segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Extermina-se o povo, ficam os dirigentes...


Caro senhor Filipe Nyusi,
Das outras vezes, temo-nos dirigido a si de forma indirecta. Desta vez, vamos ser muito directos e concretos, porque achamos que é altura de o senhor e seus amigos generais, a quem o senhor trata por “tios”, pararem imediatamente com o que andam a fazer, sob o risco de incendiar o resto do país e mergulhar-nos num banho de ódio, em que a irracionalidade vai imperar, com a violência generalizada a reivindicar o seu instituto.
Enquanto escrevemos este editorial, a família Ramos, na Beira, está a chorar o seu pai, esposo, irmão, primo, colega e amigo Juma Ramos, a mais recente vítima dos esquadrões da morte que o seu Governo da Frelimo espalhou pelo país, para assassinarem selectivamente os membros do partido Renamo.
Menores ficaram sem pai, esposa sem marido, familiares sem o seu ente querido, porque, em Maputo, alguém que está sentado num gabinete com mobiliário topo de gama, ar condicionado pago pelos impostos dos cidadãos, decidiu pôr na lista o nome de Juma Ramos e sentenciar o fim dos seus dias.
Alguém, em Maputo, entregou o nome de Juma Ramos com ordens para o tirar do convívio dos vivos e da sua família para sempre. Alguém, sentado em Maputo, decidiu que Juma Ramos já não devia mais ver os seus filhos crescerem e nem cuidar da sua esposa e dos seus negócios. Decidiu da mesma forma que decidiram matar Pondeca em Maputo, José Manuel na Beira, Vicente Lole em Chimoio, Armindo Nkutche em Moatize e tantos outros membros da Renamo, que, nas nossas contas, ascendem a mais de duas dezenas. Uma distribuição diligente e gratuita de mortes, sem precedentes, feita como que se o comandante desta selvajaria toda estivesse a mudar de canal de televisão.

Cidadãos a serem mortos como animais, porque o Estado, que lhes devia prover segurança, está agora nas mãos de uns delinquentes varridos, que trocam palmadinhas as costas, enviando SMS’s uns aos outros, celebrando mais um pai e esposo que mataram. Um bando repugnante, que transpira sede de sangue, ao mesmo tempo que é adepto do caos permanente, que busca incessantemente.
Repetimos que, ao nível a que chegámos, esse festival de matanças já não nos causa susto, porque o Estado tem estado, e com sucesso, a obrigar-nos a conviver com a ideia de que essas mortes são um serviço superiormente delegado e uma acção normal do Estado. É o nível em que estamos agora. Tudo isto é normal.
Ter um presidente, um ministro da Defesa, um ministro do Interior, os Serviços Secretos a reunirem-se para elaborar listas de pessoas a matar como animais já não é ficção. É a actuação do Estado em Moçambique.
Por isso, nunca haverá culpados, e já estamos habituados à ideia de que não há culpados nem investigação, porque são assassinatos promovidos pelo Governo que nos dirige. É o Governo a cumprir o seu plano. Atingimos um nível patológico tal, que só estamos à espera do próximo a ser abatido, e já não esperamos a identificação e punição dos culpados do acto anterior.
