De António Disse Zengazenga
Os anos 1995/96 viram a publicação de duas obras em língua portuguesa relacionadas com a história da Frelimo. Uma escrita por Eduardo C. Mondlane, Lutar por Moçambique, e a outra por lain Christie, Samora - Biografia.
Tanto em relação à primeira, como à segunda, também me limitarei a comentar os dados cuja verdade conheço.
Se o Sr. Christie, como jornalista estrangeiro, se interessasse pela Frelimo de 1962/1996, seria certamente a melhor fonte da história deste partido. Infelizmente, naquela época não tinha a vontade de escrever sobre Moçambique, um país então ainda sem luta e de expressão portuguesa, aparentemente insignificante, embora o palco dos acontecimentos fosse a Tanzânia, onde residia desde 1970, distinguindo-se em partidos africanos de libertação.
Passados tantos anos resolve escrever, baseando-se para isso em boatos, sobretudo quanto ao nascimento da Frelimo. O autor omite as pessoas que presidiram ao acto, os heróis principais. Cita Mondlane, que não participou nas negociações de união senão em Junho, quando veio para ser eleito presidente da Frelimo, que já existia; Joaquim Chissano, que esteve em Dar-es-Salaam de passagem apenas 24 horas. É um autêntico mosaico de fantasias e adulações incomensuráveis.
A própria biografia de Samora não está completa. Na verdade, tanto as execuções públicas e festivas como a operação produção, obras estas que todos devem justamente atribuir-lhe por ter sido o seu fundador e entusiasta executor, estão omitidas. Ignorar isso na biografia de Samora equivale a omitir o holocausto na biografia de Hitler. Algumas das fotografias publicadas neste livro confirmam isso.
Quanto ao marxismo do mesmo é também uma ficção do autor. Pois, assim como para ser teólogo é necessário frequentar aulas com especialistas em teologia, assim também para ser marxista é preciso estudar o marxismo com professores autorizados, passando nas provas nesta matéria. Não basta ouvir de brancos e mestiços que não estão formados na matéria, que apenas sabem que Maozedong e Estaline mataram os seus opositores políticos e sociais. Isto constitui um falso certificado no marxismo e jornalismo.
Falando sobre a entrada de Leo Milas na Frelimo, o autor diz que ele foi apresentado por Gwambe, e que Mondlane aceitou, dando-lhe um lugar de funcionário superior no partido.
Como vimos anteriormente, tanto Mondlane como Milas não tomaram parte na fundação da Frelimo no dia 25 de Maio de 1962. Gwambe, por sua vez, não participou na eleição do Conselho Supremo da Frelimo no dia 25 de Junho do mesmo ano por intrigas de Mondlane. Onde e quando o primeiro encontrou Milas para o recomendar à Frelimo, dirigida por Mondlane, seu adversário? Porque é que Mondlane teve tanta confiança numa pessoa apresentada por Gwambe, seu oponente, expulso de Tanganica e do partido? Mondlane não era ingénuo ao ponto de dar um posto de relevo a essa pessoa, fazê-la sua representante e deixá-la causar tantos estragos à Frelimo.
O facto de Mondlane não acreditar no que muitos moçambicanos já diziam desde o princípio, o que o levou a criar uma comissão de investigação profunda e prolongada sobre a vida de Leo Milas antes de o expulsar da Frelimo, indica por si mesmo que Milas não era uma pessoa apresentada pelo seu inimigo, Gwambe. Leo Milas foi uma pessoa recomendada a Mondlane por pessoas da sua confiança para controlar o próprio Mondlane, a Frelimo, bem como o dinheiro que davam ao Instituto Moçambicano. Portanto, é mais correcto afirmar que Leo Milas era uma oferta que a CIA fizera a Mondlane para evitar o extremismo na Frelimo.
Finalmente, o Sr. Christie não vê que a cooptação de Mondlane tanto no caso de Leo Milas como no da sua própria morte foram fracassos porque sabia muito bem que os líderes, sejam eles de partidos ou de nações, devem ouvir os conselhos dos seus subalternos, incluindo os de não abrir cartas e encomendas.
Embora o comunicado de expulsão de Leo Milas não confirmasse que este fora apresentado à Frelimo por Gwambe para causar estragos à organização, o Sr.
Christie não explica porque Mondlane defendeu Milas durante muito tempo.
Vejamos o que diz o autor da biografia de Samora:
«Adelino Gwambe era o dirigente da Udenamo, um dos grupos que se uniram para formar a Frelimo. Tinha sido um agente da PIDE operando entre os exilados moçambicanos na Rodésia do Sul. O próprio Gwambe admitia isso, mas afirmava que se tinha apercebido do erro da sua atitude. Isto dá matéria para pensar. Gwambe apresentou um amigo à Frelimo, um jovem negro chamado Leo Milas, que disse ter nascido em Moçambique mas ter sido levado pelos pais para os Estados Unidos ainda criança.
Mondlane aceitou esta história e deu a Milas um lugar de funcionário superior da Frelimo. Mas quando Mondlane regressou aos Estados Unidos, após a fundação da Frelimo, para terminar o seu contrato com a Universidade de Siracusa, as lutas internas e as intrigas em Dar-es-Salaam quase levaram à desintegração do movimento de libertação. No centro da agitação estavam Gwambe e Milas, entre os outros. Gwambe saiu para fundar uma nova Udenamo, mas Milas continuou na Frelimo. Segundo documentos da Frelimo, estava a causar estragos...
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(Na foto: Leo Milas, Armando dos Santos Khembo e Fanuel Guideon Mahluza (da colecção de António Disse Zengazenga)
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