domingo, 22 de julho de 2018

Semanário Savana nº 1280 de 20.07.2018

0DSXWRGH-XOKRGH‡$12;;9‡1o ‡3UHoR0W‡0RoDPELTXH Prémio Leaders & Achievers-Flecha Diamante 2018 PMR Africa Madeira saqueada em Tete Pág. 2,3 e 4 Entre relatos desencontrados e propaganda governamental em Cabo Delgado - 01-// -     (%#"-& "# $% )32 "!$&% '''.$"""." 3º 25011 - 50.000,00MT    2º 49752 - 100.000,00MT VALOR DO 1º PRÉMIO DO JOKER - 250.000,00MT LOTARIA 28ª EXTRACÇÃO 1º 17174 - 2.000.000,00MT PREVISÕES DE JACKPOT 1º PRÉMIO -2.000.000,00MT PRÓXIMA, 29ª EXTRACÇÃO DA LOTARIA 21/07/2018 1 PRMIO DE TOTOBOLA - 111.870,41MT 1 PRMIO DE TOTOLOTO - 250.000,00MT ACLLN e Monte Binga entre os detentores de licenças Centrais Savana 20-07-2018 2 SOCIEDADE P or entre relatos desencontrados e a propaganda governamental, nomeadamente o desnorteado responsável provincial, uma equipa do jornal foi ver in loco a dramática situação da população alvo das investidas de grupos armados, que tentam justificar a inusitada violência que usam com base em princípios confessionais. Aqui ficam os relatos difíceis das vítimas deste conflito de contornos difusos. Alima Alifo tem apenas um mês e 14 dias de vida. Nasceu órfã, porque o pai foi assassinado, justamente um dia antes de ela vir ao mundo. Foi a sentença que a condenou a viver para sempre sem saber o que é desfrutar do colo de um pai. Como se não bastasse, a forma brutal como ele foi morto deverá estar sempre presente na memória de Alima como lembrança de uma noite fatídica, uma noite que não era para ter acontecido. Mas a história da pequena Alima é a de dezenas de outras pessoas afectadas pelos ataques inspirados no fundamentalismo islâmico que, desde Outubro de 2017, vêm fustigando a região norte de Cabo Delgado, deixado um rasto de luto, dor e destruição. Na semana passada, o SAVANA escalou as zonas do conflito e conta o drama causado pelo radicalismo islâmico no norte da província. São homens e mulheres que enviuvaram, são filhos que ficaram órfãos, são netos que perderam avôs e vice-versa, são casas reduzidas a cinzas, são viaturas, motorizadas, bicicletas entre outros bens incendiados. Ou, simplesmente, são vidas inteiras, construídas com sacrifício, que foram e continuam a ser reduzidas a zero por um grupo que não está claro ainda o que reivindica. A menor Alima Alifo é apenas uma dessas vítimas. Um dia antes do seu nascimento, a seis de Junho passado, seu pai, Alifo Muinde, era degolado, como se de animal se tratasse, na fatídica noite de cinco de Junho, quando os insurgentes invadiram a aldeia de Naúnde, Posto Administrativo de Mucojo, cerca de 45 quilómetros para leste de Macomia. Para além da pequena Alima, que ainda estava por nascer, Alifo deixou outros cinco filhos, todos menores de idade. Trata-se de Faida Alifo, dois anos, Selemane Alifo, quatro anos, Zura Alifo, cinco anos, Fátima Alifo, oito anos, e Ngamo Alifo, 10 anos de idade que, juntamente com a mãe, Atija Mussa, perderam aquele que era o seu protector e chefe de família. Atija, a viúva, conta que a vida se tornou mais difícil sem o esposo e com seis filhos para cuidar. “A vida está difícil. Estamos a comer na base de ajudas de familiares ou de pessoas de boa vontade”, conta. Sobre os acontecimentos da noite de cinco de Junho, diz, de voz embargada, que não tem muito a partilhar. É o testemunho de uma mulher que ainda está, profundamente, traumatizada com a desgraça que atingiu o seu lar. Naúnde Sete pessoas assassinadas, igual número de feridos e 164 casas (que continham diversos bens) incendiadas é o saldo da incursão da noite de cinco de Junho, em Naúnde. Os escombros de casas queimadas, os vestígios de diversos bens consumidos pelo fogo e famílias inteiras sem nada e a viverem ao relento denunciam uma autêntica tragédia que se abateu sobre a aldeia, há mais de um mês. Safilina Abdala estava a dormir quando, de repente, ouviu um disparo de arma. Acordou os seis filhos e, em pânico, todos fugiram para se refugiar na mata. Quando na manhã seguinte retornaram à residência, descobriram que só lhes restava a roupa que vestiam, porque tudo tinha sido consumido pelo fogo, desde produtos alimentares, material de construção, aparelhos televisor e radiofónico, até vestuário. “Hoje vivemos na base de ajudas, desde alimentação até vestuário”, explica Safilina. Encontrámos Abudo Bacar no meio dos escombros da sua antiga casa, que tenta reconstruir. É tratado por mwalimo, ele que ensinava o alcorão na mesquita local. Conta que logo que ouviu o disparo de arma, fugiu para as matas e só voltou na manhã do dia seis. Mas a sua estória não é diferente da de Safilina e de dezenas de outros afectados: perdeu tudo porque a casa foi incendiada e hoje vive na base de apoios. “Claro que os apoios não são suficientes, mas não há maneira”, queixa-se. Atibo Dade tem 12 anos de idade. Os amigos, todos na fase da adolescência, tratam-no, com alguma inocência, de “sobrevivente dos al- -shababs”, como é designado o grupo insurgente. É assim que nos é apresentado, mas Atibo esboça um falso sorriso só para esconder o trauma de quem pisou a fronteira entre a vida e a morte. Por algum tempo esteve nas mãos dos insurgentes, depois de ter sido capturado enquanto dormia numa casa ao lado da mesquita. Enquanto refém, foi colocado lado a lado com um outro capturado que estava a ser, brutalmente, violentado. Só não chegou a sua vez porque conseguiu se escapulir enquanto os insurgentes desferiam golpes de catana contra a outra presa, gritando “Allah Akbar”, qualquer coisa como “ “Alá (Deus) é grande”, em árabe. Mesmo sem precisar números, Atibo garante que os atacantes eram “muitos”, e eram todos homens, envergando roupa preta e parcialmente mascarados e com sacos nas costas. Medo é a palavra de ordem do jovem que continua traumatizado. “Naquele momento estava com medo e até hoje continuo com medo”, diz. Kwashi Amisse, uma idosa a caminho dos 70 anos, assistiu, como acontece nos filmes de terror, ao filho a ser morto à catanada. “Cercaram a casa, arrombaram a porta e começaram a acataná-lo. Eu estava no quintal a assistir tudo, até que informei a outro meu filho sobre o que estava a acontecer. Depois fugi para o mato”, testemunha. Era o triste fim de Alifo Momade, que era quem sustentava a mãe que, em plena terceira idade, perdeu o seu porto seguro. “Hoje estou No rasto dos ataques no norte de Cabo Delgado Luto, dor e destruição! - Situação no terreno é dramática contrariando os discursos politicamente correctos do Governo Por Armando Nhatumbo/Fotos de Na[ita Ussene D esde a eclosão dos ataques, em Outubro do ano passado, as autoridades governamentais têm procurado minimizar o impacto da actuação dos insurgentes. Uma das mais recentes aparições foi do governador da província de Cabo Delgado, Júlio Parruque que, numa entrevista ao “Dossiers e Factos” pintou um quadro “bonito” e “conveniente”, mas bastante distante da real situação que se vive no norte da província. O SAVANA esteve durante uma semana no terreno e, por isso, testemunhou a situação dramática que se vive nas aldeias dos distritos de Palma, Mocímboa da Praia, Macomia e Quissanga. Por exemplo, por todas as aldeias afectadas por que passamos, as comunidades queixam- -se de fome porque já não podem ir às machambas por medo dos ataques, o que desmente a politicamente correcta versão do governador, que garantiu que em nenhum momento a população se quei xou de falta de comida e que continuam a trabalhar e a produzir no seu dia-a- -dia. Verdade, porém, é que, timidamente, os deslocados vão regressando às suas zonas de origem. O SAVANA esteve, por exemplo, na Ilha do Ibo, para onde se tinha deslocado grande parte das comunidades afectadas. De acordo com os residentes da Ilha, no pico dos ataques chegavam por dia até cinco barcos com cerca de 50 deslocados, cada. Mas a maioria já não está no Ibo. Anica Ibrahimo é das poucas que continua por lá. Saiu de Naúnde, com mais de 10 membros da família, agora enclausurados numa minúscula casa de um familiar a trabalhar na ilha. “Saímos por causa da guerra. Queimaram a nossa casa e perdemos tudo. Aqui vivemos na base e apoios”, relata Anica, que amamenta um bebé de um ano e um mês. Semba Imedi, residente da Ilha do Ibo, tinha a casa transformada num verdadeiro centro de acolhimento de deslocados, quando chegou a receber no minúsculo quintal, 26 pessoas que fugiam dos ataques. Mas hoje só ficou com a sobrinha, Alina Macasaré, que fugiu de Naúnde, onde vivia com o esposo e duas crianças, todas menores de idade. Fugiram quando se aperceberam da agitação e a casa ficou a ser incendiada com todos os pertences. O apelo do governador Parruque para que as comunidades mantivessem vigilância, mesmo que isso passasse por dormirem pouco, está em marcha no norte da província. A partir das 19h, grupos de jovens locais, empunhado armas brancas, sobretudo catanas, arcos e flechas, juntam- -se aos militares para patrulhas nocturnas. Autêntica caça ao homem em defesa da vida. Drama que desmente o conveniente A aldeia de Lalane está aos escombros Atija Mussa com a pequena Alima Alifo e os menores Selemane e Fátima Savana 20-07-2018 3 SOCIEDADE a viver de qualquer maneira. Não sei se hei-de sobreviver porque aquele filho é que me ajudava”, anota Kwashi Amisse. Enquanto percorremos aldeia de Naúnde, são mais e mais histórias de terror, como a de Musa Simba, uma viúva cujo esposo foi degolado, a cabeça separada do corpo e depois colocada no mercado local, numa clara exibição da brutalidade dos insurgentes. O casal estava a dormir, quando se apercebeu que a sua casa estava em chamas. Foi na tentativa de fuga que o esposo caiu nas malhas dos “al-shababs”. “Hoje estou a viver uma vida muito crítica, sem nada porque ele é que era o chefe de família”, diz Musa, a viúva que agora está albergada no lar da filha. Minissa Muarabo hoje dorme quase ao relento, com o esposo e cinco filhos. É que a casa, parcialmente destruída, ficou sem tecto, mas é lá onde a família passa as noites, debaixo da cacimba. Perguntámo-la como são as noites chuvosas, ao que respondeu: “recorremos à varanda da casa do vizinho”, que aponta com o dedo indicador. Se não houve vítimas, é porque conseguiram fugir com antecedência, mas perderam tudo que estava no interior da casa, que foi incendiada. Jamal Tuair foi vítima de uma actuação menos criteriosa das forças governamentais destacadas para Naúnde. É que, à sua chegada, na manhã seguinte, os militares emboscaram a aldeia. Tuair estava com um amigo quando os dois foram baleados confundidos com membros do grupo insurgente. Caíram inanimados e os militares, inscrevendo “dois bandidos abatidos nos relatórios”, lá se foram. De facto, o seu acompanhante estava mortalmente estatelado, mas Tuair resistiu porque tinha de vir testemunhar a história da actuação das tropas governamentais, de que é vítima com ferimentos no braço direito. O chefe da aldeia, que serve de nosso guia por aquela terra que ainda respira o cheiro da morte e da destruição, assegura que Naúnde mudou completamente depois dos ataques. “Antes da guerra, Naúnde estava a desenvolver-se. Havia crescimento aqui e certamente que Naúnde de amanhã seria diferente, mas hoje tudo parou”, lamenta Maurício Miranda, que também ficou afectado na incursão. Polígamo, perdeu duas casas e todos seus pertences, como as duas motorizadas que usava como meio de subsistência, para além de 25 cabritos queimados vivos no curral. “É toda a minha vida que foi destruída e até agora não sei o que fazer. Hoje quando me vê com calças, são de apoio”, conta, com uma lágrima no canto do olho. Antes dos ataques, que afectaram 704 famílias, Naúnde tinha cerca de 2.800 habitantes, mas muitos são os que abandonaram a aldeia à procura de locais seguros. Mondlane Saíde Issa faz parte das dez vítimas mortais cujas imagens com corpos decapitados e cabeças separadas se tornaram virais nas redes sociais e chocaram o país e o mundo, depois da incursão de 27 de Maio, quando o grupo assassinou cinco pessoas na aldeia de Mondlane e outras cinco na aldeia 25 de Junho, ambas situadas no Posto Administrativo de Olumbi, a mais de 40 quilómetros a sudeste de Palma. A casa de Saíde Issa, na aldeia Mondlane, está com a porta trancada porque a esposa e os três filhos menores se mudaram, imediatamente, para a sede distrital de Palma. Mas a menos de 10 metros, está o lar da filha, Mariamo Saíde, 18 anos de idade e mãe de um filho. Questionada sobre o que sucedeu naquela fatídica noite, Mariamo perde forças e, já cabisbaixa, se emociona, até que perde a capacidade de articular as palavras. São lágrimas que expressam tormentos de quem perdeu o pai de forma brutal. Na mesma noite em que Mariamo Saíde perdia o pai, Lupina Alberto perdia o filho, surpreendido numa conversa entre amigos. Foi na tentativa de fuga que Peil João caiu nas garras dos atacantes, que lhe tiraram a vida na hora. “Ele é que trazia comida. Hoje estamos a viver à maneira”, queixa-se Lupina Alberto. Sumail Midjai, um velho de 91 anos de idade, também perdeu o filho, Azizi Assumane, no dia em que os atacantes seleccionaram Mondlane como o alvo a atacar. “Confiava nele na minha vida. Ele é que me ajudava em tudo, incluindo para comprar comida. Desde que faleceu, estou a passar mal, com carências muito sérias”, diz o velho. Enquanto percorríamos a aldeia, algo nos vai chamar atenção. Cerca de três dezenas de mulheres formam um círculo à entrada de uma residência, onde entoavam cânticos tradicionais. Era o “ziquile”, um ritual tradicional para evocar os mortos, agora feito em memória a Omar Lázima, que integra a lista dos cinco decapitados na noite de 27 de Maio. Com a lição estudada, quando chegaram à residência de Omar, os insurgentes, depois de arrombar a porta da casa, exigiram dinheiro ao pequeno comerciante local, que tinha um mini-estabelecimento de confecção de alimentos. Depois de responder que não tinha o dinheiro exigido, os atacantes questionaram-no: “como porque sempre preparas chá”. Lázima foi amarrado, deitado ao chão e cortado o pescoço, marca de brutalidade. Era o fim de um jovem de 37 anos de idade, que partiu, deixando no mundo dos vivos uma viúva e sete filhos por cuidar. É todo um agregado que de si dependia e que agora diz estar a viver “da graça de Deus”. Afinal, ali onde era feito o ritual é a casa do pai do falecido, onde estão a viver pelo menos quatro dos sete filhos de Omar. A mais nova é Subila Lázima, um ano e meio de idade, irmã de Sumail Lázima, cinco anos, Babo Lázima, sete anos e Momade Lázima, 12 anos de idade, que tão cedo foram empurrados para a sofrida condição de órfãos. O líder da aldeia, Salimo Chinga, diz que Mondlane de ontem é diferente da de hoje. Segundo Chinga, hoje ninguém vai à machamba por medo dos atacantes e, consequentemente, começam a surgir bolsas de fome porque a população se está a alimentar dos excedentes da campanha agrícola anterior, que também já estão a acabar. Lalane No dia 23 de Junho, foi a vez de os atacantes invadirem a aldeia Lalane, no mesmo Posto Administrativo de Olumbi, mas encontraram as casas abandonadas porque os residentes locais já dormiam nas matas, depois de duas incursões na mesma povoação, uma a oito de Dezembro de 2017 e outra a 13 de Janeiro de 2018, em que os insurgentes roubaram produtos alimentares. Contudo, no ataque de Junho foi possível fazer seis mortos, cinco dos quais surpreendidos num acampamento de pescadores e o sexto nas margens do oceano Índico, para onde se tinha refugiado. Foram 100 casas incendiadas, mas porque a aldeia está debaixo (QWUHDIDPtOLDHVWmRRVTXDWURPHQRUHVTXHÀFDUDPyUImRVFRPRDVVDVVLQDWRGRSDL2PDU/D]LPDQDDOGHLDGH0RQGODQH Savana 20-07-2018 4 SOCIEDADE P or um grave erro de paginação, a edição do SAVANA (nº1279) publicada na passada sexta-feira saiu, erradamente, com o preço de capa de 50 Meticais ao invés de 60 Meticais, que está em vigor desde 4 de Maio deste ano. Ciente do embaraço que tal erro terá provocado junto dos leitores e, sobretudo, nos ardinas, as nossas sinceras desculpas. A Redacção de um palmar, os coqueiros, que eram uma das fontes de rendimento das comunidades, estão a murchar porque foram atingidos pela fúria das chamas. O ambiente quase fantasma na aldeia, hoje com cerca de 500 habitantes, dos cerca de 1.197 antes dos ataques e os destroços que cobrem a pacata povoação, estão ali para dizer a quem chega que houve uma razia para não esquecer. A Escola Primária local, onde eram formados os homens do amanhã, fechou as portas porque os professores fugiram pela vida e os 144 alunos também se dispersaram por conta duma guerra que adia milhões de sonhos. Assane António é o residente de Lalane que foi surpreendido na costa quando procurava refúgio com a esposa e o filho de cerca de quatro anos de idade. Muanassa Ali, a esposa, é quem ficou para contar como tudo aconteceu. Segundo a viúva, os malfeitores separaram o casal e, imediatamente, cortaram o pescoço do esposo com recurso a um machado. Aliás, degolar seres humanos, semelhantes a eles, é a assinatura dos atacantes que, às vezes, para enfatizar a brutalidade, tratam de trocar de cabeças de uns para outros corpos. Muanassa, que conseguiu se escapulir dos atacantes, diz que o grupo era composto por cerca de 20 atacantes, incluindo uma mulher. Segundo ela, os atacantes não disseram o que queriam, apenas arrancaram a vida do seu companheiro. Hoje Assane passa por privações agudas porque o esposo era quem sustentava a família. Em Lalane também encontramos Dadi Mussa a reconstruir a casa, na qual vivia com a esposa e sete filhos, que foram acolhidos pelo seu sogro. “Tudo queimou. Esta roupa que tenho não tiro desde o dia 22 de Junho porque não tenho outra. Às vezes durmo com fome porque já não se pode ir à machamba por medo de ser degolado”, conta. Bacar Ali é o sogro que recebeu a família de Dadi Mussa, oito pessoas, que se juntaram aos quatro membros do seu agregado, agora com 12 pessoas. “Não é fácil sustentar tanta gente, mas fazer como? Estamos a viver assim mesmo. No dia em que não consigo ir à pesca, dormimos com fome porque à machamba não vamos por medo de sermos cortados”, relata. Nassoro Sumail também estava a reconstruir a casa quando passamos pela aldeia Lalane. Diz que dorme nas casas vizinhas, ele que tudo perdeu quando a casa foi incendiada, naquela hora em que se escondia na mata. “Tenho de concluir a casa para mandar regressar a minha esposa e filhos para recomeçarmos a vida”, sonha. Revela que vive na base de restos que apanha na aldeia. E para afastar eventuais dúvidas, mostra-nos um pedaço de coco que deverá ser o seu almoço e, possivelmente, a última refeição do dia. “Deixei o coco para comer quando sentir fome”, explica. É apenas uma de centenas de pessoas que carecem por assistência no norte de Moçambique, onde os ataques já estão a provocar uma verdadeira crise humanitária, com pessoas desprovidas de tudo e a passarem fome. Quem também perdeu tudo e hoje passa fome é Atijuane Chenene, Nota mados”, conta Roses Ali Momade, que sublinha haver fome na aldeia. Um dia depois da incursão de Lalane, o grupo entrou, a 23 de Junho, a atacar na sede da localidade de Quissengue, onde incendiou mais de 100 casas sem, contudo, fazer vítimas mortais, porque os residentes locais já não dormiam nas suas casas depois do que acontecera na vizinha aldeia de Lalane. E no dia 24 os insurgentes atacavam numa aldeia designada Ntulene, mas os residentes também já viviam sob alerta. No dia 22 de Maio, às 22 horas, o grupo entrava na aldeia Lipunguti, situada na zona limítrofe entre os distritos de Palma e Mocímboa da Praia. Os atacantes fizeram cinco vítimas mortais e incendiaram 19 casas e duas barracas. O SAVANA esteve no local e testemunhou a rasto de destruição causado em mais uma investida dos chamados “al-shababs”, embora sem nenhuma ligação comprovada com o grupo somali. Para além de Naúnde, Mondlane, Lalane e Lipunguti, o SAVANA esteve na aldeia 25 de Junho, Posto Administrativo de Olumbi, Palma, onde a 27 de Maio o grupo degolou cinco pessoas. Hoje as casas circunvizinhas do local dos acontecimentos estão totalmente abandonadas. Estivemos também na aldeia de Yunge (cerca de 15 km de Lalane), onde parte das comunidades também fugiu por medo, depois dos atacantes terem invadido a aldeia e saqueado diversos produtos alimentares. Na sede do posto administrativo de Olumbi, distrito de Palma, onde a 13 de Janeiro os atacantes fizeram cinco mortos e vários feridos, e na aldeia de Namaluco, distrito de Quissanga, onde a seis de Julho foram mortas cinco pessoas, dois feridos, incendiadas 70 casas e vandalizado o centro de saúde local, não nos foi permitido trabalhar por falta de “guias de marcha”, mas testemunhamos, in loco, o cenário de destruição, luto, dor e sofrimento. Estivemos em Xipingo, cerca de 20 km a norte da sede distrital de Mocímboa da Praia, uma aldeia que está totalmente abandonada. Outra aldeia do mesmo distrito que também tinha sido abandonada é Mitumbate, próxima de Xipingo, onde, de forma tímida, um e outro residente começa a regressar à casa, depois dos ataques de Novembro do ano passado, que resultaram em duas vítimas e 25 casas e uma igreja incendiadas. que diz que vive na base de ajudas, juntamente com o esposo e os dois filhos. O primeiro secretário do círculo, como são designados os representantes da Frelimo nas bases, é a única estrutura local que não fugiu. “Lalane mudou muito. Desde Dezembro que não trabalhamos, não vamos à machamba por causa de medo. Hoje a vida é muito cara. Tínhamos jovens que se engajavam na comercialização, mas hoje não temos