domingo, 17 de fevereiro de 2013

COMUNISMO INTERNACIONAL

Fonte: Aqui


Escrito por Alejandro Botzàris



«Aos olhos dos egípcios e dos afegãs, dos sírios ou dos indianos, os altos fornos e as chaminés das fábricas, os tractores e as debulhadoras são o elemento principal que domina a paisagem soviética. As cercas dos campos de concentração, os presos comuns com os seus milhares de cadáveres, as execuções rápidas nos subterrâneos das «chekas», a «lavagem ao cérebro», instaurada pelo sinistro Béria, a rígida e desumana máquina do Partido Comunista - tudo isso desaparece ante as assombrosas estatísticas dos planos quinquenais. O africano e o asiático sonham ver esses altos fornos e essas chaminés dominarem as suas cidades e os tractores e debulhadoras nos seus campos. A propaganda comunista, espalhada pelas ondas de Rádio Moscovo e Rádio Praga; o insinuante labor das entidades comunistas disfarçadas de «democráticas» e «nacionalistas»; a astuta infiltração dos agentes comunistas nas organizações políticas, sindicais, estudantis, culturais, etc., proporcionam os últimos retoques nesta idílica imagem de um mundo em que cada cidadão tem satisfeitas todas as suas necessidades económicas.

O labor, inspirado, coordenado e financiado por Moscovo, não tem por propósito, por agora, instaurar regimes comunistas nestes países. O seu propósito, provisório, é separá-los como fonte de matérias-primas, como mercados de produtos manufacturados e como zonas de influência política e cultural do mundo chamado «capitalista».

Lenine já tinha dito que «o caminho de Paris passa por Pequim». E, desde 1950, Pequim está nas mãos do comunismo e esta parte do axioma leninista foi realizada. Falta apenas chegar a Paris».

Alejandro Botzàris («África e o Comunismo»).


«Durante décadas, os fumos das unidades industriais gigantescas de Magnitogorsk assombraram os que acreditavam no futuro radioso do comunismo e que viam na União Soviética o farol da humanidade conquistadora. Quantas vezes não se ouviu, leu, aqui e ali, durante os anos 50 e 60, que Moscovo em breve apanharia Washington, produzindo uma prova definitiva da superioridade do sistema soviético? Hoje podemos brincar com essa propaganda, perante a extensão de ruínas revelada aos mais crédulos pela queda do Muro de Berlim em 1989. Agricultura, indústria, comércio: a falência era geral, a ponto de, um quarto de século mais tarde, nenhum dos antigos países comunistas se ter ainda reerguido. Nestas regiões, o balanço da ditadura do proletariado foi em todos os aspectos negativo. Porque haveria de ser a China, que se manteve fiel a esses ideais, uma excepção?

Os campos chineses estão salpicados de edifícios e de fábricas ao abandono. Três quartos do equipamento industrial encontram-se obsoletos, a maior parte das máquinas e das instalações datam dos anos 60 e 70 e nunca foram renovadas, nem modernizadas no aspecto técnico. Tim Clissold, que percorreu o país de trás para diante nos anos 90 à procura de oportunidades de investimento por conta dos fundos de pensões americanos, visitou centenas de fábricas degradadas, umas mais que outras: «Na maioria dos casos, a anarquia reina nas oficinas gigantescas», testemunha. «Homens de chinelos de pano deitam o metal fundido em moldes colocados no chão, mulheres acocoradas munidas de limas ferrugentas desbarbam as peças de alumínio, os contabilistas acumulam caixas de sapatos cheias de facturas ilegíveis. Seriam necessários milhões de dólares para reabilitar estas empresas arruinadas e todas as suas máquinas decrépitas». Construídas longe das cidades, por vezes no cimo de montanhas, no fim de uma estrada de terra, as fábricas visitadas não dispunham de quaisquer infra-estruturas.

