Para o deputado Antonio Muchanga, com um abraço cordial
Em Maio, quando se celebrava a liberdade de imprensa, o deputado Antonio Muchanga (da Renamo) atacava o jornalismo livre. Ele se atirou contra mim. Disse que me procurava para amarrar-me com arame e levar-me a uma Esquadra policial; que tinha autorização oficial para concretizar seu desiderato de violência gratuita visando um jornalista. Fiquei escandalizado com suas declarações mas elas não me meteram medo. Do estrangeiro, preferi não reagir. Medo e tristeza. Suas declarações revelaram uma concepção despótica da autoridade pública. Violenta. Tirânica. O mesmo modus operandi da antiga guerrilha da Renamo, se projectando em mim agora na forma de um eventual futuro governo. Mau serviço para a Renamo. Mas este não é meu problema.
A única vez que escrevi sobre o senhor foi algures no SAVANA, quando ele fora detido de forma vexatória à saída de uma sessão de Conselho de Estado na Presidência da República, e enclausurado na penitenciária da Machava. Meu artigo era-lhe até simpático. Eu tentava captar em seus traços biográficos as sementes da sua rebeldia. Meu texto, disse-me ele mais tarde, até foi instrumental para a melhoria do tratamento a que estava devotado na cadeia, no que a alimentação dizia respeito.
Nesse debate sobre a liberdade de imprensa em Maio na Miramar ele se insurgira por um artigo eventualmente dado à estampa no jornal Público (local). Mas nunca assinei nesse jornal um artigo onde ele era protagonista. Seja como for, no lapso de tempo que editei o Público minha autoridade era limitada. Nem tudo que saía passava pelo crivo do meu contraditório. Legalmente, como editor, até me posso responsabilizar. Mas substancialmente não aceito a culpa.
Mais importante que minha impenitência é o carácter loose cannon das declarações do deputado. Faz lembrar um certo passado sinistro da “luta pela democracia”. E imaginem um Muchanga como Ministro do Interior. Imaginem! Não. Não vou dar cavaco à deriva do seu stinking thinking (queria poder escolher dizer pandemónio verbal mas trata-se mesmo de uma questão de poluição mental, de alguém que mama nas benesses de nossos impostos para atirar contra a liberdade de expressão, uma das mais estruturantes instituições da democracia).
Não! Ele não tem como me intimidar. Em meus anos de jornalismo interventivo já recebi ameaças mais violentas, uma delas concretizada no simbolismo cruel da oferta de galinhas vivas à porta de casa, por ter beliscado as “vanities” maternais da antiga primeira-dama. Já vivi, pois, terríveis fontes de medo mas nunca vacilei e sempre me enchi de coragem – de uma coragem que não é apenas a ausência do medo mas a capacidade de me impor, com caneta, na razão e justiça, perante essa fonte de medo.
O deputado Muchanga, se se sentiu ofendido por qualquer escrito a mim imputável, que meta a devida queixa. Mas andar por usando a liberdade de expressão para lançar seu odor bafiento sobre o jornalismo, ameaçando, e projectando a polícia pública como uma entidade que age e reage sob preceitos de violência ao simples esganiçar de um político, não. Isso não! Apesar do carácter eutanásico da maioria das nossas entidades de justiça ainda resta alguma decência e algum respeito pela Lei.
Do meu lado, haverá sempre espaço para uma relação cordial. Meu mentor de jornalismo ensinou-me que comportamentos como o de Muchanga vão sempre existir. O bom jornalismo deve ter a capacidade de enfrenta-los e seguir em frente. E nunca responder uma perseguição com perseguição. O bom jornalismo não segue esse diapasão.
Um abraço a todas as vozes de solidariedade, ao CSCS, ao Misa e ao SNJ.
Um abraço a todas as vozes de solidariedade, ao CSCS, ao Misa e ao SNJ.
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