Senhor Filipe Nyusi, em apenas um ano e um par de meses do seu mandato já morreram nas suas mãos mais de duas dezenas de membros da oposição. E tudo indica que, até Dezembro, chegaremos ao abatido n.o 50. Quando o senhor pára e faz balanço, acredita mesmo que está a governar? O senhor conhece um país em que os cidadãos acordam a saber que hoje vai morrer um membro da oposição, e a Polícia vai dizer que está a investigar, e depois nada acontece, e no dia seguinte morre mais um outro, e os cidadãos, ainda assim, sabem que vai outro a seguir, e todos da mesma forma? O senhor tem noção do que está a fazer?
Quer mesmo ser conhecido como o homem que mais membros da oposição assassinou? Não é isto uma macabra limpeza política a concorrer seriamente para o genocídio? Nunca se viu, aqui nesta terra, uma folha de serviço pintada de sangue, em momento de alegada paz, como nesta sua época, senhor Nyusi. É esse o legado que quer deixar: o da matança?
Esta vossa actuação não vem confirmar o refrão que anda por aí, segundo o qual o poder caiu nas mãos da ala boçal e violenta? Só um boçal é que tem esse tipo de actuação: o de matar o outro. Estamos mesmo a ser dirigidos por boçais? É isso?
Porque, na nossa humilde opinião, esta actuação já não tem nada a ver com a insuficiência de instrução, de que esta ala actual é acusada de padecer. Afirmar que esta ala actua da forma como está a actuar devido aos seus elevados níveis de analfabetismo seria faltar ao respeito aos milhares de moçambicanos que não foram à escola, mas que cultivaram um nível de humanismo essencial, que os faz conviver uns com os outros na sua diversidade.
Aqui, já não estamos perante a manifestação da iliteracia de que padece o grupo. Estamos mesmo parente o boçalismo e o instinto selvagem, que os ares das cidades não foram capazes de disfarçar. Os fatos e gravatas e carrões de luxo, muito menos os casarões da Sommerschield, não estão a ser suficientes para colmatar os elevados índices de selvajaria de que padecem.
Académicos baleados, membros da oposição mortos, toda uma sociedade mergulhada no medo imposto por um punhado de boçais que deviam estar sob cuidados intensivos de psiquiatria. É este o retrato de um novo Moçambique, que começou em Janeiro de 2015.
E o silêncio cúmplice da tal comunidade internacional é também revelador de quanto esses senhores, que se dizem ocidentais e civilizados, são hipócritas e traiçoeiros. “Desde que aceitem levarmos o gás e outros recursos, que se matem entre eles, que esse não é problema nosso” – é provavelmente esta a palavra-de-ordem que anda nas Embaixadas, para que o silêncio seja tão consensual na comunidade internacional.
Como é que reivindicam o título de arautos dos Direitos Humanos, se convivem com a matança diária de um povo de quem dizem ser amigos?
Como é que reivindicam ser arautos da democracia, se os vos sos embaixadores aplaudem e até vão aos banquetes de um Governo que faz listas para matar elementos da população? Se for esse o tipo de cooperação que advogam, nós dispensamos. É hora de parar com esta chacina, antes que seja tarde. (Canal de Moçambique / Canalmoz)
CANALMOZ – 07.11.2016

