Edgar Kamikaze Barroso
Ontem eu comecei uma série de posts onde prometi que publicaria, e sempre que pudesse, os meus pensamentos em voz alta sobre o nosso pulsar político. Sempre com um cunho estritamente juvenil e numa abordagem informal, sem muitos artifícios retóricos e métodos científicos tradicionais, para não fartar a leitura e nem dificultar a interpretação de quem me lesse. Comecei por abordar uma questão dever...as pertinente: a razão de muitos cidadãos se assumirem (ou de não se assumirem) publicamente como membros do partido Frelimo. Deixei propositadamente enunciados ambíguos para despertar apetites para debate e, pelo feedback do pessoal aqui no Facebook, senti que não havia chegado lá onde pretendia... Paciência. Mais ainda, recebi no inbox conselhos para não escrever “jornais” que dessem, logo à partida, preguiça de ler o post até ao fim, heheheheheheh... Vamos ver até onde chegaremos hoje, com este textinho:
O QUE FAZ COM QUE ALGUNS MEMBROS E SIMPATIZANTES DO PARTIDO FRELIMO O DEFENDAM À GARRAS E DENTES, MESMO EM SITUAÇÕES EM QUE O SEU DESEMPENHO DEIXA MUITO A DESEJAR?
Seria interessante começar, desde já, “definir” quem é o tal membro ou simpatizante da Frelimo. Regra geral, e segundo o meu entendimento, membro é o que está registado na base de dados do partido, com cartão e quotas em dia ou não, podendo ser militante activo ou não. Simpatizante é o que, por razões objectivas, subjectivas ou “esquisitas” declara aos quatro ventos apoio incondicional ao partido, sem que necessariamente esteja a ele filiado. Embora todos eles comunguem a dado momento de um e de outro “factor de adesão” ao partido, são estes últimos os que mais me impressionam, particularmente pela “ligação emocional” que têm com a “ideia da Frelimo”. Muitas vezes nem eles mesmos sabem porquê é que são da Frelimo... Alguns argumentam que o são por RAZÕES ALEGADAMENTE PATRIOTAS (a Frelimo descolonizou o país, a Frelimo nos defendeu dos “bandidos armados”), por RAZÕES SOCIALIZANTES (eu cresci a cantar e a “amar” a Frelimo desde a creche, na escola primária e até na Escola do Partido, eu sempre pertenci aos Continuadores, a OJM e uma e outra estrutura partidária), por RAZÕES PATRIMONIALISTAS (a Frelimo me colocou a estudar e pagou a minha bolsa de estudos, a Frelimo me deu um emprego, a Frelimo me deu uma flat num prédio da cidade, a Frelimo protege os meus negócios, a Frelimo paga a minha pensão e reforma), por RAZÕES REGIONALISTAS (os “bosses” da Frelimo são todos da minha etnia, na minha terra todos sempre votaram na Frelimo), por RAZÕES SUBJECTIVAS (os meus familiares são da Frelimo) ou por RAZÕES ABSTRACTAS (a Frelimo vai trazer o futuro melhor, a Frelimo é que fez e a Frelimo é que faz, a Frelimo vai mudar a minha vida, a Frelimo vai fazer com que eu deixe de ser pobre).
Como se pode depreender, todos eles (membros ou simpatizantes) têm uma e outra razão que aparentemente explica a sua filiação ou afeição incondicional ou arquitectada ao partido Frelimo. Alguns com argumentos plausíveis e outros com motivos de vidro. Muitos deles nem sequer conhecem os estatutos internos ou a linha ideológica do partido.Tenho, no meu círculo de amigos (tanto fora como dentro daqui do Facebook), exemplares concretos deles todos. Tenho, de vez em quando, participado em debates “incendiários” com alguns deles. Uns já me ameaçaram mesmo de porrada, de perseguição ou de “silenciamento eterno”, heheheheheheh... Mas esse é outro debate. O que me interessa para já, e sem mais delongas, é o que faz com que a maior parte deles defenda este partido até mesmo em situações ridículas, estúpidas, inaceitáveis e/ou inexplicáveis. Aqui vão as minhas respostas:
1. Muitos o fazem por CONVENIÊNCIAS PESSOAIS/COLECTIVAS: o importante é continuar a mostrar publicamente a minha militância incondicional ao partido, concordando ou não com o seu “modus operandis”. Regra geral, aparecem sempre a apoiar (na verdade aparecem mesmo é a secundar ou a ressoar) o manifesto eleitoral e os chavões circunstanciais do partido, bem como as políticas públicas que orientam a sua governação, sem emitirem um pio sequer contra. Nos casos em que o partido ou o seu governo entornam bacias de água numa e noutra chávena da sensatez política e administrativa nacional, ficam todos como os filmes mais famosos do Charlie Chaplin, mudos da silva. O importante é não sai mal na fotografia, no álbum de militância incondicional dos grandes chefes dentro do partido. Só assim conservam os cargos de confiança política, mantêm-se na “corrida ao poder” ou se destacam como os próximos “paus-mandados” num e noutro sector público ou privado, associado ao regime. Resumindo, falam apenas para “aleluiar” as realizações dos graúdos e encerram os focinhos quando a situação está preta.
2. Alguns o fazem por ASPIRAÇÕES POLÍTICAS FUTURAS: quase todos sabem que só através de provas inequívocas de militância, lealdade e fidelidade política é que poderão ser vistos e “promovidos” na estrutura partidária. Aparecer a queimar a lucidez própria, se necessário e em nome supremo do partido ou do “grande chefe”, parece ser a fórmula infalível de sucesso. Autonomia, carácter e integridade são apenas um conjunto de palavras no dicionário do seu comprometimento partidário. Uma vez que alguns já começaram a antever os ditames da “selecção natural” no sistema interno de transição e/ou herança de poder, é lhes sempre conveniente aparecer como os mais destacados na continuidade e que jamais colocarão em causa o legado (as “conquistas” e os podres) dos actuais detentores das rédeas do poder. Por essas e outras, a receita para estes é sempre o de (a)parecerem sempre como os mais notáveis, briosos, competentes e confiáveis para continuar com o status quo. Procuram sempre protagonismo nas cerimónias partidárias, nos meios de comunicação social e no “terreno”, insinuando cometimento incólume para com a causa partidária. Astutos e maquiavélicos, sempre tentam arrastar em torno de si “massas não-pensantes” que, invariavelmente, estão sempre à espera de qualquer coisa vinda deles para instantaneamente os corroborarem e legitimarem, dando a entender “aos outros” que gozam merecidamente de carisma e credibilidade junto às estruturas que dirigem.
3. Os “herdeiros” do sistema e os “ideólogos-júniores” o fazem por DESESPERO HISTÓRICO: alguns deles (particularmente os mais jovens) estão já conscientes da ascenção vertiginosa de uma opinião pública esclarecida, com cultura reivindicativa robusta e com legitimação natural junto às massas populares que nada tem a dever ao partido onde militam. Este facto tem-lhes constituído uma ameaça directa e séria como sujeitos da história contemporânea nacional. Uma vez que sempre tiveram os cordões umbelicais atrelados à máquina todo-poderosa do partido, sentem a areia a fugir-se-lhes dos pés perante a crescente aderência das massas (particularmente as juvenis) ao convite à ruptura com um sistema que não os representa nem oferece respostas eficazes aos seus prementes interesses e necessidades. Por conseguinte, e para que não acabem órfãos do futuro derivado da sua militância do lado errado da história, não vêem alternativas viáveis a não ser a de se refugiarem nas asas do poder político vigente. A ilusão de “protecção” por parte do regime aguça os seus apetites de manutenção dessa condição e a sua predisposição para atacar tudo e todos que provêm de fora da estrutura partidária, encorporada nos NOVOS COMBATENTES.
Mas a história é cíclica...
Juma Aíuba, Brazao Catopola, Chacate Thinker, Américo Matavele, Conselho Nacional Juventude Cnj, Rui Lamarques, Livre Pensador, Fatima Mimbire, Sergio ChauqueSee More
O QUE FAZ COM QUE ALGUNS MEMBROS E SIMPATIZANTES DO PARTIDO FRELIMO O DEFENDAM À GARRAS E DENTES, MESMO EM SITUAÇÕES EM QUE O SEU DESEMPENHO DEIXA MUITO A DESEJAR?
Seria interessante começar, desde já, “definir” quem é o tal membro ou simpatizante da Frelimo. Regra geral, e segundo o meu entendimento, membro é o que está registado na base de dados do partido, com cartão e quotas em dia ou não, podendo ser militante activo ou não. Simpatizante é o que, por razões objectivas, subjectivas ou “esquisitas” declara aos quatro ventos apoio incondicional ao partido, sem que necessariamente esteja a ele filiado. Embora todos eles comunguem a dado momento de um e de outro “factor de adesão” ao partido, são estes últimos os que mais me impressionam, particularmente pela “ligação emocional” que têm com a “ideia da Frelimo”. Muitas vezes nem eles mesmos sabem porquê é que são da Frelimo... Alguns argumentam que o são por RAZÕES ALEGADAMENTE PATRIOTAS (a Frelimo descolonizou o país, a Frelimo nos defendeu dos “bandidos armados”), por RAZÕES SOCIALIZANTES (eu cresci a cantar e a “amar” a Frelimo desde a creche, na escola primária e até na Escola do Partido, eu sempre pertenci aos Continuadores, a OJM e uma e outra estrutura partidária), por RAZÕES PATRIMONIALISTAS (a Frelimo me colocou a estudar e pagou a minha bolsa de estudos, a Frelimo me deu um emprego, a Frelimo me deu uma flat num prédio da cidade, a Frelimo protege os meus negócios, a Frelimo paga a minha pensão e reforma), por RAZÕES REGIONALISTAS (os “bosses” da Frelimo são todos da minha etnia, na minha terra todos sempre votaram na Frelimo), por RAZÕES SUBJECTIVAS (os meus familiares são da Frelimo) ou por RAZÕES ABSTRACTAS (a Frelimo vai trazer o futuro melhor, a Frelimo é que fez e a Frelimo é que faz, a Frelimo vai mudar a minha vida, a Frelimo vai fazer com que eu deixe de ser pobre).
Como se pode depreender, todos eles (membros ou simpatizantes) têm uma e outra razão que aparentemente explica a sua filiação ou afeição incondicional ou arquitectada ao partido Frelimo. Alguns com argumentos plausíveis e outros com motivos de vidro. Muitos deles nem sequer conhecem os estatutos internos ou a linha ideológica do partido.Tenho, no meu círculo de amigos (tanto fora como dentro daqui do Facebook), exemplares concretos deles todos. Tenho, de vez em quando, participado em debates “incendiários” com alguns deles. Uns já me ameaçaram mesmo de porrada, de perseguição ou de “silenciamento eterno”, heheheheheheh... Mas esse é outro debate. O que me interessa para já, e sem mais delongas, é o que faz com que a maior parte deles defenda este partido até mesmo em situações ridículas, estúpidas, inaceitáveis e/ou inexplicáveis. Aqui vão as minhas respostas:
1. Muitos o fazem por CONVENIÊNCIAS PESSOAIS/COLECTIVAS: o importante é continuar a mostrar publicamente a minha militância incondicional ao partido, concordando ou não com o seu “modus operandis”. Regra geral, aparecem sempre a apoiar (na verdade aparecem mesmo é a secundar ou a ressoar) o manifesto eleitoral e os chavões circunstanciais do partido, bem como as políticas públicas que orientam a sua governação, sem emitirem um pio sequer contra. Nos casos em que o partido ou o seu governo entornam bacias de água numa e noutra chávena da sensatez política e administrativa nacional, ficam todos como os filmes mais famosos do Charlie Chaplin, mudos da silva. O importante é não sai mal na fotografia, no álbum de militância incondicional dos grandes chefes dentro do partido. Só assim conservam os cargos de confiança política, mantêm-se na “corrida ao poder” ou se destacam como os próximos “paus-mandados” num e noutro sector público ou privado, associado ao regime. Resumindo, falam apenas para “aleluiar” as realizações dos graúdos e encerram os focinhos quando a situação está preta.
2. Alguns o fazem por ASPIRAÇÕES POLÍTICAS FUTURAS: quase todos sabem que só através de provas inequívocas de militância, lealdade e fidelidade política é que poderão ser vistos e “promovidos” na estrutura partidária. Aparecer a queimar a lucidez própria, se necessário e em nome supremo do partido ou do “grande chefe”, parece ser a fórmula infalível de sucesso. Autonomia, carácter e integridade são apenas um conjunto de palavras no dicionário do seu comprometimento partidário. Uma vez que alguns já começaram a antever os ditames da “selecção natural” no sistema interno de transição e/ou herança de poder, é lhes sempre conveniente aparecer como os mais destacados na continuidade e que jamais colocarão em causa o legado (as “conquistas” e os podres) dos actuais detentores das rédeas do poder. Por essas e outras, a receita para estes é sempre o de (a)parecerem sempre como os mais notáveis, briosos, competentes e confiáveis para continuar com o status quo. Procuram sempre protagonismo nas cerimónias partidárias, nos meios de comunicação social e no “terreno”, insinuando cometimento incólume para com a causa partidária. Astutos e maquiavélicos, sempre tentam arrastar em torno de si “massas não-pensantes” que, invariavelmente, estão sempre à espera de qualquer coisa vinda deles para instantaneamente os corroborarem e legitimarem, dando a entender “aos outros” que gozam merecidamente de carisma e credibilidade junto às estruturas que dirigem.
3. Os “herdeiros” do sistema e os “ideólogos-júniores” o fazem por DESESPERO HISTÓRICO: alguns deles (particularmente os mais jovens) estão já conscientes da ascenção vertiginosa de uma opinião pública esclarecida, com cultura reivindicativa robusta e com legitimação natural junto às massas populares que nada tem a dever ao partido onde militam. Este facto tem-lhes constituído uma ameaça directa e séria como sujeitos da história contemporânea nacional. Uma vez que sempre tiveram os cordões umbelicais atrelados à máquina todo-poderosa do partido, sentem a areia a fugir-se-lhes dos pés perante a crescente aderência das massas (particularmente as juvenis) ao convite à ruptura com um sistema que não os representa nem oferece respostas eficazes aos seus prementes interesses e necessidades. Por conseguinte, e para que não acabem órfãos do futuro derivado da sua militância do lado errado da história, não vêem alternativas viáveis a não ser a de se refugiarem nas asas do poder político vigente. A ilusão de “protecção” por parte do regime aguça os seus apetites de manutenção dessa condição e a sua predisposição para atacar tudo e todos que provêm de fora da estrutura partidária, encorporada nos NOVOS COMBATENTES.
Mas a história é cíclica...
Juma Aíuba, Brazao Catopola, Chacate Thinker, Américo Matavele, Conselho Nacional Juventude Cnj, Rui Lamarques, Livre Pensador, Fatima Mimbire, Sergio ChauqueSee More
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