O país está a pagar o preço de uma paranóia comunista que, receando um conflito militar, tinha mandado construir, por ordem de Mao, um grande número de fábricas de indústria pesada no interior de regiões de difícil acesso. Assim que começavam a laborar já estavam antiquadas, porque eram decalcadas da velha tecnologia soviética dos anos 50. Hoje torna-se necessário reconverter estas empresas, o que implica um custo social tanto maior quanto a sua localização em zonas muito pobres faz depender delas toda a economia regional. Por razões de segurança, mais uma vez, a indústria chinesa foi durante muitos anos constituída por unidades autárquicas, independentes umas das outras, que deviam ser auto-suficientes. Reproduzidas por todo o território, a partir de então foram incapazes de formar um tecido industrial. A consequência: os grandes grupos industriais estão fragmentados. O sector do aço dispõe de vinte e duas companhias, das quais as cinco mais importantes garantem apenas um terço da produção nacional; idêntico quadro no petróleo e na petroquímica, com catorze empresas diferentes; na indústria farmacêutica, em que se contam mais de cinco mil fabricantes locais, os sessenta mais importantes detêm apenas um terço do mercado; nos fabricantes de telefones, cinquenta e seis marcas apresentam mais de setecentos modelos...

Na área das infra-estruturas, o balanço não é de modo nenhum mais brilhante: estado deplorável das estradas no interior do país, onde as autoridades locais não têm recursos para trabalhos de conservação; portos atafulhados de mercadorias por falta de comboios, ou devido a uma rede ferroviária sobrecarregada; centrais eléctricas que funcionam abaixo da sua capacidade porque o abastecimento de carvão não é feito a tempo. Por todas estas razões, os custos logísticos tornam-se rapidadmente enormes. Esta China nada tem a ver com aquela que a propaganda nos vende e em que nós acabámos por acreditar. Haverá por detrás das belas vitrinas de Xangai, de Cantão ou de outro local, uma realidade diferente, uma China Potemkine que esconde um país real? Existem, em todo o caso, duas economias, a macro e a micro, que pouco têm a ver entre si. A macro anuncia aos quatro ventos índices sedutores, a micro revela um tecido industrial bastante miserável e um desenvolvimento humano digno dos países do Sul. Em termos de rendimento per capita a China está próxima de Marrocos, quanto a poder de compra ao nível da Argélia, e no que respeita ao indicador de desenvolvimento humano em pé de igualdade com a Tunísia».

Tierry Wolton («O Grande Bluff Chinês: como Pequim nos vende a sua «Revolução» capitalista»).


«Descolonização e autodeterminação são expressões políticas que tanto o grupo de Nações ocidentais como o das que alinham com a Rússia proclamam por sínónimos de libertação de todos os povos e Estados oprimidos pela força imperialista das Nações colonizadoras. Posta assim a questão, não há homem bem formado nem país civilizado que não adira logo à beleza do princípio e à justiça dos seus objectivos. Mas como tanto do lado da Rússia como entre certas nações ocidentais há práticas e factos que desmentem, na realidade e em absoluto, conforme atrás dissémos, a exactidão dos princípios, segue-se que temos de procurar, para além das aparências ilusórias, o fio condutor das realidades dolorosas. E essas conduzem-nos à conclusão de que a descolonização e autodeterminação são apenas a cínica e hipócrita cobertura doutrinária do pavoroso colonialismo materialista e económico, que se propõe partilhar o Mundo à sombra da bomba atómica...

Toda a gente sabe que a Europa e a África constituem, do ponto de vista económico e estratégico, um todo cuja separação radical tornaria este velho continente indefensável e indigente. Trata-se, portanto, de assegurar, para uma política universal, o domínio do continente africano que ninguém ignora, seja em que campo for, estar incapaz de se governar e desenvolver por si próprio, na medida das exigências da economia universal».

Costa Brochado


O grande escritor inglês Ruyard Kypling afirmou em certa ocasião: «O Este é o Este, o Oeste é o Oeste. Nunca se encontrarão».

É provável que Kypling tenha razão no que se refere à maneira de pensar destes dois mundos, mas, politicamente, eles encontram-se na ONU. A importância do mundo árabe na ONU mede-se pela quantidade de votos que representa na Assembleia Geral: mais de 20%.

