domingo, 4 de novembro de 2012

Dhlakama e seus homens espalham medo em Vunduzi


Medo é uma sensação que proporciona um estado de alerta demonstrado pelo receio de fazer alguma coisa, geralmente por se sentir ameaçado, tanto fisicamente como psicologicamente. O medo é provocado por reacções físicas, sendo iniciado com descarga de adrenalina no corpo humano causando aceleração cardíaca e tremores. Pode provocar atenção exagerada a tudo o que ocorre ao redor, depressão e pânico.
Este é o estado que caracteriza a população do posto administrativo de Vunduzi, que se viu obrigado a hospedar o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, que há mais de duas semanas decidiu reagrupar parte significativa de seus ex-guerrilheiros e instalar-se, concretamente, no povoado de Cavalo, onde alguns dos seus habitantes deixaram de mandar as suas crianças à escola. Segundo dados colhidos pelo “Diário de Moçambique”, que esteve recentemente naquela região do distrito de Gorongosa, também há mães que deixaram de levar seus filhos aos postos de saúde.
Há ainda informações indicando que os comerciantes locais já não colocam todas as mercadorias nas bancas, para além de que encerram as suas actividades relativamente cedo que o horário habitual. A vida nocturna mudou drasticamente, pois os respectivos residentes vão à cama muito cedo. Outra situação que coloca a população em polvorosa tem a ver com a circulação, à vontade, dos homens de fardamento verde da Renamo, alguns dos quais bem armados, os quais fazem-se às compras no principal mercado.
Todas as mudanças que se verificam em Vunduzi têm uma explicação: a população receia que um dia a guerra possa “rebentar”, pois, para além da presença de Dhlakama e seus ex-guerrilheiros, as forças policiais estão em grande peso. Exemplo elucidativo do chegar àquele posto administrativo aconteceu na quarta-feira da semana passada, quando funcionários da Direcção Provincial da Mulher e Acção Social de Sofala por pouco adiavam o pagamento do subsídio de alimentos aos idosos daquela região e da Casa Banana.
Apesar do medo acima descrito, conforme apurou a nossa Reportagem, a vida está a correr com relativa normalidade, na medida em que os camponeses se fazem às suas machambas e as escolas, hospitais e outras instituições do Estado encontram-se a funcionar.

RECEIO DA GUERRA

No posto administrativo de Vunduzi, a nossa Reportagem entrevistou alguns residentes, os quais disseram que continuam a realizar os seus trabalhos quotidianos, nomeadamente, a lavoura e o comércio. Todavia, essas actividades são feitas no meio de muito medo e com o “coração nas mãos”, na medida em que as pessoas receiam que um dia as armas que pululam um pouco pela região possam descarregar as balas e fazer vítimas, tal como aconteceu na guerra dos 16 anos, terminada em 1992.
Como vão as coisas por aqui? — interrogámos ao nosso primeiro entrevistado, Paulo Miquitaio, por sinal membro da autoridade tradicional (fumo). Respondeu-nos que a vida está a andar com relativa normalidade, mas sublinhou que a população teme a eclosão da violência, razão pela qual alguns pais e encarregados de educação não deixam os seus filhos a irem à escola e as mães não levam as crianças aos postos de saúde.
“É verdade que estamos a cultivar nas nossas machambas, a circular e a fazer todas outras actividades diárias, mas não fazemo-las com segurança. Não sabemos se um dia os homens da Renamo vão disparar contra nós, quando estivermos nas nossas machambas ou quando os nossos filhos e mulheres forem a escola e aos hospitais” — disse Miquitaio, indicando que a população de Vunduzi não quer ver retomada a guerra, pois tem más recordações do último conflito armado.
Outro líder tradicional que conversou com o nosso Jornal foi Verniz Bero. Este foi interpelado a fazer compras no mercado de Vunduzi, momentos após receber o seu subsídio de alimentos. Corroborou com as palavras de Paulo Miquitaio, afirmando que a população exerce suas actividades quotidianas, mas a tensão sobe de manhã e à noite, por se tratar de períodos em que, por um lado, as forças de Dhlakama fazem exercícios militares matinais e, por outro, pelo facto de as pessoas temerem circular por recear incursões militares.
“Estamos a fazer os nossos trabalhos, mas no período de manhã vivemos mementos de muito medo porque os homens da Renamo fazem exercícios militares e a noite receamos que algum tiro possa ser disparado. Portanto, não queríamos que isso acontecesse porque, pelo menos nós de Gorongosa, temos más recordações da guerra, pois dormíamos num lugar e acordávamos noutro” — indicou o nosso entrevistado.
Manuel Sete foi um dos camponeses entrevistados pela nossa Reportagem. Quando convidado a contar como tem passado desde que Afonso Dhlakama e seus homens da Renamo acamparam em Vunduzi, ele afirmou que circular à noite tornou-se perigoso, devido a insegurança que paira entre os habitantes. Lembrou ter mudado de vários lugares durante a guerra dos 16 anos e receia que situação idêntica possa acontecer nos próximos dias, por causa da presença do líder da Renamo e sua força.
“Estamos a enfrentar um recolher voluntário, senão mesmo obrigatório, pois mete-nos medo andar à noite pelo simples facto de sabermos que os elementos de Dhlakama estão armados e as nossas forças policiais andam também por aqui. É que os moradores podem ser confundido e levarem um tiro, para além de que pessoas de má-fé podem aproveitar-se da situação para saquear bens dos cidadãos e posteriormente matá-los, daí a razão de preferirmos permanecer nas nossas casas durante o período nocturno” — explicou o nosso interlocutor.

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