Wednesday, August 29, 2012

Recordando "O Gigante de Manjacaze (1944-1990)"

Recordando "O Gigante de Manjacaze (1944-1990)"

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Gigantemanjacaze_funeralsalazarCom o tempo, muitos acontecimentos que tornaram Moçambique referência para Portugal e mundo vão se perdendo. São vários eventos, alguns dos quais diziam respeito ao aspecto físico de moçambicanos que se tornavam distintos. Um deles foi o Gabriel Estêvão Monjane (Mondlane), apelidado de Gigante de Manjacaze. Media 2,45 metros de altura. Veio a perder a vida em 1990. O Gigante de Manjacaze foi notícias na imprensa moçambicana, que se tornou distinto justamente por ser gigante. Manuel da Silva Ramos, poeta e ficcionista português, com a obra “Viagem com um Branco no Bolso”, o romance, veio a marcar de forma documentada a vida de Gabriel Estêvão Mondlane. De acordo com fontes documentais, nesse romance Ramos analisa criticamente a exploração a que esteve sujeito o Gigante, explorado por empresários e promotores de espectáculos no período colonial. (In, Diário de Moçambique, 23-06-11)
(Na foto no funeral de Salazar nos Jerónimos)
Leia aqui Download Gigante de Manjacaze
Na foto da esquerda: Gabriel Estevão Monjane, aqui com 2,38m, ao lado de sua mãe com metade do seu tamanho. Ele ainda estava crescendo e só tinha 21 anos. Moçambique, Lourenço Marques, 29 de dezembro de 1965. Na foto da direita: Gabriel Monjane de Moçambique é alvo de atenção quando anda por Lisboa (Restauradores). Ele continua como o maior homem do mundo e mede 2,50m. Portugal, Lisboa, 2 de novembro de 1978. (Fotos gaethna.nl)
A foto mais triste
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O mais alto e o mais baixo, utilizados pelos fachos do regime no funeral de Salazar.
O poeta e ficcionista português, Manuel da Silva Ramos, lançou em Maputo o livro "Viagem com um Branco no Bolso", um romance sobre a vida do "Gigante de Manjacaze", Grabiel Estevão Mondlane. A obra apresenta um outro personagem, o anão português, Toninho de Arcozelo, que contracenava com o gigante nos círculos, feiras e praças públicas. O nome do anão Toninho de Arcozelo, o então homem mais curto do mundo, com 75 cm de altura, associa-se a Gabriel Mondlane pelo facto de ambos aparecerem juntos muitas vezes, no mesmo palco, como forma de evidenciar a diferença entre ambos. (In, macua.blogs.com)
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Gigante Manjacase
A noite de Verão era quente como recordo todas as noites da minha infância. A feira estava cheia de algodão doce cor-de-rosa, carrosséis e montanhas russas com gritos. A barraca do tiro ao alvo que tinha ursos de peluche como prémio. O comboio fantasma, as maças doces e as ciganas. E havia o gigante. Um cartaz pintado à mão anunciava-o como a grande estrela da noite. Havia filas e filas de pessoas para o ver, compro o bilhete, espero no meio da multidão. Finalmente entro na barraca de chão de terra batida nas minhas minúsculas sandálias de plástico. Está cheia, quente e mal iluminada, é preciso ser paciente. Um freak show não acontece todos os dias. Quando finalmente vejo o gigante, ele está sentado dentro de uma pequena casinha. Eu vejo um corpo descomunal, dez de mim, camisa branca, as mãos colossais cruzadas no colo e fico petrificado na desproporção daquele momento. As pessoas empurram-me, falam do gigante como se ele não ouvisse, metem a cabeça dentro da barraca para lhe ver a cara, apertam-lhe a mão, trinta e cinco centímetros de passoubem, e eu aterrorizado sem sair do mesmo sítio. E tenho tanta, tanta pena do gigante que me apetece chorar. Saio da feira com o coração anão. Nunca lhe vi a cara.
Rui Ochôa, Jornal Expresso, 3 de Outubro de 2009
