Max Tonela e o seu golpe na complacência
Ao suspender um concurso de procurement da Sasol de 50 milhões de USD, destinado a contratar logística para suas operações em Pande-Temane, o Ministro Max Tonela (Recursos Minerais e Energia) deu um golpe de mestre na habitual complacência com que tratamos nossos negócios com a África do Sul. Tonela considerou que o concurso violava a lei nacional e excluía empresas locais. Creio que esta tomada de posição do Ministro é inédita. Nossa diplomacia económica com a África do Sul foi sempre de subserviência.
Ao suspender um concurso de procurement da Sasol de 50 milhões de USD, destinado a contratar logística para suas operações em Pande-Temane, o Ministro Max Tonela (Recursos Minerais e Energia) deu um golpe de mestre na habitual complacência com que tratamos nossos negócios com a África do Sul. Tonela considerou que o concurso violava a lei nacional e excluía empresas locais. Creio que esta tomada de posição do Ministro é inédita. Nossa diplomacia económica com a África do Sul foi sempre de subserviência.
A Sasol dita suas ordens na exploração do gas de Temane. Em tempos, o CIP mostrou que o que ela pagava para as contas públicas locais pela exploração do recurso era um vexame comparado com seus trade offs. Em tempos, o pesquisador Andre Tomashausen, um académico baseado em Pretoria, relevou que a Eskom pagava um preço excessivamente subsidiado pela energia da HCB. Temos sido demasiado complacentes. Porque? Eventualmente porque a troco dessa complacência há quem deste lado anda a ganhar milhões em rendas em acordos de concessão e exploração lesivos para o interesse geral (só isso justifica porque é que o Governo não renegoceia os termos do contrato com a TRAC, que assenta num modelo de PPP altamente lesivo para o utente, mas este é outro debate).
A questão que se coloca é se esta decisão de Max Tonela assenta numa onda reformista da nossa diplomacia económica com a RAS ou é um assombro pontual para acomodar as comadres da casa agora ávidas das rendas inerentes ao chamado “conteúdo local”. Qualquer que seja a resposta, Max Tonela tomou a pasta dos Recursos Minerais e Energia num momento extremamente favorável para ele engendrar novos entendimentos com as contrapartes sul africanas. Do outro lado, a gangue cleptocrática que havia tomado conta da economia no consulado de Jacob Zuma está fora do baralho. Há novos actores no sector empresarial do Estado e um Ministro das Empresas Publicas, Pravin Ghordan, cheio de boas intenções. Os tentáculos dos Guptas na Eskom e na Transnet, para mencionar apenas empresas com relações de negócios com Moçambique, foram removidos.
Mais do que isso, na batuta da ramophoria (o novo libreto da esperança composto por Cyril Ramaphosa) tem mãos amigas de Moçambique que podem ajudar a promover uma nova ordem nas relações económicas entre os dois países. Na equipa de conselheiros de Ramaphosa, aqueles que realmente comandam sua nova política económica, está o antigo Ministro das Finanças de Mandela, Trevor Manuel (para além do empresário Jacko Maree e do antigo vice de Ghordan nas Finanças, Mcebisi Jonas, entre outros), um progressista e visionário que seria um interlocutor válido com quem discutirmos nossas aspirações. Aliás, Manuel é casado com Maria Ramos, a boss do Barclyas África, dona do ABSA. Maria Ramos é amiga da nossa antiga PM Luísa Diogo, PCA do Barclays local. Os corredores por onde Tonela pode circular estão completamente escancarados. E nossa posição negocial é relativamente forte pois a RAS precisa cada vez mais de energia limpa baseada no gás e não no seu carvão. Esse recurso está cá deste lado.
Não creio que haverá ambiente negocial e condições objectivas mais propícias que esta. Tonela tem de ter a inteligência e a stamina necessária para agarrar nesta oportunidade e mudar o actual estado das coisas. Será que ele é genuíno? Será que lhe vão permitir?
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