pergunta e a resposta tem de incluir a participa- ção convicta e determinada de cada um de nós conscientes, interessados e criativos. A crise económica financeira que o País vive e se sente na vida quotidiana de cada um de nós, rico, mediano e pobre, afecta a todos, independentemente da capacidade material e mental de cada cidadão ou estrangeiro residente, até mesmo turista ou visitante. Todo o Mundo padece da crise. Para nós, Moçambicanos, que nos preocupamos com a situação da nossa economia, apercebemo-nos que, para além da crise mundial, a situação económico-financeira é, especificamente, fruto da insegurança, extorsão financeira de que são vitimas os que têm um poder económico-financeiro, a quebra do valor comercial do nosso carvão mineral, do gás, do nosso fraco desenvolvimento técnico e industrial. Politicamente, constata-se uma ineficiente capacidade da autoridade governamental no combate à corrupção generalizada, sob quaisquer umas das suas formas e níveis. Também, nota-se a nossa incapacidade de previsão, ousadia, pondera- ção, acção, excesso de tolerância à prática criminosa contra a economia, e evasão fiscal, tudo porque nos falta determinação para, fiscalizar, investigar, responsabilizar e punir os criminosos que, diariamente, são referenciados. Tem havido muitas e permanentes reuniões, conferências e debates, para se saber o que fazer para o nosso crescimento e desenvolvimento, num horizonte de vinte a vinte cinco anos. Teorizamos muito, definimos teses e estratégias. Exibimos conhecimentos científicos, sem significado prático e positivo. Neste contexto, reconhecemos e louvamos o grande esforço e mé- rito da anunciada conferência da MOZEFO, que conta com a participação da nossa elite politica, governamental e os nossos melhores académicos, economistas, empresá- rios, industriais e sociólogos. Tudo de bom que se disser nessa conferência, não terá qualquer êxito, se não se puser em prática as estratégias que forem definidas para se enfrentar com sucesso a crise. Todos nós nos preocupamos com a surpreendente e galopante desvalorização do nosso metical, nomeadamente, em relação ao dólar americano e ao rand sul-africano. O nosso Tesouro Público está sem reserva significativa. O nosso Banco Central não tem divisas suficientes para vender aos Bancos Comerciais. Os nossos empresários importadores não conseguem honrar os seus compromissos, porque, apesar de terem meticais para comprarem dólares americanos e fazerem as necessárias transferências para os seus fornecedores no exterior, não o conseguem fazer. Esta dificuldade põe em causa a vida útil da empresa comercial e industrial, o que pode determinar o seu encerramento ou mesmo a sua falência, com consequências gravíssimas para o nível do emprego nacional. A desvalorização do metical está atingir níveis insuportáveis, já que no curto espaço de quatro meses a taxa do câmbio passou de 35 MT/ USD para 60 e nesta dinâmica atingirá 70MT/USD. Tudo isto tem, obviamente, causado grandes prejuízos e, consequentemente, falências inesperadas mesmo de empresas bem geridas. A justificação de que a nossa situação financeira está como está, tal como o Governo afirma, isso se deve às obras da Ponte de Maputo/ Catembe, da nova Grande Circular Maputo/Marracuene e do caso “EMATUM”. É sabido por todos, que a referida justificação pouco justifica. Há outras gritantes causas. Fundamentalmente, a nossa penosa divida publica que se tornará quase impagável. Também a nossa incapacidade de previsão, ponderação, ausência de cálculo, irresponsabilidade e impunidade, o que entre outros efeitos negativos, tem vindo a provocar grandes derrapagens orçamentais, nas grandes obras públicas e até mesmo privadas. O enriquecimento ilícito tem vindo a chocar a sensibilidade de governados. Fazemos coisas, somente porque fazemos. Não definimos prioridades, tão-somente, fazemos porque procuramos ganhar, criminosamente, ALGO, sem reflectirmos sobre as consequências desastrosas das nossas acções públicas, privadas e até mesmo, secretas. Infelizmente, pouco se importa o que o País perde. Se a população sofre. Se o contribuinte se frustra. A realidade é que a economia e finanças moçambicanas estão de rastos. Está em risco o pagamento de salários, sofremos e nos desesperamos. Devemos, porém, ter sempre con- fiança, paciência e crer na nossa capacidade de reabilitação. Moçambique não morre, porque todo o cidadão deve poder fazer o que deve fazer, para o seu próprio bem, em suma, para o bem do País. Perante as dificuldades graves e insuperáveis nos revoltamos contra a Administração Pública. Esquecemo-nos da nossa inércia pessoal e até colectiva, da falta de oportuna chamada de atenção, por tudo quanto de errado se faz. Normalmente, despertamo-nos e acordamos muito tarde, quando o leite já está quase todo derramado. Vejamos, por mero exemplo, o que está acontecendo na nossa bela Cidade de Maputo. O Conselho Municipal está autorizando a construção de prédios de quinze, vinte, vinte e cinco andares e, até de quarenta e tal andares, na Av. Júlios Nyerere, Avenida 25 de Setembro e na procurada Zona do Prédio JAT sem cuidar de alargar e aumentar as poucas vias de acesso, sempre que possível, mesmo pagando indemnizações, pela ocupação de parcelas de terrenos privadas contiguas à via pública. Ainda, o aspecto mais grave que já se faz sentir é a capacidade de alimentar, normalmente, as habita- ções, estradas e empresas com energia eléctrica. Todos sabemos e sofremos as consequências de interrupções constantes de energia eléctrica com todos os prejuízos decorrentes e o desconforto. Outro aspecto, não menos preocupante, é a dificuldade de circulação automóvel, na hora de ponta, em que o tráfico fica paralisado, o que no decorrer de um ou dois anos, será um verdadeiro caos, a utiliza- ção de viaturas automóveis, mesmo com apoio de um motorista. Não é só a falta de estacionamento, pois, já se torna impossível o tráfico automóvel, em certas zonas da cidade. A Cidade de Maputo não é muito compatível com a construção de metro subterrâneo e interface. A nossa frota de autocarros não funciona, minimamente, e o velho hábito de almoço e sexta em casa já não é praticável. Há que mudar os nossos hábitos citadinos e burgueses, mesmo a prá- tica ancestral do trabalhador que leva para o trabalho a sua a marmita com o almoço. Muita coisa tem de mudar. Uma nova era na nossa vida. O carro deve permanecer na garagem, para ser utilizado, quando tivermos uma viagem de trabalho fora da cidade ou simplesmente para passeio familiar, de vez em quando. Há que construir grandes parques de estacionamento automóvel subterrâneo à superfície e em altura, o que já estamos a fazer, mas ainda é muito pouco, enquanto a cidade de Maputo não crescer ou saltar para a Catembe. Do parque de estacionamento para o emprego e deste para qualquer outro local que tivermos necessidade de se deslocar, sirvamo-nos de pequenos autocarros de quinze a vinte lugares, para cada um se deslocar de um ponto para o outro ponto da área da cidade em que a circulação de automóvel privado é totalmente proibido. Utilizemos um passe de circula- ção pública bastante económico, que cubra a despesa de degradação do autocarro e da via de circula- ção, com apoio de um subsídio do Estado, que beneficiará de menos gasto de combustível todo ele importado, bem como do custo de peças sobressalentes que as oficinas automóveis debitam na reparação de viaturas, que terão menos uso durante o ano. Há que democratizar, oficialmente, a circulação de pessoas dentro da cidade e arredores, zonas de trabalho e de dormitório do trabalhador. A menor circulação de viaturas contribuirá para menor degradação da poluição do meio ambiente. Para o trabalhador, a viatura ficará quase sempre na garagem e para aqueles que utilizam o motorista a viatura será para transportar até ao local do estacionamento, onde apanhará o autocarro para a sua área de trabalho onde é proibida a circula- ção do automóvel privado. A nossa Constituição da República define no seu art. 103º, que a agricultura é a base do desenvolvimento nacional. Então, procuremos realizar esse processo de desenvolvimento nacional. O Estado garante e promove o desenvolvimento rural para a satisfação crescente e multiforme das necessidades do povo e progresso económico e social do País. No nosso País, actualmente, a agricultura não é a base do desenvolvimento nacional, como indústria, ainda não é factor impulsionador da economia nacional como o impõe o art. 104º, da nossa Lei Mãe. O arroz, o milho, até a cebola e o tomate, como muitos outros produtos alimenticios que comemos não são totalmente produzidos no País. Temos, portanto, de interrogarmo- -nos se temos terra, água e a técnica suficiente para a agricultura ser, efectivamente, a base do nosso desenvolvimento nacional? A resposta tem que ser. Na realidade, temos terra e água suficiente e podemos facilmente conseguir a técnica necessária para encher os nossos celeiros, silos e armazéns para alimentar a população de arroz, milho, feijão, gado bovino, su- íno e caprino para nos saciarmos e para exportar, competitivamente, com o produtor estrangeiro, quer atendendo a qualidade, quer o custo de produção e a proximidade dos nossos Países vizinhos, incluindo a própria África do Sul, que já está a ter fragilidade nesse sector. O nosso País é atravessado por diversos rios do Leste para Oeste. As ricas zonas de Palmeira, Chòkué, Maganja da Costa e outros locais são melhores terras para produzir tanto quanto precisamos e queremos. O nosso clima não é de todo mau, antes pelo contrário, é melhor que o Sul-africano. Podemos ter ricas manadas de gado bovino, suíno e caprino, desde que o Estado e o governado o queiram e o determinem. É vergonhoso que Moçambique tenha necessidade de comer arroz e milho importado. É certo que não temos condições propícias para produzir trigo sufi- ciente para as nossas necessidades nacionais, mas tudo o mais podemos produzir a contento. O Ministério da Agricultura tem de revelar todas as suas capacidades de garante e de promotor do desenvolvimento rural agrícola e pecuário. A questão fundamental não é a falta de dinheiro e técnica, mas tão- -somente da falta de determinação e consciente responsabilidade da sua FUNÇÃO CONSTITUCIONAL do Governo e Autarcas. Ao pensarmos na agricultura e na pecuária, temos de pensar, paralelamente, na sua industrialização, conservação, transporte, comercialização e exportação. Podemos e devemos produzir arroz, milho, feijão, amendoim, castanha de caju, gergelim, hortaliças e tudo o mais, bem como a produção pecuária, tudo de forma industrializada! O importante, neste momento da crise, relativamente a produtos alimentares, é propor ao Ministério de Agricultura que tudo se deverá fazer, para no curto espaço de cinco a dez anos, possamos exportar, pelo menos, arroz, milho, carne, peixe, marisco em quantidades suficientes para alcançarmos divisas necessá- rias para importação de maquinaria para industrialização, conservação, consumo e exportação da nossa produção agrícola e de pecuária. Não obstante a crise do carvão e do gás, podemos e devemos, desde já, incrementar a exportação de areias pesadas, ouro, pedras preciosas e semi-preciosas, que estão a ser alvo de exportação ilícita por parte de estrangeiros e de nacionais, com grande prejuízo para os cofres nacionais, porque não sabemos fiscalizar, responsabilizar e punir os criminosos. Para tanto, precisamos de aliciar e atrair investidores estrangeiros que dominam a tecnologia e possuem capital necessário, para juntamente com os moçambicanos possamos criar um crescimento e desenvolvimento económico sustentável, o que contribuirá para o equilíbrio orçamental do País. Finalmente, devemos defender uma amnistia geral para os crimes económicos praticados, peculato e desvios de riquezas do estado em benefício próprio, para daqui para diante possamos fiscalizar, responsabilizar e punir com determinação, de modo a reduzir e até mesmo eliminar a vergonhosa prática de corrupção e apropriação dos bens do Estado. Os estudiosos e conhecedores desta problemática de crescimento e desenvolvimento, politico, económico, social e ético, devem definir O QUE DEVEMOS FAZER.
