A campanha terminou hoje e ficou marcada por vários escândalos e outros tantos casos
As eleições legislativas de domingo em Itália são diferentes de todas as anteriores. Acontecem depois dos 14 meses de governação de Mario Monti, o primeiro-ministro que em vez de ter sido eleito foi chamado a liderar os destinos do país pelo Presidente, Giorgio Napolitano, com a bênção de Bruxelas, num momento de "emergência nacional". Acontecem em plena crise e vão marcar o verdadeiro início do pós-berlusconismo. Mas há coisas que não mudam nunca - ou pelo menos tardam em mudar.
A campanha ficou marcada por vários escândalos e outros tantos casos. Como as sondagens não são publicadas nas últimas duas semanas, é difícil avaliar o impacto de cada episódio.
Silvio Berlusconi foi afastado no fim de 2011 mas volta a ser candidato. Quando o anunciou, em Dezembro, o seu Povo da Liberdade surgia acabado nas sondagens, mas Berlusconi continua a ser o político-espectáculo de sempre e ganha com cada dia de campanha, cada hora de exposição. Ou nem tanto.
Esta foi a semana em que os eleitores receberam cartas onde Berlusconi promete devolver-lhes o IMI de 2012 - o imposto municipal sobre a primeira propriedade. Na missiva, diz que vai enterrar este imposto no seu primeiro conselho de ministros e tratar logo dos reembolsos. Nada de novo. Berlusconi nunca perdeu uma oportunidade para prometer o impossível: construir uma ponte sobre o Estreito de Messina, a ligar a Sicília à Itália continental, ou aumentar a esperança média de vida dos italianos para os 100 anos.
"Não tenho estômago para este tipo de campanha", comentou a propósito das cartas Pier Luigi Bersani, líder do Partido Democrático (centro-esquerda), à frente em todas as sondagens. Nada de novo. A não ser o facto de as sondagens - que não são publicadas mas continuam a ser feitas - indicarem que o PdL de Berlusconi parou de crescer, mantendo a desvantagem de 5 a 6% para o PD de Bersani que já tinha a semana passada.
Esta foi também a semana em que Oscar Giannino caiu em desgraça por causa da pós-graduação que só existia no seu CV. "Quem erra paga", escreveu no Twitter, depois de um colega de partido ter divulgado que nunca fez a pós-graduação em Finanças Públicas e Empresariais na Universidade de Chicago que consta do seu CV. Giannino é um dos fundadores do Fare, formação de inspiração libertária. Ao contrário do habitual em Itália, pagou um preço por mentir e já deixou a direcção do Fare.
Estes foram alguns dos casos da segunda semana de campanha. A primeira teve outros, à cabeça a prisão de Gianluca Baldassarri, director do Monte dei Paschi di Siena, o banco mais antigo do mundo. Baldassarri é acusado de várias irregularidades, incluindo a compra ao Santander do banco Antonveneta por 9 mil milhões de euros, 2400 milhões a menos do que Emilio Botín, chefe do Santander, tinha pago pelo mesmo semanas antes.
O Monte dei Paschi tem ligações a muitos dirigentes do PD. Monti, por seu turno, decidiu aumentar para 3,9 milhões de euros a ajuda estatal ao banco. Berlusconi esfregou as mãos e atacou Bersani e Monti - o primeiro-ministro cessante é candidato à frente de uma aliança de centro e espera-se que possa entrar numa coligação com o PD se este não tiver maioria. Estas talvez sejam as últimas eleições de Berlusconi, mas, como as anteriores, estão bem servidas de casos.
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