barracas, todas foram invadidas. Os jovens iam à pesca, mas fugiram por medo. Para ter refeição, é preciso sacrificar-se. Às vezes confiávamos no coco, mas os coqueiros estão a murchar porque foram quei2FKHIHGDORFDOLGDGHGH1D~QGH0DXUtFLR0LUDQGDPRVWUDRVGHVWURoRVGDVGXDVPRWRUL]DGDVTXHHUDP os meios de sobrevivência. (PPDLVXPULWXDOHPPHPyULDGHXPDGDVYtWLPDVGRVDWDTXHV .ZDVKL$PLVVHYLXRÀOKRDVHUDVVDVVLnado pelos insurgentes 6DÀOLQD$EGDODHIDPtOLDSHUGHUDPWXGRHDJRUDWHQWDPUHFRPHoDUDYLGD Savana 20-07-2018 5 PUBLICIDADE SOCIEDADE Savana 20-07-2018 6 SOCIEDADE N ão é apenas na cidade de Maputo onde a luta por um lugar no topo da lista partidária, que vai concorrer às eleições autárquicas de 10 de Outubro, está renhida. Um pouco por todo o país o barulho e o lobby pela busca de simpatias para a eleição interna é enorme. A família frelimista ao nível da cidade de Tete, capital da província do mesmo nome, está dividida em torno do regresso do então edil, César Carvalho, à corrida eleitoral sob alegação de que o seu perfil viola a directiva aprovada, pela Comissão Política (CP), em Maio passado. Recordar que, reunida na 11ª sessão ordinária, a CP deliberou que o processo interno de escolha dos candidatos para as eleições autárquicas de 10 de Outubro deve ter em conta, para além da sua honestidade e integridade, a sua aceitação no seio das bases do partido. Foi nessa orientação que três candidatos a saber: Edson Vicente Lino, empresário e antigo secretário provincial da Organização da juventude moçambicana ao nível da província de Tete; Lopes Raul Mungadzi, vereador da Urbanização no Conselho Municipal da cidade de Tete e João Barroso, director provincial adjunto de Educação e Desenvolvimento Humano de Tete apresentaram suas candidaturas junto às bases. Contudo, por falta de apoio das bases, Barroso retirou a sua candidatura e, na corrida, continuaram os restantes. Porém, fontes internas da Frelimo contam que, quando tudo indicava que os dois nomes é que avançariam para o escrutínio final e, posteriormente à homologação da CP, eis que, o primeiro-secretário provincial, Fernando Bemane, introduz o nome de César Carvalho. D epois de ter sido oficialmente apresentado, esta terça-feira, como membro da Renamo, Venâncio Mondlane poderá, nos próximos 15 dias, ser anunciado como cabeça-de-lista desta formação política para as autárquicas no município de Maputo. Manuel Bissopo, secretário-geral da Renamo, disse que espera dos membros do partido uma contribuição que garanta a vitória do partido nos próximos pleitos eleitorais, como forma de “vingar” a morte de Afonso Dhlakama. Formalmente, a Renamo diz que Venâncio Mondlane ainda não é o “cabeça-de-lista” para as eleições autárquicas de 10 de Outubro, porque terça-feira foi dedicada à sua apresentação como membro do partido. Bissopo explicou que o “cabeça- -de-lista” deverá ser eleito pelas bases, ao nível da capital do país, e será anunciado nos próximos dias. É que, segundo se sabe, as directivas para o processo autárquico impõem que os pré-candidatos sejam eleitos ao nível das bases e daí subam até ao comité da cidade e, posteriormente, para chancela do gabinete central e da CP. É esta rota que, ao que parece, não terá seguido a candidatura de César Carvalho. Ao que se diz, a candidatura de Carvalho foi mesmo “inventada” à última da hora, por um grupo restrito que integra Fernando Bemane, sem um apoio expresso dos membros da Frelimo. Os contestatários dizem que o nome de César Carvalho nunca constou nas listas apresentadas às bases, para além de que, desde que saiu do município, em Fevereiro de 2014, Carvalho passou a residir na cidade da Beira, onde exerce funções de director regional do Fundo de Investimento e Património de Abastecimento de Água (FIPAG). Contam ainda que para além de falta de apoio das bases, o que pode afectar o desempenho do partido na eleições, a sua passagem pelo município, entre os anos 2003 -2013, Carvalho deixou marcas negativas na cidade. César Carvalho foi acusado de prática de crimes de abuso de cargo e de falsificação de documentos. Segundo a acusação do Ministério Público, o autarca terá lesado o Conselho Municipal em 518.160 meticais por não pagamento das taxas pela tramitação dos processos e pela ocupação das terra. O processo aguarda pela decisão do Tribunal Superior de Recurso, visto que o Ministério Público não concordou com a decisão do Tribunal Judicial da Província de Tete que amenizou o crime. Contactado pelo SAVANA , Fernando Bemane minimizou as queixas referindo que o processo da selecção dos possíveis cabeças de lista ainda está a decorrer e a CP ainda não marcou a data da eleição, pelo que nada está decidido. Sobre a indicação de César Carvalho sem passar do escrutínio das bases, Bemane disse que nada tinha a comentar sobre o assunto, porque quem decide no partido são os membros e não uma pessoa. Quem optou pelo silêncio foi César Carvalho que, em contacto com o SAVANA , disse que não tinha nada a comentar. Por seu turno, Ana Rita Sithole, chefe da brigada central do partido para a província de Tete, referiu que o processo de eleição interna ainda está a decorrer, sendo que a CP ainda não se pode pronunciar. Sithole disse que não está a par das divergências dentro do partido ao nível da cidade de Tete, na medida em que, não há razões para tal. “Neste último fim-de-semana estive em Tete a orientar uma reunião do Comité Provincial e não senti esse clima. Contudo, vou me inteirar junto aos órgãos competentes e, a ser verdade, dentro das normas do partido vai- -se resolver a situação”, frisou. Ana Rita Sithole referiu que a directiva da Frelimo sobre eleições autárquicas é clara quanto ao processo de candidaturas. “Só pode ser cabeça de lista aquele que representa a vontade das bases”. Sobre a candidatura de César Carvalho, que segundo seus camaradas fere os princípios definidos pela CP, Ana Rita Sithole referiu que está claro para todos os quadros do partido que, a questão do combate à corrupção é a bandeira da Frelimo nesta empreitada. Logo, acrescentou, se alguém tem pendentes com a justiça devido à prática de actos de corrupção deve, desde já, saber que não é elegível por não reunir os requisitos definidos pela directiva da direcção máxima do partido. Maputo ao rubro Na cidade de Maputo o processo de eleição de figuras à cabeça de lista também continua tenso. Ao que apurámos, devido à confusão no seio do partido ao nível da cidade, a CP é que vai tomar a decisão final. Neste momento há duas listas na berlinda. Uma proveniente das bases e organizações sociais do partido mormente: a Organização da Mulher Moçambicana (OMM), Organização da Juventude Moçambicana (OJM), Associação dos Antigos Combatentes da Luta Armada de Libertação Nacional (ACLLN) bem como dos círculos dos distritos de Kamubuwana, Kamavota e KaMaxaquene. Esta lista inclui os nomes de Edson Macuácua, Samora Machel Júnior e João Mathombe e a outra tem o suporte Francisco Mabjaia, primeiro secretário do partido ao nível da cidade de Maputo. Esta lista integra os nomes de Eneas Comiche, Fernando Sumbana Júnior e Razaque Manhique. No último fim-de-semana, Francisco Mabjaia não conseguiu esclarecer quem era o proponente do nome de Eneas Comiche como pré-candidato a cabeça de lista, visto que a directiva do partido indica que todos os nomes devem partir da base. “Samora Machel está na lista dos que vieram dos distritos e o camarada Eneas Comiche é um dos quadros da Frelimo e está na lista”, justificou-se Mabjaia Porém, o que se sabe é que apesar da sua passagem brilhante ao nível da capital, Eneas Comiche não goza simpatias das bases. Num pleito em que a Renamo, principal partido da oposição, deverá apresentar-se com o jovem Venâncio Mondlane, a idade de Comiche é usada pelos seus detractores para, politicamente, afastar a sua candidatura. No próximo ano, quando arrancar o novo mandato, Comiche terá 80 anos de idade. Frelimistas divididos com o regresso de César Carvalho a Tete Por Raul Senda, em Tete Venâncio Mondlane “Contratação de inverno” para cabeça-de-lista Por Argunaldo Nhampossa Entretanto, o SAVANA apurou que, obedecendo a esse princípio, a Renamo vai realizar uma conferência electiva em Maputo, para sufragar Venâncio Mondlane como “cabeça-de-lista” do partido. A adesão de Mondlane à Renamo foi negociada pelo falecido líder do partido, Afonso Dhlakama, que morreu a 03 de Maio deste ano. Mondlane tem-se destacado nas redes sociais pela sua pré-campanha para a conquista do município da capital. Membros da Renamo ao nível da cidade de Maputo e não só acorreram em massa esta terça-feira à reunião do partido, que tinha como pano de fundo a apresentação e filiação de Venâncio Mondlane. Durante o acto, outros 13 dissidentes do MDM também foram apresentados como novos membros do principal partido da oposição. Trata-se de militantes com os quais Mondlane trabalhou enquanto candidato do MDM às autárquicas em 2013, parte deles estava na assembleia municipal de Maputo. Contrastando com o vigor que tem apresentado nas redes sociais em que responde a quase tudo, Venâncio Mondlane não pronunciou sequer uma palavra durante o acto de apresentação e evitou fazer declarações à imprensa. Depois da apresentação dos novos membros, cuja maioria exercia diferentes cargos de chefia no MDM, a Liga Feminina da Renamo entoou um cântico que deixou meio atónito os novos membros. “Akuva uli delegado ou chefe, a ungue swi kume mahala, txivirika”, o que numa livre tradução significa “para ser delegado ou chefe é preciso muito trabalho e dedicação, nada é dado de graça”. Renamo deve governar O secretário-geral da Renamo, Manuel Bissopo, endereçou as boas-vindas aos antigos membros do MDM, assinalando que a livre filiação partidária constitui uma das virtudes do multipartidarismo. A mudança dos novos membros para a Renamo, prosseguiu, é um sacrifício, mas também demonstração do peso de Afonso Dhlakama na política moçambicana. Manuel Bissopo exortou os novos membros a partilharem a sua visão e experiência de modo a que a Renamo tenha sucessos nos próximos pleitos eleitorais a começar pelas autárquicas de Outubro próximo. “Esperamos de vós uma maior contribuição possível para que a bandeira da Renamo soe mais alto, que esteja no altar e dite as regras de governação nos próximos anos. Tudo o que vocês sabem devem fazer valer dentro da Renamo e que este sacrifício se transforme em resultados concretos no futuro”, observou. Na sua alocução, Bissopo disse que a missão do seu partido é vingar a morte de Dhlakama nas urnas, ganhando as eleições em alguns municípios, sendo que, para tal, é preciso coesão interna, trabalho e dedicação. O secretário-geral da Renamo considerou a vitória da Renamo uma necessidade para tirar o povo moçambicano do sofrimento. Candidatura de ex-edil contestada César Carvalho Lopes Raul Edson Lino Savana 20-07-2018 7 SOCIEDADE Savana 20-07-2018 8 SOCIEDADE J á estão criadas as condições, sob o ponto de vista legal, para a realização das quintas eleições autárquicas, previstas para Outubro próximo, com a aprovação, esta quarta-feira, das alterações ao pacote eleitoral autárquico pela Assembleia da República. Apesar da aprovação, o partido no poder, Frelimo, insiste que não se pode ir às eleições antes do desarmamento do braço armado da Renamo, principal partido da oposição. Em resposta a esta exigência, a bancada parlamentar da Renamo defende que a Assembleia da República (AR) não tem mandato para fazer tal exigência. A matéria, considera o principal partido da oposição, está nas mãos das respectivas lideranças. Os entendimentos alcançados na semana passada pelo Presidente da República, Filipe Nyusi, e pelo líder interino da Renamo, Ossufo Momade, abriram caminho para a realização, nesta quarta e quinta-feira, da aguardada sessão extraordinária, que aprovou os instrumentos jurídicos que vão viabilizar a realização das eleições autárquicas ainda este ano. Trata-se da Lei nº 2/97 de 18 de Fevereiro, que estabelece o Quadro Jurídico para a Implantação das Autarquias Locais, e da Lei nº7/2013 de 22 Fevereiro, alterada e republicada pela lei nº 10/2014 de 23 de Abril, relativa à Eleição dos Titulares dos Órgãos das Autarquias Locais. No entanto, não foi revista nesta sessão a lei que aprova o regime da Tutela Administrativa do Estado aos órgãos Autárquicos, que deverá ser apreciada próximo ano, em virtude de não comprometer a realização das eleições autárquicas. Segundo soube o SAVANA, os municípios deverão passar à tutela dos secretários de Estado nas províncias, a partir de 2020, uma vez que passarão a ser representantes do Estado na província. Durante o período transitório, vai prevalecer o actual regime, em que a tutela é exercida pelos governadores provinciais, porque os governadores passarão a ser eleitos, em resultado do processo de descentralização em curso. Novo modelo nas autarquias Por consenso, as bancadas parlamentares da Frelimo, Renamo e MDM aprovaram as duas leis que conformam as inovações introduzidas pela revisão pontual da CRM. Entre as alterações, avulta a que introduz o sistema de cabeça-de-lista dos partidos, coligações e grupos de cidadãos vencedor nas eleições das assembleias municipais para a escolha de edis. A segunda volta só pode ocorrer, em caso de empate de votos nas listas e deverá contemplar apenas as duas listas empatadas. A investidura da assembleia municipal é feita pelo juiz presidente do tribunal judicial de província, no caso de Maputo, enquanto o preO impensável aconteceu, na quarta-feira, dia das alegações finais do julgamento do editor executivo do Canal de Moçambique, Matias Guente, por causa de uma caricatura e uma matéria envolvendo a antiga administradora do Banco de Moçambique, Joana Matsombe. Após ter pedido a condenação de Matias Guente a 18 meses e ao pagamento de uma indemnização de dois milhões de meticais na acusação que leu a 29 de Junho, o representante do Ministério Público, Carlos Banze, pediu a absolvição do jornalista. “Pedir a condenação do réu poderia equivaler a um enorme recuo nas liberdades e direitos fundamentais que assistem aos cidadãos”, afirmou Carlos Banze, magistrado do Ministério Público interveniente no caso. Carlos Banze considerou que a caricatura em causa não é ofensiva da honra da antiga administradora do Banco de Moçambique Joana Matsombe e é aceitável dentro do contexto em que a mesma foi produzida no Canal de Moçambique. O representante do Ministério Público assinalou que, na qualidade de detentora de um cargo público, à altura dos factos, Joana Matsombe devia estar preparada para uma maior exposição ao escrutínio público. “Todo aquele que ocupa cargos públicos é susceptível ao escrutínio público pelo que não se pode usar o direito penal para criminalizar a opinião, sob pena de intimidar os cidadãos”, declarou Carlos Banze. “Imaginação fantasiosa” - João Trindade O advogado de Matias Guente, João Trindade, como lhe competia, também defendeu a absolvição do seu constituinte, considerando uma “fantasia” o entendimento de que a vítima foi difamada por ser mulher. “É uma imaginação fantasiosa da ofendida de que foi difamada por ser mulher”, afirmou. O facto de ser mulher, prosseguiu, não isenta a ex-administradora do Banco Central de responsabilidades no desempenho das suas funções. João Trindade, juiz jubilado do Tribunal Supremo, recorreu ainda à jurisprudência moçambicana para assinalar que “a liberdade de imprensa deve ser mais ampla que o simples exercício de defesa da imagem das figuras públicas”. “Não temos outra expectativa, a não ser a sua absolvição”, disse. Por sua vez, o réu declarou que o Canal de Moçambique não se responsabiliza pela interpretação subjectiva da caricatura pela ofendida. “Publicamos com a intenção de informar e formar”, acrescentou, enfatizando ainda que “o interesse público é inegociável”. A sentença será lida no dia 29 de Agosto. Joana Matsombe moveu o processo em 2017, acusando o Canal de Moçambique de calúnia e difamação na caricatura, em que aparece de fato de banho, acompanhada do antigo governador do Banco de Moçambique Ernesto Gove, de tronco nu e calções. No mesmo espaço, aparecem as palavras “Nosso Banco” e “Supervisão Bancária”. Com a caricatura, inserida numa série de matérias sobre o “Nosso Banco”, o editor executivo do Canal de Moçambique afirmou que o jornal pretendia criticar a negligência da supervisão do regulador bancário moçambicano na falência daquela instituição financeira. sidente do tribunal de distrito vai investir o órgão nas capitais provinciais, o que permite que todas as autarquias tomem posse no mesmo dia. Por sua vez, o presidente da assembleia municipal deverá conferir posse ao presidente do conselho municipal e, na sua ausência, as cerimónias serão dirigidas pelo juiz presidente do tribunal de distrito ou de província. Uma das inovações da lei é que a assembleia autárquica tem o poder de demitir o presidente do conselho municipal, em caso de violação da Constituição da República e demais legislação autárquica das regras de probidade estabelecidas na lei. Será também destituído por encargos com o pessoal que ultrapassem os limites estipulados, por comprovada violação das regras orçamentais e de gestão financeira pelos órgãos jurisdicionais, entre outros. Em caso de impossibilidade definitiva por morte ou doença para o exercício da presidência da autárquica já não há espaço para a realização de eleições intercalares, como ocorria nos anos anteriores. Nestes casos, o edil é substituído pelo membro da assembleia municipal que se segue ao cabeça- de-lista. Inicialmente, o Governo central defendia que, em situação do género, o presidente do conselho municipal tinha que ser substituído pelo membro da assembleia municipal que estiver melhor posicionado em termos de requisitos de elegibilidade para o cargo em causa. Apesar das alterações, o Governo continua a deter o monopólio da atribuição ou alteração de nomes de ruas, praças e localidade, entre outros, ao nível das autarquias. Para o efeito, o órgão autárquico deve propor os referidos nomes, ouvido o Conselho de Ministros. Outra nota de destaque é que, caso não seja aprovada a proposta do orçamento da autarquia, é reconduzida a do exercício económico anterior, com os limites nela definidos. Com a aprovação dos instrumentos legais, a Comissão Nacional de Eleições (CNE) deverá iniciar nos próximos dias uma verdadeira maratona contra o tempo, isto a avaliar pelas declarações do seu porta-voz, Paulo Cuinica, quando afirmou que caso as leis fossem aprovadas esta semana, ainda haveria espaço para que as eleições ocorram a 10 de Outubro. Segundo a lei relativa à eleição dos titulares dos órgãos autárquicos locais, a apresentação das listas de candidatura deve ser feita até 120 dias da data prevista para as eleições. Findo este período, a CNE deve, nos 30 dias subsequentes, elaborar as listas dos candidatos aceites e rejeitados. Aliado a isto está o processo de elaboração dos boletins de votos, que implica a realização de concurso público e testagem dos materiais. Entregar as armas Manuel Vasconcelos, deputado da Frelimo, afirmou na sessão extraordinária que o processo de descentralização não deve ser dissociado da paz, que implica a desmilitarização total e completa da Renamo. Apelou à perdiz para honrar os compromissos acordados para que, em tempo, útil se desarme. A Renamo reiterou que o tema em torno da desmilitarização está a ser tratado pelo chefe de Estado e pelo líder da Renamo e não cabe à AR assumir as rédeas do processo. Para António Muchanga, deputado da Renamo, com o adiamento da sessão extraordinária da AR, a Frelimo pretendia envergonhar Filipe Nyusi, porque, “até à data da elaboração dos pareceres sobre as matérias aprovadas esta semana, a Frelimo sabia que a Renamo está armada”. Louvou a aprovação das leis apontando que criaram uma oportunidade para a redução de custos eleitorais, uma vez que será usado um único boletim por eleitor nas eleições autárquicas. Resolver problemas do povo Por seu turno, o MDM considera que a aprovação dos instrumentos legais constitui uma grande conquista, porque visam organizar a participação dos cidadãos na solução dos problemas da comunidade, promover o desenvolvimento local, o aprofundamento e a consolidação da democracia, no quadro da unidade do Estado Moçambicano. De acordo com Manuel de Sousa, a descentralização apoia-se na iniciativa e na capacidade das populações e actua em estreita colaboração com a participação dos cidadãos. Destacou a supressão da eleição intercalar em caso de dissolução da assembleia autárquica, considerando inovação exemplar a prerrogativa conferida à assembleia autárquica de demitir o presidente do conselho autárquico. Parlamento abre caminho às autárquicas Por Argunaldo Nhampossa Julgamento do Canal de Moçambique MP recua e pede absolvição Por Abílio Maolela PUBLICIDADE Savana 20-07-2018 9 A BOLSA DE MERCADORIAS DE MOÇAMBIQUE (BMM) informa a todas entidades públicas e privadas, camponeses e comerciantes individuais, associações de camponeses e o público em geral que possui uma lista de parceiros interessados em adquirir os seguintes produtos agrícolas: 1. MILHO 2. SOJA 3. GERGELIM 4. FEIJÃO MANTEIGA 5. FEIJÃO CATARINA 6. FEIJÃO BOER Neste contexto, todos aqueles que tiverem os produtos acima descritos em quantidades iguais ou superiores a 50 TONELADAS, que pretendam vender, poderão entrar em contacto com a BMM através dos seguintes contactos: Telefone: +258 84 6174249 ou pelo +258 84 4405665 - Direcção de Negócios, Estudos e Estatística. Email geral: nmanjate@bmm.co.mz cmassingue@bmm.co.mz bmmcompras@gmail.com COMPRA DE PRODUTOS AGRÍCOLAS PUBLICIDADE 10 Savana 20-07-2018 1.CONTEXTO A Oxfam em Moçambique está a implementar o Programa AGIR – Programa de Acções para Governação Inclusiva e Responsável, um programa de apoio e capacitação para Organizações da Sociedade Civil Moçambicana (OSC´s), cuja primeira fase de implementação ocorreu de 2010 a 2014 tendo iniciado a segunda em Janeiro de 2015 com duração de seis anos, até 2020. Este programa, tem como objectivo contribuir para uma sociedade moçambicana na qual os cidadãos, sobretudo os grupos marginalizados, gozam plenamente dos seus direitos de inclusão, de equidade no acesso aos benefícios da riqueza gerada pelo SDWULPyQLRGR3DtV2$*,5pÀQDQFLDGRSHODV(PEDL[DGDVGD6XpFLD+RODQGD e Dinamarca e conta com quatro organizações de coordenação e responsáveis por subprogramas. O Subprograma implementado pela Oxfam Novib apoia 16 OSC´s nas províncias de Niassa, Nampula, Zambézia, Sofala e Maputo, actuando em quatro áreas temáticas, nomeadamente: Monitoria de serviços básicos; Género, saúde, direitos sexuais e reprodutivos; Direitos humanos para grupos marginalizados; e Indústria Extrativa. Volvidos 3 anos de implementação da segunda fase do programa, é um momenWRFUXFLDOSDUDUHÁH[mRHPWRUQRGRVUHVXOWDGRVGDVDFo}HVUHDOL]DGDVGXUDQWH este período. Por esta razão, pretende-se realizar uma avaliação de meio termo para avaliar o nível de alcance dos resultados das acções do programa, medir DVXDHÀFiFLDHFROKHUOLo}HVSDUDPHOKRULQIRUPDURVHJXLPHQWRGDIDVHTXHVH segue. 