Assinalou-se, no último domingo, 22 de Novembro, a passagem dos 15 anos após o assassinato bárbaro do jornalista Carlos Cardoso, o primeiro editor do mediaFAX, a primeira publicação jornalística independente do país. Crivado de balas, na Avenida Mártires da Machava, na capital do país, à saída do seu posto de trabalho, jornal O Metical, a morte de Carlos Cardoso chocou o país e o mundo e representou, de alguma forma, “um atentado à liberdade de imprensa”. Neste sentido, o SAVANA saiu à rua, esta semana, para ouvir a opinião dos antigos colegas e estudantes do jornalismo, aquilo que representam estes 15 anos. Todos são unânimes em afirmar que Carlos Cardoso deixou um vazio no jornalismo moçambicano, porém divergem quanto à preservação do seu legado. “Neste processo houve mais injustiça que justiça”, Lourenço Jossias Crespim Mabuluco, finalista do curso de jornalismo, na Escola Superior de Jornalismo, diz que “passam 15 anos de silêncio”, pois na sua opinião, pouco se faz para imortalizar esta figura. Segundo este, Carlos Cardoso já devia ocupar outro tipo de espaço na arena nacional, pois, “além de jornalista, Carlos Cardoso foi um activista de causas”. “A cada 22 de Novembro devia acontecer algo visível para registar essa data. As Academias deviam organizar conferências ou palestras para evocar esta figura”, diz Mabuluco. Mesma opinião é partilhada por Esmeralda Livele, também finalista do curso de jornalismo, que considera os 15 anos “tempo suficiente para valorizarmos o trabalho desenvolvido por ele”. “É difícil ouvir falar de Carlos Cardoso, seja nas redacções, assim como na Academia. Só se fala de Carlos Cardoso, em datas como esta. Precisamos recordá-lo, diariamente, e não só nos dias 22 de Novembro, de cada ano, porque o jornalismo faz-se no dia-a-dia”, defende. Euclides Flávio, estudante de Publicidade e Marketing, afirma que o assassinato de Carlos Cardoso representou, em parte, “a aniquilação da liberdade de expressão, apesar de ser um direito constitucional”, porque este acto criou medo na classe jornalística. O Director do Semanário Magazine Independente e antigo colega de Carlos Cardoso na mediaCoop, Lourenço Jossias, diz que são 15 anos que ainda lhe trazem uma “frustração”, pois, sente que “houve mais injustiça que justiça”. “Sinto que ainda há uma penumbra no processo deste caso. Não sei se os parentes de Carlos Cardoso foram indemnizados. Sinto que houve uma desorganização organizada, pois, há pessoas que deviam ter sido ouvidas e não aconteceu”, considera Jossias, em referência ao não julgamento dos arguidos do processo autónomo (Nyimpine Chissano, primogénito do antigo chefe de Estado Joaquim Cissano). Lourenço Jossias descreve Carlos Cardoso como uma pessoa “super culta, livre, justa e que defendia as suas ideias do princípio ao fim. Abraçava a profissão e a política de forma crítica”, destaca. Machado da Graça, antigo companheiro de batalha, recorda Carlos Cardoso com nostalgia. Conta que Cardoso era um homem humilde, transversal e, acima de tudo, foi o pilar do jornalismo independente, por ter ajudado a criar a primeira publicação independente no país, mediaFAX, que catapultou a imprensa privada. Como jornalista, Machado da Graça explica que Carlos Cardoso foi um homem importante, desde a independência até a sua morte. “Embora tenha sido entusiasta do socialismo, não lhe impedia de ter um espírito crítico em relação aos problemas desse sistema, facto que lhe custou uma prisão, de entre três ou quatro dias, por ter publicado algo que não agradou o sistema”, diz. “Samora Machel lhe chamava para pedir a sua opinião, em relação à vida do país. Na véspera ou antevéspera da morte, Cardoso publicou um texto, dizendo que Samora era um alvo a abater pelos sul-africanos e passados dois dias, isso aconteceu”, acrescenta, salientando que o fundador e Editor do extinto Metical era “uma pessoa complexa, com muitos interesses e que não ficava quieto”. Além de jornalista, Carlos Cardoso foi membro da Assembleia Municipal, entre 1998 e 2000, eleito pelos Juntos Pela Cidade ( JPC); pintor; cantor; e poeta. Carlos Cardoso é uma referência do jornalismo em Moçambique. Foi um dos fundadores da primeira cooperativa de jornalista do país, a mediacoop (1992), com mais 12 profissionais, algo que só foi possível com a entrada do multipartidarismo. Machado da Graça conta que, dentre as várias facetas de Carlos Cardoso, a de pintor constituiu a dois momentos diferentes da vida dele, que corresponderam um momento de pressão e de perda de confiança no que estava a fazer. Numa entrevista concedida a DW a propósito dos passagem dos 15 anos do assassinato de Carlos Cardoso, Fernando Lima, actual PCA da mediacoop, considera que há uma tentativa de apagar a imagem do jornalista. “Eu diria que no coração dos jornalistas, no consciente dos jornalistas o respeito e a admiração são idênticos ou ainda maior, porque o sentimos como nosso, uma pessoa que viveu e trabalhou nesse país. Mas há outros factores que explicam uma tentativa de lavagem da própria imagem de Carlos Cardoso ou uma tentativa de nos fazer esquecer”, frisou Lima, um companheiro de armas de Carlos Cardoso. Anualmente, a Universidade de Wits, em Joanesburgo, celebra Carlos Cardoso no “Carlos Cardoso memorial lecture”, durante o Power Reporting Journalism. Este ano, coube a Bheki Makhubu, colunista e editor-chefe do jornal The Nation, preso durante 16 meses por causa de artigos que criticavam o Judiciário da Swazilândia, lembrar “a coragem e determinação” de Carlos Cardoso. O “Carlos Cardoso memorial lecture”, é um evento de debate, em honra ao malogrado jornalista moçambicano Carlos Cardoso que foi estudante da Wits e deportado para Moçambique, em 1974, por causa do seu apoio ao à FRELIMO. Estágio de Jornalismo investigativo, após Cardoso Com o assassinato de Carlos Cardoso, vários debates têm sido levantados acerca do jornalismo investigativo moçambicano e quase não há consenso acerca do estágio actual deste. Euclides Flávio defende que, após a morte de Cardoso, o jornalismo investigativo abrandou, pois “não estamos a conseguir encontrar, hoje, uma figura que esteja ao nível de investigação do jornalista Carlos Cardoso”. Por sua vez, Crespim Mabuluco é mais contundente e sentencia: “Carlos Cardoso marca o início e o fim do jornalismo investigativo, em Moçambique”. “Hoje, os jornalistas informam super- ficialmente. Há uma dificuldade de trazer estórias completas e detalhadas sobre os escândalos que corroem este país. Cardoso trazia aquilo que estava acima das nossas capacidades. Era do pouco e bom jornalismo que tínhamos. Os melhores jornalistas que temos são espelhos de Carlos Cardoso”, considera. Entretanto, Machado da Graça refuta essa tese. Da Graça anota que Carlos Cardoso foi assassinado com o objectivo de “assustar os jornalistas”, mas “isso não resultou, porque muitos seguiram o exemplo do que fazia”. “Não é verdade que o jornalismo investigativo tenha morrido com o assassinato de Carlos Cardoso. Há aqueles que estão a respeitar o legado de Cardoso, fazendo um jornalismo de grande qualidade”, considera. Lourenço Jossias alinha na opinião de Machado da Graça e considera “ignorante” quem diz que o jornalismo investigativo morreu com Carlos Cardoso. Para este, o jornalismo investigativo no país “não morreu, apenas não é pujante”, porque os principais actores “não colaboram”. Urge tornar Cardoso numa referência académica nacional, Crespim Mabuluco Este foi o décimo quinto ano, em que o país assinalou a passagem desta data, que representa o luto do jornalismo moçambicano. Entretanto, as acções que representam a data são pouco visíveis. Após a morte de Carlos Cardoso, a União Europeia criou um Prémio de Jornalismo Investigativo, rotulado com o nome de Carlos Cardoso, mas passado alguns anos, o mesmo foi extinguido. Crespim Mabuluco, Euclides Flávio e Esmeralda Livele falam da necessidade de tornar Carlos Cardoso numa referência nas instituições de ensino superior, em particular as que leccionam os cursos da área da comunicação. “Na academia, pouco toquei no nome de Carlos Cardoso, porque nunca foi citado pelos docentes. Falei de Cardoso, quando elaborei um trabalho, que abordava a morte ou não do jorPor Abílio Maolela nalismo investigativo, em Moçambique, após o seu assassinato”, revela Esmeralda Livele. “Devia ser citado ao nível das academias, sobretudo pelo tipo de jornalismo que ele fazia. Se queremos ser o quarto poder, em Moçambique, Carlos Cardoso é a figura principal e que temos de seguir”, diz Crespim Mabuluco. “As academias devem ter um cantinho Carlos Cardoso. É tempo de termos uma sala de conferências Carlos Cardoso, ao nível das academias. Ele merece. Deve ser um exemplo didático”, acrescenta. Por sua vez, Euclides Flávio diz que Carlos Cardoso foi um professor que não pôde ter, pelo que se sente “decepcionado” por não ser citado na Academia. “As academias devem ir atrás dos arquivos de Carlos Cardoso. Urge a necessidade dos docentes divulgarem alguns artigos jornalísticos publicados por ele, para ser um exemplo prático e físico daquilo que é o exercício do jornalismo investigativo”, conclui. Machado da Graça conta que Carlos Cardoso tem sido recordado, anualmente, e ainda este ano houve uma deposição de flores no local onde foi assassinado, pelos amigos e admiradores, no domingo e na segunda houve uma sessão cultural na Fundação Fernando Leite Couto. Entretanto, mostra-se preocupado pelo silêncio das autoridades moçambicanas, embora reconheça que este se verifica desde o assassinato do malogrado. “Verifica-se este silêncio, porque o principal acusado era Nyimpine Chissano, filho do antigo Presidente da República, Joaquim Chissano. A memória de Carlos Cardoso não agrada a actual direcção do Partido Frelimo”, remata, acrescentando que “é mau” não referenciar Carlos Cardoso nas faculdades. Carlos Cardoso, jornalista moçambicano, fundador e editor dos jornais mediaFAX e Metical, foi assassinado a 22 de Novembro de 2000, supostamente por estar a investigar e a publicar dados sobre o desvio de 144 milhões de meticais no Banco Comercial de Moçambique (BCM). Seis indivíduos foram condenados pelo envolvimento no caso. Aníbal António dos Santos Júnior, mais conhecido por Anibalzinho (28 anos); Manuel dos Anjos Fernandes, conhecido por Escurinho e Carlitos Rachid Cassamo (23 anos e seis meses) formam condenados como assassinos, enquanto Nini Satar (24 anos), Ayob Satar e Vicente Ramaya (23 anos e seis meses) foram considerados mandantes. Dos seis envolvidos, dois foram assassinados (Ayob Satar e Vicente Ramaya) no ano passado, após conseguirem liberdade condicional, enquanto Anibalzinho continua encarcerado nas celas do Comando da Cidade de Maputo. Carlitos e Escurinho gozam da liberdade condicional no país, enquanto Nini goza do mesmo privilé- gio, mas está no estrangeiro. Além da pena de prisão, os condenados foram sentenciados ao pagamento de uma indemnização de 14 milhões de meticais à família de Carlos Cardoso por danos morais e materiais, bem como 800 mil meticais de imposto de justiça. Os réus foram ainda condenados a pagar 500 mil de meticais a Carlos Manjate, motorista que tinha sido gravemente ferido quando conduzia a viatura em que Carlos Cardoso viajava. Porém, Euclides Flávio, estudante Passam 15 anos, após o assassinato de Carlos Cardoso, mas as causas da sua morte continuam uma incógnita Lourenço Jossias Fernando Lima Machado da Graça este valor ainda não foi pago. Porém, o caso foi encerrado sem ter sido concluído. Isso deveu-se à morte de mais dois arguidos, que foram considerados mandantes principais. Nyimpine Chissano, filho do antigo presidente da república, foi constituí- do arguido, porém perdeu a vida em 2007, antes de ser julgado. Cenário idêntico foi a que se veri- ficou com a empresária Cândida Cossa, que também foi constituída arguida, mas perdeu a vida, em 2010, antes de ser julgada.
O Conselho Superior da Comunicação Social (CSCS), que, nos termos da Constituição da República de Moçambique (CRM), “é um órgão de disciplina e de consulta, que assegura a independência dos meios de comunicação social, no exercício dos direitos à informa- ção, à liberdade de imprensa, bem como dos direitos de antena e de resposta” (número 1 do artigo 50), realizou, esta segunda-feira, 23 de Novembro, uma conferência sobre “Comunicação Social, Violência e Paz”, massivamente atendida por jornalistas e editores, tendo tido o privilégio de ser aberta pelo Presidente da República (PR), Filipe Nyusi. No seu discurso de abertura, Nyusi referiu, de forma clara e cristalina, que os órgãos de comunicação social constituem um espaço de exercício da democracia, sobretudo quando os seus profissionais (jornalistas e editores, sobretudo) desempenham a sua missão com isenção e profissionalismo. Um dos conteúdos da isenção e do profissionalismo, ressaltou do discurso do PR, é o exercício do contraditório, que se materializa no dever de ouvir todas as partes envolvidas num certo acontecimento jornalisticamente relevante. Concordamos, em absoluto, com o que o PR disse. Não podíamos, de resto, discordar de algo tão óbvio. Não é por acaso que a independência, isenção e profissionalismo dos media figuram de entre os elementos fulcrais em sede de avaliação de um regime formalmente democrático, para se concluir se, materialmente, o é ou não. Aliás, não é por acaso que nas suas profundas e sempre actuais reflexões sobre a democracia, o cientista político Robert Dahl se refere à premência de existência de certo tipo de instituições para que uma certa democracia possa ser considerada como sendo de alta intensidade (democracia de facto), sendo a imprensa independente (não interessa se pública ou privada, mas a pública, sobretudo, sendo suportada por fundos públicos) uma delas. Temos profunda consciência das inúmeras preocupações que o PR tem no seu dia-a-dia, mas achamos não ter sido feliz a sua opção de se limitar ao mero proferimento do discurso de abertura, sem dedicar um minuto se quer do seu preciosíssimo tempo na escuta do que ali se discutiria e se discutiu. Assessoria gratuita e de alto nível teria tido o PR, in loco e sem esperar pelos resumos dos seus assessores, que, não poucas vezes, só o fazem ouvir o que ele quer ouvir e ponto final. Mas vamos ao essencial. Se o que o PR disse, ali, é verídico e relevante, talvez não tenha como vincar de forma efectiva no contexto moçambicano hoje, sem que um conjunto de situações, muitas delas de dimensão estrutural, sejam atendidas a priori. De entre um leque exaustivo de questões tais, iríamos, por uma questão de economia, nos ater, ainda que sucintamente, a pelo menos quatro, designadamente (a) critérios de nomeação e exonera- ção dos responsáveis máximos das empresas públicas de comunicação social (TVM e RM, essencialmente); (b) modelo de financiamento da radiodifusão pública; (c) réplica política; e (d) regulação do anúncio público. Critérios de nomeação e exonera- ção dos responsáveis máximos das empresas públicas de comunicação social: Os Presidentes dos Conselhos de Administração (PCAs) da TVM e RM são nomeados num quadro de inexistência de critérios democráticos. Apenas a confiança política é que parece concorrer para o efeito, a ponto de, quase sempre, conforme reconheceu há pouco mais de dois anos o Prof. Armindo Ngunga, antigo presidente do CSCS, nem este órgão ser consultado, o que configura uma clara viola- ção da CRM, que impõe que assim se proceda. Seria democraticamente sustentável se os PCAs fossem confirmados, por exemplo, pelo Parlamento depois de um concurso público, num contexto em que lhes fosse garantida a inamovibilidade naquelas funções por um período razoável. Há PCAs que se meteram em ‘alhada’ só por os meios de que eram gestores terem publicado um certo tipo de notícia. É possível um chefe de família ser isento e profissional num contexto de prevalência de interesses políticos de um grupo político apenas, e sem que ele tenha garantias do Estado? Modelo de financiamento da radiodifusão pública: Se o PR quer mesmo ver os media a funcionarem como espaço de exercício da democracia, deve, antes, acabar com o financiamento via contratos- -programa assinados entre a RM/ TVM e o ministro que superintende a área das finanças (Ministério de Economia e Finanças, na actual arquitectura) e instituir a obrigatoriedade de o financiamento ser por via de inscrição/consignação no Orçamento de Estado, para a salvaguarda da sua independência do Governo (que até já está prevista na CRM); Réplica Política: Tanto a CRM de 2004, em vigor, como a de 1990, introduzem o direito da réplica política, mas a mesma ainda não está a ser exercida, por inaceitável omissão legislativa. Com essa lei, seria possível, por exemplo, que a oposição parlamentar tivesse acesso garantido/assegurado à TVM e RM para dar a sua versão dos factos de interesse público. Agora, até supostos programas de balanço anual do Governo não passam de um monólogo, sem contraditório; Regulação do Anúncio Público: Apesar de sermos formalmente uma democracia, a distribuição do anúncio público não conhece, em Moçambique, critérios democrá- ticos. Supõe-se que o jornal A é o de maior circulação, a televisão B é a mais vista, considera-se os jornais C e D “como nossos” e E e F “como contra nós” e assim a coisa vai sendo gerida. Uma auditoria independente e regular às tiragens e às audiências seria por demais relevante. Tantas outras situações poderiam ser convocadas, mas os jornais não são elásticos. A reforma profunda ao CSCS, o que é publicamente defendido por, de entre outros, Tomás Vieira Mário, que agora o preside, é uma urgência nacional. Os jornais devem, por exemplo, deixar de ser vistos como carga comum (mobí- lia, batata, tomate, etc.) nas Linhas Aéreas de Moçambique (LAM), em termos de preço e (não) priorização. As rádios comunitárias, por exemplo, e mediante critérios como raio de cobertura e outros, devem beneficiar de fundos públicos. Sem isso, não haverá falácia ecológica que seja democraticamente útil.