O anticolonialismo representa a base da política dos países árabes na ONU, como representa também toda a acção do bloco árabe e a política geral da Liga Árabe. Para eles, os problemas coloniais não representam somente um conjunto de problemas teóricos. O árabe tem em conta que grande parte da população colonial é árabe e muçulmana. A actuação dos franceses na África do Norte é tomada como uma ofensa para a dignidade e o sentimento de solidariedade do mundo árabe. Se a polícia francesa detém, condena e fuzila um comunista, autor de crimes, atentados e sabotagens em Argel, todo o mundo árabe esquece que se trata de um comunista, vendo apenas que ele é um árabe. Além disso, o árabe, quer seja persa, tunisino, paquistânico ou marroquino, egípcio ou indonésio, é muçulmano. Todas as suas acções são inspiradas por um código religioso social estabelecido há mais de treze séculos. O Corão representa para eles uma coisa muito mais importante que as cores das suas bandeiras nacionais.

Há em todo o mundo uns 400 milhões de muçulmanos, espalhados pela Indonésia, Rússia, China, Filipinas, Jugoslávia, Albânia, Grécia, Senegal, Paquistão, Congo, União Sul-Africana, incluindo a América Hispânica e os Estados Unidos. Com os árabes do Próximo e Médio Oriente, com os do Egipto, Somália, Jordânia, Líbia, Tunísia, Argélia e Marrocos, os maometanos representam um dos mais fortes blocos do mundo. Fanatizados pelo sentimento religioso podem constituir uma ameaça considerável para os países coloniais. Este facto foi compreendido pela União Soviética muito bem. Tanto mais que o Islão despertou da sua secular modorra. Os muçulmanos aparecem solidários da resistência civil na União Sul-Africana, sublevam-se em Marrocos e na Tunísia, organizam atentados na Argélia, combatem os interesses britânicos no Irão, atacam as tropas inglesas no canal de Suez, desalojam os holandeses da Indonésia... Mas aceitam a «ajuda soviética»...

Mas não são estas as manifestações mais eloquentes da força nascente do bloco muçulmano. É nas Nações Unidas onde essa força se manifesta com maior espetaculosidade. Na famosa sessão da ONU em que foram discutidos os problemas de Marrocos e da Tunísia, os árabes dominavam na Assembleia quase todos os debates. A Liga Árabe reuniu os votos aos dos dois países hispano-americanos, obtendo assim a maioria. A aliança de ambos os blocos nesta sessão resultará a coisa mais natural se considerarmos que um dos maiores êxitos da propaganda moscovita tem sido sobrelevar a dependência económica dos Estados hispano-americanos dos Estados Unidos da América. Graças à dialéctica comunista, o conceito de «dependência económica» transformou-se rapidamente no equivalente a «semicolonialismo». Para o orgulho hispano-americano, pois, esta definição supõe o que a muleta é para o touro, e é lógico que, ao encontrarem-se os países árabes em idêntica situação de dependência económica, a ajuda económica de que gozam os países europeus por parte do Tio Sam seja uma razão para despertar os zelos tanto dos hispano-americanos como dos árabes.

Todavia, o apoio hispano-americano foi apenas ocasional. A União Soviética e os seus satélites comunistas ficaram encantados ao achar a ocasião de oferecer o seu «apoio» à Liga Árabe e fazer outra vez o papel de «defensores dos débeis e explorados», ganhando ao mesmo tempo aliados valiosos para futuras acções.

Dentro das Nações Unidas, os blocos árabe e hispano-americano desempenham o importante papel de árbitro entre os dois grandes antagonistas do cenário político actual: a União Soviética e os seus satélites, por um lado, e os ocidentais, por outro. Para ambos os grupos enfrentados, os votos árabes e hispano-americanos são realmente preciosos e, por conseguinte, não regateiam os meios para os atrair à sua esfera.

Que podem oferecer as potências ocidentais aos árabes para os satisfazer? Que lhes oferecem, por seu lado, os comunistas para os afastar daquelas?

Os árabes consideram um crime o colonialismo ocidental e exigem o aniquilamento total do regime nos países de população árabe. Não é pois fácil estabelecer o equilíbrio entre as exigências árabes e as possibilidades de concessão dos ocidentais. Conceder a independência total às colónias representaria um novo enfraquecimento do campo ocidental frente à URSS. Ao contrário, não a concedendo, seria igualmente empurrar os árabes para os braços de Kruschef.