2. OBJECTO DOS TERMOS DE REFERÊNCIA Os presentes termos de referência destinam-se à contratação de serviços de consultoria para a realização da avaliação de meio termo do subprograma AGIR implementado pela Oxfam Novib volvidos 3 anos de implementação nas diferentes áreas de actuação. 3. DURAÇÃO DA CONSULTORIA 'HVGH D GDWD GD FRQWUDWDomR GR D FRQVXOWRU D DWp D HQWUHJD GD YHUVmR ÀQDO do relatório da avaliação, no entanto, o(a) consultor(a) terá até 30 dias úteis de trabalho. A proposta técnica deve incluir a calendarização detalhada das actividades. TERMOS DE REFERÊNCIA PARA A CONTRATAÇÃO DE UM CONSULTOR PARA AVALIAÇÃO DE MEIO-TERMO DO PROGRAMA AGIR: AC 2015-2017 4. QUALIFICAÇÕES DO CONSULTOR Espera-se que a equipa de avaliação considere os diferentes saberes entre as áreas temáticas de Governação, Género- SRHR, Indústria Extrativa, Advocacia e ``Social accountability HGHPRQLWRULD H DYDOLDomR(P WHUPRV HVSHFtÀFRV D HTXLSD GHYHFRQVLGHUDUDVTXDOLÀFDo}HVGHVFULWDVDEDL[R ‡3RVVXLUSHORPHQRVRQtYHOGH0HVWUDGRHP&LrQFLDV3ROLWLFDV*RYHUQDomR (VWXGRVGH'HVHQYROYLPHQWRRXiUHDDÀP ‡3HORPHQRVDQRVGHH[SHULrQFLDHPDYDOLDomRRUJDQL]DFLRQDOGHSURMHFWRV sociais e de desenvolvimento; ‡ ([SHULrQFLD HP0RQLWRULD GH UHVXOWDGRV GH SURMHFWRV GH GHVHQYROYLPHQWR H Advocacia e domínio de sistemas de Monitoria e Avaliação; ‡([SHULrQFLDGHSHVTXLVDQDiUHDVRFLDO ‡([SHULrQFLDFRPSURYDGDQDUHDOL]DomRHSXEOLFDomRGHDYDOLDo}HV ‡&RPSURYDGDH[SHULrQFLDQDiUHDGHDGYRFDFLD ‡ &RQKHFLPHQWR SURIXQGR HP 'LUHLWRV+XPDQRV GLUHLWRV GR FLGDGmR D QtYHO nacional e em questões ligadas ao Género; ‡&RQKHFLPHQWRGRFRQWH[WRGHDFWXDomRGDVRFLHGDGHFLYLOHP0RoDPELTXH ‡2HTXLOtEULRGHJpQHURVHUiDOWDPHQWHFRQVLGHUDGRSDUDJDUDQWLUDHTXLGDGH nas equipes de consultores. 5. FORMAS DE CANDIDATURA Os(As) candidatos(as) interessados(as) que reúnam os requisitos, são convidados(as) a submeter a sua candidatura, mediante entrega de carta de maQLIHVWDomRGHLQWHUHVVHDQH[DQGRDSURSRVWDWpFQLFDHÀQDQFHLUD HP0HWLFDLV  acompanhada pelos CVs da equipa (língua portuguesa), incluindo uma cópia de um relatório de trabalhos similares, via e-mail através do endereço electrónico: (claudia.mabunda@oxfam.org ou julia.zita@oxfam.org), até o dia 31 de Julho de 2018, com a referência: “Consultor(a) PGA_AGIR_AC”. Os termos de referência mais detalhados, estão disponíveis mediante solicitação nos endereços descritos acima. Apenas serão contatados(as) para entrevistas os(as) candidatos(as) que passarem na avaliação preliminar da documentação. A cultura popular sempre associou o café ao consumo, mas o Parque Nacional da Gorongosa quer adicionar a esta função um outro papel bem mais urgente: o reflorestamento daquela zona onde está instalado o famoso santuário da vida selvagem em Moçambique. Uma matéria elaborada pela Associated Press (AP) dá conta da aposta do Parque Nacional da Gorongosa na cultura do café, para deter o ritmo da devastação florestal causada pela exploração desenfreada da madeira e mudanças climáticas. De momento, estão plantados 40 hectares de café arábica, que vão passar para 100 e depois para mil, nos próximos dez anos. A primeira colheita é esperada dentro de quatro anos e cada hectare poderá render entre duas a três toneladas de grãos. Peritos vindos do Brasil, a maior potência mundial na produção de café, visitou Gorongosa, para passar o seu “know how”. Maquinaria importada da Colômbia, outro “big five” do café, está instalada perto da Serra da Gorongosa, para transformar os bagos vermelhos em grãos verdes prontos a exportar. Seria melhor colocar o equipamento nos cafezais, mas os receios de que os confrontos entre as Forças de Defesa Gorongosa Aposta no café contra deflorestação e Segurança (FDS) e os guerrilheiros da Renamo voltem a qualquer altura desaconselha essa decisão. O café da Gorongosa já está à venda, mas, por enquanto, apenas na loja de Chitengo, o “lodge” do parque. O mercado português é uma ambição, para capitalizar o passado colonial místico do santuário junto dos consumidores locais. O grupo empresarial Sonae está entusiasmado com a ideia de associar o café à sustentabilidade e quer espalhar o nome do café da Gorongosa como marca “premium”, refere o presidente da holding portuguesa, Paulo Azevedo, fascinado pela beleza natural do santuário. “É algo que te tira realmente da actual civilização moderna”, comenta Paulo Azevedo, citado na AP. 8UJHQWHUHÁRUHVWDU Reflorestar Gorongosa é urgente, dado o passo acelerado do desmatamento. “Coloca um sério risco ao sistema, no seu todo, e a cada uma das espécies, em particular”, considera Marc Stalmans, director científico do Parque Nacional da Gorongosa Não há tempo para relaxamento face ao dano ambiental assinala Stalmans. O projecto do café da Gorongosa tem igualmente uma forte preocupação com a sobrevivência das comunidades locais. Foi pensado para ajudar centenas de famílias da Serra da Gorongosa e cercanias. Conta com o apoio da Fundação Carr, o filantropo norte-americano que assumiu Gorongosa como uma causa, do Governo da Noruega e da Global Environment Facility, um grupo de 183 países countries. O orçamento anual para o projecto é actualmente um milhão dólares, mas espera-se que seja incrementado para dois milhões de dólares. De acordo com a reportagem da AP, a Serra da Gorongosa está sob uma pressão implacável da corrupta máquina que contrabandeia madeira para a China. Estudos científicos estimam que a serra perdeu cerca de 40% da sua floresta original desde 1970 e o programa de reflorestamento em curso respeita a ecologia da região. O sucesso do cafezal da Gorongosa implica convencer os camponeses locais a abandonar o sistema das queimadas descontroladas e a aposta numa colheita de longo prazo do café. Para aliar o desenvolvimento humano e a restauração ecológica, os ambientalistas que trabalham na Gorongosa têm encorajado os camponeses a cultivar café debaixo de árvores. “Tivemos muitos problemas aqui”, diz Quentin Haarhoff, um agricultor veterano, que não deixa as dificuldades esfriarem o seu optimismo. Haarhof está encantado com o envolvimento no projecto do filantropo Greg Carr, que tem colaborado com o Governo moçambicano na recuperação de uma Gorongosa que perdeu o ecossistema para a guerra civil e caça furtiva. Cada uma das árvores plantadas em cada um dos hectares do cafezal proporciona a sombra necessária para o crescimento do café. Um mosaico sustentável de plantação de café e floresta natural será a paisagem final da ecologia que se pretende na área do cultivo. Em paralelo, os camponeses são encorajados a plantar banana, ananás e outras culturas no meio do cafezal, para permitir que a folhagem funcione como fertilizante. “A maior porção de nutrição da planta do café vem de uma camada superficial do solo que não queremos prejudicar”, diz Quentin Haarhoff, antigo farmeiro zimbabueano que perdeu os seus campos de cultivo durante o programa de confiscação da terra em poder dos brancos no Zimbabwe. Ao apostar na combinação entre culturas alimentares e o café, restauramos a hidrologia natural dos solos, tornando o solo numa esponja, prosseguiu. “Agora, as coisas estão fácieis e calmas, podemos cultivar”, disse Randinho Faduco, um produtor de café que está a tirar partido da cessação dos confrontos entre o Governo e a Renamo. SOCIEDADE O projecto do café da Gorongosa tem igualmente uma forte preocupação com a sobrevivência das comunidades locais PUBLICIDADE Savana 20-07-2018 11 12 Savana 20-07-2018 INTERNACIONAL SOCIEDADE “ Nelson Mandela talvez seja o último dos heróis puros do nosso planeta. É o símbolo sorridente do sacrifício e da retidão, venerado por milhões de pessoas, como um santo vivo”, escreveu o jornalista Richard Stengel, que conheceu de perto o herói da luta contra o Apartheid na África do Sul Aquando das primárias democratas para as presidenciais americanas de 2008, Richard Stengel, editor da conceituada revista norte-americana Time, telefonou a Nelson Mandela a perguntar qual era o seu candidato favorito: Barack Obama ou Hillary Clinton. “Estás a ver se me metes em sarilhos”, disse o ex- -presidente da África do Sul, sem responder à pergunta. O autodomínio, diz o jornalista, sempre foi uma das maiores características de Mandela, classificando-o como uma espécie de filtro omnipresente na pessoa do ex-líder da luta contra o regime racista do apartheid e Prémio Nobel da Paz em 1993. E como é que Stengel conhecia tão bem Madiba, nome pelo qual os sul-africanos tratavam o seu líder histórico, agora falecido? Como é que tinha tanta confiança com ele ao ponto de ter o número de telefone daquele que desde 1999, ano em que abdicou voluntariamente de um segundo mandato presidencial, se tornou numa das pessoas mais difíceis de aceder para os jornalistas de todo o mundo? Simples: Stengel foi escolhido e aprovado pelo Congresso Nacional Africano, ANC, como escritor fantasma da autobiografia de Nelson Mandela, Um Longo Caminho para a Liberdade, publicada em 1992 e aclamada como uma das melhores autobiografias do século XX. Como a obra, Mandela é também um dos maiores e mais respeitados líderes do século passado. Mas não só. É um líder inspirador, uma espécie de santo vivo, que nunca o quis ser, conta Stengel no livro O Legado de Mandela. “Nelson Mandela talvez seja o último dos heróis puros do nosso planeta. É o símbolo sorridente do sacrifício e da retidão, venerado por milhões de pessoas, como um santo vivo”, escreve Stengel, no livro que conta com o prefácio do homem com quem conviveu três anos, através do qual conheceu a sua mulher e decidiu homenagear dando aos filhos o nome de Rolihlahla. Este foi o nome com que Mandela foi batizado pelo pai e que em xhosa significa “aquele que sacode as árvores”. Mais tarde, uma professora que ele teve na aldeia de Mvezo, na região do Transkei, onde nasceu a 18 de Julho de 1918, Miss Mdingnane, deu-lhe o nome de Nelson no primeiro dia de aulas. Atribuir nomes britânicos era na altura um costume entre os africanos devido à influência colonial. O jornalista americano define Mandela como um homem meticuloso, bom ouvinte, indiferente a quase todos os bens materiais, mas muito preocupado com a imagem que transmite aos outros, um homem que não acreditava que a coragem era uma qualidade inata Mandela: legado de paz, coragem, união ou uma espécie de elixir. Mandela costumava dizer que a coragem não era a ausência do medo mas sim a capacidade de o dominar. Só esse tipo de pensamento explica que tenha conseguido sobreviver ao apartheid durante 27 anos, passando por três cadeias, sem contacto, praticamente, com a família. Na prisão, a mais famosa das quais é a da Robben Island, onde esteve com Walter Sisulu, fez tudo por conseguir aproximar-se do seu inimigo: os brancos, africânderes, que o viam como criminoso e terrorista. Aprendeu a sua língua, o africâner, decorou a sua história, leu a sua literatura e estudou o seu desporto de eleição, o râguebi, chegando ao ponto de decorar os nomes dos jogadores, para ter tema de conversa com os guardas prisionais considerados como os mais duros. E a verdade é que conquistou a simpatia de alguns, como Christo Brand, um dos guardas de Robben Island, que convidou para jantar na sua casa quando celebrou duas décadas de liberdade a 11 de Fevereiro de 2010. Quando saiu da cadeia, após negociações com o regime do apartheid, de P.W.Botha e Frederik de Klerk, Mandela tinha 72 anos e percebeu, rapidamente, que se não perdoasse os seus inimigos então, sim, continuaria numa prisão até ao resto dos seus dias. Reconciliação e perdão em vez de vingança foi a sua receita para aquilo a que o arcebispo Desmond Tutu um dia chamou Nação Arco-Íris. Ubuntu Famosa e, depois consagrada pelo filme Invictus de Clint Eastwood, ficou a história de como a África do Sul venceu o Campeonato Mundial de Râguebi de 1995. Através deste desporto, Mandela conseguiu unir brancos e negros como uma só Nação. A fotografia do primeiro presidente negro eleito da África do Sul, vestido com a T-shirt dos Springboks, a cumprimentar o capitão da equipa, François Pienaar, um branco, correu mundo e teve um impacto brutal. Manter os rivais por perto era também outras das lições a aprender com Mandela, que quando chegou a presidente decidiu manter todos os seus colaboradores brancos. Nem os guarda-costas foram excepção, para grande espanto, mas também revolta dos seus homens saídos do ANC. Mandela percebeu a diversidade da África do Sul, um país com 11 línguas oficiais, onde brancos e negros convivem há séculos em cenários que vão desde a guerra à democracia, passando pelo segregacionismo racista do regime do apartheid. O homem que não queria ser santo sabia liderar tanto a partir da frente como a partir da retaguarda. Trabalhar em equipa, envolver os seus colaboradores nas decisões para que as sentissem também como suas, foi outros dos seus segredos e, segundo Richard Stengel, uma boa parte do seu legado. “Ao longo da vida, Mandela assumiu riscos para liderar. Se fosse um soldado, seria o primeiro a saltar para as trincheiras para comandar uma carga através da terraB arack Obama fez um discurso forte na cerimónia de comemoração do 100.º aniversário do nascimento de Nelson Mandela, que decorreu esta terça-feira em Joanesburgo. O ex-presidente dos Estados Unidos alertou para a ascensão dos “homens poderosos na política”, no que foi entendido como uma crítica aos movimentos populistas e ao autoritarismo. Obama aproveitou ainda para apelar aos povos para que preservem as liberdades democráticas, como sendo a chave para a manutenção da paz. “A política do medo, do ressentimento e da redução de gastos começaram a aparecer. E esse tipo de políticas estão agora a florescer a um ritmo que nos parecia inimaginável há uns anos”, lembrou Obama perante cerca de 15 mil pessoas. “Não estou a ser alarmista, estou apenas a constatar factos. Olhem à vossa volta: políticos poderosos estão a destacar-se, de repente, encobertos pelas eleições e por uma democracia que mantém a sua forma, mas permite que quem está no poder tente minar todas as -de-ninguém. A sua ideia é a de que os líderes não só devem comandar como devem ser vistos a comandar - ou seja, que isso faz parte da função que desempenham”, escreve o actualmente editor da revista Time em O Legado de Mandela. Ao dar o exemplo, o Nobel da Paz visava não só os cidadãos, mas os líderes políticos, do seu e de outros países africanos e de outros continentes. Ao decidir não se recandidatar, em 1999, deixando caminho livre à eleição de Thabo Mbeki, quis também deixar a mensagem de que afastar-se também é uma forma de liderar. Apresentado como um romântico pragmático, que casou três vezes, Mandela admitiu a Stengel que a vida só vale a pena com amor e que ele é muito importante. No prefácio que escreveu para o livro do jornalista americano, datado de Novembro de 2008, Mandela resumiu o seu legado numa palavra africana com apenas seis letras, ubuntu, um conceito que contraria o individualismo renascentista e é muito característico de África. “O sentido profundo de que só somos humanos através da humanidade dos outros, que se neste mundo realizamos alguma coisa isso se deve em igual medida ao trabalho dos outros” (dn.pt) Aviso anti-Trump no centenário de Mandela instituições ou normas que dão significado à democracia”, alertou. Estes avisos de Obama surgem precisamente um dia depois de, na cimeira de Helsínquia, Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, ter defendido o líder russo Vladimir Putin contra as acusações dos serviços secretos americanos sobre a interferência dos russos nas eleições dos Estados Unidos, em 2016. Nesse contexto, Barack Obama atacou a forma como os políticos mentem, lembrando que os factos são o mais importante. “Temos de acreditar nos factos, sem eles não há base para a cooperação. Se eu disser que isto é um pódio e vocês disserem que é um elefante, será muito complicado para nós cooperarmos. Não teremos um base para o entendimento se alguém disser que as alterações climáticas não vão acontecer, quando todos os cientistas do mundo nos alertam para isso. Não sei como poderemos começar a falar sobre este tema, se alguém alegar que se trata de um erro elaborado...”, atirou. Obama considera que “no aniversário dos 100 anos de Madiba, o mundo está numa encruzilhada”. Nesse sentido, garantiu que acredita “na visão de Nelson Mandela”, “numa visão de equidade, justiça, liberdade e democracia multiracial construída na pretensão de que todos os povos na criação de direitos inalienáveis”. “Eu acredito num mundo governado sob esses princípios será possível alcançar mais paz e cooperação na busca do bem comum”, finalizou. Nelson Mandela Barack Obama SOCIEDADE Savana 20-07-2018 13 PUBLICIDADE Barclays Bank Moçambique, S.A. - Capital Social: MTn 5.538.000.000 - NUIT:400017484 - Número de Matrícula da CRC de Maputo: 8321 - Endereço: Av. 25 de Setembro, 1184 - 15º Andar - Maputo Caixa Postal 757 - Moçambique. O Barclays não será responsável por quaisquer incidentes que possam ocorrer com o seu provedor de serviços de internet. Por favor consulte a tabela de preços em vigor no Banco. Aplicam-se os Termos e Condições actualmente em vigor. Queira dirigir-se à Agência mais próxima do Barclays ou contacte-nos através do serviço de Banca Telefónica 1223. Moçambique! Vêm aí novas possibilidades. O nosso Grupo acaba de mudar o seu nome de Barclays Africa Group Limited para Absa Group Limited. Em Moçambique, continuaremos a operar com a marca Barclays, por enquanto. Para mais informações ligue 1223 ou www.gh.barclaysafrica.com/faqs 14 Savana 20-07-2018 Savana 20-07-2018 15 NO CENTRO DO FURACÃO Afim de garantir a conservação e protecção de espécies raras ou em extinção, a 29 de Março de 2018, o ministro da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural, Celso Correia, emitiu um despacho no qual ordenava a suspensão, com efeitos imediatos, de exploração e recolha de madeira das espécies Nkula, Pau-ferro e Mondzo. No mesmo despacho, Celso Correia também determinou que ficava suspensa a exportação de madeira de espécie Chafuta, Umbila e Jambire e que toda a madeira abandonada seria, exclusivamente, recolhida pelo Estado e que se reverteria a favor deste. A decisão do ministro que tutela o sector florestal resulta da necessidade de conter desmandos e reduzir raios de manobras do crime organizado no sector madeireiro. As incursões criminosas no sector florestal, sobretudo no ramo madeireiro, são desencadeadas por redes mafiosas com ramificações nas elites políticas nacionais em conexão com cidadãos estrangeiros, sobretudo de origem chinesa. Os subornos aos servidores públicos e outras entidades responsáveis pelo cumprimento da lei têm sido o truque usado por estes grupos para atingir seus intentos. As licenças de exploração florestal na província de Tete são detidas por cidadãos anónimos, mas consta que, por detrás dos anónimos, há grandes figuras ligadas ao partido Frelimo e ao governo provincial. Organizações como Associação dos Combatentes da Luta Armada de Libertação Nacional (ACLLN) e a Monte Binga SA, empresa do Ministério da Defesa, são parte dos beneficiários dos recursos florestais explorados na província de Tete. A Monte Binga tem concessões no distrito de Doa e Marávia. A ACLLN, órgão social do partido Frelimo, tem licenças para exploração florestal no distrito de Macanga. Questiona-se ainda o facto do goverCrime organizado desautoriza MITADER na província de Tete nador provincial, Paulo Auade, deixar os Serviços Provinciais de Florestas e Fauna Bravia de Tete (SPFFBT) sem chefe há mais de oito meses, visto que o mesmo acumula com o cargo da direcção da fiscalização, o que, em termos procedimentais, é reprovável, porque a pessoa que fiscaliza não pode ser a mesma que atribui licenças. É que cada um destes sectores depende do parecer de outro para tomar decisões. Semana passada, o SAVANA escalou a província de Tete, mais concretamente os distritos de Zumbo, Marávia, Chifunde e Chiúta e constatou que poucos ou quase ninguém está a cumprir com as orientações da direcção máxima