Chamava-se Gabriel Mondlane, media 2,65 metros, pesava mais de 180 quilos, e era considerado o homem mais alto do mundo, fazendo parte do Livro de Recordes do Guinness. O gigante de Moçambique, como era conhecido, veio pela primeira vez a Portugal em 1969, causando grande alvoroço e curiosidade: em circos ou eventos privados, Gabriel era exibido pelo país como coisa rara e insólita, tendo viajado por todo o mundo. Regressou a Moçambique após a independência da antiga colónia. Por cá, as coisas não lhe correram de feição e rareavam os espectáculos. Casou-se e teve três filhos, vivendo do que lhe dava o restaurante que criara com o dinheiro (pouco) ganho com as exibições. Voltou uma segunda vez a Portugal, em 1979, mas o infortúnio perseguia-o: no Coliseu de Lisboa deu uma queda ao tentar subir as escadas, o que lhe provocou danos graves numa perna e a necessidade de um implante que foi fazer na África do Sul. Regressou pela última vez a Lisboa em Setembro de 1989, alvo da mesma curiosidade de sempre e vítima dos mesmos interesses que o faziam deslocar-se penosamente pelo mundo. Uma nova queda, em Janeiro de 1990, no quintal da sua casa em Mandlakazi, a sua terra natal, foi-lhe fatal: fez um grave traumatismo craniano, do qual não recuperou, e morreu no Hospital de Maputo com apenas 45 anos.
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segunda fotografia é do Nuno Castelo-Branco.
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Foto 1. Gabriel Estêvão Mondlane, de Manjacaze, aqui na Praça do Duque da Terceira em Lisboa, em 1989. Faleceria no ano seguinte, com 45 anos de idade.
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Foto 2. Da mão do Nuno: “1968, arredores de Lourenço Marques. Era habitual a organização de convívios “à portuguesa”, onde não podiam faltar as sardinhas, a broa, os grelhados -onde pontificava o frango à cafreal- e o vinho da Metrópole. Já Charles Boxer, na sua obra dedicada ao “Império Marítimo Português”, realçava a particularidade da colonização lusa, de recriar noutras paragens, aquilo que para trás deixara na Europa. Cidade cosmopolita, de arquitectura arrojada e avenidas grandiosas, a capital de Moçambique destacava-se na África Austral. Local aprazível para viver e trabalhar, era também, o local ideal para as crianças, onde a praia, os jardins, cinemas e campos de jogos, preenchiam as férias grandes de todos nós. Naquele fim de semana, fomos os três com os nossos pais, a um daqueles convívios-quermesses, decerto com fins beneficentes. O local era a Quinta do Marialva, cujo nome denota o apego dos seus proprietários a ecos longínquos da história portuguesa. A patuscada fez as delícias dos adultos e ainda hoje recordo o gigantesco coronel Anta, um autêntico sósia de Mussolini que conseguia devorar dúzias de sardinhas, abundantemente regadas de tinto. Quanto a nós, os miúdos, tivemos a recompensa do dia. Aquele género de feira era sempre maçadora, afastando-nos dos brinquedos, da praia e dos vizinhos que connosco conviviam no ocioso quotidiano de verão. Após o prolongado repasto, surgiu o inconfundível vulto do Gigante de Manjacaze (1944-90), o Gabriel Monjane que povoava a nossa imaginação de temores e curiosidade. Conhecendo-o através de fotografias em revistas e jornais, foi com surpresa e emoção que tivemos o privilégio de receber a sua particular atenção. O Gabriel gostava de crianças e era uma pessoa calma e tímida. Para nosso grande alívio, caiu para sempre, a imagem que dos gigantes construíramos, através de leituras infantis ou de histórias inventadas pelos adultos, para nos “obrigar a comer a sopa”. Na foto, a minha mãe com a Ângela, o meu irmão Miguel que olha desconfiado e eu próprio, encadeado com a luz ofuscante do sol austral. Mais uma foto com história . Não podíamos imaginar que uns poucos anos depois, abandonaríamos aquela terra, varridos por “ventos de uma certa história”, soprados de Portugal e de outras bem identificadas paragens deste mundo.”
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Foto3. Enviada pela Olinda Cavadinha, não sei quem é.
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Foto 4, enviada pela Olinda Cavadinha. Só tem uma nota dizendo que é de Dezembro de 1965.
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Foto 5, enviada pela Olinda Cavadinha.
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Foto 6, partilhada pelo Alfredo Correia. Gabriel e Toninho do Arcozelo (na foto, à direita de Gabriel) no Mosteiro dos Jerónimos, Lisboa, durante o funeral de António de Oliveira Salazar, Julho de 1970. Escreveu o Alfredo: ‎”Gigante de Manjacaze”, Grabiel Estevão Mondlane e o anão português, Toninho de Arcozelo, que contracenava com o gigante nos círculos, feiras e praças públicas. O nome do anão Toninho de Arcozelo, o então homem mais curto do mundo, com 75 cm de altura, associa-se a Gabriel Mondlane pelo facto de ambos aparecerem juntos muitas vezes, no mesmo palco, como forma de evidenciar a diferença entre ambos.”