− Parecias muito convulsionado, ao telefone. Vim a correr. Mas vejo que estás sereno, afinal. − É… É a quietude que antecede as grandes tempestades. − O que é que se passa? − Estou a fim de esmigalhar os miolos. − Porquê? − Porque me apetece. Bom, mas essa não é a causa principal. O que é certo é que cheguei ao fim de uma encruzilhada e não vejo outra saída. − Em que é que posso ajudar? − Preciso que me ajudes a visualizar a vítima. − Afinal não se trata de um suicí- dio? − Que ideia! Porque é que eu havia de me matar? Estou no pico da vida, estou saudável, tenho uma estrutura familiar sólida, tenho um nível e qualidade de vida muito acima da média. De mais a mais, a minha boa estrela continua a brilhar, apesar das erupções de lava e cinza do chefe da minha divisão. − Ah, talvez possas ir por aí, então! Na verdade, esse homem está em guerra aberta contigo e não há-de descansar antes de te desmontar do cargo de director de finanças. − Esse não é o meu maior problema. A guerra que ele declarou é uma guerra total. Se depender dele, todos os departamentos importantes da divisão que ele che- fia ficarão entregues à direcção ou de sobrinhos, ou de afilhados, que tem muitos na lista de espera. A guerra dele é total e eu sei que, da nossa parte, todos nós e cada um acalenta, no fundo, o sonho de um dia, na primeira oportunidade, esganá-lo com as suas próprias mãos. Não lhes vou tirar esse prazer. Posso ocupar-me de outras coisas. − Bom, então vai até ao Xikhelene. Mete um tiro na cabeça de um daqueles vendedores ou vendedoras e dá gosto ao teu apetite. Por outro lado, procedendo dessa forma livras-te do calvário dos passeios nos corredores dos tribunais à espera do julgamento e da leitura da sentença, porque se meteres um tiro num daqueles vendedores, nem terás tempo de dizer um “ai”: vão-te pendurar um pneu regado de gasolina ao pescoço e queimam-te vivo. − Muito bem! Mas isso não seria um homicídio, seria um genocídio, porque sabes muito bem como toda a gente que por detrás de cada um daqueles vendedores há quatro ou cinco bocas por alimentar, quatro ou cinco corpos para vestir e calçar, quatro ou cinco mentes para moldar e preparar para o futuro, na vida. E, mais do que isso, há mil e um sonhos que é preciso acalentar, mil e um sonhos a que é preciso dar asas para, no futuro, poderem voar. − Bom, então desiste. Não vejo por onde é que podes ir. − Mas eu vejo. Agora vejo claramente. Tu sabes, e poucos mais além de ti sabem disso, que a Doroteia, para além de ser a minha secretária particular, é algo mais. Por isso mesmo, e movido não sei por que cargas de água, de há dois meses a esta parte começaste a mandar-lhe emails. Ela mostrou-mos. Começaste por simples insinuações luxuriosas, passaste para um assédio directo e um pouco boçal, desculpa o termo, e agora entraste no estilo das ameaças. Deste-lhe a conhecer que sabes que quem lhe montou a casa e sustenta os estudos da filha numa escola privada sou eu; e que para conseguir isso fiz mão baixa aos fundos a que tenho acesso; e que se se descobrir isso pode valer- -me um bom par de anos na cadeia. − Tudo bem. Mas podemos chegar a um acordo. − Não há acordo nenhum possível contigo, Nassiaca. Já foste longe demais. E se eu te deixar vivo, naturalmente que continuarás a exercer essa chantagem. Tu queres o sim dela a troco do teu silêncio. − Mas ouve: se tu me matares, vais certamente cumprir quinze ou vinte anos de cadeia. Os fundos envolvidos na tua mão baixa não são poucos e, como tu próprio dizes, trata-se de fundos de uma instituição do Estado. Nada te poderá valer. − Eu sei. E do mesmo modo que sei, prefiro incorrer no risco de te matar. Sabes muito bem que, como dizia Al Capone, “todo o homem tem o seu preço”. E essa verdade entre nós é mais válida ainda. Não me custará nada comprar a cumplicidade de um inspector da Polícia, que, aliás, é um extracto social muito vulnerável, e por essa via não me será nada difícil provar que te matei em legítima defesa. Providenciarei para que a Evangelina tenha uma pensão de viuvez confortável. Tens alguma coisa a dizer? − És um sacana!
De múltiplas maneiras, do estado técnico à condução irresponsável, “chapas”, “my loves” e muitos outros tipos de viaturas que circulam nas nossas estradas constituem um flagrante exemplo de uma situação causal permitida, de um ilícito culposo. Quando nos referimos ao ilícito culposo, regra geral procuramo-lo nos condutores em si, no excesso de velocidade, no consumo de álcool, na juventude irreverente, na Sinistralidade rodoviária e situação causal condução sem carta de condução, nas deficiências mecânicas, na falta de atenção e conhecimento dos peões, etc. Porém, esse tipo de imputação deixa na penumbra a situação causal e o papel do Estado a esse nível. Então, a questão central na sinistralidade rodoviária consiste menos nos condutores em si do que em quem tem por missão controlar regras, estradas (sector regra geral marginalizado nos debates e nas críticas), condutores e estado técnico das viaturas.
E m continuação do texto da passada semana, chegamos ao momento em que os Estados Unidos, e os seus aliados, ficaram na posição pouco clara de se declararem contra o terrorismo mas, ao mesmo tempo, apoiarem abertamente algumas facções terroristas e, indirectamente ou secretamente, outras. A questão era essas facções lutarem contra o governo, internacionalmente reconhecido, de Damasco, com o fim de o derrubar e fazer da Síria algo de semelhante aos actuais Iraque e Líbia. Para isso apoiaram abertamente aquilo a que chamaram movimentos “moderados”, embora sabendo que grande parte desse apoio chegava às mãos das facções islamitas radicais. Ainda hoje se sucedem os “enganos” em que a aviação aliada deixa cair, em zonas dominadas por extremistas, material de guerra que, em teoria, se destinava aos tais “moderados”. Como braços locais desta política aparecem a Arábia Saudita (e outras monarquias do Golfo) e a Turquia, ambos fiéis aliados dos Estados Unidos. Só que a Arábia Saudita, governada ela própria por uma facção radical islamista, não se ficou pelo apoio aos tais “moderados” e apoia semi-abertamente os grupos radicais, que se foram consolidando, ocupando território no Iraque e na Síria e acabaram por criar aquilo a que chamam, entre vários outros diferentes nomes, o Estado Islâmico (EI). A Turquia igualmente acabou apoiando o EI através da economia. Ancara compra o petróleo extraído na Síria e refinado no Iraque, nas zonas controladas pelo EI. Por seu lado, Israel parece estar a actuar também a favor do EI, embora de forma discreta. Por um lado há quem afirme que cedeu aos terroristas os Montes Golam, anteriormente capturados à Síria. Por outro lado há evidências de que recebe nos seus hospitais terroristas feridos em combate. E tudo isto ia correndo sem dar muito nas vistas até o EI ter começado a usar as suas atrocidades como forma de publicidade. São os primeiros filmes de prisioneiros a serem degolados em frente às câmaras, divulgados internacionalmente pelo EI, que chocam as opiniões públicas dos países ocidentais, incluindo os Estados Unidos, até porque os terroristas cometeram o erro táctico de degolarem publicamente cidadãos desses países. E isto colocou a aliança ocidental entre a espada e a parede: por um lado queriam continuar a armar os terroristas para eles derrubarem o Presidente Bashar al-Assade mas, por outro tinham a opinião pública dos seus países fortemente contra os terroristas. E isso traduziu-se numa política de “faz de conta” em que os Estados Unidos, e seus aliados, fingem combater o EI enquanto, na realidade, o continuam a abastecer e financiar. Simultaneamente, os Estados Unidos vão bloqueando nas Nações Unidas a entrada do EI para a lista das organizações terroristas, o que conduziria a sanções mais severas contra os assassinos. É a entrada da Rússia neste processo que vai quebrar a situação de impasse. A Rússia é um aliado do Governo de Damasco e entrou no conflito sem grandes subtilezas de classificação entre “radicais” e “moderados”. Para Moscovo o Governo de Assade é legítimo e todo aquele que, de armas na mão, o combate é um terrorista a abater.. E, nisso, tem o apoio da China. E a presença destas duas potências nucleares alterou completamente o estranho equilíbrio existente. Moscovo teve muito maior sucesso em um mês de intervenção contra o EI do que os Estados Unidos e os seus aliados em mais de um ano. E isto está a provocar o caos na organização terrorista e a debandada de muitos dos seus militantes. Em número preocupante para a Europa ocidental. O que abre a porta ao espalhar do terrorismo europeu a que estamos a assistir agora. No momento em que escrevo chega a notí- cia de que a Turquia abateu um caça russo. As consequências de um tal acto são inimagináveis.
A s primeiras mortes na escalada de alegadas e reiteradas violações russas do espaço aéreo da Turquia bastaram para lançar um balde de água fria sobre a grandiloquente retórica de coligações internacionais contra o terrorismo dos jihadistas do Califado Negro. As tácticas e a propaganda dos jihadistas do autoproclamado Califado ao lançarem ataques a alvos russos no Egipto e a cidades na Europa Ocidental propiciaram a oportunidade a países como França, Rússia ou Estados Unidos para relançarem uma pretensa guerra antiterrorista. Nos campos de batalha da Síria e Iraque, os combates contradizem ostensivamente a ideia de que estados da NATO, russos, curdos, monarquias sunitas e autocratas árabes, facções sunitas, druzas, cristãs e xiitas libanesas, a par do Irão, venham a convergir numa aliança contra um putativo inimigo comum. A ofensiva do Califado Os jihadistas do Califado, proclamado no Verão de 2014, ao mobilizarem sunitas iraquianos, anteriormente radicalizados na luta contra as milícias xiitas, curdos, norte-americanos e seus aliados, conseguiram rapidamente ganhar terreno. As ofensivas na Síria contra o regime de Al Assad e a minoria alauíta susceptível de entrar em confronto - bem como cristãos, turcomenos ou druzos -, com 70% de sunitas alentados por correntes islamistas e salafistas, saldaram-se por bruscos ganhos territoriais na Mesopotâmia. Desde Agosto de 2014, na sequência da conquista pelos jihadistas de Mosul, a capital do Norte do Iraque, os Estados Unidos viram-se obrigados a encetar ataques aéreos, alargando, em Setembro, com apoio de uma coligação política de 60 países, incluindo Portugal, os bombardeamentos a alvos do Califado na Sí- ria. A reorganização política no Iraque, promovida por Washington tentando agregar sunitas e curdos às esferas do poder central nas mãos de facções sunitas, fracassou entretanto, e o financiamento e o treino de grupos para combaterem jihadistas e o regime de Assad redundaram em fracasso. A desagregação A partir de Março deste ano as monarquias sunitas do Golfo mobilizaram-se para combater os avanços houthis no Iémen desguarnecendo a putativa frente árabe contra o Califado Negro na Síria, apesar de manterem o financiamento de grupos salafistas e outras facções jihadistas. Ainda em Julho de 2015 Ancara passa a apoiar os ataques dos Estados Unidos a partir da base de Incirlik num jogo duplo em que o aríete do Califado lhe convém para conter ambições independentistas curdas na Síria capazes de exaltarem compatriotas na Turquia e ampliarem a projecção de poder do Curdistão iraquiano e, eventualmente, destabilizarem a faixa nordeste iraniana. Moscovo, alarga, por sua vez, a partir do final de Setembro a intervenção militar com ataques aéreos a forças anti-Assad, sendo o Califado Negro objectivo militar secundário até o atentado contra um voo comercial russo no Egipto, a 31 de Outubro, obrigar a reforçar os bombardeamentos a posições jihadistas. Os bombardeamentos russos, coordenados com a intervenção de contingentes iranianos e do movimento xiita libanês Hizballah, evitaram a queda de Damasco, mas as frentes de batalha em Alepo ou Homs estão longe de estabilizar a favor da minoria alauíta que, em desespero de causa, resistirá na faixa costeira de Latakia onde se localiza a base russa de Tartus. A força e a potência O Califado Negro é, ainda, uma força decisiva na Síria e no Iraque. Raqqa, na Síria, e Mosul, no Iraque, estão sob controlo dos homens de Al Baghdadi, apesar das reconquistas curdas na faixa norte síria e em Sinjar, no noroeste iraquiano, cortando as linhas de abastecimento oeste-leste do Califado. A flagelação de redes de contrabando de petróleo do Califado ou sinais de debilidade em Raqqa, como a amnistia de desertores em vez da aplicação expedita de pena de morte, não obstam à constatação da actual relação de for- ças potencialmente favorável aos jihadistas. Sauditas, russos, franceses, norte-americanos, iranianos e muitos mais estão longe de chegarem a acordos mínimos para combaterem inimigos na Síria e no Iraque. Guerras intratáveis prosseguirão até ódios que as alimentam se esgotarem ou, mais provavelmente, outros confrontos e temores se imporem. *Jornalista
A literatura é um campo complexo mas ao mesmo tempo interessante. Talvez o interesse derive da própria complexidade. É que o ponto de equilíbrio está no desafio que nos proporciona como leitores ou mesmo como escritores. É um desafio independentemente do nível de desenvolvimento de um dado país; independentemente do nosso suposto estrato social, económico ou cultural. Em países como o nosso é enorme e quase insustentável o desafio de participar no mundo da produção literária com contos, romances, prosa, poesia, entre outros estilos. A produção oral é vasta e dinâmica. Não tem custos e não sofre com as consequências da inflação. Aliás, quando a in- flação nos enlouquece mergulhamos numa produção oral típica, que a acompanha, no “Crimes e Vivências” intuito de nos aliviarmos do choro que cria o crescente apertar de cintos. Entretanto, se estivermos a falar de produção de um livro de contos, prosa, etc., sentimos que o argumento dos altos custos de produção tem a sua razão de ser. Mas este argumento nunca vem solteiro. Casa-se com outros como, por exemplo, o de que em Moçambique os hábitos de leitura ainda são muito débeis. Gastar dinheiro para produzir um livro que não será consumido pelo mercado interno, olhando para a relação custo-benefício, é uma aventura. Mas, o homem vive de aventuras. Por isso, arrisca-se a ter nas suas prateleiras, à venda, autores moçambicanos e estrangeiros. O livro “Crimes e Vivências” resulta dessa equação em termos de produção física. É uma contribuição para o enriquecimento do mercado livresco e literário moçambicano. É composto por um conjunto de dezasseis contos/ estórias da autoria de L. Guevane, abordando temas como o amor, o ciúme, a ambição, o poder, a injustiça e a violência. Alguns títulos são, por exemplo, “A Gazela Assassina”, “Ciú- me mortal”, “A machamba do Ladrão”, “Meu Primo Simone”, “O Homem que procurava a Noite”, “Um caso Estranhíssimo”, etc. No mesmo livro uma passagem do prefácio diz o seguinte: “Em 16 contos, (…) o autor ilustra a inquietação e o fascínio pelas sensibilidades dos vários segmentos populares, a nível individual e colectivo”. É no fascínio por essas várias sensibilidades que o livro procura o equilíbrio entre a complexidade dos enredos e o interesse dos mesmos. Aqui só o leitor poderá refastelar- -se desse equilíbrio dependendo do grau de sua abstração. Por vezes se pergunta sobre a moral da estória. A escrita não tem que se preocupar em produzir a dita “moral da estória”. O leitor, ele pró- prio, encontrará no seu imaginário aquilo que mais o poderá interessar. O interesse imediato no final da leitura do conto pode não ser com essa preocupação desesperada em encontrar tal “moral”. Poderá descobrir isso muito mais tarde na vida. A verdade é que cada conto esconde a sua própria “moral” que deve ser capturada pelo leitor, aliás, esconde várias morais. A perspectiva da “moral” depende muito da moral que cada um construiu ao longo da sua vida em parcial ou forte comunhão com a sociedade onde se insere. Vale a pena apostar em “Crimes e Vivências” como opção de leitura. Apostar como algo que é preciso acarinhar e projectar pelo mundo fora. Acompanhar, sem preconceitos, o desenrolar das acções. Para ir ao encontro do complexo campo da literatura que mais não é do que interessante.