do MITADER. Na província de Tete, o corte, arresto, armazenamento e transporte de espécies proibidas é feito à luz do dia. O movimento de viaturas transportando madeira em toros é comum nas estradas de Tete. A população, líderes comunitários e organizações da sociedade civil dizem que o assunto é do conhecimento das autoridades locais, desde chefes dos serviços distritais de Actividades Económicas (SDAE), administradores distritais, SPFFB, directores provinciais, comandantes da polícia, magistrados do Ministério Público (MP) e Judicial bem como do governador. Porém, ninguém consegue frear a marcha dos furtivos. Mesmo com esta “farra”, ao SAVANA as autoridades locais negam a existência de actos de anarquia no sector madeireiro e dizem que tudo o que está a ser feito é de acordo com a lei. No entanto, no terreno, a nossa reportagem testemunhou um cenário totalmente contrário daquele que é desenhado pelas autoridades administrativas locais. A caminho de Zumbo, partindo da cidade de Tete, mais concretamente na estrada nacional número 303, via que liga a localidade de Bene, distrito de Chifunde a Fingóe, sede do distrito de Marávia prologando até a vila sede de Zumbo, num troço de 350 quilómetros de terra batida, é comum encontrar, mesmo nas bermas de estrada, estaleiros com grandes quantidades de espécies proibidas armazenadas. Trata-se de madeira seca e fresca que é descarregada dia e noite. O exemplo concreto é do estaleiro da empresa Ching Chong Madeira, localizada na comunidade de Cantina de Oliveira, povoado de Mbwedzi, posto administrativo de Fíngoè, no distrito de Marávia. Trata-se de um estaleiro que se localiza a menos de 500 metros de um posto de fiscalização das forças de protecção dos recursos naturais e de protecção da Polícia da República de Moçambique e dos fiscais florestais. Todos os camiões que entram e saem do estaleiro passam, obrigatoriamente, pelo posto de fiscalização de Cantina de Oliveira. Contudo, na sua passagem pelo local, o SAVANA encontrou grandes quantidades de espécie Nkula armazenada ou outra a ser contentorizada para seguir ao porto da Beira. Trata-se de madeira fresca que, naquela manhã de 11 de Julho, quando a nossa reportagem escalou o local, ainda libertava a seiva. O estaleiro é operado por chineses. No local há todo o tipo de logística e equipamento. Casas convencionais que funcionam como escritórios, contentores adaptados para dormitórios de chineses, grupo gerador, antena de televisão por satélite, tractores, camiões, armazéns e viaturas de luxo do tipo four by four que se presume que seja de executivos chineses. Com a nossa chegada, o operador chinês ordenou que todos os trabalhadores (constituídos por nativos) abandonassem as actividades e fossem às matas. Também recusou falar à nossa reportagem. Soubemos ainda que os trabalhadores têm ordens de não falar com estranhos, mas o SAVANA conversou com José Nyenda, menor de 15 anos de idade, que apesar da legislação laboral vigente em Moçambique proibir que execute trabalhos similares, encontrou na actividade a fonte de rendimento. No estaleiro, as actividades de José Nyenda consistem na cascagem de toros de madeira de espécie Nkula. Por cada toro descascado, o adolescente recebe 50 meticais. Tímido e comunicando-se apenas em Nyunguè, José Nyenda contou-nos que, por dia, consegue limpar quatro a cinco toros. Trata-se duma jornada pesada, visto que exige muito esforço físico e impróprio para uma pessoa da sua idade. O adolescente contou que a madeira chega todas as noites vinda das matas do interior do distrito em camiões. São as comunidades locais que fazem o corte, carregamento e o transporte de madeira das matas para o estaleiro de chineses. O SAVANA soube do pessoal envolvido no processo que os chineses pagam mil meticais por cada toro de Nkula, de Pau-ferro e Mondzo ao vendedor. Sublinhe-se que o Pau-ferro e Mondzo sempre foram espécies da primeira classe cuja cobiça no mercado chinês é enorme. Por seu turno, o Nkula era uma espécie desconhecida e sem nenhum valor comercial. Com a entrada de chineses no mercado madeireiro, o Nkula ganhou espaço. Isso fez com que o governo, através do diploma ministerial número 51/2016 de 10 Agosto, classificasse como madeira preciosa e que o diâmetro de corte mínimo fosse de 30 centímetros. Sucede que, ao contrário de outras espécies cuja exploração só foi autorizada depois da realização do inventário florestal que determina as quantidades de madeira existente na floresta, o Nkula nunca foi inventariado. Ademais, o Nkula é uma espécie bastante rara, mas fundamental para o equilíbrio ecológico. Em Moçambique localiza-se em alguns distritos de Tete, sobretudo nos pontos que fazem fronteira com Malawi e Zâmbia. Por se tratar duma espécie rara e escassa, os governos do Malawi e Zâmbia também proíbem a sua exploração. O Nkula armazenado no estaleiro da Ching Chong Madeira, para além de violar o despacho ministerial que proíbe a sua exploração, também viola o diploma 51/2016 visto que o seu diâmetro está muito abaixo dos 30 cm. Informações em nosso poder indicam que a província de Tete atribuiu 190 licenças simples e 36 concessões para a exploração de recursos florestais. Estas licenças foram atribuídas a cidadãos ou sociedades detidas por moçambicanos. Aliás, no seu artigo 16, o Regulamento da Lei de Florestas e Fauna Bravia refere que, em sede da licença simples, a exploração só é permitida às pessoas singulares moçambicanas, às pessoas colectivas constituídas, exclusivamente, por cidadãos moçambicanos, e às comunidades locais que pretendam explorar os recursos florestais para fins comerciais, industriais e energéticos. O mesmo regulamento sublinha que para atribuição da licença é necessário que o requerente comprove a capacidade de corte arraste e transporte bem como do destino dos produtos florestais resultantes da exploração para além de apresentar equipamento mínimo para o exercício de actividades. No caso concreto da província de Tete, quase que nenhum operador de licença simples está no terreno a desenvolver actividade florestal. A esmagadora maioria das licenças simples foram “sub-alugadas” a operadores chineses. Trata-se duma empreitada sem cobertura legal, mas que as autoridades locais preferem chamar de parcerias. Moisés Chicossa é líder comunitário de Mbwedzi, distrito de Marávia. Contou-nos que é com muita tristeza que assiste à devastação de recursos naturais por parte de operadores chineses e as zonas onde decorre a actividade florestal continuarem na pobreza. Sublinhou que, num passado não distante, a sua área de jurisdição era bastante rica em termos de recursos florestais, mas que, hoje, está quase deserta. “Em 2016, aqui no Mbwedzi havia muito Nkula, mas desde que os chineses chegaram devastaram tudo. E nós continuámos na pobreza”, lamentou. O líder comunitário de Mbwedzi contou-nos que chineses chegam às comunidades na companhia de operadores nacionais, instalam estaleiros e, dias depois, os nacionais desaparecem ficando apenas chineses. Esses, em pouco tempo, adaptam-se ao modus vivendi local, gracejam simpatias com as comunidades e criam grupos de choques. São essas pessoas que, por sua vez, contratam pisteiros para ajudar a localizar madeira preciosa nas matas e também contratam pessoas para trabalhar no corte e carregamento de madeira. “Os chineses nunca saem do estaleiro, o meu povo é que faz tudo para eles a troca de dinheiro”, lamentou. Sobre espécies proibidas, Moisés Chicossa contou-nos que, há dois meses, o governo do distrito convocou todas as lideranças comunitárias para um encontro na vila sede onde, dentre vários pontos, foi a apresentação do despacho ministerial que proibia a recolha e exploração de Nkula. Nessa reunião, que também contou com a participação do chefe do SDAE, do procurador distrital, comandante distrital e dos membros dos Comités de gestão, o administrador pediu que qualquer acto relacionado com a recolha ou transporte de Nkula deveria ser denunciado. Sublinha que as lideranças comunitárias acataram a ordem governamental e, uma semana depois, desse encontro apresentou a primeira denúncia sobre a movimentação de madeira de espécie Nkula no estaleiro da Cantina de Oliveira, porém, ninguém agiu até ao momento. Chicossa estranha ainda o facto do estaleiro da Chong Ching Madeira, com acção penal. “Juntámos fotografias e levamos ao procurador. Prometeu-nos iniciar diligências, contudo, até hoje, já passa um mês e meio e não há nada de concreto e as espécies proibidas continuam a ser exploradas”, finalizou. Problemas de Comunicação Ao SAVANA, o Procurador distrital de Marávia recusou prestar declarações sob alegação de que carece de autorização superior. Quem conversou com a nossa reportagem foi Bruno Crescêncio Patreque, administrador de Marávia. Reconheceu que o seu governo já foi notificado sobre o despacho do ministro e o mesmo está a ser cumprido na íntegra. Nega que o seu executivo esteja a encobertar casos de exploração de recursos proibidos. Sobre as queixas dos líderes comunitários bem como da ANAMAZU, Bruno Patreque respondeu-nos nos seguintes termos: “Há um problema no seio das nossas comunidades, sobretudo as pessoas mais velhas. São problemas que têm a ver com a comunicação porque muitos não falam língua portuguesa. Acredito que muitas vezes tiveram de recorrer a tradutores para se comunicarem com eles e daí a mensagem deve ter sido distorcida. Tenho certeza de que o que eles disseram é que ainda estão para apresentar as denúncias. Digo isso porque, como governo do distrito, ainda não tivemos nenhuma queixa, não obstante a nossa comunicação ser constante”, defendeu-se. Confrontado com factos testemunhados pelo SAVANA em alguns estaleiros, Bruno Patreque referiu que foram meras coincidências. “Como governo sabemos que nem todos os operadores gostam de cumprir com os ditames da lei. Mesmo com o aperto de cerco fazem de tudo para contornar as autoridades. Deve ter sido nos casos por vós constatados. Mas vamos investigar e, se constatarmos irregularidades, vamos tomar medidas”, disse. Quanto aos dados relacionados com o número de licenças autorizadas para explorar recursos florestais no seu distrito, Bruno Patreque remeteu-nos aos SPFFB. Sublinhou que o distrito faz monitoria da exploração dos recursos florestais através duma equipa de fiscais e extensionistas afectos ao SDAE com auxílio da forma de protecção dos recursos naturais da PRM. Manobras criminosas Damião Caliano, substituto do chefe dos SPFFB de Tete, também nega que os recursos florestais estejam a saque na sua província. Caliano, que também acumula o cargo com as funções de chefe de fiscalização, referiu que estão a acontecer pequenos focos de furtivos que a todo o custo procuram contornar o bloqueio das autoridades governamentais. Argumentou que Tete tem apenas 60 fiscais florestais, o que é bastante insignificante para a extensão da província. Sublinhou que, com 120 elementos, a fiscalização seria mais eficiente. Para Damião Caliano, a província nunca concedeu licenças para a exploração de Nkula porque a sua exploração nunca foi autorizada pelo governo. “O que estava a acontecer é que havia muita madeira de Nkula abandonada nas matas e, para não dispersar, o governo autorizou a exploração”, frisou. Para o ano de 2018 foram licenciados 51 novos operadores, o que totaliza 190 operadores de licenças simples e 36 concessões florestais. Em comparação com o ano anterior, este número representa um aumento de meia dezena de licenças. Este aumento verifica-se numa altura em que o governo central está apostado em reduzir o número de licenças simples por serem os principais centros de desmandos. Sobre a abundância de operadores chineses na província, numa situação em que as licenças de exploração madeira são destinadas apenas a cidadãos nacionais, Caliano referiu que na sua área de jurisdição não existe nenhum operador chinês. O que está a acontecer é que madeireiros moçambicanos firmaram parcerias com chineses e juntos desenvolvem o negócio. Sobre o transporte de madeira das zonas de corte para estaleiros em contentores, o nosso entrevistado disse que o governo está apenas preocupado com o cumprimento da lei e não pode interferir em questões de gestão interna dos operadores. Quanto às sanções resultantes de infracções ambientais, Damião Caliano sublinhou que abundam casos de transporte de madeira sem licença ou de madeira não processada. Estas infracções obrigaram a sua entidade a aplicar multas no valor de 30 milhões de meticais em 2017 e 18 milhões de meticais no primeiro semestre deste ano. Caliano lamentou o facto de os casos que são direccionados à justiça nunca terem desfecho, o que lesa o Estado já que os infractores não pagam multas. Sobre esta matéria, o Procurador Chefe da Província de Tete, Jorge Tivane, referiu que a tramitação processual tem seus procedimentos e a justiça não pode violar a lei. Tivane referiu que o cidadão só pode ser incriminado depois das investigações provarem que de facto houve violação da lei. Caso contrário, o sujeito será ilibado. Sublinhou que o Ministério Público está a dar o devido tratamento a todos osprocessos que chegam a sua alçada e, como exemplo, referiu que neste momento 51 processos relacionados com prática de crimes ambienteis estão em tramitação na província, dos quais cinco já foram acusados e seguiram para o julgamento enquanto que um foi arquivado por insuficiência de provas. Jorge Tivane referiu que é papel do MP fazer valer o cumprimento da lei, pelo que, nenhum magistrado deve-se abster de fazer suas actividades alegando insuficiências de meios. Madeiras de espécies de exploração proibida a saque no período nocturno, ser vigiado por agentes da Polícia da República de Moçambique e, por coincidência, é nesse período que é feito o descarregamento de madeira proveniente das matas e o carregamento da madeira em contentores. “Não sabemos de onde vem a força que aqueles chineses da Chong Ching têm, mas ninguém tem coragem de tocâ-los”, desabafou. O desabafo do líder comunitário de Mbwedzi é compartilhado por Castro Cintoreia, vice-presidente da Associação dos Naturais e Amigos e de Marávia e Zumbo (ANAMAZU). Ao SAVANA, Cintoreia contou que, ao nível de Marávia, o Nkula é cortado nos povoados de Chizane, Malowera, Ncanha e Angombe e de lá é transportado para os estaleiros. Para explicar a falta de vontade política na contenção destes crimes, Castro Cintoreia referiu que parte dos camiões transportando madeira, cuja exploração é proibida, passa da vila sede de Marávia e ninguém reage. Sublinhou que a partir da Associação de Apoio de Assistência Jurídica às Comunidades (AAAJC), tomou conhecimento do despacho ministerial de 29 de Março. Daí, a sua organização intensificou as campanhas de monitoria e fiscalização à exploração dos recursos florestais nos distritos de Marávia e Zumbo. Em várias localidades montaram pontos focais que davam toda a informação e, em tempo real, canalizavam as autoridades. “Ao mesmo tempo multiplicamos o despacho do ministro e distribuímos por todas as instituições públicas dos dois distritos. Também organizamos encontros com líderes comunitários onde para além de capacitação divulgamos o despacho do ministro”, frisou. Mesmo assim, as autoridades continuam a ignorar a ordem do embargo alegando que as investigações sempre chegam à conclusão de que não há elementos para incriminar operadores. Completamente desesperado, Castro Cintoreia contou ao SAVANA que o silêncio cúmplice do governo do distrito obrigou-o a canalizar a preocupação ao procurador distrital, porém este disse que não tinha meios para se deslocar ao local dos factos a fim de iniciar - Por despacho ministerial, o governo ordenou a suspensão de exploração e recolha de Nkula, Pau-ferro e Mondzo, mas a medida continua a ser ignorada perante um olhar impávido do governo provincial Por Raul Senda, em Tete Bruno Patreque Camiões contentores recolhendo madeira de espécie Nkula apesar da proibição governamental 0HVPRFRPDYLJrQFLDGRGHVSDFKRPLQLVWHULDORSHUDGRUHVÁRUHVWDLVFRQWLQXDPDFRQFHQWUDUPDGHLUDGHH[SORUDomRSURLELGDQRV seus estaleiros Cópia do despacho do ministro da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural sobre a SURLELomRGHH[SORUDomRGHDOJXPDVHVSpFLHVGHPDGHLUD Damião Caliano, o super chefe do sector ÁRUHVWDOHP7HWH 16 Savana 20-07-2018 PUBLICIDADE PUBLICIDADE Savana 20-07-2018 17 18 Savana 20-07-2018 OPINIÃO Registado sob número 007/RRA/DNI/93 NUIT: 400109001 Propriedade da Maputo-República de Moçambique KOk NAM Director Emérito Conselho de Administração: Fernando B. de Lima (presidente) e Naita Ussene Direcção, Redacção e Administração: AV. Amílcar Cabral nr.1049 cp 73 Telefones: (+258)21301737,823171100, 843171100 Editor: Fernando Gonçalves editorsav@mediacoop.co.mz Editor Executivo: Francisco Carmona (franciscocarmona@mediacoop.co.mz) Redacção: Raúl Senda, Abdul Sulemane, Argunaldo Nhampossa, Armando Nhantumbo e Abílio Maolela )RWRJUDÀD Naita Ussene (editor) e Ilec Vilanculos Colaboradores Permanentes: Fernando Manuel, Fernando Lima, António Cabrita, Carlos Serra, Ivone Soares, Luis Guevane, João Mosca, Paulo Mubalo (Desporto). Colaboradores: André Catueira (Manica) Aunício Silva (Nampula) Eugénio Arão (Inhambane) António Munaíta (Zambézia) Maquetização: Auscêncio Machavane e Hermenegildo Timana. Revisão Gervásio Nhalicale Publicidade Benvinda Tamele (82 3171100) (benvinda.tamele@mediacoop.co.mz) Distribuição: Miguel Bila (824576190 / 840135281) (miguel.bila@mediacoop.co.mz) (incluindo via e-mail e PDF) Fax: +258 21302402 (Redacção) 82 3051790 (Publicidade/Directo) Delegação da Beira Prédio Aruanga, nº 32 – 1º andar, A Telefone: (+258) 82 / 843171100 savana@mediacoop.co.mz Redacção admc@mediacoop.co.mz Administração www.savana.co.mz Cartoon EDITORIAL F oi necessária a humilhação a que foi sujeito o Primeiro Ministro Carlos Agostinho do Rosário, na sua recente deslocação à província do Niassa, para que fosse trazida à superfície a grave crise em que se encontra a companhia aérea nacional, LAM. Com voos cancelados ou adiados, colocando em causa as agendas e planos dos seus passageiros, esta é a realidade que se vive naquela empresa, testemunhada pessoalmente pelo ministro número um do nosso governo. Sem a capacidade financeira que necessita para dar resposta às suas operações, a LAM não consegue pagar as suas facturas atrasadas de fornecimento de combustível, e muito menos satisfazer a exigência dos fornecedores para o pagamento adiantado do mesmo. Infelizmente, a LAM é apenas um pequeno retrato da precária situação em que se encontram muitas outras empresas públicas em Moçambique, conduzidas tecnicamente à falência por um misto de gestão danosa, serviços prestados a terceiros mas não pagos, e ainda a contínua interferência política a que são sujeitas na sua gestão. Não raras vezes, o Estado é o maior devedor destas empresas. Por isso, demitir em bloco os gestores da LAM pode parecer a solução, mas não é. O problema de fundo para a insustentável situação em que a empresa se encontra ultrapassa a capacidade dos gestores. É, na verdade, um problema estrutural, e de uma dimensão política para cuja solução exige-se uma maior coragem e determinação. Continuar a drenar fundos do erário público para as manter vivas é, simplesmente, tentar adiar um problema já inadiável. O que de facto se precisa é de uma nova abordagem sobre como as empresas públicas em Moçambique são estruturadas e geridas, bem como uma clara definição sobre a sua contribuição para o desenvolvimento do país, num ambiente em que elas gozam de independência de gestão, ao mesmo tempo que dos seus gestores se exigem resultados específicos. O grande sufoco em que a maioria das empresas públicas moçambicanas se encontra é em parte resultado da sua estrutura de custos, muitas vezes com uma massa laboral que em condições normais seria dispensável. A isto acresce-se ainda um sistema de remuneração dos gestores que raramente tem qualquer ligação com o seu nível de desempenho ou de rentabilidade das empresas que dirigem. No modelo clientelista que se tornou prática recorrente neste país, não raras vezes, estas empresas são obrigadas a levar a bordo alguma carga excessiva na forma de administradores não executivos, apenas como forma de criar renda para alguns indivíduos politicamente bem conectados, mas sem qualquer tipo de valor acrescentado para o desenvolvimento das empresas. O mérito tornou-se uma questão anacrónica. É assim que a Mcel, a pioneira da telefonia móvel em Moçambique, conquistou a dúbia reputação de ser a primeira (e talvez única) empresa do ramo no mundo a ir à falência, para tal arrastada não porque o negócio não seja rentável, mas porque os seus recursos se tornaram incapazes de satisfazer o insaciável apetite de tantos abutres que a circundavam. Esta é a realidade que se espelha por quase todo o sector empresarial do Estado. Embora seja necessária a rotação periódica dos gestores, não são eles que devem ser penalizados perante resultados pouco animadores. É todo um sistema em que elas foram concebidas e operam o que deve mudar. Pode-se começar, por exemplo, com o sistema de contratação dos gestores, que em vez de privilegiar comissários políticos, deve ser por via de concursos públicos que permitam aproveitar o melhor talento que este país tem para oferecer. O que deve mudar nas empresas públicas F estejemos a França e façamos um reparo. Foi vulgar escrever- -se no fb que quem ganhou o campeonato do mundo foram os africanos. Cheguei a ler:” naquela equipa não havia um só francês!” Entende-se