Extermina-se o povo, ficam os dirigentes...

Por: Ermelinda Nhatave
Não há volta a dar, a triste realidade que nos dias de hoje vive-se na Pátria Amada á de atemorizar até o mais valente e destemido cidadão. Sobre a real situação do País pouco ou nada se sabe e se alguém tem um palpite, este aponta para o mais horrendo cenário jamais imaginado para esta que, infelizmente, manda a verdade dizer, jovem nação que em quarenta anos de existência ainda não provou em sua plenitude essa coisa estranha e dita maravilhosa, chamada Paz.
Fazendo uma radiografia superficial ao estado da Nação pode-se afirmar, sem temer-se incorrer em erros, nem tão-pouco criar falsos alarmes, que o mesmo é deveras macabro. Se atendermos que as conversações visando alcançar o calar das armas que troam com insistência, na Estrada Nacional Nr1, nas zonas centro e norte e com alguma regularidade na capital do país, Maputo, mais não são que encontros tranquilos para os participantes, tanto nacionais como estrangeiros, se tomarmos em conta a ausência de informações sobre a evolução da situação, ou melhor, da busca de soluções viáveis e de consenso entre as partes, o que faz com que se possa afirmar que, à semelhança do que aconteceu em tempos recentes, “a actual montanha, tudo indica, irá parir um rato dos esgotos” e também vai arrasar as já demasiado complicadas contas dos cofres de estado.
A diferença desta feita não estará nos resultados em si, mas nos métodos que estão a ser utilizados e os intervenientes que foram “importados” de além-mar e que, à semelhança do que os locais foram exímios em não fazer em tempos anteriores, os actuais intervenientes estrangeiros têm provado que dominam a agenda de então, pois para cada semana de trabalho, têm quinze ou mais dias de repouso em locais de sua preferência, o que torna-se compreensível dada a ausência de seriedade com que as ditas “conversas de mudos” para transmitir à ‘surdos”, têm decorrido.
Demorou para entender o método que está a ser implementado, mas finalmente “fez-se luz” e as devidas explicações estão a ser fornecidas ao país, ao mundo e arredores, através dos mídias que difundem até à exaustão a sequência infinita de execuções de membros e simpatizantes dos dois partidos beligerantes com imagens, testemunhos e comentários dignos de filmes de terror.
Partindo do pressuposto que as conversações em curso visam estabelecer a harmonia que nunca existiu entre os “dois gigantes” em confronto, temos para nós que tais encontros partem de falsos princípios, pois quando um membro seleccionado para fazer parte da comissão é brutalmente assassinado, à luz da manhã, em uma zona especialmente concorrida e as interrogações à volta do macabro acto não encontram até à presente quaisquer respostas, acrescido do facto de tratar-se de uma personalidade que por inerência das funções que desempenhava deveria fazer-se acompanhar 24 horas por dia pela sua segurança pessoal, quando este é encontrado sozinho e desprotegido o que imediatamente se pergunta “é por onde andava a segurança pessoal do malogrado”, para não demonstrar maior estranheza pela rapidez com que o corpo foi removido algo inédito em casos semelhantes.
Piora o cenário quando a filha diz alto e bom som que foi “teleguiada” directamente para a morgue do Hospital Central de Maputo e não para qualquer outro local, o que demonstra que o malogrado foi identificado, mas a notícia não foi revelada por quem de direito, em tempo útil, por razoes que desconhecidas.
Se um dos intervenientes, por sinal uma das personalidades de referência do partido de oposição é brutalmente assassinado sem que os culpados sejam detidos ou mesmo identificados, se nas províncias directamente afectadas pelas incursões militantes e simpatizantes do partido no poder são executados supostamente por homens armados
da Renamo, será justo dizer que as atrocidades que são cometidas na cidade capital do país, Maputo, como são os assassinatos de Paulo Machava, Abel Vilanculos, Gilles Cistac, Jeremias Pondeca e muitos anónimos que perderam a vida em circunstâncias por explicar, são supostamente obra dos homens armados do partido no poder, dado que nunca se falou na presença de homens armados da oposição na cidade capital.
Pode parecer um enorme desatino ou completa ausência de amor a minha vida expor a questão nestes termos, mas à verdade e, de verdade se diga, se as atrocidades praticadas ao longo da Estrada Nacional Nr. 1, especialmente no troço compreendido entre o distrito de Muxúnguè e a Vila de Save e nas zonas centro e norte, os assaltos e assassinatos praticados são, por via de regra, atribuídos aos homens armados da oposição, leia-se do partido Renamo, será licito dizer que os assassinatos de personalidades que ocorrem na capital, Maputo, são por consequência obra do partido Frelimo.
Se as agendas dos dois partidos beligerantes e em confronto são as execuções sumárias de cidadãos que professem simpatias por partidos opostos aos que cada um defende, por este andar não tarda, voltaremos aos tempos de partido único, sobrevivendo os autores do genocídio que suspeita-se possa ocorrer, pois para que tal desiderato cumpra-se, ter-se-á de aniquilar os simpatizantes e afectos de um partido para que o outro sobreviva.
Se a “agenda oculta” é não acabar com as mortes anunciadas ao longo da Estrada Nacional Nr1, nas zonas Centro e Norte e por acréscimo na cidade de Maputo, porquê depauperar os mais que definhados cofres do estado, chamando personalidades estrangeiras e misturando-as com as nacionais, promovendo conversações em que ninguém acredita que tenham fim a vista, quando a “solução mágica” já foi encontrada e consiste simplesmente em... matar o povo?
Porque, definitivamente, a primeira, única e derradeira vítima em todo este processo é o povo!
Portanto, a solução é simples e prática: Extermina- se o povo, ficam os dirigentes.
Assunto acabado. E mais não digo. Fim!
O SOL – 07.11.2016

