Thursday, August 30, 2012

Angola - O 4 de Fevereiro – início da luta armada de libertação nacional

Um Acontecimento Decisivo

UM ACONTECIMENTO DECISIVO


A história faz-se de pequenos nadas, de muitas iniciativas, factos dispersos, que se vão juntando, ganhando coerência, quais pequenas linhas de água, afluentes que acabam por formar um rio, cujo início, o ponto a partir do qual o traço já não é mais possível dissimular no mapa da região, é marcado normalmente por um acontecimento que o torna irreversível.
Há 50 anos, o 4 de Fevereiro de 1961 foi esse acontecimento, na nossa história recente. O início do rio que aumentou de caudal, até desembocar no dia da independência nacional.
Todo esse percurso foi gerando sinais, deixando a sua marca através dos mais diversos testemunhos, inscrevendo na memória das pessoas novos acontecimentos, preocupações, motivos de reflexão. Dos pedaços de papel, às publicações, das entrevistas, aos livros, foi-se escrevendo a história, fazendo possível uma reconstituição dos acontecimentos tantos anos depois, mesmo se, muitas vezes, se geram visões diversas.
A história escreve-se com documentos, memórias, ...
Pretende assim a ATD, com recurso ao acervo documental que possui relacionado com o percurso do país rumo à sua independência, contribuir com a divulgação de documentos que permitam o estudo dos factos mais marcantes da história recente de Angola.
O 4 de Fevereiro não foi um acontecimento isolado. Foi o culminar de um processo de despertar de consciências, que se tinha iniciado nos finais do século XIX, com nomes ilustres da intelectualidade angolana, e se prolongou pelo século XX, num movimento que envolveu nacionalistas de toda a África, e que culminou com a independência das primeiras ex-colónias europeias em África, ainda na década de 50.
Nesse turbilhão de acontecimentos, em que nomes míticos da consciência negra, como W. B. Du Bois e Marcus Garvey, ou de nacionalistas africanos, como Nkrumah, Senghor, Kenyata e Lumumba, pontificavam, a participação de nacionalistas angolanos passou a ser uma constante. Foi um período de rara riqueza documental. O hábito da missiva, o recurso ao manifesto, a força do comunicado, permitem assinalar o percurso através de documentos únicos, ricos, que transmitem com particular transparência, a determinação, o espírito de missão, a enorme generosidade e ingenuidade de muitos dos seus actores, a par do calculismo, oportunismo e ganância, de outros.
Angola estava sob o domínio de uma potência colonial retrógrada, que era completamente cega aos sinais dos tempos. Com o agitar da situação política em África, em vez de se procurarem caminhos para uma resolução pacífica das legítimas reinvindicações dos povos dos países colonizados, incrementaram a repressão. O processo dos 50, o massacre da Baixa de Cassanje, são apenas dois exemplos dessa marcha no sentido oposto ao sentido da história.
O 4 de Fevereiro de 1961 marca o momento em que o nacionalismo angolano decidiu negociar por outros meios, recorrendo à luta armada. A natureza do acontecimento levou a que o secretismo tivesse mantido muita informação difícilmente acessível, o que torna a procura documental ainda mais pertinente. Na pesquisa cuidadosa, nomes míticos, heróis, vilões...
Cónego Manuel das Neves, Neves Bendinha, Paiva Domingos da Silva, inscreveram, entre tantos outros, os seus nomes na guerra de comunicados e nas análises que se seguiram.
O enorme simbolismo da tentativa de libertação dos companheiros encarcerados teve um significado que perdura. O quebrar das grilhetas, num hino que ecoou pelo país, e que ajudou a cerrar fileiras ao longo da dura guerra de libertação nacional. Foi há 50 anos...
A ATD, Associação Tchiweka de Documentação não podia deixar de assinalar esta data com um apelo para que um esforço de estudo das peças que compõem o puzzle da nossa história, se incremente. Que a juventude se interesse, para que as bases de uma consciência nacional saiam reforçadas com o estudo do passado, do percurso daqueles que caíram, para que hoje possamos construir o nosso próprio futuro.
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