o júbilo. Mas é um discurso populista e perigoso. Eu postei: Folgo constatar que a família Le Pen teve de engolir mais um sapo. Porque quem ganhou, simbolicamente, foi um modelo de sociedade multicultural, contra os abcessos de um patriotismo patológico, de que Le Pen será um arauto europeu. E contra Le Pen, ao contrário do que se dizia no fb, todos eles eram franceses. E quem ganhou foi a França que, no seu melhor, resulta daquela mistura de raças, credos e tons. Interrogo-me se reivindicar, para esta vitória, o gene em primeiro lugar não será afinal jogar no mesmo tabuleiro de Le Pen, porque a saúde não está em segmentar e discriminar, mas em integrar, e não podemos embarcar na mesma retórica. Ganhou a prática multicultural de um país que se ainda não estendeu esse sistema multicultural ao político já percebeu a vantagem de aceitar que a sua equipa tenha aquela composição heteróclita. É meio caminho andado. Engana-se quem achar que se verifica só no futebol. Também na literatura e na arte há muitos autores do centro europeu, negros e asiáticos, nascidos no país ou não, que são apoiados, considerados franceses e integrados em todas as comitivas nacionais. Em 2012 quem representou a França no Festival da Canção foi a indonésia Anggun. Portanto, ganhou uma certa abertura civilizacional e cosmopolita contra a tacanhez da xenofobia. Passemos a outro tema. Urge dilucidar os problemas da definição dos objectivos duma política cultural. Apesar dos conceitos serem culturalmente variáveis e das condições culturais para a sua articulação serem Da cultura e do bairrismo distintas, há regras e condições sem as quais não se podem operacionalizar as muito referidas «indústrias culturais». Darei um contributo teórico para isso. Entretanto, para que qualquer esforço se enquadre num fluxo congruente que não se revele improdutivo, não se pode fazer uma coisa e dizer outra ou vice- -versa. Há que fazer escolhas, senão uma inércia impõe contradições básicas insolúveis. Exemplifiquemos. As sociedades tradicionais são o palco de uma «sensibilidade de partilha e evitamento» onde o pensamento crítico dificilmente se encaixa. São sociedades de tutela e de interdependência, nas quais o protocolo e o respeito pelas hierarquias não autorizam o debate sobre os fundamentos. Parte-se de uma concepção substancial da identidade como património, em vez de se encarar uma concepção dinâmica da identidade como processo. Ora, o mundo de hoje é muito mais complexo, a realidade empírica choca contra as explicações formatadas e o condicionamento tolhe a possibilidade de um debate sério e continuado. O que constrange a possibilidade de se articularem novos discursos de legitimação que sirvam para a projecção das práticas criativas. Patina então tudo nos vícios adquiridos. O problema é que infelizmente sem argumentos decisivos não há arte, ou pelo menos não há como vendê-la nem exportá-la. Hoje a arte já não dispensa a teoria e a crítica no seu próprio tecido. A arte que não se auto-reflecte é artesanato. Pode a arte moçambicana ser pujante, diversificada, ter todos os ingredientes para uma aceitabilidade universal. Sem a produção de discursos que a legitimem confina-se a um piqueno mercado que ainda por cima é inexistente porque Moçambique carece da formação de públicos e da sensibilização para a arte. É por isso que a crítica é necessária. Não como uma práxis de desbaste e de açougue, não se precisa de uma crítica do contra (dessa que não discute princípios ou obras mas as pessoas que os produzem) mas assente em novas formulações que dialoguem com as obras dos artistas. Pode haver uma crítica solidária e pedagógica - o que a crítica não pode é não ser assertiva. E aí temos de ter a sensatez de não confundir a assertividade com a arrogância, confusão natural a quem chega de uma sociedade do evitamento. Portanto, a primeira escolha a fazer é esta: ou se aceita a existência do pensamento crítico ou a autorreflexão fica reduzida a uma caricatura em moto contínuo. E aí será mais difícil criarem-se condições para o incremento das almejadas indústrias culturais. Paralelamente, convinha reflectir no que advertiu o sociólogo Alexandre Melo, no livro Arte e Poder na Era Global: a escolher-se como modelo prioritário para a cultura um tipo de discurso localista na sua modalidade mais ambiciosa que é a nacionalista, tal só funciona «se o país em questão tiver a capacidade de afirmar e impor os seus valores numa escala global – isto é, se o sistema de validação local tiver um campo de recepção mais amplo que o seu próprio campo de produção – aí estamos perante um processo de afirmação, divulgação e expansão cultural.» E prossegue o ensaísta: «Caso contrário estamos perante uma mera ampliação geográfica da lógica de bairro que numa situação de isolamento e de desfasamento cultural valoriza uma gratificação auto- -suficiente e auto-congratulatória. Uma dinâmica cultural forte é aquela cujas criações se afirmam na abertura e através a todos os tipos de fluxos e trocas interculturais à escala global. Quanto mais um meio cultural pretender fechar- -se sobre si próprio mais se enfraquece e anula». Portanto, como não malbaratar energias e não cair numa prática de nulo efeito, primeiro para fora e, rapidamente, para dentro, é o ponto. Savana 20-07-2018 19 OPINIÃO 589 Email: diariodeumsociologo@gmail.com Portal: http://oficinadesociologia.blogspot.com Uma coleção internacional [12] Um pouco antes das quatro e meia da manhã, cheguei definitivamente à conclusão de que tinha pela frente um dia estuporado. Tinha passado a noite inteira num processo de desgaste nervoso, que me deixou derreado. Metade daquela noite tinha sido passada numa discussão gratuita, que acabou de modo muito desagradável para mim. Ela tinha sugerido, no início da discussão, que aproveitássemos o fim- -de-semana longo que se aproximava para darmos um salto até Massinga, a fim de visitar os nossos afilhados de casamento. Tudo porque acabavam de ter o seu primeiro filho – que ainda por cima não era só um, era um par de gémeos. A proposta, para além de me apanhar em contrapé, deixou-me profundamente contrariado. Não estava a ver- -me a fazer quase 1 000 km em três dias só para ir ver um par de gémeos. Argumentei que a viagem não só seria cansativa, como também teria pouco significado. Ela disse que não, que tinha muito significado. Primeiro, porque se tratava dos nossos afilhados; segundo, porque era o seu primeiro fruto, como casal. Argumentei então o que isso signiAntípodas verbais ficava, em termos de custos, numa altura em que estamos, como muita gente nas nossas condições, na corda bamba, e não podemos dar-nos ao luxo de fazer despesas extravagantes. Ela disse que não me preocupasse, que tinha esse aspecto em atenção, e que quem havia de custear a viagem era ela, com uma parte das suas poupanças pessoais. Em desespero de causa, acabei por lhe dizer que, no fundo, o que eu queria dizer é que não me interessava fazer a viagem, porque o facto de ter aceite ser padrinho de casamento não significava ter que carregar uma cruz de ama seca. Ela ficou um minuto em silêncio, e depois atirou-me pela cara, sem rebuço – «És muito estúpido!» Foi uma descarga da qual eu não estava à espera, e nunca estaria. E para que não tivesse dúvidas, quando ela se virou para me dar costas definitivamente, por aquela noite, ainda repetiu em voz bem alta – «És mesmo muito estúpido!» Lembrei-me, num relance, de que tinha passado por tudo na vida, desde que, aos dezoito anos, tinha sido obrigado a ganhar a vida para custear os meus estudos, a trabalhar como paquete num hotel, depois os tempos da tropa, depois como escriturário, depois os meus anos como professor, durante os quais já tinha sido chamado vários nomes, tinham-me sido dados vários apelidos, mas nunca, por nunca, alguém me tinha chamado estúpido. Não conseguia engolir aquele sapo vivo, era demasiado grande para mim. Quando, por volta das quatro, me retirei para a sala, depois de tentar dormir, ainda tentei consolar-me ouvindo, como fazia várias vezes, o refrão de Louis Armstrong dizendo “And I think to myself what a wonderful world”. Tentei reconfortar-me com as cores do arco-íris, com as flores, com os bons cheiros, com os bons momentos. Tudo resvalava numa lama da qual nunca saía. Decidi, então, que a única forma era tentar a sublimação embebedando- -me com o trabalho. Pus-me a pensar que era chegada a altura de dar andamento a um projeto que adiava há anos, o de organizar o meu arquivo pessoal de imagens, que não é pouco. Sigo a carreira de jornalismo fotográfico desde 1974. De lá para cá, já cobri milhares e milhares de eventos, a maior parte dos quais ainda na era em que a tecnologia era analógica. Deve- -se imaginar, portanto, a quantidade de negativos e de imagens físicas que acumulei ao longo deste período, em todas as áreas possíveis –na política, no desporto, na arte, na cultura, nos regabofes, nas missas campais, em espectáculos, nas artes cénicas, e em tudo o que foram convívios sociais e outros do género. Era uma tarefa ingente, mas era mesmo disso que eu precisava para preencher o meu desaforo naquele dia. Fui para a redacção, para a secção fotográfica, justamente com esse propósito, o de me entregar de corpo e alma, de modo febril, à tarefa de organização do meu arquivo. O primeiro passo a que me propus foi o escolher o método pelo qual organizaria o arquivo – por períodos de tempo, por afectos ou por outro critério qualquer. Foi uma primeira grande dificuldade. Lembrei-me, num ápice, de que, por exemplo, na área política, já estava a passar por mim o quarto presidente da República; de que eu tinha coberto inúmeros congressos do partido Frelimo, desde o primeiro que cobri, em 1977, que foi o terceiro daquela organização política; de que me passaram pela lente momentos áureos de desporto, desde o tempo em que o José Luís e o seu Têxtil África de Chimoio foram campeões nacionais de futebol; e dos Nuros Americanos e dos Chababes e dos Gir Guiambas. Lembrei-me ainda de que a maior parte dos músicos que agora sobe ao palco para ser homenageada por trinta ou quarenta anos de carreira, quando iniciou essa mesma carreira, ainda andava de cueiros, e eu fui testemunha destes primeiros passos; e que acontecimentos como a passagem do Eric Clapton pelo estádio da Machava, ou do Papa João Paulo II pelo Goto para celebrar a sua missa, quando da visita a Moçambique, também estão aqui registados; e que as atribuições de prémios de jornalismo na então ONJ também passaram pela minha máquina, assim como as campanhas de comercialização agrícola, ao tempo em que estas eram um absurdo do género de mandar feijão enlatado para uma aldeia que tinha excesso de feijão fresco, ou mandar candeeiros a petróleo para uma aldeia que não tinha bombas ou lojas de fornecimento daquele combustível. «Como organizar isto?» – foi o que eu pensei em primeiro lugar. Mas estava tão apostado nisso, que acabei por escolher o modelo que me pareceu mais apropriado. Neste afã, acabei por me esquecer completamente da hora do almoço e não fui para casa, nem me lembrei de resolver o problema de outra forma. Estava num processo de sublimação perfeita, e a dor e o desalento e o desaforo a que tinha sido sujeito na noite anterior estavam a transformar-se num prazer imenso, que tinha até algum sabor a vingança. Sentia-me pleno e só, e não tencionava abdicar do papel a que me tinha entregue. O telefone tocou, olhei para o relógio de parede da secção e vi que eram dezanove e trinta. Olhei para o visor do telefone; era ela. O primeiro impulso foi passar por cima e não lhe dar trela, mas algo do que me resta de cavalheirismo e urbanidade fez com que levantasse o aparelho e atendesse. Quando esperava ouvir a voz dela, arreliada ou não, indiferente ou não, o que me chegou aos ouvidos foi a voz do Stevie Wonder dizendo “You are S the sunshine of my life”. abemos quem perdeu no confronto entre a selecção francesa e da Croácia no último domingo: perdeu a extrema- -direita racista e anti-imigração. Há décadas que a selecção francesa irrita os racistas. O actual time, por exemplo, só tem cinco futebolistas filhos de pais franceses. A maioria dos jogadores é de origem africana. Blaise Matuidi, por exemplo, nasceu em Toulouse, filho de imigrantes angolanos (nós, angolanos, gostamos de pensar que, através dele, também chegamos à final). Já na selecção belga havia oito futebolistas de origem africana. Também as selecções inglesas costumam ter, como voltou a acontecer este ano, uma percentagem muito elevada de jogadores de raiz africana e asiática. Não se pense, contudo, que a boa influência dos imigrantes, em particular daqueles de origem africana, se restringe ao desporto. Não, caros leitores, vai muitíssimo além. Se existisse uma Copa do Mundo de Literatura a selecção inglesa seria tão colorida quanto no futebol: além de dois ou três veteranos inquestionáveis, como V. S. Naipaul, Salman Rushdie, ou Zadie Smith, teria de incluir uma série de jovens estrelas em rápida ascensão, como a anglo-nigeriana Helen Oyeyemi, 33 anos, considerada pela “Granta” “uma das melhores jovens romancistas britânicas”. Uma das grandes sensações da selecção francesa de literatura seria, sem dúvida a romancista franco-marroAs minhas selecções Por José Eduardo Agualusa* quina Leïla Slimani, autora do best- -seller mundial “Canção de ninar” (Tusquets/Planeta, 2018) e que será este ano a principal atração da Flip. Na Flip estará um outro autor francês de origem africana: o meu amigo Alain Mabanckou, nascido no Congo-Brazzaville, e que em 2015 viu um dos seus romances, “African psycho”, chegar à short-list do Man Booker International. Também na Flip merece destaque a escritora italiana de origem somali Igiaba Scego. Se existisse uma Copa do Mundo da Música Popular, as selecções de França, Bélgica, Inglaterra e Portugal teriam ainda mais afro-descendentes do que no futebol. Começando por Portugal, o destaque seria para as fadistas Mariza e Ana Moura, a primeira nascida em Moçambique, neta de uma famosa curandeira local; a segunda com raízes nas terras altas da Huíla, no sul de Angola. A selecção musical lusitana teria de incluir ainda craques como Mayra Andrade, Lura, Sara Tavares ou Tito Paris — todos eles de ascendência cabo-verdiana —, ou os angolanos Bonga, Paulo Flores e Anselmo Ralph. Suspeito que nessa selecção um dos raros portugueses sem ascendência africana próxima seria António Zambujo. Stromae brilharia na seleção belga — tanto quanto o atacante Romelu Lukaku no futebol, mas ainda com mais ginga. Em França a cena da música popular tem sido, desde há muitas décadas, dominada por imigrantes e seus descendentes: Josephine Baker, Serge Reggiani, Georges Moustaki, Léo Ferré, Charles Aznavour, entre tantos outros. Nos últimos anos o que mudou foi sobretudo a cor da pele desses cantores imigrantes, ou filhos de imigrantes. Hoje são, na sua maioria, de ascendência africana. Numa selecção musical francesa actual teriam de alinhar veteranos como Manu Dibango, Henri Salvador e Ray Lema, juntamente com uma mão cheia de outros grandes talentos mais jovens, dos rappers MC Solaar e Maitre Gims até Imany. No caso da França, o difícil é escolher entre tantos nomes excelentes. Mesmo a Espanha, que há séculos se mantém de costas voltadas para a África, teria como principal goleadora da sua selecção musical uma mulher negra: esse extraordinário prodígio de paixão e energia chamado Concha Buika — com raízes na Guiné-Equatorial, o único país africano onde se fala espanhol. Torci pela França no domingo. Esta segunda-feira, independentemente do resultado do jogo, continuo a torcer por tudo aquilo que a selecção francesa representa: um exemplo de sucesso da diversidade e da integração de culturas. Uma demonstração clara de como as correntes migratórias provenientes da África estão revitalizando a Europa, através do rejuvenescimento da sua população, trazendo uma nova energia e dinamismo a um organismo velho e cansado. Chorem, racistas: vocês perderam! 20 Savana 20-07-2018 OPINIÃO SACO AZUL Por Luís Guevane C omecemos primeiro por admitir a existência, de facto, de uma crise institucional alargada dentro do partido Movimento Democrático de Moçambique (MDM), avaliando pelos últimos desenvolvimentos e pelo que, há muito, já vinha sendo largamente reportado por aí. Depois passemos a uma reflexão sobre as diferentes hipóteses por detrás da crise do ou no MDM. Primeira hipótese: gestão autocrática e oligárquica do partido por parte dos Simangos. Esta é, sem dúvidas, a hipótese que mais se tem avançado por aí. O partido não é gerido com base em regras democráticas. Os problemas do MDM derivam do facto de o partido estar a ser gerido como se de uma família se tratasse. Um exemplo importante avançado pelos defensores deste argumento é o facto de os irmãos Simango assumirem as posições máximas de chefia do partido. Um, presidente do partido e, outro, Chefe da bancada parlamentar. Este, e outros aspectos têm causado descontentamento interno dos seus membros, principalmente, dos mais destacados. Antecipando as eleições que se aproximam, estes descontentamentos poderão levar às deserções de vulto. Mas esta hipótese levanta, igualmente, alguns questionamentos. Será o MDM o único partido em Moçambique (e no mundo inteiro) a ter indivíduos da mesma família em posições de chefia? Será que o MDM é o único partido em Moçambique a ser (acusado de ser) gerido autocraticamente? Ou, no caso do MDM, a diferença reside na profundidade dessa tal autocracia e da oligarquia de que se refere. Mas, como não é disso que tem referido os proponentes deste argumento isto não está aqui em questão. Segunda hipótese: fraco carisma de Daviz Simango. O líder Daviz Simango não tem conseguido atrair para si (encantar ou fascinar), com recurso, por exemplo, a enfeites retóricos, quer interna, quer externamente, a atenção que um líder de um movimento político precisa para garantir a devida subordinação e coesão interna do movimento que dirige. Mas afinal o que se passa com o MDM? Por Fredson Guilengue Consequentemente, e olhando até mesmo para a proveniência dos membros mais destacados do partido, todos esses se vêem na capacidade de captar mais atenção do que o líder do partido. O resultado disso é a desobediência ao líder por parte de alguns desses membros que se acham mais “sedutores”. Logo, a crise que assistimos neste momento. Chamaria isto de crise de desobediência política por falta de liderança carismática. Este também parece ser um bom argumento. Até porque os membros mais destacados são indivíduos que foram capazes de atrair para si grande atenção popular sem, no entanto, depender nem do presidente nem do suporte significativo da máquina partidária para “fazer nome”. A atitude do falecido Presidente Amurane pode-se encaixar nesta lógica. Mas será mesmo este o problema? Será que a coesão interna quer na Frelimo quer na Renamo é fruto de lideranças carismáticas desses partidos? Tenho as minhas dúvidas. Terceira hipótese: falha na estratégia de crescimento do partido. O problema do MDM é o facto de ter adoptado uma estratégia errada de crescimento do partido. A estratégia actual de ambicionar tudo de uma vez só está a fracassar. O partido devia ter se concentrado na conquista e na consolidação de espaços “reservados” ao poder local, sem ambições de nível nacional. Isto é, olhar para si como um actor político local, esquivando-se, assim, da inveja dos grandes. Ocupar espaços aparentemente “menos” ambicionados pelos grandes e poderosos. Até porque, nesta lógica, foi essa a sua génese. A consequência deste erro de estratégia tem sido o facto de o partido estar sob ataque permanente da chamada coligação FRENAMO. Há um esforço conjunto da dupla Frelimo-Renamo que visa acabar com o MDM, tornando-o politicamente irrelevante. O próprio MDM também parece rever-se nesta lógica. Esta hipótese também levanta algumas questões: haverá alguma relação, de facto, entre a tentativa do MDM de alcançar o poder a todos os níveis, as acções da chamada coligação FRENAMO e a crise que se vive internamente no partido? Como estabelecer, factual e logicamente? Não estará esta hipótese a ignorar o facto extraordinário de o MDM ter conseguido, tão rapidamente, entrar na assembleia da república, duplicar a sua presença e estar em praticamente todos os espaços do poder local? Como explicar este fenómeno diante de tanta hostilidade? Quarta hipótese: falta de identidade própria. O MDM é produto de dissidentes provenientes da Renamo, Frelimo, PCN e de outros movimentos. Muitos dos seus membros têm historial de conflito com as suas anteriores filiações partidárias. Ao longo dos anos da sua existência, o MDM não soube incutir nos seus membros uma espécie de identidade própria que não apenas o distinguisse das outras forças políticas, mas que, fundamentalmente, criasse a tão necessária coesão interna. Por exemplo, um projecto ideológico, político e programa distintos que atraíssem e mantivessem no seio do partido determinados indivíduos que estivessem com tal projecto alinhados. Propor um Moçambique para todos não é suficiente. O resultado da ausência deste projecto distinto é o facto de, até então, não existir o tal factor distinto de coesão interna que até iria funcionar como elemento de união, principalmente, em tempos de dificuldades. Um tal “eu” próprio que representasse o movimento. O resultado desta ausência é que nas condições actuais “tudo cabe” no projecto MDM. Será! Será que os indivíduos que saem agora são atraídos por outros projectos com