“ Isto começou assim”, escreve Céline, o execrável anti-semita, o colaboracionista, o blagueur, o enorme autor de Viagem ao Fim da Noite. Como é que se pode começar um romance com esta frase? Ele fê-lo e, em prosa nervosa, rabelaisiana, abissal, dá-nos um pontapé onde ele costuma ser dado e faz o leitor mergulhar no abismo. É vertigínico o Louis-Ferdinand, como diria o “santo” Raul Leal, mas nos antípodas do poeta que foi contemporâneo de Pessoa. A verdade é que é verdade. Isto começa sempre assim. Estamos numa esquina, alguém aparece, um amigo, - Olha, vamos para a guerra. - Ai é? - Claro! - Nice, então é isso. Se um tipo tiver algum sentido de humor ainda pode perguntar a que horas e em que dia que é para ver se dá tempo de ainda fazer umas compras. - E quem é que vai? Mas a pergunta não faz muito sentido. O mensageiro já se afastou. Então a malta ri-se. O melhor é emborcar mais um copo. A ideia estapafúrdia das compras é um subterfúgio, uma espécie de gesto falhado, uma suspensão psicológica logo alijada. - Eh, pá, só conheci um escritor que gostava da guerra! - Quem? - O Ernst Jünger. - É great, o gajo. - Tinha de ser alemão. - Prussiano. - E quem é que disse agora que vai para a guerra? . O Hollande. - O da vespa? - Yes. - É verdade, foi horrível o que fizeram em Paris. Uma sexta-feira à noite, a cidade luz, a festa, jovens. Chegam uns assassinos e começam a metralhar. Franceses ainda por cima. - Agora podem tirar-lhes a nacionalidade. - Mas aquilo foi um acto terrorista. A guerra é outra coisa. Não é que não haja actos abomináveis na guerra. Mas a guerra é o que está acontecer na Síria, no Iraque, no Iémene, o que os turcos estão a fazer aos curdos. - É verdade, os curdos. . Eh, pá, são os únicos que estão no terreno a combater os celerados do Daesh… São dos únicos povos sem Estado e ninguém pensa nisso. - Deixa lá. - Já leste a revista Dabiq? - Não. - Está on line. É do Daesh. Os gajos dizem que o Armagedão vai ser na cidade que tem o nome da revista. Quer dizer, deram à revista o nome da cidade. - Às vezes acontece… - Não tás a topar. Aquilo é apocalíptico. Foi em Dabiq que se registou a última batalha entre os mamelucos e os otomanos. - E então? - Os otomanos ganharam e criaram o Califado. Com a conquista de Dabiq ficaram no Oriente Médio até ao final da Primeira Guerra Mundial. Tudo por conta deles: o que é hoje a Síria, o Egipto, etc e tal. Segundo os gajos, o conflito final entre Cristianismo e Islão vai ser em Dabiq. - Estão doidos. Isso foi há quanto tempo? - No século XVI. - O Hollande sabe disso? - Não faço ideia. - Cá para mim a culpa disto tudo é do Bush. O filho. O filho do Bush. - E o Bin Laden, o Afeganistão, os mudjaedines apoiados pela CIA, os sóvias, já agora? - E a crise no Islão, o wahabismo, os sunitas e os xiitas… - Se for uma guerra é a última do ciclo do petróleo. - Não compliques! - Vai mais uma dose? - Contra a guerra! - Deixa lá a guerra. Se fosse só uma ainda um tipo se chateava. - É isso, tens razão. - A malta nunca mais acorda. - À nossa.
O Governador da Província de Nampula, Victor Borges, acompanhado pelo Director Provincial dos Transportes e Comunicação, Francisco Bonzo, e outros quadros do governo visitaram, nesta segunda-feira, o Corredor de Desenvolvimento do Norte (CDN), em Nampula, naquilo que constitui a primeira visita oficial à empresa. Borges e sua equipa percorreram demoradamente as áreas operacionais, onde receberam detalhadas explicações sobre o processo de conversão de vagões e a remodelação das carruagens antigas para a padronização em vigor que está a ser feito no CDN, as quais irão futuramente circular no serviço de passageiros na linha Cuamba- Lichinga. O número um da província de Nampula visitou igualmente a estacão ferroviária, onde observou a reabilitação que se fez em todo o recinto, a gare de passageiros e viu “in loco” as carruagens executivas e de segunda classe que foram adquiridas na reestruturação do serviço de passageiro feito no segundo semestre de 2013. Victor Borges teceu rasgados elogios ao nível de investimento feito, pelo conforto das recém- -adquiridas carruagens. Elogiou também o percurso de mudan- ça positiva que a empresa está a tomar e manifestou vontade de ver sanadas as dificuldades que a circulação do comboio de passageiros está a enfrentar devido às obras de reabilitação da linha no âmbito do projecto corredor de Nacala, que se esperam concretizar em Março do próximo ano de 2016. Mais locomotivas Recentemente, o CDN, actual concessionário do Porto de Nacala e do Sistema Ferroviário do Norte do País, aumentou a sua nha a nota. Paralelamente a esta aquisição, a empresa já começou a fazer comboios com vagões de ar comprimido, que actualmente está permitindo a realização de comboios O Banco Comercial e de Investimentos (BCI) premiou, no dia 19 do corrente mês, Marieta Ângelo Guambe, com o primeiro prémio do segundo sorteio da campanha “Vem para aqui”. A contemplada recebeu um carro zero quilómetros da marca Toyota Corolla pelo facto de ter domiciliado a pensão do seu falecido marido no BCI. “Quando recebi a notícia que tinha ganho o prémio agradeci a Deus. Foi uma oportunidade única”, disse em língua materna, Changuana, Marieta. Por seu turno, Luís Aguiar, administrador do BCI, não escondeu a sua satisfação: “primeiro porque a campanha que apoiou este sorteio tem decorrido com grande êxito, segundo por estarmos agora aqui a materializar a oferta com a entrega deste automóvel.” A campanha “Vem para aqui”, que teve início em Abril último, irá decorrer até 31 de Dezembro, com o objectivo central de captar novos Clientes Particulares e a Fideliza- ção dos actuais. São elegíveis aos sorteios os novos e actuais Clientes que subscrevam uma solução de poupança, de financiamento ou que domiciliem o seu salário no BCI. BCI caça mais clientes frota de material circulante com a aquisição de mais três locomotivas, para suportar o transporte de carga no corredor, trazendo ganho de capacidade e tracionamento de carga geral. Uma nota da empresa indica que locomotivas são modernas, modelo GE C30-ACI, com uma capacidade de 3000 HP, ou seja, cada uma tem a capacidade de transportar 42 vagões de carga geral duma só vez. “Estas locomotivas fazem parte do último lote de um total de 12 locomotivas, que a empresa adquiriu no presente que vão reforçar o parque de material circulante e melhorar a performance operacional da empresa. E, com este investimento, eleva-se para vinte e dois o número de comboios de linha no CDN”, sublimais longos em termos de composição de vagões e melhoria da eficácia dos freios.
P elo menos 100 novos autocarros de um lote de 200 já se encontram em Maputo, uma aquisição no âmbito da parceria público-privada que visa mitigar a crise de transportes na área metropolitana de Maputo. Ao que apurámos, os referidos autocarros, de marca Yutong, já se encontram no Porto de Maputo. Os restantes cem chegarão ao País nos meses de Dezembro e Fevereiro próximos. Os autocarros foram adquiridos numa parceria público-privada, entre o Ministério dos Transportes e Comunicações, por via do Fundo de Desenvolvimento dos Transportes e Comunicações, e a Sir Motors, empresa de importa- ção, comercialização e assistência técnica de viaturas. Segundo o Secretário Permanente do Ministério dos Transportes e Comunicações, Pedro Augusto Inglês, a alocação e circulação destes autocarros serão conjugadas com o transporte ferroviário HÀXYLDOQDVFLGDGHVGH0DSXWRH Matola, no âmbito do sistema de transporte intermodal. “A aquisição destes autocarros vai ajudar a minimizar o problema de transporte. Com a entrada em circulação destes meios, a oferta e a frequência serão maioNovos autocarros chegam ao país res, para além de que os cidadãos vão passar a viajar em melhores condições de segurança e comodidade”, disse Pedro Augusto Inglês. Por seu turno, Amad Camal, Director-Geral da Sir Motors, fez saber que, ainda no âmbito desta parceria público--privada, “foi formado um consórcio com a empresa Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM), visando a aquisição de 126 carruagens, das quais 30 são unidades de metro de superfície”. O reforço da capacidade do transporte ferroviário de passageiros, em mais meios, corresponde à aposta do Governo no quadro da implementação da intermodalidade. Em Outubro último, foram postas em circulação 15 carruagens para o sistema ferroviário sul e 14 para o sistema ferroviá- rio centro, correspondente ao primeiro lote de 70 veículos ferroviários, dos quais 62 carruagens, oito furgões, a serem afectos ao sistema ferroviário centro e sul. Num outro desenvolvimento, Amad Camal referiu que os autocarros serão vendidos à A s três operadoras de telefonia móvel, a mcel, a vodacom e a movitel, convidaram a imprensa, esta segunda-feira, para anunciar que, a partir deste sábado, irão bloquear os cartões SIM que, até lá, não estiverem completamente registados. As três operadoras dizem que nada podem fazer, pois, a decisão há muito foi tomada pelo governo, cabendo às operadoras o cumprimento integral da mesma. O representante do governo, presente na sessão do anúncio do bloqueio a partir deste sábado, disse igualmente que aos subscritores foi dado bastante tempo, daí que é obrigação de cada utilizador e das respectivas operadoras assegurarem o pleno registo dos cartões SIM. Entretanto, tanto o governo assim como as operadoras estão conscientes das dificuldades que ainda serão enfrentadas para assegurar o pleno registo dos utilizadores. É que os números oficiais apontam para um registo de cerca de 67 por cento do total dos 19 milhões de subscritores (uma pessoa pode estar a usar três ou mais cartões) e, em termos reais, não é possível assegurar o registo dos restantes 33 por cento de utilizadores em apenas três dias (até sábado). Se calhar foi nesta lógica que as três operadoras, estrategicamente, colocaram algumas reticências linguísticas em relação à capacidade e possibilidade de, a partir do dia 28, se decidir efectivamente pelo bloqueio imediato dos cartões. Assim, a linguagem usada pelas operadoras é o corte “progressivo” dos subscritores não registados, o que signi- fica que “até data indeterminada”, as operadoras podem justificar-se com base na progressividade dos bloqueios. “Os clientes já activos e não registados serão progressivamente bloqueados até que registem os seus cartões SIM”, refere a comunicação conjunta das três operadoras. Enquanto isso, a comunicação conjunta refere que os novos cartões só poderão ser activados depois de se confirmar o registo completo, o que significa que os novos clientes terão necessariamente a obrigação de deslocar-se fisicamente aos postos de registo. Entretanto, brevemente, os revendedores de rua estarão capacitados a efectuar o registo de números de clientes pré-pagos através de uma aplicação de registo de números, que estará disponível num smartphone. O registo obrigatório de cartões SIM vem desde 2010, medida imposta pelo governo logo após as violentas manifestações populares contra o aumento do custo de vida. Com vista a tornar possível a implementação desta medida governamental, as três operadoras decidiram reunir esforços, com vista a garantir a implementação de um modelo único e homogéneo de processo de registo dos seus clientes. Os clientes deverão proceder ao registo nas lojas das operadoras ou revendedores autorizados e deverão preencher o formulário de registo, fazendo-se acompanhar por um dos documentos exigidos pela lei, nomeadamente: Bilhete de Identidade; Passaporte/DIRE; Carta de Condução; Cartão de Combatente; Cartão de Recenseamento Militar; Cartão de Desmobilizado; Cartão de Eleitor ou Cartão de Identifica- ção de Refugiado. (Redacção) As três operadoras uniram-se e anunciaram contundência E agora? - Além do bloqueio dos subscritores activos, as operadoras anunciaram que só poderão activar os novos cartões SIM depois de se completar todo o registo Federação Moçambicana dos Transportadores Rodoviários (FEMATRO), que deverá explorar o sistema de transporte nas cidades de Maputo, Matola e nos distritos de Boane, Marracuene e Manhiça. Importa referir que estes meios circulantes irão incrementar, de forma considerável, a oferta e qualidade dos serviços de transporte de passageiros, disponibilizados actualmente na área metropolitana de Maputo. Para além do reforço ao sector público e privado, que vai ocorrer com a alocação destes autocarros e outras cerca de 90, adquiridas durante o presente ano e alocadas aos operadores públicos de todas as capitais provinciais, várias outras medidas estão em implementação, nomeadamente a compensação aos transportadores semi-colectivos de passageiros, a partir do montante adicional do custo do gasóleo, o estabelecimento de faixas exclusivas para o transporte público urbano, devendo arrancar em breve um corredor piloto, na N1, entre várias outras medidas.
Não que fazer? Mas sim, que fazermos? Esta deve ser a pergunta e a resposta tem de incluir a participa- ção convicta e determinada de cada um de nós conscientes, interessados e criativos. A crise económica financeira que o País vive e se sente na vida quotidiana de cada um de nós, rico, mediano e pobre, afecta a todos, independentemente da capacidade material e mental de cada cidadão ou estrangeiro residente, até mesmo turista ou visitante. Todo o Mundo padece da crise. Para nós, Moçambicanos, que nos preocupamos com a situação da nossa economia, apercebemo-nos que, para além da crise mundial, a situação económico-financeira é, especificamente, fruto da insegurança, extorsão financeira de que são vitimas os que têm um poder económico-financeiro, a quebra do valor comercial do nosso carvão mineral, do gás, do nosso fraco desenvolvimento técnico e industrial. Politicamente, constata-se uma ineficiente capacidade da autoridade governamental no combate à corrupção generalizada, sob quaisquer umas das suas formas e níveis. Também, nota-se a nossa incapacidade de previsão, ousadia, pondera- ção, acção, excesso de tolerância à prática criminosa contra a economia, e evasão fiscal, tudo porque nos falta determinação para, fiscalizar, investigar, responsabilizar e punir os criminosos que, diariamente, são referenciados. Tem havido muitas e permanentes reuniões, conferências e debates, para se saber o que fazer para o nosso crescimento e desenvolvimento, num horizonte de vinte a vinte cinco anos. Teorizamos muito, definimos teses e estratégias. Exibimos conhecimentos científicos, sem significado prático e positivo. Neste contexto, reconhecemos e louvamos o grande esforço e mé- rito da anunciada conferência da MOZEFO, que conta com a participação da nossa elite politica, governamental e os nossos melhores académicos, economistas, empresá- rios, industriais e sociólogos. Tudo de bom que se disser nessa conferência, não terá qualquer êxito, se não se puser em prática as estratégias que forem definidas para se enfrentar com sucesso a crise. Todos nós nos preocupamos com a surpreendente e galopante desvalorização do nosso metical, nomeadamente, em relação ao dólar americano e ao rand sul-africano. O nosso Tesouro Público está sem reserva significativa. O nosso Banco Central não tem divisas suficientes para vender aos Bancos Comerciais. Os nossos empresários importadores não conseguem honrar os seus compromissos, porque, apesar de terem meticais para comprarem dólares americanos e fazerem as necessárias transferências para os seus fornecedores no exterior, não o conseguem fazer. Esta dificuldade põe em causa a vida útil da empresa comercial e industrial, o que pode determinar o seu encerramento ou mesmo a sua falência, com consequências gravíssimas para o nível do emprego nacional. A desvalorização do metical está atingir níveis insuportáveis, já que no curto espaço de quatro meses a taxa do câmbio passou de 35 MT/ USD para 60 e nesta dinâmica atingirá 70MT/USD. Tudo isto tem, obviamente, causado grandes prejuízos e, consequentemente, falências inesperadas mesmo de empresas bem geridas. A justificação de que a nossa situação financeira está como está, tal como o Governo afirma, isso se deve às obras da Ponte de Maputo/ Catembe, da nova Grande Circular Maputo/Marracuene e do caso “EMATUM”. É sabido por todos, que a referida justificação pouco justifica. Há outras gritantes causas. Fundamentalmente, a nossa penosa divida publica que se tornará quase impagável. Também a nossa incapacidade de previsão, ponderação, ausência de cálculo, irresponsabilidade e impunidade, o que entre outros efeitos negativos, tem vindo a provocar grandes derrapagens orçamentais, nas grandes obras públicas e até mesmo privadas. O enriquecimento ilícito tem vindo a chocar a sensibilidade de governados. Fazemos coisas, somente porque fazemos. Não definimos prioridades, tão-somente, fazemos porque procuramos ganhar, criminosamente, ALGO, sem reflectirmos sobre as consequências desastrosas das nossas acções públicas, privadas e até mesmo, secretas. Infelizmente, pouco se importa o que o País perde. Se a população sofre. Se o contribuinte se frustra. A realidade é que a economia e finanças moçambicanas estão de rastos. Está em risco o pagamento de salários, sofremos e nos desesperamos. Devemos, porém, ter sempre con- fiança, paciência e crer na nossa capacidade de reabilitação. Moçambique não morre, porque todo o cidadão deve poder fazer o que deve fazer, para o seu próprio bem, em suma, para o bem do País. Perante as dificuldades graves e insuperáveis nos revoltamos contra a Administração Pública. Esquecemo-nos da nossa inércia pessoal e até colectiva, da falta de oportuna chamada de atenção, por tudo quanto de errado se faz. Normalmente, despertamo-nos e acordamos muito tarde, quando o leite já está quase todo derramado. Vejamos, por mero exemplo, o que está acontecendo na nossa bela Cidade de Maputo. O Conselho Municipal está autorizando a construção de prédios de quinze, vinte, vinte e cinco andares e, até de quarenta e tal andares, na Av. Júlios Nyerere, Avenida 25 de Setembro e na procurada Zona do Prédio JAT sem cuidar de alargar e aumentar as poucas vias de acesso, sempre que possível, mesmo pagando indemnizações, pela ocupação de parcelas de terrenos privadas contiguas à via pública. Ainda, o aspecto mais grave que já se faz sentir é a capacidade de alimentar, normalmente, as habita- ções, estradas e empresas com energia eléctrica. Todos sabemos e sofremos as consequências de interrupções constantes de energia eléctrica com todos os prejuízos decorrentes e o desconforto. Outro aspecto, não menos preocupante, é a dificuldade de circulação automóvel, na hora de ponta, em que o tráfico fica paralisado, o que no decorrer de um ou dois anos, será um verdadeiro caos, a utiliza- ção de viaturas automóveis, mesmo com apoio de um motorista. Não é só a falta de estacionamento, pois, já se torna impossível o tráfico automóvel, em certas zonas da cidade. A Cidade de Maputo não é muito compatível com a construção de metro subterrâneo e interface. A nossa frota de autocarros não funciona, minimamente, e o velho hábito de almoço e sexta em casa já não é praticável. Há que mudar os nossos hábitos citadinos e burgueses, mesmo a prá- tica ancestral do trabalhador que leva para o trabalho a sua a marmita com o almoço. Muita coisa tem de mudar. Uma nova era na nossa vida. O carro deve permanecer na garagem, para ser utilizado, quando tivermos uma viagem de trabalho fora da cidade ou simplesmente para passeio familiar, de vez em quando. Há que construir grandes parques de estacionamento automóvel subterrâneo à superfície e em altura, o que já estamos a fazer, mas ainda é muito pouco, enquanto a cidade de Maputo não crescer ou saltar para a Catembe. Do parque de estacionamento para o emprego e deste para qualquer outro local que tivermos necessidade de se deslocar, sirvamo-nos de pequenos autocarros de quinze a vinte lugares, para cada um se deslocar de um ponto para o outro ponto da área da cidade em que a circulação de automóvel privado é totalmente proibido. Utilizemos um passe de circula- ção pública bastante económico, que cubra a despesa de degradação do autocarro e da via de circula- ção, com apoio de um subsídio do Estado, que beneficiará de menos gasto de combustível todo ele importado, bem como do custo de peças sobressalentes que as oficinas automóveis debitam na reparação de viaturas, que terão menos uso durante o ano. Há que democratizar, oficialmente, a circulação de pessoas dentro da cidade e arredores, zonas de trabalho e de dormitório do trabalhador. A menor circulação de viaturas contribuirá para menor degradação da poluição do meio ambiente. Para o trabalhador, a viatura ficará quase sempre na garagem e para aqueles que utilizam o motorista a viatura será para transportar até ao local do estacionamento, onde apanhará o autocarro para a sua área de trabalho onde é proibida a circula- ção do automóvel privado. A nossa Constituição da República define no seu art. 103º, que a agricultura é a base do desenvolvimento nacional. Então, procuremos realizar esse processo de desenvolvimento nacional. O Estado garante e promove o desenvolvimento rural para a satisfação crescente e multiforme das necessidades do povo e progresso económico e social do País. No nosso País, actualmente, a agricultura não é a base do desenvolvimento nacional, como indústria, ainda não é factor impulsionador da economia nacional como o impõe o art. 104º, da nossa Lei Mãe. O arroz, o milho, até a cebola e o tomate, como muitos outros produtos alimenticios que comemos não são totalmente produzidos no País. Temos, portanto, de interrogarmo- -nos se temos terra, água e a técnica suficiente para a agricultura ser, efectivamente, a base do nosso desenvolvimento nacional? A resposta tem que ser. Na realidade, temos terra e água suficiente e podemos facilmente conseguir a técnica necessária para encher os nossos celeiros, silos e armazéns para alimentar a população de arroz, milho, feijão, gado bovino, su- íno e caprino para nos saciarmos e para exportar, competitivamente, com o produtor estrangeiro, quer atendendo a qualidade, quer o custo de produção e a proximidade dos nossos Países vizinhos, incluindo a própria África do Sul, que já está a ter fragilidade nesse sector. O nosso País é atravessado por diversos rios do Leste para Oeste. As ricas zonas de Palmeira, Chòkué, Maganja da Costa e outros locais são melhores terras para produzir tanto quanto precisamos e queremos. O nosso clima não é de todo mau, antes pelo contrário, é melhor que o Sul-africano. Podemos ter ricas manadas de gado bovino, suíno e caprino, desde que o Estado e o governado o queiram e o determinem. É vergonhoso que Moçambique tenha necessidade de comer arroz e milho importado. É certo que não temos condições propícias para produzir trigo sufi- ciente para as nossas necessidades nacionais, mas tudo o mais podemos produzir a contento. O Ministério da Agricultura tem de revelar todas as suas capacidades de garante e de promotor do desenvolvimento rural agrícola e pecuário. A questão fundamental não é a falta de dinheiro e técnica, mas tão- -somente da falta de determinação e consciente responsabilidade da sua FUNÇÃO CONSTITUCIONAL do Governo e Autarcas. Ao pensarmos na agricultura e na pecuária, temos de pensar, paralelamente, na sua industrialização, conservação, transporte, comercialização e exportação. Podemos e devemos produzir arroz, milho, feijão, amendoim, castanha de caju, gergelim, hortaliças e tudo o mais, bem como a produção pecuária, tudo de forma industrializada! O importante, neste momento da crise, relativamente a produtos alimentares, é propor ao Ministério de Agricultura que tudo se deverá fazer, para no curto espaço de cinco a dez anos, possamos exportar, pelo menos, arroz, milho, carne, peixe, marisco em quantidades suficientes para alcançarmos divisas necessá- rias para importação de maquinaria para industrialização, conservação, consumo e exportação da nossa produção agrícola e de pecuária. Não obstante a crise do carvão e do gás, podemos e devemos, desde já, incrementar a exportação de areias pesadas, ouro, pedras preciosas e semi-preciosas, que estão a ser alvo de exportação ilícita por parte de estrangeiros e de nacionais, com grande prejuízo para os cofres nacionais, porque não sabemos fiscalizar, responsabilizar e punir os criminosos. Para tanto, precisamos de aliciar e atrair investidores estrangeiros que dominam a tecnologia e possuem capital necessário, para juntamente com os moçambicanos possamos criar um crescimento e desenvolvimento económico sustentável, o que contribuirá para o equilíbrio orçamental do País. Finalmente, devemos defender uma amnistia geral para os crimes económicos praticados, peculato e desvios de riquezas do estado em benefício próprio, para daqui para diante possamos fiscalizar, responsabilizar e punir com determinação, de modo a reduzir e até mesmo eliminar a vergonhosa prática de corrupção e apropriação dos bens do Estado. Os estudiosos e conhecedores desta problemática de crescimento e desenvolvimento, politico, económico, social e ético, devem definir O QUE DEVEMOS FAZER.
Assinalou-se, no último domingo, 22 de Novembro, a passagem dos 15 anos após o assassinato bárbaro do jornalista Carlos Cardoso, o primeiro editor do mediaFAX, a primeira publicação jornalística independente do país. Crivado de balas, na Avenida Mártires da Machava, na capital do país, à saída do seu posto de trabalho, jornal O Metical, a morte de Carlos Cardoso chocou o país e o mundo e representou, de alguma forma, “um atentado à liberdade de imprensa”. Neste sentido, o SAVANA saiu à rua, esta semana, para ouvir a opinião dos antigos colegas e estudantes do jornalismo, aquilo que representam estes 15 anos. Todos são unânimes em afirmar que Carlos Cardoso deixou um vazio no jornalismo moçambicano, porém divergem quanto à preservação do seu legado. “Neste processo houve mais injustiça que justiça”, Lourenço Jossias Crespim Mabuluco, finalista do curso de jornalismo, na Escola Superior de Jornalismo, diz que “passam 15 anos de silêncio”, pois na sua opinião, pouco se faz para imortalizar esta figura. Segundo este, Carlos Cardoso já devia ocupar outro tipo de espaço na arena nacional, pois, “além de jornalista, Carlos Cardoso foi um activista de causas”. “A cada 22 de Novembro devia acontecer algo visível para registar essa data. As Academias deviam organizar conferências ou palestras para evocar esta figura”, diz Mabuluco. Mesma opinião é partilhada por Esmeralda Livele, também finalista do curso de jornalismo, que considera os 15 anos “tempo suficiente para valorizarmos o trabalho desenvolvido por ele”. “É difícil ouvir falar de Carlos Cardoso, seja nas redacções, assim como na Academia. Só se fala de Carlos Cardoso, em datas como esta. Precisamos recordá-lo, diariamente, e não só nos dias 22 de Novembro, de cada ano, porque o jornalismo faz-se no dia-a-dia”, defende. Euclides Flávio, estudante de Publicidade e Marketing, afirma que o assassinato de Carlos Cardoso representou, em parte, “a aniquilação da liberdade de expressão, apesar de ser um direito constitucional”, porque este acto criou medo na classe jornalística. O Director do Semanário Magazine Independente e antigo colega de Carlos Cardoso na mediaCoop, Lourenço Jossias, diz que são 15 anos que ainda lhe trazem uma “frustração”, pois, sente que “houve mais injustiça que justiça”. “Sinto que ainda há uma penumbra no processo deste caso. Não sei se os parentes de Carlos Cardoso foram indemnizados. Sinto que houve uma desorganização organizada, pois, há pessoas que deviam ter sido ouvidas e não aconteceu”, considera Jossias, em referência ao não julgamento dos arguidos do processo autónomo (Nyimpine Chissano, primogénito do antigo chefe de Estado Joaquim Cissano). Lourenço Jossias descreve Carlos Cardoso como uma pessoa “super culta, livre, justa e que defendia as suas ideias do princípio ao fim. Abraçava a profissão e a política de forma crítica”, destaca. Machado da Graça, antigo companheiro de batalha, recorda Carlos Cardoso com nostalgia. Conta que Cardoso era um homem humilde, transversal e, acima de tudo, foi o pilar do jornalismo independente, por ter ajudado a criar a primeira publicação independente no país, mediaFAX, que catapultou a imprensa privada. Como jornalista, Machado da Graça explica que Carlos Cardoso foi um homem importante, desde a independência até a sua morte. “Embora tenha sido entusiasta do socialismo, não lhe impedia de ter um espírito crítico em relação aos problemas desse sistema, facto que lhe custou uma prisão, de entre três ou quatro dias, por ter publicado algo que não agradou o sistema”, diz. “Samora Machel lhe chamava para pedir a sua opinião, em relação à vida do país. Na véspera ou antevéspera da morte, Cardoso publicou um texto, dizendo que Samora era um alvo a abater pelos sul-africanos e passados dois dias, isso aconteceu”, acrescenta, salientando que o fundador e Editor do extinto Metical era “uma pessoa complexa, com muitos interesses e que não ficava quieto”. Além de jornalista, Carlos Cardoso foi membro da Assembleia Municipal, entre 1998 e 2000, eleito pelos Juntos Pela Cidade ( JPC); pintor; cantor; e poeta. Carlos Cardoso é uma referência do jornalismo em Moçambique. Foi um dos fundadores da primeira cooperativa de jornalista do país, a mediacoop (1992), com mais 12 profissionais, algo que só foi possível com a entrada do multipartidarismo. Machado da Graça conta que, dentre as várias facetas de Carlos Cardoso, a de pintor constituiu a dois momentos diferentes da vida dele, que corresponderam um momento de pressão e de perda de confiança no que estava a fazer. Numa entrevista concedida a DW a propósito dos passagem dos 15 anos do assassinato de Carlos Cardoso, Fernando Lima, actual PCA da mediacoop, considera que há uma tentativa de apagar a imagem do jornalista. “Eu diria que no coração dos jornalistas, no consciente dos jornalistas o respeito e a admiração são idênticos ou ainda maior, porque o sentimos como nosso, uma pessoa que viveu e trabalhou nesse país. Mas há outros factores que explicam uma tentativa de lavagem da própria imagem de Carlos Cardoso ou uma tentativa de nos fazer esquecer”, frisou Lima, um companheiro de armas de Carlos Cardoso. Anualmente, a Universidade de Wits, em Joanesburgo, celebra Carlos Cardoso no “Carlos Cardoso memorial lecture”, durante o Power Reporting Journalism. Este ano, coube a Bheki Makhubu, colunista e editor-chefe do jornal The Nation, preso durante 16 meses por causa de artigos que criticavam o Judiciário da Swazilândia, lembrar “a coragem e determinação” de Carlos Cardoso. O “Carlos Cardoso memorial lecture”, é um evento de debate, em honra ao malogrado jornalista moçambicano Carlos Cardoso que foi estudante da Wits e deportado para Moçambique, em 1974, por causa do seu apoio ao à FRELIMO. Estágio de Jornalismo investigativo, após Cardoso Com o assassinato de Carlos Cardoso, vários debates têm sido levantados acerca do jornalismo investigativo moçambicano e quase não há consenso acerca do estágio actual deste. Euclides Flávio defende que, após a morte de Cardoso, o jornalismo investigativo abrandou, pois “não estamos a conseguir encontrar, hoje, uma figura que esteja ao nível de investigação do jornalista Carlos Cardoso”. Por sua vez, Crespim Mabuluco é mais contundente e sentencia: “Carlos Cardoso marca o início e o fim do jornalismo investigativo, em Moçambique”. “Hoje, os jornalistas informam super- ficialmente. Há uma dificuldade de trazer estórias completas e detalhadas sobre os escândalos que corroem este país. Cardoso trazia aquilo que estava acima das nossas capacidades. Era do pouco e bom jornalismo que tínhamos. Os melhores jornalistas que temos são espelhos de Carlos Cardoso”, considera. Entretanto, Machado da Graça refuta essa tese. Da Graça anota que Carlos Cardoso foi assassinado com o objectivo de “assustar os jornalistas”, mas “isso não resultou, porque muitos seguiram o exemplo do que fazia”. “Não é verdade que o jornalismo investigativo tenha morrido com o assassinato de Carlos Cardoso. Há aqueles que estão a respeitar o legado de Cardoso, fazendo um jornalismo de grande qualidade”, considera. Lourenço Jossias alinha na opinião de Machado da Graça e considera “ignorante” quem diz que o jornalismo investigativo morreu com Carlos Cardoso. Para este, o jornalismo investigativo no país “não morreu, apenas não é pujante”, porque os principais actores “não colaboram”. Urge tornar Cardoso numa referência académica nacional, Crespim Mabuluco Este foi o décimo quinto ano, em que o país assinalou a passagem desta data, que representa o luto do jornalismo moçambicano. Entretanto, as acções que representam a data são pouco visíveis. Após a morte de Carlos Cardoso, a União Europeia criou um Prémio de Jornalismo Investigativo, rotulado com o nome de Carlos Cardoso, mas passado alguns anos, o mesmo foi extinguido. Crespim Mabuluco, Euclides Flávio e Esmeralda Livele falam da necessidade de tornar Carlos Cardoso numa referência nas instituições de ensino superior, em particular as que leccionam os cursos da área da comunicação. “Na academia, pouco toquei no nome de Carlos Cardoso, porque nunca foi citado pelos docentes. Falei de Cardoso, quando elaborei um trabalho, que abordava a morte ou não do jorPor Abílio Maolela nalismo investigativo, em Moçambique, após o seu assassinato”, revela Esmeralda Livele. “Devia ser citado ao nível das academias, sobretudo pelo tipo de jornalismo que ele fazia. Se queremos ser o quarto poder, em Moçambique, Carlos Cardoso é a figura principal e que temos de seguir”, diz Crespim Mabuluco. “As academias devem ter um cantinho Carlos Cardoso. É tempo de termos uma sala de conferências Carlos Cardoso, ao nível das academias. Ele merece. Deve ser um exemplo didático”, acrescenta. Por sua vez, Euclides Flávio diz que Carlos Cardoso foi um professor que não pôde ter, pelo que se sente “decepcionado” por não ser citado na Academia. “As academias devem ir atrás dos arquivos de Carlos Cardoso. Urge a necessidade dos docentes divulgarem alguns artigos jornalísticos publicados por ele, para ser um exemplo prático e físico daquilo que é o exercício do jornalismo investigativo”, conclui. Machado da Graça conta que Carlos Cardoso tem sido recordado, anualmente, e ainda este ano houve uma deposição de flores no local onde foi assassinado, pelos amigos e admiradores, no domingo e na segunda houve uma sessão cultural na Fundação Fernando Leite Couto. Entretanto, mostra-se preocupado pelo silêncio das autoridades moçambicanas, embora reconheça que este se verifica desde o assassinato do malogrado. “Verifica-se este silêncio, porque o principal acusado era Nyimpine Chissano, filho do antigo Presidente da República, Joaquim Chissano. A memória de Carlos Cardoso não agrada a actual direcção do Partido Frelimo”, remata, acrescentando que “é mau” não referenciar Carlos Cardoso nas faculdades. Carlos Cardoso, jornalista moçambicano, fundador e editor dos jornais mediaFAX e Metical, foi assassinado a 22 de Novembro de 2000, supostamente por estar a investigar e a publicar dados sobre o desvio de 144 milhões de meticais no Banco Comercial de Moçambique (BCM). Seis indivíduos foram condenados pelo envolvimento no caso. Aníbal António dos Santos Júnior, mais conhecido por Anibalzinho (28 anos); Manuel dos Anjos Fernandes, conhecido por Escurinho e Carlitos Rachid Cassamo (23 anos e seis meses) formam condenados como assassinos, enquanto Nini Satar (24 anos), Ayob Satar e Vicente Ramaya (23 anos e seis meses) foram considerados mandantes. Dos seis envolvidos, dois foram assassinados (Ayob Satar e Vicente Ramaya) no ano passado, após conseguirem liberdade condicional, enquanto Anibalzinho continua encarcerado nas celas do Comando da Cidade de Maputo. Carlitos e Escurinho gozam da liberdade condicional no país, enquanto Nini goza do mesmo privilé- gio, mas está no estrangeiro. Além da pena de prisão, os condenados foram sentenciados ao pagamento de uma indemnização de 14 milhões de meticais à família de Carlos Cardoso por danos morais e materiais, bem como 800 mil meticais de imposto de justiça. Os réus foram ainda condenados a pagar 500 mil de meticais a Carlos Manjate, motorista que tinha sido gravemente ferido quando conduzia a viatura em que Carlos Cardoso viajava. Porém, Euclides Flávio, estudante Passam 15 anos, após o assassinato de Carlos Cardoso, mas as causas da sua morte continuam uma incógnita Lourenço Jossias Fernando Lima Machado da Graça este valor ainda não foi pago. Porém, o caso foi encerrado sem ter sido concluído. Isso deveu-se à morte de mais dois arguidos, que foram considerados mandantes principais. Nyimpine Chissano, filho do antigo presidente da república, foi constituí- do arguido, porém perdeu a vida em 2007, antes de ser julgado. Cenário idêntico foi a que se veri- ficou com a empresária Cândida Cossa, que também foi constituída arguida, mas perdeu a vida, em 2010, antes de ser julgada.
O Conselho Superior da Comunicação Social (CSCS), que, nos termos da Constituição da República de Moçambique (CRM), “é um órgão de disciplina e de consulta, que assegura a independência dos meios de comunicação social, no exercício dos direitos à informa- ção, à liberdade de imprensa, bem como dos direitos de antena e de resposta” (número 1 do artigo 50), realizou, esta segunda-feira, 23 de Novembro, uma conferência sobre “Comunicação Social, Violência e Paz”, massivamente atendida por jornalistas e editores, tendo tido o privilégio de ser aberta pelo Presidente da República (PR), Filipe Nyusi. No seu discurso de abertura, Nyusi referiu, de forma clara e cristalina, que os órgãos de comunicação social constituem um espaço de exercício da democracia, sobretudo quando os seus profissionais (jornalistas e editores, sobretudo) desempenham a sua missão com isenção e profissionalismo. Um dos conteúdos da isenção e do profissionalismo, ressaltou do discurso do PR, é o exercício do contraditório, que se materializa no dever de ouvir todas as partes envolvidas num certo acontecimento jornalisticamente relevante. Concordamos, em absoluto, com o que o PR disse. Não podíamos, de resto, discordar de algo tão óbvio. Não é por acaso que a independência, isenção e profissionalismo dos media figuram de entre os elementos fulcrais em sede de avaliação de um regime formalmente democrático, para se concluir se, materialmente, o é ou não. Aliás, não é por acaso que nas suas profundas e sempre actuais reflexões sobre a democracia, o cientista político Robert Dahl se refere à premência de existência de certo tipo de instituições para que uma certa democracia possa ser considerada como sendo de alta intensidade (democracia de facto), sendo a imprensa independente (não interessa se pública ou privada, mas a pública, sobretudo, sendo suportada por fundos públicos) uma delas. Temos profunda consciência das inúmeras preocupações que o PR tem no seu dia-a-dia, mas achamos não ter sido feliz a sua opção de se limitar ao mero proferimento do discurso de abertura, sem dedicar um minuto se quer do seu preciosíssimo tempo na escuta do que ali se discutiria e se discutiu. Assessoria gratuita e de alto nível teria tido o PR, in loco e sem esperar pelos resumos dos seus assessores, que, não poucas vezes, só o fazem ouvir o que ele quer ouvir e ponto final. Mas vamos ao essencial. Se o que o PR disse, ali, é verídico e relevante, talvez não tenha como vincar de forma efectiva no contexto moçambicano hoje, sem que um conjunto de situações, muitas delas de dimensão estrutural, sejam atendidas a priori. De entre um leque exaustivo de questões tais, iríamos, por uma questão de economia, nos ater, ainda que sucintamente, a pelo menos quatro, designadamente (a) critérios de nomeação e exonera- ção dos responsáveis máximos das empresas públicas de comunicação social (TVM e RM, essencialmente); (b) modelo de financiamento da radiodifusão pública; (c) réplica política; e (d) regulação do anúncio público. Critérios de nomeação e exonera- ção dos responsáveis máximos das empresas públicas de comunicação social: Os Presidentes dos Conselhos de Administração (PCAs) da TVM e RM são nomeados num quadro de inexistência de critérios democráticos. Apenas a confiança política é que parece concorrer para o efeito, a ponto de, quase sempre, conforme reconheceu há pouco mais de dois anos o Prof. Armindo Ngunga, antigo presidente do CSCS, nem este órgão ser consultado, o que configura uma clara viola- ção da CRM, que impõe que assim se proceda. Seria democraticamente sustentável se os PCAs fossem confirmados, por exemplo, pelo Parlamento depois de um concurso público, num contexto em que lhes fosse garantida a inamovibilidade naquelas funções por um período razoável. Há PCAs que se meteram em ‘alhada’ só por os meios de que eram gestores terem publicado um certo tipo de notícia. É possível um chefe de família ser isento e profissional num contexto de prevalência de interesses políticos de um grupo político apenas, e sem que ele tenha garantias do Estado? Modelo de financiamento da radiodifusão pública: Se o PR quer mesmo ver os media a funcionarem como espaço de exercício da democracia, deve, antes, acabar com o financiamento via contratos- -programa assinados entre a RM/ TVM e o ministro que superintende a área das finanças (Ministério de Economia e Finanças, na actual arquitectura) e instituir a obrigatoriedade de o financiamento ser por via de inscrição/consignação no Orçamento de Estado, para a salvaguarda da sua independência do Governo (que até já está prevista na CRM); Réplica Política: Tanto a CRM de 2004, em vigor, como a de 1990, introduzem o direito da réplica política, mas a mesma ainda não está a ser exercida, por inaceitável omissão legislativa. Com essa lei, seria possível, por exemplo, que a oposição parlamentar tivesse acesso garantido/assegurado à TVM e RM para dar a sua versão dos factos de interesse público. Agora, até supostos programas de balanço anual do Governo não passam de um monólogo, sem contraditório; Regulação do Anúncio Público: Apesar de sermos formalmente uma democracia, a distribuição do anúncio público não conhece, em Moçambique, critérios democrá- ticos. Supõe-se que o jornal A é o de maior circulação, a televisão B é a mais vista, considera-se os jornais C e D “como nossos” e E e F “como contra nós” e assim a coisa vai sendo gerida. Uma auditoria independente e regular às tiragens e às audiências seria por demais relevante. Tantas outras situações poderiam ser convocadas, mas os jornais não são elásticos. A reforma profunda ao CSCS, o que é publicamente defendido por, de entre outros, Tomás Vieira Mário, que agora o preside, é uma urgência nacional. Os jornais devem, por exemplo, deixar de ser vistos como carga comum (mobí- lia, batata, tomate, etc.) nas Linhas Aéreas de Moçambique (LAM), em termos de preço e (não) priorização. As rádios comunitárias, por exemplo, e mediante critérios como raio de cobertura e outros, devem beneficiar de fundos públicos. Sem isso, não haverá falácia ecológica que seja democraticamente útil.
− Parecias muito convulsionado, ao telefone. Vim a correr. Mas vejo que estás sereno, afinal. − É… É a quietude que antecede as grandes tempestades. − O que é que se passa? − Estou a fim de esmigalhar os miolos. − Porquê? − Porque me apetece. Bom, mas essa não é a causa principal. O que é certo é que cheguei ao fim de uma encruzilhada e não vejo outra saída. − Em que é que posso ajudar? − Preciso que me ajudes a visualizar a vítima. − Afinal não se trata de um suicí- dio? − Que ideia! Porque é que eu havia de me matar? Estou no pico da vida, estou saudável, tenho uma estrutura familiar sólida, tenho um nível e qualidade de vida muito acima da média. De mais a mais, a minha boa estrela continua a brilhar, apesar das erupções de lava e cinza do chefe da minha divisão. − Ah, talvez possas ir por aí, então! Na verdade, esse homem está em guerra aberta contigo e não há-de descansar antes de te desmontar do cargo de director de finanças. − Esse não é o meu maior problema. A guerra que ele declarou é uma guerra total. Se depender dele, todos os departamentos importantes da divisão que ele che- fia ficarão entregues à direcção ou de sobrinhos, ou de afilhados, que tem muitos na lista de espera. A guerra dele é total e eu sei que, da nossa parte, todos nós e cada um acalenta, no fundo, o sonho de um dia, na primeira oportunidade, esganá-lo com as suas próprias mãos. Não lhes vou tirar esse prazer. Posso ocupar-me de outras coisas. − Bom, então vai até ao Xikhelene. Mete um tiro na cabeça de um daqueles vendedores ou vendedoras e dá gosto ao teu apetite. Por outro lado, procedendo dessa forma livras-te do calvário dos passeios nos corredores dos tribunais à espera do julgamento e da leitura da sentença, porque se meteres um tiro num daqueles vendedores, nem terás tempo de dizer um “ai”: vão-te pendurar um pneu regado de gasolina ao pescoço e queimam-te vivo. − Muito bem! Mas isso não seria um homicídio, seria um genocídio, porque sabes muito bem como toda a gente que por detrás de cada um daqueles vendedores há quatro ou cinco bocas por alimentar, quatro ou cinco corpos para vestir e calçar, quatro ou cinco mentes para moldar e preparar para o futuro, na vida. E, mais do que isso, há mil e um sonhos que é preciso acalentar, mil e um sonhos a que é preciso dar asas para, no futuro, poderem voar. − Bom, então desiste. Não vejo por onde é que podes ir. − Mas eu vejo. Agora vejo claramente. Tu sabes, e poucos mais além de ti sabem disso, que a Doroteia, para além de ser a minha secretária particular, é algo mais. Por isso mesmo, e movido não sei por que cargas de água, de há dois meses a esta parte começaste a mandar-lhe emails. Ela mostrou-mos. Começaste por simples insinuações luxuriosas, passaste para um assédio directo e um pouco boçal, desculpa o termo, e agora entraste no estilo das ameaças. Deste-lhe a conhecer que sabes que quem lhe montou a casa e sustenta os estudos da filha numa escola privada sou eu; e que para conseguir isso fiz mão baixa aos fundos a que tenho acesso; e que se se descobrir isso pode valer- -me um bom par de anos na cadeia. − Tudo bem. Mas podemos chegar a um acordo. − Não há acordo nenhum possível contigo, Nassiaca. Já foste longe demais. E se eu te deixar vivo, naturalmente que continuarás a exercer essa chantagem. Tu queres o sim dela a troco do teu silêncio. − Mas ouve: se tu me matares, vais certamente cumprir quinze ou vinte anos de cadeia. Os fundos envolvidos na tua mão baixa não são poucos e, como tu próprio dizes, trata-se de fundos de uma instituição do Estado. Nada te poderá valer. − Eu sei. E do mesmo modo que sei, prefiro incorrer no risco de te matar. Sabes muito bem que, como dizia Al Capone, “todo o homem tem o seu preço”. E essa verdade entre nós é mais válida ainda. Não me custará nada comprar a cumplicidade de um inspector da Polícia, que, aliás, é um extracto social muito vulnerável, e por essa via não me será nada difícil provar que te matei em legítima defesa. Providenciarei para que a Evangelina tenha uma pensão de viuvez confortável. Tens alguma coisa a dizer? − És um sacana!
De múltiplas maneiras, do estado técnico à condução irresponsável, “chapas”, “my loves” e muitos outros tipos de viaturas que circulam nas nossas estradas constituem um flagrante exemplo de uma situação causal permitida, de um ilícito culposo. Quando nos referimos ao ilícito culposo, regra geral procuramo-lo nos condutores em si, no excesso de velocidade, no consumo de álcool, na juventude irreverente, na Sinistralidade rodoviária e situação causal condução sem carta de condução, nas deficiências mecânicas, na falta de atenção e conhecimento dos peões, etc. Porém, esse tipo de imputação deixa na penumbra a situação causal e o papel do Estado a esse nível. Então, a questão central na sinistralidade rodoviária consiste menos nos condutores em si do que em quem tem por missão controlar regras, estradas (sector regra geral marginalizado nos debates e nas críticas), condutores e estado técnico das viaturas.
E m continuação do texto da passada semana, chegamos ao momento em que os Estados Unidos, e os seus aliados, ficaram na posição pouco clara de se declararem contra o terrorismo mas, ao mesmo tempo, apoiarem abertamente algumas facções terroristas e, indirectamente ou secretamente, outras. A questão era essas facções lutarem contra o governo, internacionalmente reconhecido, de Damasco, com o fim de o derrubar e fazer da Síria algo de semelhante aos actuais Iraque e Líbia. Para isso apoiaram abertamente aquilo a que chamaram movimentos “moderados”, embora sabendo que grande parte desse apoio chegava às mãos das facções islamitas radicais. Ainda hoje se sucedem os “enganos” em que a aviação aliada deixa cair, em zonas dominadas por extremistas, material de guerra que, em teoria, se destinava aos tais “moderados”. Como braços locais desta política aparecem a Arábia Saudita (e outras monarquias do Golfo) e a Turquia, ambos fiéis aliados dos Estados Unidos. Só que a Arábia Saudita, governada ela própria por uma facção radical islamista, não se ficou pelo apoio aos tais “moderados” e apoia semi-abertamente os grupos radicais, que se foram consolidando, ocupando território no Iraque e na Síria e acabaram por criar aquilo a que chamam, entre vários outros diferentes nomes, o Estado Islâmico (EI). A Turquia igualmente acabou apoiando o EI através da economia. Ancara compra o petróleo extraído na Síria e refinado no Iraque, nas zonas controladas pelo EI. Por seu lado, Israel parece estar a actuar também a favor do EI, embora de forma discreta. Por um lado há quem afirme que cedeu aos terroristas os Montes Golam, anteriormente capturados à Síria. Por outro lado há evidências de que recebe nos seus hospitais terroristas feridos em combate. E tudo isto ia correndo sem dar muito nas vistas até o EI ter começado a usar as suas atrocidades como forma de publicidade. São os primeiros filmes de prisioneiros a serem degolados em frente às câmaras, divulgados internacionalmente pelo EI, que chocam as opiniões públicas dos países ocidentais, incluindo os Estados Unidos, até porque os terroristas cometeram o erro táctico de degolarem publicamente cidadãos desses países. E isto colocou a aliança ocidental entre a espada e a parede: por um lado queriam continuar a armar os terroristas para eles derrubarem o Presidente Bashar al-Assade mas, por outro tinham a opinião pública dos seus países fortemente contra os terroristas. E isso traduziu-se numa política de “faz de conta” em que os Estados Unidos, e seus aliados, fingem combater o EI enquanto, na realidade, o continuam a abastecer e financiar. Simultaneamente, os Estados Unidos vão bloqueando nas Nações Unidas a entrada do EI para a lista das organizações terroristas, o que conduziria a sanções mais severas contra os assassinos. É a entrada da Rússia neste processo que vai quebrar a situação de impasse. A Rússia é um aliado do Governo de Damasco e entrou no conflito sem grandes subtilezas de classificação entre “radicais” e “moderados”. Para Moscovo o Governo de Assade é legítimo e todo aquele que, de armas na mão, o combate é um terrorista a abater.. E, nisso, tem o apoio da China. E a presença destas duas potências nucleares alterou completamente o estranho equilíbrio existente. Moscovo teve muito maior sucesso em um mês de intervenção contra o EI do que os Estados Unidos e os seus aliados em mais de um ano. E isto está a provocar o caos na organização terrorista e a debandada de muitos dos seus militantes. Em número preocupante para a Europa ocidental. O que abre a porta ao espalhar do terrorismo europeu a que estamos a assistir agora. No momento em que escrevo chega a notí- cia de que a Turquia abateu um caça russo. As consequências de um tal acto são inimagináveis.
A s primeiras mortes na escalada de alegadas e reiteradas violações russas do espaço aéreo da Turquia bastaram para lançar um balde de água fria sobre a grandiloquente retórica de coligações internacionais contra o terrorismo dos jihadistas do Califado Negro. As tácticas e a propaganda dos jihadistas do autoproclamado Califado ao lançarem ataques a alvos russos no Egipto e a cidades na Europa Ocidental propiciaram a oportunidade a países como França, Rússia ou Estados Unidos para relançarem uma pretensa guerra antiterrorista. Nos campos de batalha da Síria e Iraque, os combates contradizem ostensivamente a ideia de que estados da NATO, russos, curdos, monarquias sunitas e autocratas árabes, facções sunitas, druzas, cristãs e xiitas libanesas, a par do Irão, venham a convergir numa aliança contra um putativo inimigo comum. A ofensiva do Califado Os jihadistas do Califado, proclamado no Verão de 2014, ao mobilizarem sunitas iraquianos, anteriormente radicalizados na luta contra as milícias xiitas, curdos, norte-americanos e seus aliados, conseguiram rapidamente ganhar terreno. As ofensivas na Síria contra o regime de Al Assad e a minoria alauíta susceptível de entrar em confronto - bem como cristãos, turcomenos ou druzos -, com 70% de sunitas alentados por correntes islamistas e salafistas, saldaram-se por bruscos ganhos territoriais na Mesopotâmia. Desde Agosto de 2014, na sequência da conquista pelos jihadistas de Mosul, a capital do Norte do Iraque, os Estados Unidos viram-se obrigados a encetar ataques aéreos, alargando, em Setembro, com apoio de uma coligação política de 60 países, incluindo Portugal, os bombardeamentos a alvos do Califado na Sí- ria. A reorganização política no Iraque, promovida por Washington tentando agregar sunitas e curdos às esferas do poder central nas mãos de facções sunitas, fracassou entretanto, e o financiamento e o treino de grupos para combaterem jihadistas e o regime de Assad redundaram em fracasso. A desagregação A partir de Março deste ano as monarquias sunitas do Golfo mobilizaram-se para combater os avanços houthis no Iémen desguarnecendo a putativa frente árabe contra o Califado Negro na Síria, apesar de manterem o financiamento de grupos salafistas e outras facções jihadistas. Ainda em Julho de 2015 Ancara passa a apoiar os ataques dos Estados Unidos a partir da base de Incirlik num jogo duplo em que o aríete do Califado lhe convém para conter ambições independentistas curdas na Síria capazes de exaltarem compatriotas na Turquia e ampliarem a projecção de poder do Curdistão iraquiano e, eventualmente, destabilizarem a faixa nordeste iraniana. Moscovo, alarga, por sua vez, a partir do final de Setembro a intervenção militar com ataques aéreos a forças anti-Assad, sendo o Califado Negro objectivo militar secundário até o atentado contra um voo comercial russo no Egipto, a 31 de Outubro, obrigar a reforçar os bombardeamentos a posições jihadistas. Os bombardeamentos russos, coordenados com a intervenção de contingentes iranianos e do movimento xiita libanês Hizballah, evitaram a queda de Damasco, mas as frentes de batalha em Alepo ou Homs estão longe de estabilizar a favor da minoria alauíta que, em desespero de causa, resistirá na faixa costeira de Latakia onde se localiza a base russa de Tartus. A força e a potência O Califado Negro é, ainda, uma força decisiva na Síria e no Iraque. Raqqa, na Síria, e Mosul, no Iraque, estão sob controlo dos homens de Al Baghdadi, apesar das reconquistas curdas na faixa norte síria e em Sinjar, no noroeste iraquiano, cortando as linhas de abastecimento oeste-leste do Califado. A flagelação de redes de contrabando de petróleo do Califado ou sinais de debilidade em Raqqa, como a amnistia de desertores em vez da aplicação expedita de pena de morte, não obstam à constatação da actual relação de for- ças potencialmente favorável aos jihadistas. Sauditas, russos, franceses, norte-americanos, iranianos e muitos mais estão longe de chegarem a acordos mínimos para combaterem inimigos na Síria e no Iraque. Guerras intratáveis prosseguirão até ódios que as alimentam se esgotarem ou, mais provavelmente, outros confrontos e temores se imporem. *Jornalista
A literatura é um campo complexo mas ao mesmo tempo interessante. Talvez o interesse derive da própria complexidade. É que o ponto de equilíbrio está no desafio que nos proporciona como leitores ou mesmo como escritores. É um desafio independentemente do nível de desenvolvimento de um dado país; independentemente do nosso suposto estrato social, económico ou cultural. Em países como o nosso é enorme e quase insustentável o desafio de participar no mundo da produção literária com contos, romances, prosa, poesia, entre outros estilos. A produção oral é vasta e dinâmica. Não tem custos e não sofre com as consequências da inflação. Aliás, quando a in- flação nos enlouquece mergulhamos numa produção oral típica, que a acompanha, no “Crimes e Vivências” intuito de nos aliviarmos do choro que cria o crescente apertar de cintos. Entretanto, se estivermos a falar de produção de um livro de contos, prosa, etc., sentimos que o argumento dos altos custos de produção tem a sua razão de ser. Mas este argumento nunca vem solteiro. Casa-se com outros como, por exemplo, o de que em Moçambique os hábitos de leitura ainda são muito débeis. Gastar dinheiro para produzir um livro que não será consumido pelo mercado interno, olhando para a relação custo-benefício, é uma aventura. Mas, o homem vive de aventuras. Por isso, arrisca-se a ter nas suas prateleiras, à venda, autores moçambicanos e estrangeiros. O livro “Crimes e Vivências” resulta dessa equação em termos de produção física. É uma contribuição para o enriquecimento do mercado livresco e literário moçambicano. É composto por um conjunto de dezasseis contos/ estórias da autoria de L. Guevane, abordando temas como o amor, o ciúme, a ambição, o poder, a injustiça e a violência. Alguns títulos são, por exemplo, “A Gazela Assassina”, “Ciú- me mortal”, “A machamba do Ladrão”, “Meu Primo Simone”, “O Homem que procurava a Noite”, “Um caso Estranhíssimo”, etc. No mesmo livro uma passagem do prefácio diz o seguinte: “Em 16 contos, (…) o autor ilustra a inquietação e o fascínio pelas sensibilidades dos vários segmentos populares, a nível individual e colectivo”. É no fascínio por essas várias sensibilidades que o livro procura o equilíbrio entre a complexidade dos enredos e o interesse dos mesmos. Aqui só o leitor poderá refastelar- -se desse equilíbrio dependendo do grau de sua abstração. Por vezes se pergunta sobre a moral da estória. A escrita não tem que se preocupar em produzir a dita “moral da estória”. O leitor, ele pró- prio, encontrará no seu imaginário aquilo que mais o poderá interessar. O interesse imediato no final da leitura do conto pode não ser com essa preocupação desesperada em encontrar tal “moral”. Poderá descobrir isso muito mais tarde na vida. A verdade é que cada conto esconde a sua própria “moral” que deve ser capturada pelo leitor, aliás, esconde várias morais. A perspectiva da “moral” depende muito da moral que cada um construiu ao longo da sua vida em parcial ou forte comunhão com a sociedade onde se insere. Vale a pena apostar em “Crimes e Vivências” como opção de leitura. Apostar como algo que é preciso acarinhar e projectar pelo mundo fora. Acompanhar, sem preconceitos, o desenrolar das acções. Para ir ao encontro do complexo campo da literatura que mais não é do que interessante.
“ Isto começou assim”, escreve Céline, o execrável anti-semita, o colaboracionista, o blagueur, o enorme autor de Viagem ao Fim da Noite. Como é que se pode começar um romance com esta frase? Ele fê-lo e, em prosa nervosa, rabelaisiana, abissal, dá-nos um pontapé onde ele costuma ser dado e faz o leitor mergulhar no abismo. É vertigínico o Louis-Ferdinand, como diria o “santo” Raul Leal, mas nos antípodas do poeta que foi contemporâneo de Pessoa. A verdade é que é verdade. Isto começa sempre assim. Estamos numa esquina, alguém aparece, um amigo, - Olha, vamos para a guerra. - Ai é? - Claro! - Nice, então é isso. Se um tipo tiver algum sentido de humor ainda pode perguntar a que horas e em que dia que é para ver se dá tempo de ainda fazer umas compras. - E quem é que vai? Mas a pergunta não faz muito sentido. O mensageiro já se afastou. Então a malta ri-se. O melhor é emborcar mais um copo. A ideia estapafúrdia das compras é um subterfúgio, uma espécie de gesto falhado, uma suspensão psicológica logo alijada. - Eh, pá, só conheci um escritor que gostava da guerra! - Quem? - O Ernst Jünger. - É great, o gajo. - Tinha de ser alemão. - Prussiano. - E quem é que disse agora que vai para a guerra? . O Hollande. - O da vespa? - Yes. - É verdade, foi horrível o que fizeram em Paris. Uma sexta-feira à noite, a cidade luz, a festa, jovens. Chegam uns assassinos e começam a metralhar. Franceses ainda por cima. - Agora podem tirar-lhes a nacionalidade. - Mas aquilo foi um acto terrorista. A guerra é outra coisa. Não é que não haja actos abomináveis na guerra. Mas a guerra é o que está acontecer na Síria, no Iraque, no Iémene, o que os turcos estão a fazer aos curdos. - É verdade, os curdos. . Eh, pá, são os únicos que estão no terreno a combater os celerados do Daesh… São dos únicos povos sem Estado e ninguém pensa nisso. - Deixa lá. - Já leste a revista Dabiq? - Não. - Está on line. É do Daesh. Os gajos dizem que o Armagedão vai ser na cidade que tem o nome da revista. Quer dizer, deram à revista o nome da cidade. - Às vezes acontece… - Não tás a topar. Aquilo é apocalíptico. Foi em Dabiq que se registou a última batalha entre os mamelucos e os otomanos. - E então? - Os otomanos ganharam e criaram o Califado. Com a conquista de Dabiq ficaram no Oriente Médio até ao final da Primeira Guerra Mundial. Tudo por conta deles: o que é hoje a Síria, o Egipto, etc e tal. Segundo os gajos, o conflito final entre Cristianismo e Islão vai ser em Dabiq. - Estão doidos. Isso foi há quanto tempo? - No século XVI. - O Hollande sabe disso? - Não faço ideia. - Cá para mim a culpa disto tudo é do Bush. O filho. O filho do Bush. - E o Bin Laden, o Afeganistão, os mudjaedines apoiados pela CIA, os sóvias, já agora? - E a crise no Islão, o wahabismo, os sunitas e os xiitas… - Se for uma guerra é a última do ciclo do petróleo. - Não compliques! - Vai mais uma dose? - Contra a guerra! - Deixa lá a guerra. Se fosse só uma ainda um tipo se chateava. - É isso, tens razão. - A malta nunca mais acorda. - À nossa.
O Governador da Província de Nampula, Victor Borges, acompanhado pelo Director Provincial dos Transportes e Comunicação, Francisco Bonzo, e outros quadros do governo visitaram, nesta segunda-feira, o Corredor de Desenvolvimento do Norte (CDN), em Nampula, naquilo que constitui a primeira visita oficial à empresa. Borges e sua equipa percorreram demoradamente as áreas operacionais, onde receberam detalhadas explicações sobre o processo de conversão de vagões e a remodelação das carruagens antigas para a padronização em vigor que está a ser feito no CDN, as quais irão futuramente circular no serviço de passageiros na linha Cuamba- Lichinga. O número um da província de Nampula visitou igualmente a estacão ferroviária, onde observou a reabilitação que se fez em todo o recinto, a gare de passageiros e viu “in loco” as carruagens executivas e de segunda classe que foram adquiridas na reestruturação do serviço de passageiro feito no segundo semestre de 2013. Victor Borges teceu rasgados elogios ao nível de investimento feito, pelo conforto das recém- -adquiridas carruagens. Elogiou também o percurso de mudan- ça positiva que a empresa está a tomar e manifestou vontade de ver sanadas as dificuldades que a circulação do comboio de passageiros está a enfrentar devido às obras de reabilitação da linha no âmbito do projecto corredor de Nacala, que se esperam concretizar em Março do próximo ano de 2016. Mais locomotivas Recentemente, o CDN, actual concessionário do Porto de Nacala e do Sistema Ferroviário do Norte do País, aumentou a sua nha a nota. Paralelamente a esta aquisição, a empresa já começou a fazer comboios com vagões de ar comprimido, que actualmente está permitindo a realização de comboios O Banco Comercial e de Investimentos (BCI) premiou, no dia 19 do corrente mês, Marieta Ângelo Guambe, com o primeiro prémio do segundo sorteio da campanha “Vem para aqui”. A contemplada recebeu um carro zero quilómetros da marca Toyota Corolla pelo facto de ter domiciliado a pensão do seu falecido marido no BCI. “Quando recebi a notícia que tinha ganho o prémio agradeci a Deus. Foi uma oportunidade única”, disse em língua materna, Changuana, Marieta. Por seu turno, Luís Aguiar, administrador do BCI, não escondeu a sua satisfação: “primeiro porque a campanha que apoiou este sorteio tem decorrido com grande êxito, segundo por estarmos agora aqui a materializar a oferta com a entrega deste automóvel.” A campanha “Vem para aqui”, que teve início em Abril último, irá decorrer até 31 de Dezembro, com o objectivo central de captar novos Clientes Particulares e a Fideliza- ção dos actuais. São elegíveis aos sorteios os novos e actuais Clientes que subscrevam uma solução de poupança, de financiamento ou que domiciliem o seu salário no BCI. BCI caça mais clientes frota de material circulante com a aquisição de mais três locomotivas, para suportar o transporte de carga no corredor, trazendo ganho de capacidade e tracionamento de carga geral. Uma nota da empresa indica que locomotivas são modernas, modelo GE C30-ACI, com uma capacidade de 3000 HP, ou seja, cada uma tem a capacidade de transportar 42 vagões de carga geral duma só vez. “Estas locomotivas fazem parte do último lote de um total de 12 locomotivas, que a empresa adquiriu no presente que vão reforçar o parque de material circulante e melhorar a performance operacional da empresa. E, com este investimento, eleva-se para vinte e dois o número de comboios de linha no CDN”, sublimais longos em termos de composição de vagões e melhoria da eficácia dos freios.
P elo menos 100 novos autocarros de um lote de 200 já se encontram em Maputo, uma aquisição no âmbito da parceria público-privada que visa mitigar a crise de transportes na área metropolitana de Maputo. Ao que apurámos, os referidos autocarros, de marca Yutong, já se encontram no Porto de Maputo. Os restantes cem chegarão ao País nos meses de Dezembro e Fevereiro próximos. Os autocarros foram adquiridos numa parceria público-privada, entre o Ministério dos Transportes e Comunicações, por via do Fundo de Desenvolvimento dos Transportes e Comunicações, e a Sir Motors, empresa de importa- ção, comercialização e assistência técnica de viaturas. Segundo o Secretário Permanente do Ministério dos Transportes e Comunicações, Pedro Augusto Inglês, a alocação e circulação destes autocarros serão conjugadas com o transporte ferroviário HÀXYLDOQDVFLGDGHVGH0DSXWRH Matola, no âmbito do sistema de transporte intermodal. “A aquisição destes autocarros vai ajudar a minimizar o problema de transporte. Com a entrada em circulação destes meios, a oferta e a frequência serão maioNovos autocarros chegam ao país res, para além de que os cidadãos vão passar a viajar em melhores condições de segurança e comodidade”, disse Pedro Augusto Inglês. Por seu turno, Amad Camal, Director-Geral da Sir Motors, fez saber que, ainda no âmbito desta parceria público--privada, “foi formado um consórcio com a empresa Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM), visando a aquisição de 126 carruagens, das quais 30 são unidades de metro de superfície”. O reforço da capacidade do transporte ferroviário de passageiros, em mais meios, corresponde à aposta do Governo no quadro da implementação da intermodalidade. Em Outubro último, foram postas em circulação 15 carruagens para o sistema ferroviário sul e 14 para o sistema ferroviá- rio centro, correspondente ao primeiro lote de 70 veículos ferroviários, dos quais 62 carruagens, oito furgões, a serem afectos ao sistema ferroviário centro e sul. Num outro desenvolvimento, Amad Camal referiu que os autocarros serão vendidos à A s três operadoras de telefonia móvel, a mcel, a vodacom e a movitel, convidaram a imprensa, esta segunda-feira, para anunciar que, a partir deste sábado, irão bloquear os cartões SIM que, até lá, não estiverem completamente registados. As três operadoras dizem que nada podem fazer, pois, a decisão há muito foi tomada pelo governo, cabendo às operadoras o cumprimento integral da mesma. O representante do governo, presente na sessão do anúncio do bloqueio a partir deste sábado, disse igualmente que aos subscritores foi dado bastante tempo, daí que é obrigação de cada utilizador e das respectivas operadoras assegurarem o pleno registo dos cartões SIM. Entretanto, tanto o governo assim como as operadoras estão conscientes das dificuldades que ainda serão enfrentadas para assegurar o pleno registo dos utilizadores. É que os números oficiais apontam para um registo de cerca de 67 por cento do total dos 19 milhões de subscritores (uma pessoa pode estar a usar três ou mais cartões) e, em termos reais, não é possível assegurar o registo dos restantes 33 por cento de utilizadores em apenas três dias (até sábado). Se calhar foi nesta lógica que as três operadoras, estrategicamente, colocaram algumas reticências linguísticas em relação à capacidade e possibilidade de, a partir do dia 28, se decidir efectivamente pelo bloqueio imediato dos cartões. Assim, a linguagem usada pelas operadoras é o corte “progressivo” dos subscritores não registados, o que signi- fica que “até data indeterminada”, as operadoras podem justificar-se com base na progressividade dos bloqueios. “Os clientes já activos e não registados serão progressivamente bloqueados até que registem os seus cartões SIM”, refere a comunicação conjunta das três operadoras. Enquanto isso, a comunicação conjunta refere que os novos cartões só poderão ser activados depois de se confirmar o registo completo, o que significa que os novos clientes terão necessariamente a obrigação de deslocar-se fisicamente aos postos de registo. Entretanto, brevemente, os revendedores de rua estarão capacitados a efectuar o registo de números de clientes pré-pagos através de uma aplicação de registo de números, que estará disponível num smartphone. O registo obrigatório de cartões SIM vem desde 2010, medida imposta pelo governo logo após as violentas manifestações populares contra o aumento do custo de vida. Com vista a tornar possível a implementação desta medida governamental, as três operadoras decidiram reunir esforços, com vista a garantir a implementação de um modelo único e homogéneo de processo de registo dos seus clientes. Os clientes deverão proceder ao registo nas lojas das operadoras ou revendedores autorizados e deverão preencher o formulário de registo, fazendo-se acompanhar por um dos documentos exigidos pela lei, nomeadamente: Bilhete de Identidade; Passaporte/DIRE; Carta de Condução; Cartão de Combatente; Cartão de Recenseamento Militar; Cartão de Desmobilizado; Cartão de Eleitor ou Cartão de Identifica- ção de Refugiado. (Redacção) As três operadoras uniram-se e anunciaram contundência E agora? - Além do bloqueio dos subscritores activos, as operadoras anunciaram que só poderão activar os novos cartões SIM depois de se completar todo o registo Federação Moçambicana dos Transportadores Rodoviários (FEMATRO), que deverá explorar o sistema de transporte nas cidades de Maputo, Matola e nos distritos de Boane, Marracuene e Manhiça. Importa referir que estes meios circulantes irão incrementar, de forma considerável, a oferta e qualidade dos serviços de transporte de passageiros, disponibilizados actualmente na área metropolitana de Maputo. Para além do reforço ao sector público e privado, que vai ocorrer com a alocação destes autocarros e outras cerca de 90, adquiridas durante o presente ano e alocadas aos operadores públicos de todas as capitais provinciais, várias outras medidas estão em implementação, nomeadamente a compensação aos transportadores semi-colectivos de passageiros, a partir do montante adicional do custo do gasóleo, o estabelecimento de faixas exclusivas para o transporte público urbano, devendo arrancar em breve um corredor piloto, na N1, entre várias outras medidas.
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