OPINIÃO
António Costa veio fazer justiça à minoria negra portuguesa.
Será o princípio da Primavera do afro-português, ou seja, o raiar da aurora da integração da comunidade luso-negra na sociedade de todos nós? Muito se tem falado sobre a integração dos negros portugueses, mas, nada tem sido feito até ao momento, a não ser a enfadonha proliferação dos discursos temáticos sobre o assunto, embora sem a substância prática no terreno.
Ora, nem sempre o aparecimento de uma andorinha configura o prenúncio da Primavera. Contudo, pode suscitar a expectativa de que os dias risonhos estarão para breve. Mas, a ver vamos. A nomeação de uma negra pela primeira vez para exercer um alto cargo no país que se orgulha de ser de brandos costumes e de primeiro a levar a civilização e a cruz de Cristo às terras africanas e, por outro lado, o último a abandoná-las por força das circunstâncias de luta pelas respectivas independências.
António Costa, ao contrário dos outros líderes políticos, eivados de preconceitos raciais, veio fazer justiça à minoria negra portuguesa, libertando-a do ostracismo a que tem sido votada. As figuras políticas deste país ainda não compreenderam que a posição de destaque dos negros luso-africanos constituem uma charneira no aprofundamento do relacionamento entre ambos os povos de aquém e além mar.
Portugal deveria ter seguido há muito mais tempo o exemplo dos ingleses e franceses na integração dos negros nacionais oriundos das suas ex-colónias em lugares de visibilidade pública. Por isso, há que louvar a coragem de António Costa, ao romper com a tradição segregadora, permitindo que um membro da comunidade negra fizesse parte do elenco governativo.
Portugal não pode continuar a fazer de conta que a integração está feita e nada mais há para fazer, ludibriando os incautos de que é o melhor país da integração no contexto europeu. A integração não pode ser confundida com a tolerância de encolher os ombros, sinal de deixa estar. É mais do que isso. Significa a participação na partilha comum e nas decisões sobre todos os assuntos de interesse colectivo. Neste caso, quem é parte integrante da sociedade não deveria ser excluído pela mera diferença da côr da sua pele.
Os cidadãos têm todos os mesmos direitos e deveres perante o seu país e deveriam ser avaliados pelas suas competências e dedicação à causa comum. Mas uma sociedade em que se manifestam preconceitos raciais faz, exactamente, o contrário, revelando a sua incapacidade de conhecer a verdadeira essência da natureza humana na sua múltipla diversidade. Um racista é um ignorante pobre de espírito.
Dirigente da Associação Guineense de Solidariedade Social
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