identidades verdadeiramente distintas? Quinta hipótese: a hostilidade do ambiente político para o exercício da oposição política em Moçambique. A crise do MDM deriva do facto de o ambiente para o exercício da oposição política em Moçambique ser geralmente hostil. Hostil para qualquer tipo de oposição ao partido Frelimo. É que o MDM surgiu e apregoa um modelo de oposição inspirado na democracia ocidental em que a oposição política faz-se com recurso às instituições e organizações para tal instituídas e devidamente protegidas, como por exemplo, a liberdade de expressão, o discurso político, o diálogo permanente e construtivo, o parlamento, petições etc. No contexto deste tipo de democracia, as concessões políticas dos partidos da oposição são obtidas na lógica do acto democrático. Esta maneira de fazer oposição política, está, infelizmente, em perfeita contramão com a realidade moçambicana, em que a razão está do lado do mais forte e não, necessariamente, do lado do mais coerente ou do mais justo. É por isso que a Renamo, recorrendo à força das armas, tem conseguido manter-se politicamente relevante. A verdadeira gota de água para o MDM incluído para todos os outros pequenos partidos foi, melhor ainda, tem sido a sua total exclusão do processo negocial de paz em Moçambique desde o início da instabilidade político-militar. A Renamo, por sua vez, saiu deste processo com concessões significativas. Isto foi fundamental para a satisfação do seu eleitorado tradicional assim como para atrair potenciais novos eleitores pela sua capacidade de obter essas concessões políticas com impacto profundo na vida das pessoas. Como consequência disso, esperam- -se enormes retribuições na forma de ganhos eleitorais para ela e significativas perdas para o MDM, nas eleições que se avizinham. Nesta lógica, se para o cidadão comum quem determina o seu estado de morte (guerra) ou de vida (paz) é a Frelimo e a Renamo, então para quê serve o MDM neste contexto? Se para usufruir dos benefícios do desenvolvimento - promessa do MDM - qualquer indivíduo racional sabe que precisa antes de mais de estar vivo. E se esta decisão cabe estritamente a Frelimo e a Renamo, logo o MDM torna-se peça, automaticamente, irrelevante neste xadrez. Nesta lógica, é precisamente este o fantasma que tem estado a assombrar o MDM: a dificuldade de impor sua agenda num contexto em que isto só é possível recorrendo à força. Será verdade? Sexta hipótese: a conjugação de todas as hipóteses supracitadas: O problema do MDM é, na verdade, a soma das hipóteses acima desde a primeira até à quinta. Será mesmo isso? E onde fica o papel desses desertores? Não seria a atitude desses tais desertores uma hipótese a considerar autonomamente? Há algumas semanas a revisão do pacote eleitoral esteve dependente do desarmamento da Renamo. O rótulo que melhor representou tal exigência, a avaliar pela repetição do termo na imprensa, foi “chantagem”. As lideranças tomaram conta do caso e uma das partes, por conveniência justificada e atitude compreensível, transformou a tal “chantagem”, simplesmente, num “mal- -entendido” que tinha tudo para ser ultrapassado. E, de facto, está a ser. Assim, o entendimento que nos foi brindado voltou a colocar as eleições de “10 de Outubro” próximo, na mesa, como algo realizável. Os Homens armados da Renamo já deviam ter sido integrados por alturas de 1992. Há um reconhecimento nesse sentido, e não é a primeira vez. Isso não aconteceu nesse momento e nem em Da “paridade” para o “balanceamento” 1994, como referiu o Presidente da República (PR). Agora, ainda segundo o PR, “vai ser possível porque a Renamo prometeu que vai entregar a lista das pessoas, que devem integrar as Forças Armadas ou a PRM”. Parece estar claro que as tais pessoas referidas são as que compõem a ala militar. Podemos afirmar que a “integração” dos Homens da Renamo, como processo, iniciou-se na década 90 se considerarmos a vertente do “balanceamento” dos comandos dentro das FADM (Forças Armadas e de Defesa de Moçambique). Acontece que o mesmo foi interrompido. A parte mais visível dessa interrupção foi a brusca sacudidela e/ou secundarização dos que já estavam integrados no exército moçambicano. A palavra em voga era “paridade”. Se, por um lado, a “integração” como processo, estava a ocorrer, ainda que tivesse os seus constrangimentos, por outro, a “integração” como realidade tradutora de entendimento e necessidade de paz estava no plano de miragem. Só o argumento avançado no início de Março de 2015, segundo o qual as FDS (Forças de Defesa e Segurança) regiam- -se por instrumentos próprios e que as mesmas eram soberanas com relação às promoções e outras medidas, não estando, por isso, prevista qualquer partilha, como a Renamo pretendia, já mostra uma posição de questionamento ou, se quisermos, alguma ponderação de grupo sob cobertura da “Constituição”. As tão desejadas listas dos Homens da Renamo eram, por essas alturas, exigidas. Ninguém se lembrou de chamar a isso chantagem, ainda que a entrega das listas ao Governo e a apresentação dos Homens da Renamo (no quadro do processo de implementação do acordo de cessação das hostilidades) fosse condição para se desencadear o processo de sua integração e enquadramento nas FADM e PRM, conforme as patentes de cada um. A exigência de desmilitarização dos Homens da Renamo versus balanceamento dos comandos dentro das FADM pode fazer ressurgir o debate em torno de partidarização e despartidarização. Ou seja, será seguro desmilitarizar sem supostamente despartidarizar as FADM? Quem corre maiores riscos? Ao se balancear os referidos comandos não se estará a injectar a partidarização a duas velocidades? Da experiência existente o que é que se pode manter? A entrega das listas, em termos de promessas, é uma garantia com vista ao balanceamento. Mas, uma vez os comandos balanceados, quanto tempo levaremos até que os níveis de confiança, por si sós, produzam um exército republicano, um exército sem costelas políticas? Nisto tudo, espera-se que o eleitorado seja respeitado. Savana 20-07-2018 21 PUBLICIDADE 22 Savana 20-07-2018 DESPORTO C om a Academia de Xadrez da Matola, o braço da respectiva federação, a braços com problemas financeiros, os planos de formação e distribuição de materiais, especialmente tabuleiros, está comprometido e, consequentemente, o futuro da modalidade ameaçado. Domingos Langa, presidente deste organismo, é, por tudo isto, um homem triste, que vive de nostalgia. Seguem os excertos da entrevista. Tomou posse em 2017. Que balanço tem a fazer? O desempenho foi bom, porque fizemos tudo o que estava previsto, ou seja, o que estava planificado, contudo, podia ter sido melhor. Mas devo dizer que, muito antes de tomarmos a posse, iniciámos com a reabilitação da sede da Federação Moçambicana de Xadrez, colocamos o mobiliário e, dois meses depois, de termos sido eleitos (a 3 de Dezembro 2016), tomamos posse, concretamente, em Março 2017. Qual foi o vosso primeiro desafio? -Foi o de organizarmos o campeonato africano das camadas mais jovens e, felizmente, vencemos, depois participamos em dois campeonatos mundiais, nomeadamente, no Brasil e na Índia, e a classificação surpreendeu-nos positivamente, porque o evento foi corporizado pelos melhores atletas do planeta. Conseguimos ficar no meio da tabela e isso foi significativo, pois, estamos a falar de crianças que claramente não possuíam experiência neste tipo de eventos. E que há a dizer em relação ao africano de seniores? -Foi muito bom termos organizado o campeonato de seniores, apesar de o nosso melhor atleta, o Paiva, não ter estado bem no jogo em que tinha de ganhar para ficar em segundo ou terceiro lugar. Acabamos ficando em quarto lugar. E quanto à participação de Moçambique no Africano da Zâmbia? -Nesse evento ficamos em quarto lugar e, muito recentemente, neste mês, Paiva participou na Índia, numa competição da Commonwealth, onde conseguiu uma boa prestação. Em resumo, conseAcademia de xadrez da Matola, uma referência em África e braço da Federação, já não forma atletas por falta de fundos Massificação em risco! Por Paulo Mubalo guimos fazer o que tínhamos planificado, entre participação e/ou organização das provas internas, regionais e africanas e achamos que, mesmo diante de muitas dificuldades, estamos no caminho certo. O nosso país não irá participar nas olimpíadas da Geórgia? -Vamos participar e tudo está sendo preparado ao detalhe. Mas permita-me dizer que este torneio internacional que vamos organizar vai ser uma forma de também prepararmos os nossos xadrezistas que tomarão parte nas olimpíadas de xadrez da Geórgia. Internacional BCI Internamente, o que é que a FMX está a fazer de concreto na componente desportiva? -Estamos a organizar a nossa primeira assembleia ordinária, que vai acontecer no próximo mês de Agosto. Igualmente, pensamos organizar, pela primeira vez no país, concretamente, na primeira semana de Setembro, um torneio internacional, que se designará BCI. Mas quais são os outros desafios da FMX? -São vários, mas deixa-me dizer que só me sentirei satisfeito quando a federação conseguir criar clubes de xadrez, quando conseguirmos levar xadrezistas para os diversos clubes de Moçambique. Eu estou em permanente contacto com os diversos clubes de Moçambique, estou a falar de clubes como Ferroviário, Maxaquene, Estrela Vermelha, Munhuanense Azar, Mahafil, Matchedje, entre outros, para que aceitem inscrever atletas, e isso seria o maior ganho tanto para mim, como presidente da Federação Moçambicana de Xadrez, e para a própria modalidade. Repare que há muitos atletas no país que já estão a precisar de clubes, até porque estes iriam ajudar ainda mais na massificação do xadrez . Mas os clubes podem alegar que não possuem materiais... -A Academia de Xadrez da Matola propõe-se a oferecer 500 (quinhentos) tabuleiros para os clubes, empresas ou entidades que queiram acolher, massificar e dinamizar esta modalidade. Por estar a falar de desafios, o próximo passo é fazermos um levantamento de quantos professores estão a dar aulas de xadrez nas escolas privadas, pois, há os que nunca passaram da federação, nunca tiveram uma formação e, logicamente, não os conhecemos e queremos uniformizar a formação. Mas só os clubes tradicionais é que podem acolher esta iniciativa? -Pensamos que não é preciso que sejam os clubes tradicionalmente conhecidos, podem ser bancos, empresas, escolas e, desde já, convidamos as empresas, instituições e clubes que vão ler esta entrevista, para se aproximarem a nós e criarem condições para a sua filiação na FMX. De algum tempo a esta parte, a FMX não organiza formações. A que se deve? -A FMX não faz formações, essa tarefa é da responsabilidade da Academia de Xadrez da Matola e acredito que tenha algum material para o efeito, mas não como no passado. A academia sempre foi o viveiro da federação e empenhou- -se grandemente na componente formação. Está a dizer que as empresas já não apoiam a academia? -Neste momento, a formação está parada e só nos resta pedir aos que nos ouvem para retornarem com os apoios à Academia da Matola. Na verdade, sem a academia o nosso objectivo de fazermos do xadrez uma modalidade obrigatória em Moçambique não será atingido. Tínhamos como projecto colocarmos, num prazo de cinco anos, o xadrez em todo o país, queríamos fazer formações sem parar. Mas também a academia assinou um acordo com o Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano, para que nos institutos de formação de professores se incluía o ensino de xadrez. Esses professores vão também leccionar o xadrez onde estiverem afectos e isso será um grande ganho. Há ainda associações provinciais que não foram legalizadas? -Este é outro desafio, mas é um trabalho que estou a realizar, pessoalmente, com as associações provinciais. Há dirigentes associativos que estão há muito tempo, e as direcções provinciais da Juventude e Desporto pura e simplesmente olham para esta situação e não reagem. Estou a falar da Associação Provincial de Xadrez da Zambézia e de Gaza, embora esta esteja no processo de eleição. Em relação à Zambézia tenho muitas dificuldades em obter informações, de tal ponto que pedi apoio da Direcção Provincial da Juventude e Desporto. O outro local em que estou com imensas dificuldades de trabalhar é Inhambane, onde há querelas entre xadrezistas de Maxixe e de Inhambane Cêu. Estive lá no mês passado, mas não consegui reunir com os xadrezistas. Domingos Langa, presidente da FMX N a sequência do artigo publicado há duas edições, na página desportiva, com o título: ”Moçambique em maus lençóis na CAF!”, a direccção da Federação Moçambicana de Futebol, FMF, esclareceu que não constitui verdade que a decisão de votar a favor da Coligação liderada pelos EUA na organização do Mundial de 2026, tenha sido por imposição do Governo. A direcção da FMF fez notar que este organismo fez uma análise minuciosa das candidaturas em termos de possíveis ganhos e achou melhor apoiar a candidatura da Coligação liderada pelos EUA. Moçambique em maus lençois na caf! Reacção da FMF R ealizou-se de 13 a 15 de Julho, do corrente ano, na cidade de Greensboro, Carolina do Norte, nos Estados Unidos da América, a 15ª Edição do Campeonato do Mundo de Tang Soo Do. Composta por 21 atletas e 2 técnicos, a selecção Nacional da modalidade deslocou-se a Greensboro com objectivo de alcançar títulos mundiais nas diferentes categorias e esse Pódio de Tang So Do orgulha DStv feito foi mesmo alcançado, colocando Moçambique nos holofotes de todo o planeta. No total, 43 medalhas foi o feito da selecção Nacional nesta prova, sendo 14 de Ouro, 11 de Prata e 18 de Bronze, tendo também conquistado dois títulos em seniores, designadamente, Cinturões Negros por Etevaldo Boca, pela segunda vez e Veteranos por Michael Lee. Cláudio Temporário conseguiu a promoção para categoria de Mestre. O Tang Soo Do não é uma modalidade olímpica e ainda carece de muitas dificuldades para participação em competições internacionais, limitando a exposição do talento moçambicano além fronteiras. Este ano a DStv aliviou os custos da selecção nacional, assumindo a participação da delegação composta por 23 elementos. Perto de um milhão de meticais é o valor disponibilizado por aquela firma de televisão digital por assinatura, que opera em Moçambique desde 1995, que se mostrou deliciada com as conquistas. Savana 20-07-2018 23 DESPORTO OPINIÃO A parte apitos, dribles, faltas, golos, laterais e penaltis, marcados ou não, o encerramento da Copa 2018, domingo, em Moscovo, foi uma verdadeira prece. Não bastasse o jogo ter sido ordeiro e sem baixarias, inclusive as quedas provocadas que tanto ridicularizaram o Brasil e seu principal jogador, afastados das finais com uma performance deplorável há uma semana, para frustração de cerca de duzentos milhões de compatriotas, a Croácia e a França mostraram a elegância que o pedagogo e historiador francês Pierre de Frédy, mais conhecido pelo seu título nobiliárquico de Barão de Coubertin, criador dos jogos olímpicos modernos havia preconizado para o relacionamento intra e extra campo para atletas. Foi dignificante para toda a dita civilização moderna. Principalmente pelo que mostrou em termos de igualdade entre raças e etnias, aceitação do próximo e resignação diante da vitória bem conquistada pelo adversário. Mais importante, porém, foi destacarmos o êxito de dois grupos minoritários sobre as chamadas grandes nações, que inclusive se vangloriam de praticar o melhor futebol graças ao dinheiro que põe em campo. Como escreveu muito bem o jornalista Fabrício Carpinejar, não houve derrotados no 4 a 2 da França sobre a Croácia. Os franceses ganharam o seu bicampeonato em jogo electrizante (igualando-se em títulos com a Argentina e o Uruguai), mas foi o amor que venceu o ódio na final da Copa. O futebol bateu o racismo, a xenofobia e a intolerância religiosa. Não significou apenas uma decisão inédita, mas uma demonstração de força da integração entre povos e da superação globalizada das diferenças. Ambas as selecções representaram minorias em campo, ambas despertavam a simpatia das claques do resto do mundo pelas histórias de feridas e de discriminação, ambas correspondiam a lados mais fracos e desfavorecidos da humanidade. Foi o encontro entre um time de refugiados, a Croácia, e um time de imigrantes, a França. A Croácia é formada de atletas que sofreram com a guerra pela independência. Ou ficaram desterrados em outro país como Ivan Rakitic, na Suíça, e Mario Mandzukic, em A Final do Mundial de futebol A Croácia e a França ensinaram-nos muito Diztingen, na Alemanha, ou sobreviveram em pleno conflito, como Luka Modric (escondido em Zadar). Modric, inclusive, testemunhou a sua casa incendiada por milicianos da minoria sérvia da então Jugoslávia e arcou com o trauma de suportar o fuzilamento do seu avô. Já a campeã França é toda miscigenada, é toda multicultural, é toda feita de famílias vindas da pobreza em busca de um lugar ao sol na Europa. Não deixa de ser uma selecção maioritariamente africana. N’Golo Kanté é filho de imigrantes do Mali e, absurdamente, catava lixo nas ruas de Paris aos sete anos. Presnel Kimpembe é filho de congoleses. Benjamin Mendy é filho de senegaleses. Ousmane Dembélé é filho de mãe senegalesa e pai malinês. Corentin Tolisso é filho de imigrantes de Togo. Blaise Matuidi é filho de angolanos. Steven Nzonzi veio do Congo. Samuel Umtiti, autor da cabeçada salvadora na semifinal contra a Bélgica, é natural de Camarões. Os heróis velocistas e fintadores Paul Pogba e Kylian Mbappé, responsáveis pela diferença do placar na decisão, não fogem à regra. O primeiro é filho de mãe guineense e pai congolês; e o segundo, de pai camaronês e mãe argelina. Se a Croácia não tivesse repatriado os seus filhos dilectos, não colocaria o seu nome na história com o segundo lugar, superando os feitos de Sukker de 1998. Se a França não tivesse abertas as suas fronteiras e derrubado a Bastilha das etnias, o seu combinado de furacão e técnica desapareceria do mapa do nosso coração”. Que bela demonstração de fugaz elevação moral da humanidade! O corredor que os jogadores franceses fizeram para saudar os colegas croatas é exemplo do mundo solidário entre todos os povos e raças que queremos. Parabéns à França, parabéns à Croácia, parabéns a todos os times que participaram da Copa. E, como disse um comentarista de televisão compatriota com larga experiência em campo, o Walter Casagrande, “que a humildade volte ao futebol do Brasil”, perversamente desfigurado pela mistura de ambições desmedidas e epidémica falta de carácter. Não precisamos dizer mais nada sobre um evento tão nobilitante, a nos ensinar, à sua maneira, que podemos, sim, evoluir a ponto de todos nos tornarmos homens de bem. Precisamos nos deter sobre os ensinamentos humanísticos desse episódio, a fim de aprendermos o cerne da bondade e passarmos a conjugá-la por simples amor ao outro ser humano. Peço-lhes que pensem muito sobre o que viram, e que amem, perdoem e sejam solidários com o próximo; logo, aqui e agora. SEGUNDA-FEIRA, 16 de JULHO de 2018. Fraternalmente, Roberto, um torcedor brasileiro Anuncie a sua marca, produto e serviços, na SAVANA FM . Proporcionamos para si pacotes promocionais, contacte-nos através de: 84 1440048, 82 8944278 ou ainda através do e-mail: radiosavana100.2@mediacoop.co.mz SAVANA 100.2 FM Visite agora e mantenha-se informado, (integridade & independência) https://www.savana.co.mz 24 Savana 20-07-2018 CULTURA E m 1986, quando o Quénia era dirigido a ferro e fogo pela ditadura de Daniel Arap Moi, chegou às bancas um livro escrito em Gïküyü, uma das 68 línguas faladas naquele país africano e que também é oficialmente considerada língua regional da zona centro. O referido livro, com o título “Matigari”, veio dar continuidade ao que o seu autor, o escritor Ngugi Wa Thiongo, já havia feito em seus outros livros, “Pétalas de Sangue” e “Mutharabani” que é de pintar uma imagem áspera e desigual da vida neocolonial africana, expondo de forma nua e crua as desigualdades e injustiças cometidas pelos dirigentes contra o povo. O escritor, que tem sido unanimemente considerado um dos maiores da actualidade, acabava de sair da cadeia, para onde foi parar quando, em 1977, saiu o seu primeiro romance (Diamantes de Sangue) que veio denunciar a forma como a corrupção, a injustiça e a pobreza eram alimentadas pelas agências multilaterais demonstrando que, afinal, a verdadeira independência não havia acontecido e que os verdadeiros combatentes pela liberdade haviam sido reduzidos a parasitas e loucos, enquanto uns mentirosos pregavam o evangelho da liberdade pilhando os recursos e o sacrifício do povo. No livro que agora sai pela primeira vez em português, através da editora moçambicana Ethale Publishing, é contada a história de Matigari, um Um livro que desafia todo e qualquer “sistema” combatente pela liberdade que, depois de ter ficado muito tempo no mato a combater o colono, volta à cidade e descobre que, afinal, nada mudara, ou seja, haviam mudado as pessoas, mas a repressão continuava, além do mais, os filhos dos colonos e seus apoiantes que para o exterior haviam ido estudar agora controlavam toda a máquina repressiva e os verdadeiros heróis pela liberdade haviam sido completamente apagados. Sem mencionar sequer o nome do país, o autor passeia sobre os problemas vividos naqueles anos e que até hoje continuam a ter actualidade. Aliás, quase todos os problemas que se vivem no Moçambique actual são abordados neste romance que explora temas como a liberdade, a