No quadro dos problemas coloniais, a União soviética tem uma posição invejável, visto que que não tem mais que fazer do que falar, e é inegável que sabe muito bem aproveitar esta situação. Os árabes, porta-vozes da propaganda soviética, expressam-se com palavras de grande amizade e compreensão para com os países coloniais, embora os próprios árabes saibam que só se trata de hipócritas manobras de propaganda, mas, como necessitam de um aliado, aceitam-nas tal como são, pensando que, uma vez conseguida a libertação das colónias, arrumarão facilmente as contas com o seu perigoso aliado.

É na ONU, pois, que se manifesta, mais do que em qualquer outro sítio, a inimizade entre os Estados Unidos e a União Soviética. Esta inimizade tem uma larga história cujo primeiro capítulo se desenrolou em Yalta e S. Francisco. Começou com a utilização do direito de «veto» e desenvolveu-se e piorou durante os anos seguintes.

Graças ao «veto», a União Soviética ri-se do bloco maioritário que apoia a política norte-americana na Assembleia. Por outro lado, a URSS não vê nas Nações Unidas um organismo regulador das relações entre os Estados, mas antes uma tribuna para a sua propaganda. O Kremlin sabe muito bem que todos os jornais e emissoras recolhem e reproduzem os discursos pronunciados na ONU. Deste modo, o cidadão americano que não lê o Pravda, de Moscovo, nem o Daily Mirror, comunista, de Nova Iorque, lê os discursos de Gromyko no New York Times ou escuta-os na emissora de radiodifusão norte-americana. Que importa que no Egipto estejam proibidos os jornais comunistas se os diários governamentais reproduzem nas suas colunas os discursos soviéticos? O mesmo ocorre em todos os países do mundo e é aqui que, graças à ONU, as palavras de Moscovo chegam a todos os recantos.

Por outro lado, o direito de «veto» é uma arma poderosíssima nas mãos dos soviéticos, os quais, até agora, o utilizaram mais de oitenta vezes, enquanto que os restantes membros da ONU apenas o exerceram umas quinze.

Neste duelo soviético-americano na ONU (somente na questão do Suez votavam juntos), as questões coloniais representam uma valiosa carta nas mãos soviéticas. Se se acrescentarem aos votos comunistas os dos blocos árabe e hispano-americano, o resultado seria uma grande frente ao bloco ocidental.

A formação de tal bloco é o fim tentado pela União Soviética e ainda até agora não o conseguiu, mas temos de reconhecer que, desenrolando-se como até aqui os assuntos coloniais, acabará por consegui-lo um dia.

Este breve resumo abarca somente alguns aspectos - os mais importantes - dos problemas coloniais na ONU. Mas, não obstante no que se refere às colónias, representa um grave perigo para o mundo.

As potências coloniais consideram a ONU como um perigo ou, pelo menos, um impedimento para a sua política colonialista, a tal ponto que se criou um certo sentimento de inveja para com Portugal, país que, não fazendo parte da ONU, não tem problemas nas suas colónias.

Mas esta incapacidade da ONU para dar solução correcta aos problemas coloniais não impede o facto de que estes existam. Ninguém pode negar a necessidade de uma solução pacífica, realista, política e acertada: no momento em que os países livres, perante a ameaça comunista, dedicam a maior parte dos seus esforços para formar alianças políticas que integram a maior quantidade possível de homens, territórios, meios económicos e riquezas naturais num só bloco, as colónias representam para eles uma importante contribuição. Não se trata já do interesse da França ou da Grã-Bretanha como potências coloniais, não se trata dos «direitos democráticos» dos indígenas da Argélia, nem sequer do sentimento de solidariedade dos povos muçulmanos. Não resta dúvida de que tudo isso existe e há que tê-lo em conta; mas são particularidades e pormenores que perdem valor e importância perante o tremendo perigo que ameaça o mundo: o comunismo. Se este conseguisse uma vitória sobre o mundo livre, já não haveria franceses, nem argelinos, nem muçulmanos, nem sequer uma ONU para cada qual falar dos seus interesses, dos seus direitos ou de qualquer outra coisa.

Então, sim, desapareceriam os problemas coloniais. E desapareceriam pela muito simples razão de que o mundo inteiro não seria mais do que uma enorme e única colónia: a de Moscovo (in África e o Comunismo, Junta de Investigações do Ultramar, 27, Lisboa, 1959, Vol. I, pp. 168-171).

Continua


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4 comentários:

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