Nascimento, guerra e paz

A actual Angola, medianamente dirigida, nos últimos anos, pelo MPLA, nasceu como República Popular, em 11 de Novembro de 1975, dividindo os angolanos, com a instauração de um regime de viés comunista, sectário, autoritário e discriminador, orientado para eliminar todos quanto não aderissem a ideologia dominante.
Por William Tonet
Os slogans: “o MPLA é o Povo e o Povo é o MPLA” ou de “Cabinda ao Kunene, um só povo uma só Nação”, são a emanação de uma visão umbilical parcial, exclusivista e impostora do unanimismo. Isto, por a realidade do MPLA não ser o povo, salvo se a referência se alojar, unicamente, no povo Kimbundu, natural base social de apoio.
Angola não tem um só povo, basta, para isso percorrer a sua linha dorsal, com a multiplicidade de línguas, culturas e tradições, mostra a especificidade de vários povos, convivendo pacífica e harmoniosa no território, mas carentes de uma nação.
Assim nascia, na África Austral, um novo ente jurídico internacional, complexado e descaracterizado, com base numa fraude conceitual, inspirada nas teses da ex-União Soviética, transpostas na primeira Constituição, denominada lei constitucional de 11 de Novembro de 1975, aprovada, exclusivamente, pelo Comité Central do MPLA (houvesse mais patriotismo e angolanidade, Agostinho Neto poderia, com sapiência, integrar elementos da clandestinidade, profissionais liberais, padres, pastores, autoridades tradicionais e outros, numa Assembleia Constituinte, infelizmente, preferiu o inverso; monarquia partidocrata).
A lei constitucional 11/ 75, excluiu “ab initio”, proibindo a existência de partidos políticos, a democracia representativa, as liberdades de expressão e imprensa, a economia de mercado, as eleições gerais, que constavam nos Acordos de Alvor.
Com esta musculatura ideológica, instaurou-se o sistema de partido único, com Forças Armadas (FAPLA – Forças Armadas Populares de Libertação de Angola), de Defesa e Segurança do Estado (DISA-Direcção de Segurança de Angola) e da Polícia Nacional (CPPA-Corpo da Polícia Popular de Angola), partidocratas, quando deveriam ser Republicanas, sob dependência, veja-se o paradoxo, do presidente do MPLA, quando deveriam ser do Presidente da República.
Mas de aberração em aberração, o papel que deveria ser reservado e exercido por um parlamento, seria substituído por um Conselho da Revolução, exclusivamente integrado por militantes do MPLA, transformando-o em partido/Estado.
Todas estas elucubrações político-jurídicas, só foram possíveis, por os comunistas, integrados no MFA (Movimento das Forças Armadas) de Portugal, que estiveram na base do 25 de Abril de 1974, para o derrube do regime fascista de Salazar e Marcelo Caetano, capitaneados em Angola por Rosa Coutinho, terem sido cúmplices do diabólico plano de violação dos Acordos do Alvor (Portugal), assinados em 1974, com os três movimentos de libertação nacional: FNLA, MPLA e UNITA, considerados os legítimos representantes do povo angolano.
As tropas portuguesas escancaram os arsenais e quartéis coloniais exclusivamente aos guerrilheiros de Agostinho Neto, considerado dócil, assimilado e complexado, como chegou a reconhecer o socialista português, Almeida Santos, um dos subscritores de Alvor, ao considerar “o Acordo como um simples pedaço de papel, sem valor”.
Foi com este armamento e o controlo dos meios públicos de comunicação social, que o MPLA iniciou a guerra contra os outros movimentos, para os expulsar das cidades.
A lógica da batota e a lei do mais forte, imperou desde a formação deste país, carente de um verdadeiro projecto abrangente e integrador.
Infelizmente, apesar do passar dos anos, da virada do século, o MPLA, continua indiferente ao sentir e gemer dos autóctones e povos, tanto que, a maior virtude foi a de transformar proletários em proprietários vorazes.
Nestes 41 anos, o partido no poder não fez nada significativo no domínio das liberdades, da conciliação e unidade nacional, mas fê-lo numa cavalgada incompetente ao matar o orgulho indígena de, ao menos, se rever num símbolo nacional, imparcial, integrador e angolano, como a Bandeira, o Hino, a Moeda Nacional, o Símbolo da República. Tudo identificado com um só partido, daí a sua cada vez maior banalização por parte de outros actores políticos que não se revêm neles. Aliada a isso, existe a privatização da data da independência nacional, transformada em independência dos militantes do MPLA, alcandorados aos píncaros da alta corrupção mundial.
Tudo isso, na base da alteração conceitual do slogan: “Proletários de todo mundo, uni-vos”, por outro, mais actual; “Corruptos do MPLA uni-vos, em todo mundo”!
F8 – 05.11.2016


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