domingo, 4 de novembro de 2012

Quatro mitos sobre o suicídio assistido

 

Debate sobre a legalização do suicídio assistido é caracterizado por quatro equívocos perigosos


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O debate sobre o suicídio assistido sempre dividiu opiniões e provocou debates acalorados de ambos os lados do discurso. Em poucos dias, o estado de Massachusetts, nos EUA, decidirá se permite ou não que médicos “prescrevam medicações, a pedido de pacientes terminais em determinadas condições, para que encerrem seu sofrimento”. Em Nova Jersey, um projeto de caráter similar está sob discussão. Como tantas outras questões ligadas à saúde, infelizmente o debate em torno do suicídio assistido ainda é confuso e caracterizado por quatro grandes mitos. São eles:
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1. Dor: O principal argumento usado por pessoas que defendem o suicídio assistido é a dor. O argumento pode ser resumido da seguinte forma: as pessoas estão vivendo mais, e quando finalmente sucumbem à doença, demoram mais tempo para morrer e sentem muita dor, ou então estão em um estado semi-comatoso, que resulta da ingestão de grandes quantidades de medicamentos analgésicos.
Contudo, isso não é verdade. Diversos estudos baseados em entrevistas com pacientes com câncer, Aids, doença de Lou Gehri e outras condições crônicas e terminais demonstraram que pacientes que desejavam a eutanásia não são motivados pela dor. Somente 22% dos pacientes que morreram entre 1998 e 2009 por suicídio assistido em Oregon, um dos três estados norte-americanos, junto com Washington e Montana, onde a prática é permitida, estavam com dor ou com medo de que ela chegasse, de acordo com seus médicos. Na Austrália, entre os sete pacientes que receberam a eutanásia legalmente durante os anos 90, três pacientes não relataram dor alguma. Nos outros quatro, a dor foi administrada e controlada por medicamentos.
Pacientes dizem que o primeiro motivo não é escapar da dor física, e sim do estresse psicológico. Os principais motivos listados por eles são a depressão, a falta de esperança e o medo de perder autonomia e controle.

2. Tecnologias avançadas e desumanas: Um segundo mito sobre o suicídio assistido é que trata-se do resultado inevitável de uma cultura médica de alta tecnologias capazes de sustentar a vida mesmo quando uma pessoa está debilitada, incontinente, incoerente e ligada a uma máquina.
Mas os antigos gregos e romanos também advogavam a eutanásia. Debates sobre a legalização da eutanásia foram realizados com intensidade na Inglaterra no final do século 19. A primeira vez que tal assunto foi introduzido nos Estados Unidos foi no ano de 1905, antes da descoberta de antibióticos, diálises, respiradores artificiais e tubos de alimentação. Se o interesse na legalização da eutanásia está ligado a alguma tendência histórica, é ao crescimento do individualismo que glorifica a escolha pessoal, e não ao avanço de tecnologias na medicina.

3. Apelo popular: O terceiro equívoco sobre o suicídio assistido é que a prática irá trazer benefícios para o fim da vida de todos. Afinal, a morte é o destino de todos, e legalizar o suicídio assistido permitirá que qualquer indivíduo fuja de uma morte dolorosa. Mas o problema é que mesmo em locais onde a prática é permitida, poucas pessoas tiram vantagem disso. Em Oregon, entre 1998 e 2011, 596 pacientes submeteram-se ao suicídio assistido, o que corresponde a 0,2% das mortes no estado. Na Holanda, onde a eutanásia é permitida há mais de três décadas, menos de 3% das pessoas se submeteram à prática para acelerar a morte. Mesmo se contabilizarmos todos os pacientes mortos que expressaram algum interesse nesse método, eles somarão menos de 10%.
Então, quem exatamente a prática do suicídio assistido beneficia? Pessoas ricas e bem-educadas, tipicamente sofrendo de câncer e acostumadas a controlar todos os aspectos de suas vidas, ou 0,2% da população privilegiada. E quem são os mais suscetíveis a sofrer abusos pela prática: os pobres, sem educação, que estão morrendo e representam um ônus para seus parentes.

4. Uma boa morte: O último mito mais comum sobre o suicídio assistido é que ele é rápido, indolor e uma forma garantida de morrer. Mas nada na medicina está livre de possíveis complicações. Diversas coisas podem dar errado durante a morte assistida, como no caso de pacientes que vomitam as pílulas, ou não tomam uma quantidade suficiente de pílulas e acordam ao invés de morrer. Em um estudo holandês, 7% dos pacientes que receberam as pílulas vomitaram. Em 15% dos casos, pacientes que ingeriram as pílulas não morreram ou demoraram um bom tempo (horas e dias) para morrer. Em 18% dos pacientes, médicos tiveram de interferir na administração do medicamento letal, recurso não permitido nos estados norte-americanos onde o suicídio assistido é legal.
Ao invés de lutar pela legalização do suicídio assistido, devíamos focar nossas energias no que realmente importa: melhorar a qualidade de vida daqueles que estão morrendo, assegurando que todos os pacientes possam conversar abertamente sobre suas vontades com médicos e parentes e ter acesso a medicamentos paliativos de qualidade antes de se submeterem a procedimentos médicos desnecessários. A tentativa da legalização do suicídio assistido não é aceita, o trabalho para diminuir a causa das mortes deve ser aprimorado, garantindo aos pacientes que seus desejos sejam levados em consideração antes que sofram intervenções médicas. O apelo do suicídio assistido é baseado em fantasias e mitos. O objetivo a ser atingido é que todos tenham uma boa morte.

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