democracia, a justiça, a corrupção, a ajuda externa, a subjugação da mulher, o uso da força para a repressão do pensar diferente e o investimento de agências internacionais em guerras para depois vender soluções de paz. Aliás, quando o livro saiu, o governo Queniano emitiu um mandato de captura contra Matigari, o seu personagem que pela forma verosímil como é apresentado, parecia ser uma figura real e não ficcionada. Quando se descobriu que a figura misteriosa retratada no livro havia sido inventada pelo seu autor, simplesmente tratou-se de retirar o livro de circulação e interditar a sua leitura. A versão em Português do livro que conta com 145 páginas foi traduzida do Inglês para português por Sandra Filipe com revisão de Lucílio Manjate e coordenação editorial de Jessemusse Cacinda e Alex Macbeth e é o primeiro livro de uma colecção designada “clássicos africanos” em que a editora pretende trazer para a língua portuguesa os livros dos principais autores do continente africano. O professor e investigador Adérito Barbosa, da Universidade Católica de Moçambique, que prefaciou a obra, referiu que quem for a ler o livro perceberá que foi escrito para qualquer país uma vez que apresenta a imagem de um governo mau e um bom governo. “Se queremos entender um governo que não seja bom, encontramos uma imagem interpelativa na cena do ministro da verdade na visita à fábrica. Usa todas as manhãs para canalizar todas as decisões segundo a linha deste governo opressor, aterrador e elitista. No colonialismo, os brancos detêm o poder, no neocolonialismo, os africanos no poder seguem a mesma linha dos brancos. Só mudou a cor da pele. A grande questão é que quer no governo colonialista quer no governo neocolonialista, o povo continua igual: na miséria, na pobreza, sem infra-estruturas que lhes possam dar um mínimo de dignidade e condições de sobrevivência”, remata o professor. O livro que já se encontra disponível na Minera em Maputo e na Beira será lançado na sala magna desta livraria no próximo dia 25 de Julho pelas 18 horas, durante a realização da segunda edição da “semana das artes”, um evento que celebra a cultura moçambicana e a apresentação será feita por José Castiano, professor associado de Filosofia Africana e Contemporânea da Universidade Pedagógica, que fará uma contextualização do pensamento de Ngugi Wa Thiongo à luz dos problemas actuais de Moçambique. De acordo com Jessemusse Cacinda, co-fundador da Ethale Publishing, o livro tal como os outros da editora estará em todas as províncias do país, porque segundo suas palavras: “a nossa missão é investir para que a literatura africana seja conhecida pelos próprios africanos, por isso que para além de assegurar que o livro esteja em todas as províncias, também oferecemos às escolas e bibliotecas do país”. Cacinda explicou que a sua editora vai ainda apresentar aos moçambicanos outros dois livros clássicos cuja tradução está feita, estando neste momento processos de natureza editorial. Trata-se dos livros: “A greve dos mendigos” da escritora Senegalesa Aminata Sow Fall e “Esta é a nossa vez de comer” da jornalista britânica Michela Wrong. Ngugi wa Thiongo é um dos nomes mais sonantes da literatura africana, figurando, nos últimos anos, na lista dos cinco favoritos ao prémio Nobel de literatura. Nasceu a 5 de Janeiro de 1938 em Kamirithu, centro do Quénia, tendo sido formado na Makerere University College, em Kampala, Uganda, e na Universidade de Leeds no Reino Unido. Actualmente, é professor de Literatura Inglesa e Comparada na Universidade de Califórnia (EUA). Tem uma série de livros, ensaios e peças de teatro, sendo que se destaca por estar a escrever os seus romances em Gikuyu, contribuindo desta forma para a valorização das E línguas africanas autóctones. A.S m homenagem àqueles que escreveram sobre a independência de Moçambique e criaram o movimento das “poesias de combate”, extremamente fortes até aos dias de hoje e com merecimento de mais espaço de exposição e provocação, “Grito Negro” é uma performance com leitura e canto com participação do actor brasileiro radicado em Moçambique, Expedito Araujo, e da actriz moçambicana Melanie de Vales, que conquistou o grande público ao protagonizar o filme de Licínio Azevedo, “Comboio de Sal e Açúcar”. O evento terá lugar no dia 26 às 18:30h no Centro Cultural Brasil-Moçambique (CCBM), com entrada a 100 meticais. Segundo Expedito Araujo, que também assina a concepção da performance, a ideia nasceu de uma participação em evento muito singular no Centro Cultural Moçambique-Alemanha, onde na ocasião pôde experienciar esta temática com mais verticalização ao lado dos músicos Texito Langa e Rhodalia Silvestre, e do artista Feling Capela. “Foi sensacional, fez o coração bater mais forte e o corpo arrepiar. Um encontro de diferentes linguagens artísticas em prol de uma manifestação de conteúdo para lá de relevante. Não podia parar ali. Por isso surge “Grito Negro”, que ao lado da fabulosa e parceira actriz e cantora Melanie de Vales, poderemos aprofundar e contar muito além do que está na literatura. É o papel do teatro: Transcender, provocar, re- “Grito Negro” no CCBM flectir. E esse é o teatro que acredito. Sem isso não é arte. A literatura moçambicana escrita é recente. É apenas no século XX que vejo surgir uma produção, principalmente poética, já que a prosa, me parece, só ganhou corpo com o pós-independência, influenciada pelos padrões estéticos da metrópole portuguesa”. Acrescentando que “para criar o roteiro, notei que lá pelos anos 40, no entanto, podemos sentir a presença de elementos moçambicanos no fazer literário de escritores como José Craveirinha e Noémia de Sousa, porta-vozes de uma poesia fortemente comprometida com a construção de um espaço literário próprio e com questões políticas e sociais, destacando-se, entre elas, a da negritude, e da qual sou fã. Grandes escritores e artistas. Precisamos de mais como Craveirinha e Noémia para criar uma revolução de verdade. É preciso o risco. É necessário estar na contramão”. Ainda na pesquisa, a fim de melhorar a escolha da literatura moçambicana e os seus principais autores e objetivando mostrar o cenário sobre o qual ela começou a constituir-se, o actor recorda de umas palavras de Patrick Chabal, de 1994. “Moçambique era, entre as colônias africanas, a menos integrada, um território mal dividido onde poucos africanos eram letrados e onde as divisões raciais e sociais eram infinitamente complexas. Dado esse estado de coisas, não é de admirar que a vida literária de Moçambique tenha inicialmente estado centrada nas actividades do mestiço e do português branco. Não é por acaso que essas actividades tenham pouco em comum com a vida cultural da imensa maioria da população africana. Falar de “um” Moçambique – ou de uma entidade que se pudesse qualificar como Moçambique – não era reconhecível em termos sociais e culturais nem tão-pouco sequer homogêneo. De facto, como mencionei, até à década de 40, o que parecia ter no território moçambicano é uma literatura de assimilação, uma fase colonial, que tem nos moldes europeus o legado para a sua produção”. O actor brasileiro espera tocar o público amante da literatura nacional. “E só nos anos 40 é que houve uma espécie de rebeldia, a partir deste tempo é que se sente a presença de elementos moçambicanos, o pensamento africano dos escritores (Noémia de Sousa, Craveirinha, e outros). E ainda hoje dá-se continuidade disso, e tornando-se a literatura moçambicana cada vez mais universal. Não posso deixar de dizer que sou fã de José Craveirinha. E sua literatura me move como artista. Filho de pai português e de mãe moçambicana, a poesia de José Craveirinha atravessou e representou todas as fases nas quais a literatura de Moçambique costuma ter pertinência. Craveirinha não é um escritor de mercado. É de arte. É comprometido. Isso é fenomenal e admirável. São poucos os “Craveirinhas” neste mundo que vivemos. Esperamos tocar e provocar no público um pouco que seja, de tudo que este grande artista provoca em nós”, finaliza Expedito Araujo. Ngugi Wa Thiongo Dobra por aqui SUPLEMENTO HUMORÍSTICO DO SAVANA Nº 1280 ‡ DE JULHO DE 2018 O ANTES... A MALTA ADMIRA-SE COM A QUANTIDADE DE AFROGAULESES DOS CAMPEÕES MUNDIAIS E O QUE DIZER DOS AFRO EUROPEUS DO HOQUEI NACIONAL? É A MULTICULTURALIDADE MEUS SENHORES.... 2 Savana 20-07-2018 SUPLEMENTO Savana 20-07-2018 3 SANTOS DO BRASIL FAZEM MILAGRES....... Savana 20-07-2018 27 OPINIÃO Abdul Sulemane (Texto) Ilec Vilanculo (Fotos) N as vésperas das eleições, os membros dos partidos procuram a todo o custo estar em lugares onde possam tirar maiores benefícios para si. A questão da fidelidade destes membros faz-nos pensar que os políticos mudam de cores partidárias como se fossem camaleões. Quando se filiaram aos respectivos partidos conheciam as regras que os regem, os propósitos e objectivos. Entretanto, quando sentem que os seus interesses estão a ser ameaçados saltam do barco. Fica difícil confiar neste tipo de pessoas que mudam de opinião com uma facilidade extrema. Quando existe algo de que discordam não procuram sentar e debater os seus posicionamentos. Isso indigna o eleitor e faz com que perca a confiança. E para entender melhor este tema, eu escolhi utilizar como metáfora o nobre camaleão. Um bichinho de mais ou menos 60 centímetros que tem uma relação não muito amigável com os outros colegas de espécie, além de uma língua bem grande para conseguir se defender de outros animais e alimentar-se. Acredito que, ao ler o título do texto, rapidamente já tenha entendido o porquê da minha escolha. O camaleão é um dos animais que muda de cor quando é preciso se adaptar ao tempo e ao local onde se encontra. Ninguém melhor do que ele para nos exemplificar algo que também é necessário para nós, seres humanos. Na nossa cultura, o camaleão é utilizado para descrever bons actores e ainda pessoas maleáveis que têm a possibilidade de alterar seu comportamento conforme as características do ambiente e, trazendo estas características para a nossa vida real, é exactamente assim que somos convidados a ser em nossas vidas, o tempo todo. Falamos disso por causa de muitos que tiveram este comportamento nos últimos tempos. Desta vez foi Venâncio Mondlane que saltou do partido MDM para a Renamo, juntamente com uma dezena de colegas seus. Este comportamento fez com que algumas figuras políticas, independentemente das suas cores partidárias, tecessem o seu posicionamento sobre a situação. Mesmo com o comportamento de camaleão que algumas figuras podem estar a ostentar, é interessante ver membros de partidos diferentes a conversarem amigavelmente. Estamos a dizer isso por causa da conversa travada entre Ivone Soares, chefe da Bancada parlamentar da Renamo, e Caifadine Manasse, porta-voz do partido Frelimo. Vejam como Ivone Soares escuta atentamente. Como se o membro do partido dos camaradas estivesse a dizer que em tipos como estes não dá para confiar. Outra conversa semelhante entre membros de partidos diferentes é vista entre Fernando Bismarque, do MDM, e Edmundo Galiza Matos Júnior, da Frelimo. Nesta segunda conversa, os jovens deputados devem estar a comungar da ideia de que este comportamento mancha a camada jovem que faz política com alguma imaturidade. Quem deve estar a dizer: se fosse no seio dos camaradas o comportamento do VM teria tido o devido correctivo, é Manuel Tomé que provoca um sorriso em Benvinda Levi, conselheira do Presidente da República e antiga ministra da Justiça. Quem não escondeu o seu descontentamento pelo comportamento é Jorge Ferrão, Reitor da Universidade Pedagógica e Su Jian, Embaixador da China em Moçambique, disfarçou com o seu olhar diplomático. Mas deve ter aprendido que o ser o humano tem comportamento camaleónico. Para sabermos onde pode chegar a personalidade humana. Melhor dizendo, personalidade camaleónica. Personalidade camaleónica À HORA DO FECHO www.savana.co.mz EF+VMIPEFt"/0997t/o 1280 Diz-se... Diz-se IMAGEM DA SEMANA O Conselho Municipal da Cidade de Maputo (CMCM) submeteu, esta semana, à Assembleia Municipal de Maputo (AMM,) o nome Maputo-Katembe, como proposta para designar a Ponte que esta a ser construída sobre a Baía de Maputo. 0QSPDFTTPEFBUSJCVJÎÍPEPOPNF QBSBBQPOUFGPJEFTFODBEFBEPEFTEFPJOÓDJPEBDPOTUSVÎÍPEBNFTNB  UFOEP TVSHJEP  GPSNBMNFOUF  QSPQPTUBT DPNP QPOUF .BQVUP- ,BUFNCF &EVBSEP .POEMBOF  ,BQGVNV  ,BUFNCF  ,BUFNCF- .BQVUP "PRVFPSAVANABQVSPV OVNB QSJNFJSB GBTF  BMHVOT TFDUPSFT QSØYJNPT EF "SNBOEP(VFCV[B UFOUBSBN TVHFSJS P OPNF EP BOUJHP FTUBEJTUB QBSB B QPOUF  NBT OÍP GPJ BDPMIJEP'PJ OB BENJOJTUSBÎÍP (VFCV[B RVFJOJDJPV B DPOTUSVÎÍP EB JOGSBFTUSVUVSB  DPOTJEFSBEB B NBJPSQPOUFTVTQFOTBOPDPOUJOFOUF BGSJDBOP " 1POUF EF $BUFNCF UFNVNDVTUPEFDFSDBEF64% NJMIÜFT JODMVJOEPRVJMØNFUSPT EFBDFTTPT FPVUSBTQPOUFTWJBEVUP EF QFRVFOB FOWFSHBEVSB  FOUSF .BQVUPFB1POUBEP0VSP "PRVFPSAVANABQVSPV PBSHVNFOUP QBSB P iOÍP (VFCV[Bw Ï RVFFNQSFTFOUFNPNFOUPFMFJUPSBM F EBEB HSBOEF JNQPQVMBSJEBEF EP *XHEX]DQmRÀJXUDQRVKRUWOLVW &0&0SURS}H0DSXWR.DWHPEH BOUJHPQSFTJEFOUF NVJUPBTTPDJBEP ËT DIBNBEBT EÓWJEBT PDVMUBT  TFSJB BMUBNFOUF QFOBMJ[BEPS QBSB B 'SFMJNP TPCSFUVEP OBDBQJUBM 4FHVOEPP1SFTJEFOUFEP$.$.  %BWJE 4JNBOHP  RVF GBMBWB OFTUB RVBSUBGFJSBOB99*** TFTTÍPPSEJOÈSJBEB"". BPCSBFODPOUSBTF OP mN F FYJTUF B OFDFTTJEBEF EB NFTNBUFSVNOPNF &OUSFUBOUP  GPJ OFDFTTÈSJP SFBMJ[BS BVTDVMUBÎÜFTQÞCMJDBTOPTEPJTEJTUSJUPT BCSBOHJEPT QFMB JOGSBFTUSVUVSB TFOEPRVFQSFWBMFDFVPOPNF .BQVUP,BUFNCF %BWJE 4JNBOHP FYQMJDPV RVF EFQPJT EB BQSFDJBÎÍP QPTJUJWB GFJUB QFMP$.$ÏDIFHBEBBGBTFEFTFS TVCNFUJEBBPØSHÍPEFMJCFSBUJWPEB "..  QBSB EFQPJT QBTTBS QBSB P .JOJTUÏSJPEB"ENJOJTUSBÎÍP&TUBUBMFOPmOBMQBSBBWBMJEBÎÍPQFMP $POTFMIPEF.JOJTUSPT Membros do MDM expulsos /BTFTTÍPDPOWPDBEBQBSBBQSFTFOUBÎÍPEBQSPQPTUBEFBUSJCVJÎÍPEF UPQØOJNP Ë QPOUF TPCSF B CBJB EF .BQVUP F EB QSPQPTUB EP QMBOP NVOJDJQBM EF FTUBCJMJ[BÎÍP F NBOVUFOÎÍP EF UBMVEFT IPVWF FTQBÎP QBSBBFYQVMTÍPEPTNFNCSPTFMFJUPTQFMP.%.OBTBVUÈSRVJDBTEF  RVF  FOUSFUBOUP  EFTFSUBSBN QBSBB3FOBNPFTUBTFNBOB 5SBUBTF EF *TNBFM /IBODVDVÏ  4ÏSHJP /IBTTFOHP  $BNJMP .BOIJÎB  %PNJOHPT $IJOHVFNBOF F "SNBOEP1BJB /P JOÓDJP EB TFTTÍP  VN NFNCSP EP.%. JOUFSQFMPV B NFTB QBSB EJ[FS RVF IBWJB iJOUSVTPTw OB TBMB  SFGFSJOEPTFBPT TFVTBOUJHPTDPMFHBT RVF TF CBOEFBSBN QBSBPMBEP EB 3FOBNP %F TFHVJEB  PT DJODP EJTTJEFOUFTBCBOEPOBSBNBTBMB &OUSFUBOUP PFYDIFGFEBCBODBEB EP.%.FVNEPTEJTTJEFOUFT *TNBFM/IBODVDVÏFYQMJDPVRVFTFm- [FSBNQSFTFOUFOBTBMBOPDVNQSJNFOUPEPTFVEFWFS BSHVNFOUBOEP RVFBJOEB TÍPNFNCSPTEB".. FNiFGFDUJWJEBEFEFGVOÎÜFTw /IBODVDVÏEJTTFBJOEBRVFPHSVQP FTUÈ iDPNQMFUBNFOUF USBORVJMP F DPOTDJFOUFw EF UVEP RVF QPEFSÈ BDPOUFDFSFRVF TFEFDJEJSBNBCSBÎBSB3FOBNP ÏQPSRVFÏPNFMIPS DBNJOIP 5PEBWJB  PT NFNCSPT EP .%. OB"..QFEFNBQFSEBEPNBOEBUP EP FYDIFGF EB CBODBEB F PT TFVTDPNQBOIFJSPT RVFEFWFN TFS TVCTUJUVÓEPT QPS "ESJBOP .BOVFM  +VMJÍP EPT 4BOUPT  4BNBSJB /HVJMB  #PCJOB .JRVJTTJSJNB F $FDÓMJB .BTTBOHP 3FDPSEFTFRVFPTDJODPNFNCSPT EJTTJEFOUFTBCBOEPOBSBNP.%.  OPEJBEF+VOIPEPBOPFNDVSTP UFOEPDPNPKVTUJmDBUJWBPTQSPCMFNBT JOUFSOPT  B GBMUB EF EFNPDSBDJBOBHFTUÍPEPQBSUJEP(C.C) t1BSBBMÏNEBNVMUJDPMPSTFMFDÎÍP GSBODFTB BCFMBQSFTJEFOUF DSPBUB ,PMJOEB(SBCBS RVFUBNCÏNGBMBQPSUVHVÐT FTUFWFTPC PTIPMPGPUFTEP.VOEJBMRVFUFSNJOPVEPNJOHPFN.PTDPWP 1BSBSFnFYÍPEFBMHVOTEPTOPTTPTQPMÓUJDPTDBTFJSPT QBSBFTUBS QSFTFOUFOB3ÞTTJB ,PMJOEBUJSPVGÏSJBT QBHPVEPTFVCPMTPP CJMIFUFEFBWJÍPFBFTUBEJB"MÏNEPNBJT ÏQPMJUJDBNFOUFEF EJSFJUBy t2VFNFTUFWFOBSJCBMUBFWBJEFJYBSEFFTUBSÏPFNCBJYBEPS 3PESJHP4PBSFT VNGPMJÍPBNJHPEFGBSSB DVMUVSBFTBNCBRVF EFJYBFNCSFWF.BQVUP QBSBTFSTVCTUJUVÓEPQFMPEJQMPNBUB $BSMPT*HMÏTJBT1VFOUF PBOUJHPSFQSFTFOUBOUFCSBTVDBOB5BO- [BOJB4BSBWÈFNCBJYBEPSy t0VUSPFNCBJYBEPSCFNDPNFOUBEP VNWFUFSBOPEBTOPTTBT CBOEBTRVFUBNCÏNFTUFWFQFMP#SBTJM EFQPJTEFUFSBOEBEP FN CJDPT EF QÏT QPS.BQVUP  GPJ QBSBS BMPCJTUB EP EJUBEPS 5FPEPSP0CJBOH BRVFNFTUÈVOJEPQPSMBÎPTGBNJMJBSFT/P QBTTBEP PVUSPT SFQSFTFOUBSBN B *OEPOÏTJB EPTHFOFSBJT GBTDJTUBTFOÍPFTUÈMPOHFPNPÎBNCJDBOPBUFSBCBOEFJSJOIBEF *TSBFMOPTFVQPQØy t/BSJCBMUB QPSPVUSPTNPUJWPT FTUÈB4BTPMEPQBÓTEPTDVOIBEPTRVFNBOEPVEPJTFYFDVUJWPTEFUPQPB.BQVUPFFODPOUSBSBNBTQPSUBTRVBTFUPEBTGFDIBEBT/FN13 OFN1.F  OVNBOPJUFGSJB PKBOUBSRVFEFWFSJBUFSPTQBSDFJSPTEPPJM HBTËNFTNBNFTBUFWFDPNPmHVSBTEFQSPByPCBTUPOÈSJP EPTBEWPHBEPTFPSFJUPSEFVNBVOJWFSTJEBEFQÞCMJDB"[BOHB DPN.S.BYEFWFTFSNFTNPQFTBEBy t%FQPJTEFUFSTJEPCBOJEPQPSEJSFDUJWBPmDJBM FTUÈEFWPMUBFN DSFTDFOEPËTMJEFTEBDPNVOJDBÎÍP PDPOnJUPIPNFNBOJNBM 1BSBBMÏNEBTWJEBTRVFTFQFSEFN BENJOJTUSBEPSFTFPVUSBT BVUPSJEBEFTMPDBJTQSFDJTBNEBQVCMJDJEBEFQBSBBMJNFOUBSPT TFVTOFHØDJPTFFYQFEJFOUFTFTUPNBDBJT t/BSJCBMUBUBNCÏN MÈQBSBBTUFSSBTEPSJPEPTCPOTTJOBJT FTUÈ VN DPNJTTÈSJP QPMÓUJDP  RVF  OB BMUVSB  TVCTUJUVJV VN IPOPSJTDBVTBQSPNPWJEPBWJDFNJOJTUSP%FTDPOmBTFRVFQPVDP TBCFEF4FHVSBOÎB4PDJBMNBT OBWFSEBEF BJEFJBÏ SFTPMWFS BMHVNBTRVF[ÓMJBTDPNBFYUTVOBNJEBEF+VMIPOPHSBOEF CBMVBSUFEBPQPTJÎÍP t.BJTQBSBPJOUFSJPS OBFY7JMB.BDIBEP SFCBQUJ[BEBEF/IBNBUBOEB VNBTJNQMFTEFOÞODJBË1(3 ÏTVmDJFOUFQBSBTF MJWSBSFNEVNDBNBSBEBRVFEVSBOUFDJODPBOPTTFSFDVTPVB TBDJBS BT CBSSJHBT EPT TFVT DPOGSBEFT DPN SFDVSTPT QÞCMJDPT "OEBNNBMPTWFOUPTOPQBSUJEÍP t/BQSPWÓODJBBPMBEP EBOÎBSBNPTBENJOJTUSBEPSFTTVCNFUJEPT ËQSPWBPSBMËTNÍPTEPFOHFOIFJSPEF.VFEB/PTNVSNÞSJPT EPT QSFTFOUFT  JOUFSSPHBWBNTF TF P HPWFSOBEPSQPMÓDJB UFSJBOPUBQPTJUJWBFNTFNFMIBOUFQSPWBPSBM&TUÈTFNBMy t.BJTB/PSUF MÈQBSBUFSSBTEPDBSWÍP ÏTBDSJMÏHJPGBMBSEPT EFTNBOEPTEPTFDUPSnPSFTUBMTFNDJUBSPOPNFEPUJNPOFJSPMPDBMF TFVnPSJOEJOIP  CFN DPNPEPKPSOBMJTUBEFMFHBEP EVNBUFMFWJTÍPRVFNBJTTFDPOGVOEFDPNBCBOEFJSBEBDPS WFSNFMIB0FTRVFNBEFCBSCBCSBODBÏPCUFSMJDFOÎBTFSFQBTTBSQBSBPTJSNÍPTDIJOPDBT t'PSBEBSJCBMUB DMJNBUFOTPWJWFTF OPTÞMUJNPTEJBT OPTFJP EPQBSUJEPEBBOUJHB1FSFJSBEP-BHP0QBSUPEPTDBOEJEBUPT BDBCFÎBEFMJTUBQBSFDFTFSVNBWFSEBEFJSBEPSEFDBCFÎBQBSB VNBPSHBOJ[BÎÍPDPNVNBJNBHFNQÈMJEB'PSKBNTFFYDMVTÜFTEPTRVFTFDBOEJEBUBSBNFNUFNQPEFWJEP NBOJQVMBTF VNBFOUSFWJTUBËSÈEJPFTUBUBM BUÏTFBWFOUBBQPTTJCJMJEBEFEF SFDPSSFSBVNEPTNBMBNBEPTEPmMIPNBJTRVFSJEPEBOBÎÍP QBSBEFGSPOUBSPFWBOHFMJTUBEB3FOBNP t&N UFNQP EFFMFJÎÜFT  RVFN QBHBB CBOEBFTDPMIFPTNÞTJDPT&TUFQBSFDFTFSPMFNBOVNQPQVMBSDMVCFEF.BQVUP RVFTPOIBOPTUBMHJDBNFOUFDPNPSVHJEPEPMFÍP VNBIFSFTJB QBSBPTPSUPEPYPTGSFM RVFFNNBUÏSJBEFSFQSFTFOUBÎÜFTGBVOÓTUJDBTEBFYNFUSØQPMF FMBTTØTÍPQFSNJUJEBTBOPSUFEPSJP -JNQPQP Em voz baixa t"1(3FTUÈBJOUFSSPHBSPTNFNCSPTEPTFYØSHÍPTTPDJBJTEP .P[BËQSPDVSBEFFWJEÐODJBTEFHFTUÍPEBOPTB/ÍPTFTBCFTF PTHFTUPSFTEPUSJTUF/PTTP#BODPEFMFT WÐNBTFHVJSy Barack Obama e Graça Machel na cerimónia de comemoração do 100.