Rafael Marques de Morais, 18 de Novembro de 2015
Nos últimos dias, as autoridades têm promovido manifestações públicas a favor dos órgãos judiciais, através de grupos autodenominados “Justiça sem pressão”. Demonstram, assim, a total incapacidade dos tribunais de administrar a justiça de acordo com a lei. Nessa hora de grande exposição social, os órgãos judiciais entregam-se à mais crua das manipulações pelo poder político, tornando-se numa extensão do Comité de Especialidade da Justiça do MPLA.
Volta e meia, os tribunais condenam jovens que são torturados pela polícia, detidos arbitrariamente apenas por tentarem exercer o seu direito de manifestação. Os torturadores são aplaudidos pelas omissões da Procuradoria-Geral da República, que só tem ouvidos para as queixas do MPLA e seus dirigentes.
Em Setembro passado, esgotado de argumentos legais para proibir as manifestações que as mães dos presos políticos tentavam organizar, desde Agosto, o governador de Luanda, Graciano Domingos, justificou a sua terceira proibição nos seguintes termos: “Compete-nos comunicar que, estando o processo a correr os seus trâmites legais, devemos com serenidade aguardar a tramitação processual até que seja proferida decisão sobre o mérito da causa e em consequência ser assegurado o direito de defesa dos arguidos constitucionalmente consagrado.”
Segundo Graciano Domingos, “nesta conformidade não nos parece democrático que os órgãos judiciais sejam coagidos em sentido diverso do que legalmente está estabelecido”.
Então, uma manifestação pública só é democrática se for a favor do MPLA e do poder judicial que este controla? Não há democracias totalitárias, como diria o José Eduardo Agualusa. Um regime político ou é democrático, ou é totalitário. É esta evidência que os dirigentes do MPLA insistem em contradizer, com a perfídia dos seus actos. A democracia serve apenas de capa para encobrir os seus podres e legitimar o cinismo dos seus dirigentes.
A incoerência do regime do MPLA só pode mesmo ser disfarçada pela violência das suas acções e pela arrogância do seu poder, que a todo o custo procura manter um carácter totalitário.
Todavia, no seio da sociedade, maioritariamente pouco instruída, atemorizada ou excluída pelos 40 anos de arbítrio do MPLA, prevalece a ideia de que o bem triunfará sem recurso à violência e à maldade, os desideratos da política do MPLA.
Por exemplo, a jovem Sara Lopes enviou ao Maka Angola um pequeno texto sobre o amor, o amor que emana de uma cidadania engajada. É a sua resposta a tanta violência política e psicológica. Mais importante ainda é o facto de ter perdido o medo e de ter decidido manifestar publicamente a sua solidariedade para com os presos políticos, insistindo na mensagem do amor.
“Esse amor está na forma de luta por um futuro melhor, na forma de luta pela igualdade e justiça. É quando alguém luta sozinho por aquilo que é de todos, contra um inimigo atemorizante, na esperança de que a sua luta ir ganhará companheiros, porque sabe que a união faz a força”, escreve a Sara Lopes.
Para a jovem, o que falta aos dirigentes angolanos é o sentimento de amor “pelo seu povo, amor pela sua terra, amor pela sua nação”.
“O verdadeiro amor cuida, não explora, não maltrata, não prende inocentes, não atira activistas aos jacarés, não comete massacres. O verdadeiro amor escuta, não oprime, não manda silenciar, não faz desaparecer aquele que fala”, continua a jovem.
“O verdadeiro amor não se acomoda com o sofrimento, não se cala perante as injustiças, não mente fingindo que está tudo bem, não se esconde por detrás de artimanhas”, denuncia.
O texto de Sara Lopes inspira o Maka Angola para lançar um desafio a todos quantos queiram dar a cara e enviar uma mensagem de solidariedade, quer para o poder do MPLA, quer para os 17 jovens que estão a ser actualmente julgados. Será mais uma manifestação pela igualdade de direitos, pelo amor ao próximo, até ao próprio MPLA, que se autodenomina “o partido do coração”.
No coração do MPLA não há lugar para os críticos, a quem se veta o direito de manifestação com recurso à violência. A resposta óbvia, conforme os bravos 17 ora em julgamento procuraram demonstrar aumentando os seus conhecimentos, é a não-violência.
Aqui se estende a manifestação de solidariedade para os dois lados da contenda, o poder e os activistas.
As mensagens devem ser encaminhadas para info@makaangola.org.
Por razões de espaço e claridade, as mensagens não deverão conter mais de 50 palavras e poderão ser editadas pelo Maka Angola.
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