No dia 1 de novembro de 1995, teve início o encontro de três líderes da antiga Iugoslávia na base aérea de Wright-Patterson, estado do Ohio, EUA. O caminho negocial foi longo e difícil. Nesses dias, eu estava trabalhando em Sarajevo e em Mostar e acompanhei atentamente esses acontecimentos.
 Os quatro anos de guerra na Croácia e na Bósnia e Herzegovina se aproximavam de um final pacífico. O presidente dos EUA Bill Clinton conseguiu sentar à mesa das negociações os líderes da altura, Franjo Tudjman, Alija Izetbegovic e Slobodan Milosevic. Anteriormente, os EUA haviam ajudado bastante os croatas e os bósnios na criação da Federação Muçulmano-Croata. Claro que era difícil esquecer os mútuos ressentimentos de quando os croatas e os muçulmanos se digladiavam com uma fúria inimaginável. Isso ficou bem patente em Mostar. Nesse ano, eu visitei frequentemente essa cidade e era evidente que as relações estavam longe de serem as ideais. Mas o mais importante era que os "canhões se tinham calado" e que se estava a entrar num clima de paz. Isso mantinha a esperança.
 Slobodan Milosevic tentou encontrar em Dayton um compromisso com os antigos adversários Tudjman e Izetbegovic. Este último surgia então surgia constantemente em público como mártir e de sofredor. O líder muçulmano conseguiu convencer todo o mundo que o seu povo tinha sido o que mais tinha sofrido nessa guerra.
 O Ocidente acreditou em Izetbegovic e nos seus propagandistas, que tiveram sempre a ajuda de Bill Clinton e de Richard Holbrooke. Washington estava convicto, nesses dias de novembro, que em Dayton seria encontrada uma linguagem comum. Talvez não fosse direta, talvez fosse através de mediadores, mas seria comum.
 Ao abrir o encontro de 1 de novembro de 1995 entre os três líderes da antiga Iugoslávia, o secretário de Estado dos EUA Warren Christopher expressou a sua esperança que, na base aérea de Wright-Patterson, iria ser tentado um compromisso. Claro que a República Socialista Federativa da Iugoslávia jamais iria renascer tal como era anteriormente. Em quatro anos de guerra, no mapa da Europa surgiram novos países: a Eslovênia, a Croácia, a Bósnia e Herzegovina, a República Socialista da Iugoslávia e a Macedônia. Cada um já vivia segundo as suas próprias leis e cada um já tinha o seu presidente. Cada um tinha também perdido muito nesta guerra. Sem uma recuperação e uma renovação econômica a paz na região seria tão frágil que a qualquer momento tudo se poderia repetir.
 Isso era o que a Europa mais temia. A União Europeia propôs o seu "Plano Marshall 2". Em primeiro lugar ele teria como alvo a Bósnia e Herzegovina para evitar que esse Estado multinacional se desmoronasse devido a novos conflitos. O reconhecimento mútuo, o respeito pelo sistema de governação da Bósnia e Herzegovina, pelos princípios democráticos, assim como o respeito pelos direitos humanos e pelos direitos das minorias deveriam ser a garantia que iria desbloquear os créditos a fundo perdido. O incumprimento dessas condições poderia provocar um refluxo de capitais e um boicote financeiro.
 Que mais exigia a comunidade europeia dos políticos da região? Para a Croácia havia a condição de deixar regressar a população sérvia aos territórios que pouco antes estavam sob proteção da ONU, nomeadamente a antiga República Sérvia de Krajina. Os sérvios deveriam ter garantidos os seus direitos civis e políticos, assim como a sua integridade patrimonial. Em Dayton sabiam que em agosto de 1995 Zagreb efetuou, com a aprovação silenciosa de Washington, uma deslocação maciça dos sérvios e uma limpeza étnica da população. Quanto à República Socialista da Iugoslávia (da Sérvia e do Montenegro), a Europa insistiu de forma intransigente na resolução do problema dos albaneses do Kosovo.
 Ou seja, já sabemos em que consistia a política do pau. Quanto à cenoura, as coisas eram muito mais complicadas. Biliões de dólares eram injetados nessa região à custa dos simples cidadãos alemães, franceses, ingleses ou dos países produtores de petróleo do Oriente Médio. Mas mesmo esses 20 biliões de dólares eram manifestamente insuficientes. Assim, havia grandes esperanças em capitais provenientes do Japão e dos EUA. Claro que ninguém dá dinheiro a troco de nada, mas os Bálcãs são um mercado muito bom em perspectiva. Ou seja, apesar de a paz ainda não ter lá chegado, no futuro eles podem proporcionar bons dividendos.
 Os economistas locais avaliaram os prejuízos da guerra na Bósnia em 30 biliões de dólares. Numa primeira fase, o país aguardava ajuda no valor de 10 biliões. Esses fundos deveriam ser distribuídos entre todos os participantes do conflito: os croatas, os muçulmanos e os sérvios. Também existia a questão da dívida do governo de Sarajevo, que ascendia em novembro de 1995 a dois biliões e meio de dólares. A Bósnia não contabilizava só os prejuízos da guerra, ela também contava receber créditos vantajosos a longo prazo e a juro zero para a reconstrução do país. Depois de reestabelecida a paz a região deveria se ter transformado em um Eldorado da construção. Era aguardado um "boom" na reconstrução de fábricas, de indústrias, de uma quantidade enorme de habitações, já não falando dos edifícios públicos.
 Nesses dias, só a Rússia perdoou a dívida pelos seus fornecimentos de gás a Sarajevo. Já os credores e investidores ocidentais não se encontravam preparados para realizar esse tipo de cedências.
  
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