º aniversário do nascimento de Nelson Mandela, que decorreu esta terça-feira em Joanesburgo. Savana 20-07-2018 EVENTOS 1 0DSXWRGH-XOKRGH‡$12;;9‡1o 1280 EVENTOS O Banco Comercial e de Investimentos (BCI) e a Metrobus assinaram na sexta-feira passada, em Maputo, um acordo de parceria com vista à conciliação do sistema de transporte com os serviços e tecnologia de pagamento e de bilhética, a serem disponibilizados pelo banco. Trata-se de uma parceria através da qual os utentes de sistema integrado de transporte Metrobus poderão passar a efectuar o recarregamento dos seus bilhetes com recurso às soluções de pagamento, nomeadamente: ATM’s, POS’s, Internet Banking, USSD, Conta Móvel e QR Code, para além da aplicação Metrobus Moz, disponível na App Store e Play Store. BCI e Metrobus estreitam sinergias Na ocasião, Amade Camal, presidente do Conselho de Administração da Sir Motors, empresa que está a implementar o Metrobus, afirmou que este acordo vai, por um lado, ajudar a eliminar o uso de dinheiro físico no acto do recarregamento dos bilhetes nas estações e, por outro, oferecer maior comodidade aos utentes, pois passarão a fazê-lo em qualquer lugar e a qualquer hora. “Queremos que o utente tenha a possibilidade de poder recarregar o seu bilhete confortavelmente, a partir do seu escritório, telefone, casa ou mesmo dentro do comboio”, referiu Amade Camal, que acrescentou que este acordo é também extensivo às empresas associadas à Metrobus. Por seu turno, o Presidente da Comissão Executiva do BCI, Paulo Sousa, referiu que estas soluções de pagamento vêm complementar o esforço da Metrobus com vista à criação de um sistema de transporte de passageiros moderno e de qualidade nas cidades de Maputo, Matola e no distrito de Boane. “Vamos oferecer soluções válidas para todos, mesmo para quem não tem conta bancária. São soluções amplas que vão permitir a todos os utentes do Metrobus terem os mais modernos sistemas de pagamento, aliados à comodidade, simplicidade e ausência de custos”, acrescentou Paulo Sousa. Refira-se que a Metrobus é um sistema de transporte que combina a operação ferroviária e rodoviária através de automotoras, com carruagens e uma frota de autocarros. A Joint, Liga das ONG’s em Moçambique, em parceria com a plataforma provincial das ONG’s de Gaza (FONGA), realizou, semana passada, uma mesa redonda de Organizações da Sociedade Civil (OSC’s) para validar a proposta de revisão de Lei das Associações, uma alternativa que foi submetida pelo Governo ao Parlamento, que, segundo um estudo, encontra-se desequadrada da realidade em que operam. Tal estudo, realizado pela Joint e a CIVICUS (Aliança Mundial Para a Participação do Cidadão), no âmbito das pesquisas que, desde 2008, a JOINT vem efectuando sobre o ambiente de actuação das OSC’s em Moçambique, em 2015, revelou que a Lei das Associações ora em vigor apresenta muitas lacunas que inviabilizam a actuação destas. Assim, reconhecendo a necessidade de adequar a legislação aos desafios do presente, o Governo, através do Ministério da Justiça e Assuntos Religiosos, elaborou e submeteu, em 2017, ao Parlamento, uma Proposta de Revisão da Lei das Associações (Lei 8/91), que as OSC’s, em função dos desafios com que se confrontam no contexto em que operam, a consideram desajustada às suas reais necessidades e aspirações. Segundo as OSC’s, a versão de lei Joint e Fonga batem-se pela revisão de lei das associações proposta pelo Governo não representa qualquer valor acrescentado com vista a melhorar o ambiente de actuação da SC em Moçambique. A título ilustrativo, um dos problemas na proposta submetida pelo Governo à AR e que está a inquietar a sociedade civil é que o documento governamental não trata a perda da personalidade jurídica como acto jurisdicional que é, mas sim como mero acto administrativo discricionário, e omite a regulamentação aplicável, o que é potencialmente lesivo de direitos e garantias das associações, além de manifestamente inconstitucional. “Não reduz os elevadíssimos custos de criação de associações e falha na simplificação de processos e requisitos, além de omitir prazos de decisão. Passa totalmente ao lado da revisão indispensável do tratamento fiscal e parafiscal das associações. Não contribui para a necessária modificação do paradigma de financiamento e autofinanciamento das associações. É tecnicamente imperfeita, ao persistir em não rever o Código Civil e ao pretender duplicar quase integralmente as suas estatuições, pondo seriamente em causa a unidade e a integridade do sistema jurídico; bem como cria inúmeros problemas de aplicação prática e, sobretudo, de interpretação legal, ao não ser explícita quanto à legislação revogada”, argumentou Pedro Muiambo, oficial de advocacia da Joint. Entretanto, tomando uma atitude proactiva, e sob a liderança da Joint, as OSC’s estão a elaborar uma proposta alternativa mais consentânea com as suas aspirações, que gostariam de ver aprovada pela Assembleia da República (AR). É nesta senda que a Joint, juntamente com o FONGA, na co-organização do evento e mobilização das ONGs locais, realizou, semana finda, um debate de auscultação das OSC’s que culminou com a subscrição da carta de tomada de posição posteriormente enviada à governadora de Gaza, Stella da Graça Pinto Zeca, enquanto canal de comunicação com o Governo central. Uma das propostas da OSC’s é, por exemplo, que a legalização de uma associação não careça da autorização do Governo, bastando o registo notarial, publicação no BR e registo civil. Isentar-se a apresentação do certificado de registo criminal; publicação gratuita no Boletim da República, diferenciando das instituições com fins lucrativos, são outras das propostas apresentadas pela Joint. “Considerando que as organizações da Sociedade Civil não perseguem fins lucrativos é importante assegurar que os seus trabalhadores, que são normalmente voluntários, contribuam no INSS a título excepcional ou facultativo. A exemplo do governo, parlamentos/assembleias, partidos políticos e algumas Organizações (ONP, OTM, SNJ e outras) que recebem fundos do Estado, assegurar que este procedimento seja abrangente para as associações. Havendo um vazio institucional do Estado para dar suporte às actividades das Associações, estabelecer-se uma Autoridade Nacional do Estado para Sociedade Civil. Que se inclua de forma clara a existência de ONGs, OSC, OCB, federações, confederações, etc., dentro das Associações, estabelecendo critérios da diferenciação”, frisou Muiambo, oficial de advocacia da Joint, que facilitou todo o processo de análise da legislação e elaboração da proposta de revisão alternativa. Processo de análise O processo, que conta igualmente com a parceria da OXFAM, programa AGIR, embaixada da Suécia em Moçambique, KEPA e Reino dos Países Baixos, contou com a participação do presidente do FONGA, Anastácio Matavel, das ONGs que operam dentro da província afiliadas à plataforma provincial. O processo de auscultação, que teve início no mês passado, já abrangeu as províncias de Maputo, Gaza, Inhambane, Sofala, Manica, Zambézia, Nampula, Cabo Delgado e Niassa. Refira-se que, em Moçambique, a participação da SC no espaço público está plasmada na Constituição da República, bem como no discurso político como um dos pilares da construção do Estado de Direito democrático. As Organizações da Sociedade Civil (OSCs) são criadas ao abrigo da Lei 8/91 de 18 de Julho, que regula o direito à livre associação, com base no nº 1 do artigo 76 da Constituição da República de Moçambique (CRM) de 1990 e artigo 78 da CRM de 2004, actualmente em vigor. Savana 20-07-2018 EVENTOS 16 2 A Odebrecht celebrou, recentemente, mais um acordo de leniência (clemência) com as autoridades brasileiras, o qual permitiu fortalecer a segurança jurídica daquele grupo empresarial e assegurar a retoma dos seus negócios. O acordo envolve o Ministério da Transparência e Controladoria-Geral da União (CGU) e a Advocacia-Geral da União (AGU). Este é o maior acordo celebrado por estes dois órgãos federais brasileiros. Em Dezembro de 2016, a Odebrecht, S.A. já havia assinado outro importante acordo com o Ministério Público Federal do Brasil, com o departamento de Justiça dos Estados Unidos e com a Procuradoria- -Geral da Suíça, para a resolução da investigação sobre a participação das empresas do grupo, na realização de actos ilícitos praticados em benefício do grupo económico. “Este acordo (com a CGU e a AGU) permite-nos avançar de forma mais sustentável na retoma do crescimento, principalmente na Odebrecht Engenharia e ConstruOdebrecht celebra acordo de clemência ção, S.A. (OEC). O nosso compromisso é de actuar como um exemplo de ética, integridade e transparência, na busca de projectos que exigem o que de melhor temos a oferecer à sociedade: a experiência técnica de quem é reconhecido como um dos melhores representantes da excelência da engenharia brasileira”, disse o director executivo da Odebrecht, Luciano Guidolin. O mesmo acordo permite, igualmente, a preservação da empresa e a continuidade das suas operações, dos empregos e do pagamento de impostos, com a geração de receitas necessárias para pagar os valores acordados. O valor foi calculado pelas equipas da CGU e AGU e será abatido do valor do acordo de leniência, assinado pela Odebrecht, em Dezembro de 2016. Os recursos serão destinados à Petrobras (a empresa nacional de petróleos brasileira) e a outros órgãos da administração federal brasileira. Este acordo também servirá para disseminar as boas práticas esperadas no relacionamento público- -privado. Com a conclusão deste processo, serão extintas as acções de improbidade e os processos administrativos conduzidos pela AGU e CGU contra a Odebrecht e o seu grupo económico pelos factos nele revelados. Aqueles dois órgãos da justiça reconhecem a sua importância no combate à corrupção pelo acervo de provas apresentadas pela empresa, o que contribuirá para a reparação dos danos causados e a aplicação de sanções aos agentes públicos e particulares, envolvidos na prática de actos ilícitos. Outro destaque dessa negociação foi o alto grau de colaboração da Odebrecht reconhecido pelos órgãos, o que permitirá a utilização dos factos revelados para a sua actuação no combate à corrupção. Importa realçar que a Petrobrás aprovou, recentemente, a celebração de um termo de compromisso com o Grupo Odebrecht, prevendo um conjunto de obrigações de integridade, o qual permite o levantamento do bloqueio cautelar, autorizando a participação das empresas do grupo em licitações desta empresa estatal brasileira. Uma conferência internacional destinada a discutir as alternativas de financiamento e gestão de recursos públicos no sector de saúde em Moçambique terá lugar em Maputo de 28 a 30 de Agosto. O evento reunirá diversos actores nacionais e internacionais que se dedicam a ou transversalmente lidam com matérias relacionadas directa ou indirectamente com o sector de saúde. O colóquio tem como tema “Que alternativas para o financiamento e gestão de recursos públicos no sector de saúde em Moçambique?”, pretende identificar e debater soluções para responder à crescente demanda por serviços públicos de qualidade nos sectores prioritários da agenda do Governo de Moçambique, com especial enfâse para o sector de saúde, num contexto de escassez de recursos financeiros. Moçambique enfrenta, desde 2015, fortes restrições orçamentais, o que se atribui a uma combinação de factores conConferência discute financiamento à saúde junturais desfavoráveis, entre os quais a vulnerabilidade da sua estrutura económica, o aumento do serviço da dívida pública (especialmente em 2016 com a descoberta das dívidas “ocultas” contraídas ilegalmente junto de credores internacionais) e a falta de transparência na gestão das contas públicas, que levou à suspensão do apoio ao orçamento do estado pelos parceiros de cooperação, causando impactos negativos sobre a economia e outros sectores. O sector de saúde é um dos principais prejudicados pelas restrições, com consequências que vão das dificuldades no provimento de infra-estruturas à falta de fármacos nos hospitais públicos. A conferência é organizada pela Fundação Mecanismo de Apoio à Sociedade Civil (Fundação MASC) em parceria com a Universidade Pedagógica (UP), Universidade Católica de Moçambique (UCM), Fundação SOICO (FUNDASO), Centro de Aprendizagem e Capacitação da Sociedade Civil (CESC). A TCT, Indústria Florestal (TCT-IF) – uma empresa participada pela Gapi e que detém uma concessão de 25 mil hectares no distrito de Cheringoma, província de Sofala – está a recuperar diversa madeira preciosa e com valor para exportação, abandonada por operadores furtivos que têm vindo a destruir vastas áreas de floresta com abates ilegais. Em Junho último, o director da TCT, James White, recebeu das mãos do ministro da Terra Ambiente e Desenvolvimento Rural, Celso Correia, um Certificado de Exportador, que autoriza esta empresa a exportar madeira de espécies nativas. Esta certificação ocorre numa altura em que as autoridades cancelaram licenças de muitos operadores, por não se conformarem com as regras estabelecidas pelas autoridades de protecção dos recursos florestais. A acção presentemente em curso, para que a TCT recupere a madeira desperdiçada por piratas, é promovida e coordenada pelos Serviços Provinciais de Florestas e Fauna Bravia de Sofala. De acordo com Rui Amaral, director-Adjunto da TCT-IF, “o Checate Preto e Mopani são espécies que durante muitos anos foram derrubadas ineficientemente, daí a existência de enormes quantidades de troncos e cepos não processados TCT recupera madeira desperdiçada por furtivos abandonados no terreno, criando um impacto ambiental muito negativo. Rui Amaral explicou que a TCT- -IF, reconhecendo o enorme potencial do Pau Preto e Mopani, iniciou uma campanha de marketing no espaço europeu para averiguar a existência de mercados para tais espécies de madeira. “Este trabalho permitiu identificar um mercado para a transformação de pedaços dessas madeiras em instrumentos musicais, entre outras valiosas aplicações. Esta iniciativa, em colaboração com os Serviços Provinciais de Florestas e Fauna Bravia, está a possibilitar o aproveitamento de troncos abandonados e a exportação de 100% de material processado a nível local, dando a conhecer à comunidade local, bem como a outras empresas do sector como melhor aproveitar esses materiais de grande valor comercial”, concluiu. Amaral, que é também, na Gapi, coordenador de programas de desenvolvimento, revelou ainda que a TCT-IF envolve as comunidades locais em vários projectos sustentáveis e de longo prazo. “Foi assim que iniciámos um programa de construção de colmeias, que já totalizam o número de 1000 em Matondo e Cherimate. O mel produzido nestas colmeias tem contribuído para a dieta de crianças nas escolas locais e para a melhoria do rendimento das famílias de apicultores. Outras acções no mesmo domínio incluem a oferta de carteiras escolares e caixões, às comunidades locais” . Em 2015, a TCT-IF foi galardoada pelo Governo de Moçambique pela Excelência na gestão dos recursos florestais, em virtude do seu empenho na reflorestação, com o envolvimento da comunidade, incluindo incentivos monetários por cada árvore plantada e devidamente cuidada. Também em 2011, a TCT-IF foi distinguida pelo Conselho de Ministros, como a “Concessão florestal modelo”, devido à gestão sustentável dos recursos florestais e faunísticos na sua concessão. A empresa obteve autorização para a exploração de uma área de 9 mil hectares destinada ao turismo cinegético, cujo potencial resulta do cuidado de conservação da floresta e fauna existente na concessão. Para valorizar e replicar a experiência e conhecimento que a TCT tem acumulado, em particular através do trabalho do seu director, James White, que vive e trabalha naquela concessão há cerca de 20 anos, a Gapi está a promover na sede da empresa, em Catapu, distrito de Cheringoma, a criação de um centro de formação que dê apoio à formação de uma geração de jovens moçambicanos capacitados e treinados em matérias de gestão da biodiversidade. C om um total de 144 votos, contra 77 do candidato da Lista “A”, António Matabele, Julião Dimande foi reeleito para presidente da Câmara de Comércio de Moçambique (CCM). As eleições foram realizadas esta semana na sede da CCM na cidade de Maputo. Na sua declaração, Julião Dimande afirmou que este será um mandato de realizações e conclusão de vários projectos iniciados, insistindo na necessidade de trabalhar de forma que o investidor sinta o papel da CCM a nível interno e internacional, para além de fazer com que todos os empresários sintam-se integrados. Segundo Dimande, uma das prioridades nos próximos três anos é a formação profissional das empresas e dos seus empresários como também Dimande reeleito presidente da CCM olhar em primeira mão a reestruturação da CCM, onde serão revistos os seus estatutos para harmonizar as suas actividades. “Vamos capitalizar, a partida a formação. Temos bolsas para a formação dos nosso empresários. Também vamos olhar, em primeira mão, a reestruturação da própria câmara, essa vai ser uma das tarefas prioritárias para continuarmos a harmonizar a actividade da instituição a nível nacional”, frisou Dimande. Entretanto, Matabele reformulou votos de muito sucesso ao vencedor e o seu elenco. Quanto ao seu manifesto, Matabele disse que está a disposição da lista vencedora de modo a trabalharem de forma conjunta. A CCM conta com mais de 400 empresas associadas, mas somente 240 delas participaram de forma activa no processo de votação. Agenda Cultural Cine-Gilberto Mendes Sextas, Sábados, Domingos e Feriados 18h30 Apresenta a peça“My Love” Maputo Waterfront Todas Sextas, 19h Jantar Dancante com Alexandre Mazuze Todos Sábados, 19h Música com Zé Barata ou Fernando Luís Chefs Restaurante Todas Sextas, 19h Música ao vivo Savana 20-07-2018 EVENTOS 3 A ministra do Género, Criança e Acção Social, Cidália Chaúque considera que a violência praticada contra a mulher e rapariga só poderá acabar através da mudança de atitude ao nível das comunidades. Chaúque, que falava na última sexta-feira, na escola secundária Noroeste 1, em Maputo, aquando do lançamento da campanha “CHEGA, juntos podemos acabar com a violência a mulher e a criança”. Trata-se duma iniciativa promovida pela Oxfam cujo objectivo eliminar a violência baseada no género (VBG). “Em Moçambique, um dos maiores problemas que impactam os valores étnicos-morais é a violência contra mulheres e raparigas. “Mudança de mentalidade pode acabar com a violência nas comunidades”- defende Cidália Chaúque Em 2017, foram registados mais de 25 mil casos de violência em todo o país, dos quais, cerca de 13 mil contra mulheres, 9 mil contra crianças”, explicou Chaúque. No país, cerca de 33% de mulheres foi vítima de violência física desde os 15 anos d idade, comparado com 11% dos homens na mesma situação, segundo o Perfil de Género de Moçambique (PGM) 2015. E o mesmo relatório avança que a violência física contra a mulher tende a ser perpetrada por alguém com ela teve uma relação íntima (actual esposo 62%; ex-parceiro, 21%; padrasto/madrasta 14,5%). Na ocasião, a coordenadora da campanha na Oxfam, Yolanda Sithoe, referiu que esta é uma iniciativa global daquela organização não-governamental. E de seguida esclareceu que, a nível de Moçambique, a Oxfam escolheu fazer a campanha contra a “violência sexual” em detrimento dos outros tipos, porque segundo Sithoe, têm sido reportados frequentemente através dos órgãos de comunicação social vários casos de violência sexual e que em alguns casos terminam com a morte da vítima mas apesar dessa intensiva divulgação dos Media não se faz o devido seguimento. “Há um trabalho que não é feito depois das vítimas sofrerem o abuso sexual. As raparigas normalmente quando violadas sexualmente são discriminadas no seio da família e da comunidade”, lamentou. E reiterou “queremos com esta campanha sensibilizar a sociedade para abraçar esta menina, vítima de violência porque mais de que discriminar esta menina precisa de apoio, de auto estima, por isso vamos trabalhar com as famílias, com as instituições públicas (escolas, saúde e polícia) e transferimos este problema da menina para a nossa sociedade”. A Vodacom e a Associação Moçambicana de Desenvolvedores de Software e Aplicações (MozDevz) assinaram nesta terça-feira, na incubadora do Standard Bank, em Maputo, uma parceria através da qual a operadora de telefonia móvel vai disponibilizar ferramentas tecnológicas para a MozDevz, com destaque para telemóveis, tablets e computadores, para que os seus membros estejam sempre ligados a plataformas com as quais trabalham constantemente. O acordo insere-se no âmbito das acções de responsabilidade social desenvolvidas pela Vodacom a diferentes públicos, com destaque para a camada juvenil. Na ocasião, o director de Operações da Vodacom afirmou que “ temos programas de apoio a escolas que fazemos todos os anos. Achamos que o MozDevz e esta parceria é o próximo passo e faz sentido para Vodacom como empresa líder na área de tecnologias. Numa primeira fase vamos dar apoio com equipamentos e com ferramentas Vodacom apoia MozDevz que o MozDevz possa dar aos seus membros para facilitar os trabalhos do dia-a-dia e que possa incentivar as pessoas a participarem nos famosos hackathons”. Já a Presidente da MozDevz, Abneusa Stefânia Manuel, considera que o memorando fortifica cada vez mais as iniciativas tecnológicas no país. “É para nós uma grande honra assinar este memorando com a Vodacom porque ainda há poucos que acreditam que as tecnologias de informação podem desenvolver o nosso país. É gratificante quando existem entidades que acreditam em nós, como a Vodacom, e o Standard Bank”. Refira-se que a MozDevz é uma organização sem fins lucrativos com uma clara missão social de ampliar e maximizar o impacto das TIC’s sobre a vida daqueles que mais necessitam. A Vodacom prima sempre em oferecer um melhor serviço através das novas tecnologias de comunicação e concentrada nas questões da sociedade, daí que, aliou-se a essa ideia inovadora, como parte da sua acção de responsabilidade social. $VVRFLDӄmR0RӄDPELFDQDGRV0DULQKHLURV$PLJRVGR0DU, designada por AMAMAR tem como objective principal: D 3URPRYHUDSRLDUDFWLYLGDGH PDUtWLPDV HRXWUDVDÀQVVHPSUH que e mostrarem pertinentes em conformidade com os ideais da DVVRFLDӉmRHPSUROGRGHVHQYROYLPHQWRGHVWDVRFLHGDGHHPJHral; E 3URPRӉmRGDDFWLYLGDGHPDULWLPHHGHVHQYROYLPHQWRVXVWHQWiYHOHPKDUPRQLDFRPELRGLYHUVLGDGH SURWHFӉmRGDIDXQDPDULnha, plantas, e animais com particular destaque as espécies que VHPRVWUHPHVWDUHPSHULJRGHH[WLQӉmRÁRUDGRVVRORVHFLFORV ELROyJLFRVHP0RӉDPELTXHHQRPXQGR F &RQWULEXLU D PLQLPL]DӉmR GD SROXLӉmR GR PHLR DPELHQWH H FRQWDPLQDӉmR GDV DJXDV QDFLRQDLV EHP FRPR QD SURWHFӉmR GH recursos naturais, incluindo hídricos para que a sociedade conVXPDXPSURGXWRVDXGiYHO Serve se do presente comunicado para levar o conhecimento do todo maritimo seja ele da marinha mercante, pesca, pilotagem e rebocaGRUHVWUDQVSRUWHVPDULWLPRWXUtVWLFRHSHVFDDUWLVDQDOTXHHVWmRHP YLJRUDVGHFLV}HVDQXQFLDGDVQDUHXQLmRKDYLGDQRGLDGHMXQKR GHQDVLQVWDODӉ}HVGR0XVHXGHSHVFDV 5HÀUDVHTXHGHQWUHYiULRVGHOLEHUDӉ}HVDQXQFLDGRVFRQVWDDQHFHVVLGDGHGHLQVFULӉmRGHWRGRVPDUtWLPRVH$PLJRVGRPDUFRPRPHPEURV3DUDRH[HUFtFLRUHJXODUGDDFWLYLGDGHRTXHGHYHRFRUUHUSURYLVRULDPHQWHQDDJrQFLDGHQDYHJDӉmR1$9(0$5HP0DSXWRQD$9 *XHUUD3RSXODUÝDQGDURXDWUDYpVGRHQGHUHӉR DPDPDUPDULWLPRV#JPDLOFRP FHOXODU &RPXQLFDGR $VVRFLDӄmR0RӄDPELFDQD GRV0DULQKHLURV$PLJRVGR0DU, designada por AMAMAR tem como objective principal: D 3URPRYHUDSRLDUDFWLYLGDGH PDUtWLPDV HRXWUDVDÀQVVHPSUH que e mostrarem pertinentes em conformidade com os ideais da DVVRFLDӉmRHPSURO GRGHVHQYROYLPHQWRGHVWDVRFLHGDGHHPJHral; E 3URPRӉmRGDDFWLYLGDGHPDULWLPHHGHVHQYROYLPHQWRVXVWHQWiYHOHPKDUPRQLDFRP ELRGLYHUVLGDGH SURWHFӉmRGDIDXQDPDULnha, plantas, e animais com particular destaque as espécies que VHPRVWUHPHVWDUHP SHULJR GH H[WLQӉmRÁRUDGRVVRORVHFLFORV ELROyJLFRVHP0RӉDPELTXH HQR PXQGR F &RQWULEXLU D PLQLPL]DӉmR GD SROXLӉmR GR PHLR DPELHQWH H FRQWDPLQDӉmRGDV DJXDV QDFLRQDLV EHP FRPR QD SURWHFӉmR GH recursos naturais, incluindo hídricos para que a sociedade conVXPDXPSURGXWR VDXGiYHO Serve se do presente comunicado para levar o conhecimento do todo maritimo seja ele da marinha mercante, pesca, pilotagem e rebocaGRUHVWUDQVSRUWHVPDULWLPR WXUtVWLFR H SHVFD DUWLVDQDO TXH HVWmRHP YLJRUDVGHFLV}HV DQXQFLDGDV QD UHXQLmR KDYLGD QR GLD  GHMXQKR GHQDVLQVWDODӉ}HVGR0XVHXGH SHVFDV 5HÀUDVHTXHGHQWUH YiULRV GHOLEHUDӉ}HV DQXQFLDGRV FRQVWDDQHFHVVLGDGHGHLQVFULӉmRGHWRGRVPDUtWLPRVH$PLJRVGRPDUFRPRPHPEURV 3DUD R H[HUFtFLR UHJXODU GD DFWLYLGDGH R TXH GHYH RFRUUHU SURYLO presidente 0DSXWRDRVGH-XOKRGH Graciano Mussa Savana 20-07-2018 EVENTOS 4 PUBLICIDADE

Sem comentários: